Repositório RCAAP
Disreflexia Autonómica no Peri-operatório
A disreflexia autonómica caracteriza-se por uma resposta simpática inapropriada em doentes com lesão vertebro-medular ao nível ou acima da sexta vértebra torácica, desencadeada por estímulos nóxicos ou outros provenientes de níveis abaixo da lesão. Apresentamos o caso de uma doente de 48 anos, com lesão traumática vertebro-medular, ao nível da transição cérvico-torácica, submetida a injeção intra-vesical de toxina botulínica, sob anestesia geral inalatória. No intra-operatório apresentou bradicardia acompanhada de hipertensão sustentada (pressão arterial máxima de 184/121 mmHg) e rubor cutâneo do pescoço e tórax, compatível com episódio de disreflexia autonómica. Apesar da rápida identificação e suspensão dos fatores desencadeantes, o quadro clínico reverteu apenas no pós-operatório, depois da administração de labetalol. Com este caso pretendemos reforçar a importância das medidas preventivas, nomeadamente a preferência pela anestesia regional em cirurgia urológica nos doentes com lesão vertebro-medular.
Broken Heart Syndrome: Miocardiopatia de Takotsubo após rutura intraoperatória de aneurisma cerebral
Doentes com hemorragia subaracnoideia aneurismática podem apresentar diversasmanifestações cardíacas cujo diagnóstico diferencial é desafiante, sobretudoquando decorrem no período intraoperatório. A miocardiopatia de Takotsubo é umdistúrbio raro que decorre com disfunção ventricular esquerda predominantementereversível, apresentando alterações eletrocardiográficas que mimetizam uma síndromecoronária aguda. Descreve-se o caso de uma mulher de 41 anos que durantea clipagem de um aneurisma gigante da artéria cerebral anterior esquerda,sofre rutura aneurismática seguida de alterações eletrocardiográficas compatíveiscom isquémia miocárdica. Desenvolve disfunção ventricular esquerda progressiva,agravada no pós-operatório, sem relação com enzimologia cardíaca, progredindopara choque cardiogénico, isquémia cerebral secundária e morte cerebral. Existempoucos casos descritos de miocardiopatia de Takotsubo em contexto intraoperatório.O anestesiologista deve estar alerta para esta entidade nosológica pelas exigênciasclínicas inerentes ao manuseamento simultâneo de duas emergências intraoperatórias,podendo o seu atraso diagnóstico protelar intervenções terapêuticas fundamentais,determinantes no prognóstico do doente.
A problemática da recusa de sangue por Testemunhas de Jeová adultas e legalmente competentes
Introdução: A recusa em receber derivados do sangue a que as Testemunhas de Jeová estão submetidas levanta problemas éticos e legais relativamente ao modo como proporcionar os melhores cuidados de saúde a estes pacientes. No presente artigo discutimos os princípios Bioéticos envolvidos bem como a regulamentação existente sobre o assunto, esperando contribuir para uma acção mais reflectida e uniforme entre os profissionais de saúde. Material e Métodos: Efectuámos uma pesquisa na PubMed utilizando as expressões “Jehovah’s Witness”, “Living will”, “Transfusion refusal” e “Blood refusal”, bem como uma pesquisa no ordenamento jurídico português e organismos institucionais. Resultados: Apresentamos diferentes argumentos a favor e contra a transfusão sanguínea neste contexto. Discussão e Conclusões: A maioria dos autores inclina-se para que, salvo raras excepções, a vontade livremente expressa do paciente e o seu direito à autonomia devem ser respeitados num campo em que diferentes conceitos Bioéticos entram naturalmente em colisão.
Cuidar Bem dos Doentes Requer Cuidar Bem dos Cuidadores
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30 Anos de Revista da SPA Reflexão sobre uma publicação anestesiológica portuguesa
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História da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia
O primeiro número da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia apareceu em maio de 1985.1 António Alfredo Meireles, Presidente da Direção da Sociedade, foi o responsável pela sua edição (Fig. 1). Os outros membros desta direção eram Álvaro Ferreira Pais como secretário e Maria Leontina Freitas Costa Carvalhais, como Tesoureira, todos do Hospital Geral de Santo António, no Porto. Com esta iniciativa, a Sociedade propôs-se avançar no cumprimento das suas funções em favor da qualidade da especialidade e seus agentes através da disponibilização de um instrumento que, por um lado, permitisse melhorar a comunicação com os associados, e por outro, contribuísse para a formação dos recém-chegados à especialidade e dos que tinham já o título de especialista, bem como facultasse a publicação em língua portuguesa, dos seus trabalhos de índole científica ou clínica em Anestesiologia ou Cuidados Intensivos.
Estratégias de Pesquisa Bibliográfica para Anestesiologistas
A quantidade de nova informação disponível para médicos está a crescer a uma taxa exponencial, contudo, a quantidade de tempo que os médicos podem dedicar a fazer a sua triagem é que não. Saber qual a ferramenta a usar para cada tipo de informação e estratégias para a usar com eficácia pode economizar tempo valiosa. O objectivo deste artigo é dar a conhecer os principais recursos de informação e as técnicas de pesquisa mais sofisticadas. Porque conhecendo as técnicas de pesquisa mais "elaboradas", a eficácia na investigação aumentará. Os recursos listados permitem que a procura e publicação de informação em Medicina se acelerem e simplifiquem radicalmente. É importante que reconheçam as oportunidades e limitações dos recursos mencionados, assim como a sua utilidade. É impossível ser exaustivo nesta abordagem. e exhaustive in this approach.
Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada?
A atropina é uma molécula bem conhecida dos Anestesiologistas, que há muito reconhecem o seu potencial para um efeito paradoxal decorrente da utilização de doses baixas do medicamento. Contudo, o assunto raramente é discutido em publicações recentes e a verdadeira incidência do fenómeno fica assim por elucidar. No presente artigo apresentamos os casos clínicos de 7 pacientes que desenvolveram efeito paradoxal após a administração de atropina na dose de 0,5 mg em bólus rápido por via endovenosa, o qual reverteu com a administração de uma dose adicional de 0,5mg, revendo posteriormente os mecanismos subjacentes.
2016
Rodrigues Alves, Daniel Amim, Susana Gonçalves, Nídia
Visto do outro lado ...
No momento em que recebi o amável convite para este Editorial encontrava-me, pela segunda vez este ano, a convalescer de uma cirurgia. Coisas da idade e do destino, que de um momento para o outro, nos troca os papéis e, de médica passei de repente a doente. Sosseguemo-nos, temos a convicção que ambas cirurgias foram necessárias e curativas. Tento relembrar esses momentos das cirurgias: da picada do cateter na veia periferica, da ida, já deitada, para o bloco operatório, da entrada na sala de operações, do momento da monitorização e do momento do nada… Tento reviver todas essas emoções e o que me ressalta é que tudo foi vivido com naturalidade e tranquilidade – eu conhecia o ambiente de uma sala de operações e estava confiante na capacidade dos cirurgiões, os anestesistas eram meus “velhos” conhecidos – um tinha sido meu formador e a outra é minha amiga, colega de curso e de especialidade. Num ambiente tão favorável e amigável não é de admirar que a doente estivesse tranquila e confiante – tenho a convição que esse facto só pode ter tido influência na minha boa recuperação. A que propósito vem este desfilar de questões pessoais? Para falar da humanização da relação médico-doente e muito particularmente do anestesista- doente. É um tema mais que batido, dirão, - estou de acordo. Contudo, não estou certa que tenhamos conseguido superar esta questão. Todos nós temos amigos ou familiares próximos com verdadeiros relatos de terror vivenciados em salas de operação, e porquê? ...
Anestesia em Doentes com Fígado Gordo Agudo da Gravidez: Série de Casos
Intodução: O fígado gordo agudo da gravidez é uma entidade clínica associada a morbi-mortalidade materna e fetal significativas. O objetivo deste estudo é rever os aspetos essenciais do fígado gordo agudo da gravidez e suas implicações na abordagem anestésica. Material e Métodos: Relatamos uma série de casos de fígado gordo agudo da gravidez, as suas características, complicações e abordagem anestésica. Os dados foram resumidos pela análise descritiva das variáveis. Resultados: Entre janeiro de 2010 e dezembro de 2012, foram encontradas cinco doentes com fígado gordo agudo. Três doentes apresentaram sintomas prodrómicos inespecíficos e duas alterações assintomáticas das enzimas hepáticas. Três apresentaram aumento da creatinina sérica e hipoglicemia foi detetada em quatro doentes. Três apresentaram alteração da coagulação. Todas as grávidas foram submetidas a cesariana, duas programadas e três urgentes. Quatro foram intervencionadas sob anestesia geral balanceada e uma sob anestesia combinada. Não registámos mortes maternas ou neo-natais. O tempo médio de internamento global foi de 7,8 dias. Discussão: O fígado gordo agudo da gravidez tem uma apresentação clínica variada e o diagnóstico tardio pode conduzir a insuficiência hepática grave e disfunção sistémica multiorgânica, com necessidade de internamento em unidade de cuidados intensivos. O parto é o único tratamento definitivo. A anestesia geral é realizada mais frequentemente, embora na ausência de alteração da coagulação, a anestesia loco-regional é uma opção. Conclusões: A presente série de casos corrobora que o diagnóstico e intervenção precoces podem reduzir a morbi-mortalidade associada a esta patologia.
2016
Vaz Antunes, Maria Norton, Maria Moreira, Adriano Sampaio, Catarina Faria, Aida
História da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia
A Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA), um dos pilares em que assentou aestratégia de implementação da especialidade em Portugal, foi fundada em 1955como secção da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa. Entre os seus objetivos,salientava-se o defender os interesses dos sócios e estimular o estudo da anestesiologiacomo disciplina bem individualizada. A trajetória da SPA foi feita de umconjunto de intervenções direcionadas aos seus objetivos. A sua primeira direçãoprocurou logo um lugar no mundo das suas congéneres europeias e mundiais daespecialidade, para o que participou da fundação da World Federation of Societiesof Anaesthesiologists (WFSA) e estabeleceu parcerias com congéneres estrangeira.A chegada dos especialistas formados na carreira médica nacional criada em 1968impôs a adoção de novas iniciativas, nomeadamente a organização de reuniõesnacionais, a primeira das quais em 1977 e a criação, em 1985, da Revista da SPA,publicação periódica destinada a ser o veículo privilegiado da produção científicados seus sócios. A participação da SPA na formação dos anestesiologistas portugueses,quer através de organizações próprias quer através da concessão de patrocíniosconstituiu a sua atividade mais saliente ao longo destes 50 anos. A partir de 2003,a SPA aprofundou a sua colaboração com o Colégio de Anestesiologia da Ordem dosMédicos. A partir de 2005, a SPA enveredou pala criação de secções temáticas e degrupos de trabalho com o objetivo de dinamizar e diversificar as suas intervenções.
Trombose do seio cavernoso no puerpério em paciente submetida a bloqueio subaracnoideu
A cefaleia é um sintoma frequente no puerpério. Nos últimos anos assistiu-se a um aumento do número de técnicas de analgesia e anestesia loco-regionais para o parto, acarretando risco de cefaleia pós punção da dura-máter, que deve ser reconhecida e tratada atempadamente. No entanto, o diagnóstico diferencial de cefaleia na puérpera é extremamente importante, pelo risco de fenómenos trombóticos que, quando não reconhecidos, podem ter graves consequências. Encontra-se por esclarecer a associação entre técnicas loco-regionais e fenómenos trombóticos, embora alguns estudos defendam que a hipotensão intracraniana transitória causada por estas técnicas pode ser suficiente para criar uma estase venosa que poderá, associada ao estado de hipercoagulabilidade do puerpério, estar na génese de tromboses venosas cerebrais. Apresentamos o caso de uma puérpera submetida a anestesia loco-regional para cesariana, cuja cefaleia foi inicialmente interpretada como cefaleia pós punção da dura-máter, atrasando o diagnóstico de trombose do seio cavernoso.
How trustworthy are ECG monitors? The filter selection dilemma
Introduction: Electrocardiographic monitoring has long been established as a standard for basic anesthetic monitoring by international societies, also being routine in intensive care settings. However, there are some caveats to this technology, and overreliance on the monitors’ results may lead to misdiagnosis. In this article we analyze the influence of filter selection on the final electrocardiographic (ECG) tracing. Though not a new subject, the precise mechanisms involved are usually more familiar to technicians and basic scientists than to physicians, mainly because of a lack of focus on the technical peculiarities of equipment function during medical education. Materials and Methods: We performed a Pubmed search for the expressions “ECG filters” and “ECG artifacts”, complementing it with references from the articles deemed most relevant. Results: The present article presents the basics of frequency representation of ECG signals, as well as examples of artifacts that can be removed or distortions that can be artificially introduced. Real world examples are used to exemplify these concepts. Discussion and Conclusions: Correct filter selection has the potential to provide a neater, clearer tracing, whereas lack of knowledge as to the settings being used may either provoque or mask important changes, namely repolarization abnormalities.
2016
Rodrigues Alves, Daniel Lourenço, André Antunes, Inês Leitão, João
Pré-aquecimento de dez minutos – uma boa forma de evitar a hipotermia?
INTRODUÇÃO: A hipotermia inadvertida perioperatória é uma complicação comum e está associada a consequências adversas. A sua prevalência varia de 50% a 90% e a incidência atinge os 70%. O uso do aquecimento prévio à indução anestésica tem sido usado e recomendado como medida preventiva. O objetivo do presente trabalho é avaliar a eficácia de um protocolo que tem como medida central o pré-aquecimento ativo com ar quente forçado iniciado 10 minutos antes da indução anestésica na prevenção de hipotermia inadvertida perioperatória. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo prospetivo, analítico e não-controlado. Aplicado protocolo de aquecimento perioperatório a doentes propostos para cirurgia abdominal sob anestesia geral com duração prevista entre 45 e 240 minutos. O protocolo inclui: pré-aquecimento de 10 minutos a temperatura intermédia (38ºC) e manutenção durante o procedimento, aquecimento de fluídos intravenosos e uso de sistema anestésico circular semifechado ou fechado. Registada temperatura central no momento da descontinuação do fornecimento de halogenado – temperatura central final. Considerou-se hipotermia uma temperatura central final inferior a 36ºC. Análise estatística realizada com software SPSS Statistics. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Incluídos 33 doentes. A temperatura média obtida foi de 36,3 ± 0,59ºC. Apresentavam normotermia 27 doentes (81,8%). Cinco doentes (15,2%) apresentavam hipotermia ligeira e um doente (3%) apresentava hipotermia moderada. Não houve diferença significativamente estatística na temperatura central final nos procedimentos laparoscópicos (p = 0,378). CONCLUSÃO: Neste estudo, o uso de um protocolo de aquecimento peri-operatório, que tem como medida central o pré-aquecimento ativo com ar quente forçado durante 10 minutos, permitiu a obtenção de uma prevalência muito baixa de hipotermia no final da cirurgia.
2017
Matias, Francisco Gil Gonçalves Ferreira, Céline Martins Matos, Francisco Maio Martins, Mafalda Ramos
Epidural analgesia for hyperbaric oxygen therapy in a patient with Nicolau Syndrome
Nicolau syndrome is a rare complication following intramuscular injection, leading to local ischemic necrosis. The authors present a case of a 3-year-old boy who was admitted with Nicolau syndrome after intramuscular penicillin injection and then proposed for hyperbaric oxygen therapy. On the 3rd day after admission an epidural catheter was inserted and a perfusion of ropivacaine was initiated. 24 hours after the epidural block the pain was under control and 48 hours after the block the patient was extubated. The hyperbaric oxygen therapy treatment was performed without any events. There are numerous treatments described for Nicolau syndrome, however, there is not a gold standard treatment established. Pain treatment with epidural analgesia seems a good option, particularly in pediatric patients, allowing a satisfactory adhesion to the other treatments. The authors also attested the security and efficacy of epidural catheters during hyperbaric oxygen therapy.
2016
Moreira, Joana Fonseca Bettencourt, Margarida Barros, Fernanda
Analgesia de parto: Abordagem do neuroeixo e satisfação materna
Introdução: O trabalho de parto pode causar dor intensa e sofrimento materno, pelo que o pedido da grávida é indicação suficiente para iniciar a analgesia do neuroeixo. Tem surgido novas tecnologias para administração dos fármacos epidurais durante a manutenção da analgesia. Esta pode ser efetuada através de continuous epidural infusion (CEI), bolus intermitentes manuais, programmed intermitente epidural bolus (PIEB), patient-controlled epidural analgesia (PCEA) ou computer-integrater PCEA (CI-PCEA). É importante comparar as várias opções e perceber quais as vantagens de cada uma. A satisfação materna é multifatorial e difícil de avaliar. A qualidade da analgesia é um dos fatores envolvidos e para melhorar os serviços prestados será necessário tornar claro o seu contributo e conhecer os outros fatores. Objetivo: Com este artigo pretende-se rever a literatura recente sobre a analgesia do neuroeixo no trabalho de parto, com especial enfase nas técnicas de manutenção da analgesia e na satisfação materna. Material e métodos: Esta revisão baseou-se na bibliografia que abordava este tema, publicada nos últimos 5 anos nas bases de dados PubMed, Web of Science e Scopus. Resultados: Para iniciar a analgesia do neuroeixo, parece não haver vantagem em usar por rotina a técnica combinada em relação à epidural em baixa dose. A PIEB permite uma melhor difusão da solução analgésica no espaço epidural do que a CEI, resultando em menor consumo de fármacos e menos episódios de dor. A PCEA proporciona autonomia à grávida e pode ser usada com ou sem uma perfusão basal ou ainda associada a PIEB. Esta última combinação apresenta melhores resultados, com menores scores de dor e menor carga de trabalho para o anestesiologista. O envolvimento materno na tomada de decisões, a relação da grávida com os cuidadores, o apoio dos profissionais de saúde e as expectativas pessoais são fatores importantes para a satisfação materna. A analgesia epidural de baixa dose associa-se a maior satisfação. A técnica PIEB ao diminuir os episódios de dor e a PCEA ao proporcionar autonomia estão igualmente associados a maior satisfação. Conclusões: Nos últimos anos têm surgido desenvolvimentos tecnológicos na manutenção da analgesia de parto, por via epidural, com preocupação crescente com o bem-estar e a satisfação materna. No entanto, são necessários estudos prospetivos, bem formulados, para concluir qual o esquema que proporciona melhor analgesia, bem como para avaliar de forma eficaz a satisfação materna com a experiência do parto. Palavras-chave: Analgesia de parto, parturiente e satisfação materna.
Índice de Massa Corporal e Cefaleia Pós-punção da Dura na População Obstétrica: existe relação?
Introdução A cefaleia pós-punção da dura-máter (CPPD) é uma das complicações mais comuns do bloqueio do neuroeixo. Em grávidas obesas, a abordagem do espaço epidural é tecnicamente mais difícil, associando-se a maior taxa de bloqueio falhado e risco de punção acidental da dura-máter (PAD). O objetivo do nosso estudo foi avaliar a relação entre o índice de massa corporal (IMC) e o desenvolvimento de CPPD. Material e Métodos Realizámos um estudo retrospetivo, entre janeiro de 2007 e dezembro de 2014. Revimos as folhas de registo das doentes em que ocorreu PAD/CPPD. As parturientes foram divididas em dois grupos de acordo com o IMC, não obesas (IMC < 30 kg/m2, G < 30) e obesas (IMC ≥ 30 kg/m2, G ≥ 30). Utilizámos o SPSS 22.0 no tratamento estatístico dos dados. Resultados Ocorreram 58 PAD (0,3%) e 45 (77,6%) mulheres desenvolveram CPPD. Comparando o G < 30 (n = 35) e o G ≥ 30 (n = 23), a incidência de CPPD foi semelhante (80,0% vs 73,9%, p > 0,05). A CPPD grave ocorreu em 4 (11,4%) mulheres no G < 30 e não ocorreu no G ≥ 30 (p > 0,05). O tratamento conservador foi efetuado em todas as doentes. O blood patch epidural (BPE) foi realizado em 42,9% no G < 30 e 17,4% no G ≥ 30 (p = 0,043, OR 3,563 IC 95% 1,00-12,67). Após redefinição dos grupos em mulheres com IMC < 40 kg/m2 e IMC ≥ 40 kg/m2, não houve diferença na incidência e intensidade de CPPD, nem na necessidade de realização de BPE. Discussão O baixo nível de evidência sugere que o risco de CPPD diminui à medida que o IMC aumenta. No nosso estudo, a incidência e as características da CPPD foram similares em gestantes obesas e não obesas, mas a realização de BPE foi inferior nas parturientes obesas, sugerindo que IMC superior pode ser protetor. Conclusão Não foi encontrada evidência de que as doentes obesas estejam menos predispostas ao desenvolvimento de CPPD. Contudo, a obesidade esteve associada a menor realização de BPE.
2017
Vaz Antunes, Maria Moreira, Adriano Faria, Aida
Consensos na Gestão da Via Aérea em Anestesiologia
A abordagem da via aérea dos doentes é uma competência nuclear da nossa especialidade e como tal tem sido objeto de uma preocupação na formação e no treino fundamentais para uma adequada prática clinica, sustentada em documentos que ajudam a criar padrão na prática clinica adequado e segura. É propósito da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia - SPA, o apoio a iniciativas que se relacionem com o estudo, reflexão, formação e criação de documentos orientadores na organização ou regulação da nossa prática clínica, nomeadamente no que se refere à abordagem da via aérea. Nesse sentido tem incentivado e apoiado diversas iniciativas como cursos ou workshops, associados aos cursos anuais do Centro Português do Comité Europeu para a Educação em Anestesiologia (CEEA) e atividades peri-congresso anual da SPA, entre outras. Em 2008 foi criado o Grupo de Trabalho de Via Aérea Difícil da SPA que tem sido responsável pela realização de cursos de abordagem e manuseio da via aérea de que são exemplo o Curso Via Aérea Difícil ou o de Fibroscopia da Via Aérea. Em agosto de 2014 por iniciativa do Grupo de Trabalho de Via Aérea Difícil e com o apoio da Direção da SPA, foi lançado o desafio de elaborar os primeiros consensos em via aérea difícil para Portugal. Estes consensos pretendem ser mais do que uma simples importação e tradução de diferentes algoritmos de sociedades científicas mundiais de reconhecido valor e mérito. Tendo como base o estado da arte acerca da abordagem da via aérea e os consistentes documentos existentes de sociedades científicas como a Difficult Airway Society (DAS), American Society of Anesthesiologists (ASA), European Airway Management Society (EAMS), etc. bem como importante bibliografia acerca do tema, procurou-se elaborar um documento que possa refletir uma adaptação às realidades e prática da anestesia portuguesa. Em paralelo foi realizado um esforço para criar um registo único de via aérea difícil, para adultos e crianças, que ao incluir informação considerada imprescindível acerca da abordagem da via aérea, permita construir uma base de dados que possa constituir um apoio sólido à reflexão acerca da nossa prática anestésica, no que respeita à abordagem da via aérea. Estudos recentes, nomeadamente os realizados no Reino Unido (4th National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists and the Difficult Airway Society - NAP4) demonstram que a ocorrência de problemas na abordagem da via aérea se relaciona com os operadores envolvidos e o seu nível de performance, bem como com as linhas de atuação previstas e os materiais que nelas se incluem para cumprir o objetivo definido. Nos últimos anos tem-se verificado um desenvolvimento de dispositivos que ajudam a uma mais segura, consistente e adequada abordagem da via aérea de que são exemplo os dispositivos supraglóticos, laringoscópios, videolaringoscópios, fibroscópios, etc. sendo a elaboração de recomendações e guidelines na abordagem de via aérea como noutras áreas, uma tentativa de uniformizar e integrar práticas de atuação, materiais disponíveis e níveis de formação e experiência, com o objetivo de melhorar as condições em que essa abordagem é realizada e, com isso, melhorar o “outcome” dos doentes. Os consensos são recomendações práticas que agrupam informação científica publicada, opinião de peritos ou dados clínicos e destinam-se aos colegas, com o objetivo de os ajudar na tomada de decisões no que à abordagem da via aérea diz respeito, tendo presente que a aplicação destas recomendações não são garante de resultados específicos e podem ser adaptadas ou modificadas atendendo a limitações ou situações fundamentadas. Devem ficar sujeitas a revisões periódicas, tendo em atenção a evolução da medicina e da anestesia e a avaliação dos resultados obtidos da sua própria aplicação ou aplicabilidade. A existência de recomendações possibilita a uniformização de linguagem, objetivos, prática clínica e materiais a utilizar perante determinados cenários de abordagem da via aérea. Os registos serão memória e partilha de experiências, sempre importante para a evolução dos cuidados prestados Com a publicação destes consensos pretende-se dar um contributo para uma evolução, conscientes de que é apenas um passo significativo na segurança e na qualidade dos cuidados de anestesia prestados aos nossos doentes. Conscientes do muito que ainda há a fazer, existe também a satisfação pela possibilidade de se ter mobilizado um vasto grupo de colegas para este contributo de criação de um documento, em português, que faça a síntese do que pode ser uma abordagem estruturada da via aérea.
Consensos na Gestão Clínica da Via Aérea em Anestesiologia
Os consensos na gestão clínica da via aérea em anestesiologia pretendem disponibilizar informação, baseada na evidência atual ou, na falta desta, na opinião de peritos, no que respeita à abordagem da via aérea difícil previsível ou não previsível. Reforçamos a importância da avaliação da via aérea e da identificação de potenciais problemas que possam condicionar dificuldade na sua abordagem e a adoção de uma estratégia segura que permita identificar e responder em crescendo de intervenção às dificuldades encontradas. Na impossibilidade de intubação traqueal (não intubo) otimizada e limitada a 4 tentativas, da impossibilidade de ventilar e oxigenar (não oxigeno) após 3 tentativas de usar um dispositivo supraglótico ou de uso de máscara facial inicialmente adequada é importante realizar, em tempo útil, uma cricotirotomia para assegurar oxigenação. As situações clínicas de exceção só com planos simples, conhecidos por todos e regularmente treinados e adaptados à nossa atividade clinica podem assegurar melhores "outcomes". O registo destes eventos e a informação ao nosso doente da dificuldade encontrada e modo com foi resolvido o problema é essencial e constitui ainda um desafio a alargar a uma base nacional.
2016
Órfão, Jorge Matos Aguiar, José Gonçalves Carrilho, Alexandre Ferreira, Amélia Leão, Ana Mourato, Carla Mexêdo, Carlos Pereira, Cláudia Vaz, Fábio Lança, Filipa Paiva, Graça Pires, Ivo Carvalhas, Joana Mourão, Joana Bonifácio, João Miranda, Lina Guinot, Marta Gacio, Mercedes Moínho, Nuno Santos, Patrícia Sarmento, Paula Frada, Rita Resende, Rita Lages, Rui Gestosa, Sandra Rocha, Teresa Moreira, Zélia
Editorial do Suplemento da Revista da SPA com os Resumos ao Congresso SPA 2016
Congresso da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia – Comunicações Científicas 2016 O Suplemento à Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA) vai incluir a seleção das comunicações científicas submetidas ao Congresso da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia 2016. Este ano foram submetidas ao Congresso 213 submissões, (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição das comunicações científicas ao Congresso da SPA Ano Submissões Pósters n(%) Estudos clínicos e similares (%) Casos clínicos (%) Miniposters n (%) 2011 215 122 (57) 46 54 NA 2012 185 115 (62) 56 44 NA 2013 195 96 (49) 68 32 NA 2014 223 134 (60) 60 40 55 (25) 2015 226 125 (55) 66 34 65 (29) 2016 213 139 (65) 63 37 33 (15) A maioria dos resumos foram submetidos na categoria de Prática baseada na evidência e melhoria da qualidade (54), anestesia regional (19), Equipamentos e Monitorização (18) e anestesia Obstétrica (14). Nestas categorias estão mais de 50% dos resumos submetidos. As categorias com maior percentagem de aceitação de posters foram: Prática baseada na evidência e melhoria da qualidade, Reanimação e Medicina de Emergência, Educação, Investigação e Apresentações, Farmacologia, Anestesia regional e Anestesia ambulatória todas com mais de 75% de taxa de aceitação relativamente ao total de submissões em cada grupo. Os estudos clínicos e similares representaram 63% do total das comunicações aceites como posters. Ao analisar a proveniência dos diferentes resumos aceites podemos observar que estes provêm de grandes centros hospitalares sobretudo das áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa que em conjunto contam com cerca de 63% dos resumos aceites mas os resumos aceites provêm de inúmeros hospitais dispersos pelo país o que consideramos representa um interesse global pela atividade científica. Tal como é habitual, foram selecionadas para apresentação oral as comunicações científicas melhor pontuadas, num total de dez que incluem os dois melhores casos clínicos pontuados pelos revisores. Estão devidamente identificadas na Revista. Haverá uma sessão para apresentação e discussão destas comunicações. A apresentação de comunicações livres faz parte do programa do congresso e pretende-se que possa ser um palco importante para discussão dos diferentes trabalhos apresentados, esperando –se que a discussão seja obviamente construtiva e pedagógica. A presença dos colegas quer nesta sessão (sábado, dia 12, pelas 8h30), quer durante a apresentação regular dos posters (horário de almoço, 13h00-14h00) gostaríamos que fosse participada e como já vem sendo habitual permitisse a troca de ideias e a crítica construtiva e pedagógica. O trabalho melhor pontuado este ano receberá um prémio e os trabalhos melhor pontuados que consigam ser publicados na Revista da SPA, revistas indexadas terão disponível uma inscrição no Congresso da Sociedade ou em Congresso Europeu. Esta iniciativa tem como objetivos claros, por um lado premiar a excelência e os melhores trabalhos, incentivando a qualidade científica e valorizando a competição, mas também apresenta-se com o objetivo de que os trabalhos apresentados possam ter continuidade e possam ser escritos de modo a virem a ser publicados em revistas que permitem uma maior divulgação e prestígio e implicam o reconhecimento de que o trabalho foi sujeito a uma submissão e ficou exposto a um leque de editores e revisores peritos na área de investigação. A categoria de “mini-posters”, introduzida no ano de 2014, resultou na aceitação de 33 trabalhos. Os mini-posters destinam-se a proporcionar a oportunidade a colegas ou a serviços de apresentarem casos ou novos procedimentos ou técnicas que apesar de não serem originais ou inovadores, constituem, no domínio do serviço, ou do hospital ou mesmo do nosso país, casos ou procedimentos que são raros ou novos ou diferentes da prática usual. Não se tratando de investigação propriamente dita, estas comunicações serão apresentadas em formato mais pequeno e não serão objeto de uma apresentação e discussão formal perante moderadores. Os seus autores devem procurar estar junto dos seus trabalhos durante os intervalos de café e os congressistas são encorajados a visitar e discutir estes mini-poster. A disponibilidade dos posters e mini-posters, este ano, durante o congresso vai ser diária. Disto resulta que cada comunicação irá permanecer um só dia em exposição com exceção das selecionadas para comunicação oral. O Grupo de Revisores, este ano, foi alargado a novos elementos num processo normal de renovação. Os critérios de seleção mantiveram-se similares aos dos anos anteriores. O grupo de trabalho dos revisores fez um trabalho voluntário e procurou-se garantir que o processo fosse eficiente e equilibrado. Agradecemos publicamente o trabalho dos colegas que integram a Comissão Científica de revisão de Resumos da SPA, cujos nomes são indicados abaixo e que reviram as comunicações submetidas. A sua colaboração vai ser estendida à moderação das apresentações dos posters e das comunicações orais, é fundamental para que se mantenha o fundamento pedagógico do processo de apresentação de resumos ao Congresso. Mais uma vez, os nossos parabéns vão para os autores que com o seu esforço conseguiram valorizar esta componente do Congresso da SPA. A investigação em anestesiologia está ativa como demonstram estes resultados. A maioria dos primeiros autores das comunicações são internos. Na verdade é para eles que vai grande parte da nossa atenção, e é a pensar na sua formação que os revisores avaliam as comunicações e que todo este processo é conduzido com evidentes preocupações pedagógicas. A Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, o seu Congresso Anual e a sua Revista, mantêm o compromisso de dedicar espaço e atenção à atividade científica dos seus membros. Mantemos a vontade de que o Congresso seja um importante fórum para a divulgação dos estudos científicos que se vão desenvolvendo nos diferentes serviços e a vontade de que seja possível não só sua divulgação e discussão, mas que ocorra a promoção de mais e melhor investigação. Agradecemos à Skyros pela dinâmica na organização do evento e, neste particular, ao trabalho de secretariado imprescindível na gestão das comunicações. O trabalho de edição e impressão do Programa e do Suplemento da Revista ao Congresso esteve a cargo da Letrazen cuja colaboração e empenho foram igualmente indispensáveis ao sucesso do evento. Fernando Abelha Pedro Amorim Paulo Sá Rodrigues António Augusto Martins Rosário Órfão Grupo de Revisores para o Congresso da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia 2016 António Augusto Martins (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) Carlos Correia (Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães) Conceição Soares (Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada) Cristina Ramos (Hospital Santa Marta, CHLC, Lisboa) Daniela Figueiredo (Hospital de Santo António, CHP, Porto) Fernando Abelha (Centro Hospitalar S. João, Porto) Filipa Lança (Hospital Santa Maria, CHLN, Lisboa) Hugo Vilela (Hospital Santa Maria, CHLN, Lisboa) Joana Carvalhas (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) João Viterbo (Centro Hospitalar S. João, Porto) Jorge Reis (Hospital da Arrábida, Vila Nova de Gaia) José Miguel Pêgo (Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Minho, Braga) Leonor Bettencourt (Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo) Mafalda Martins (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) Manuel Vico Ávalos (Centro Hospitalar Tondela – Viseu) Mara Vieira (Hospital Dr. Nélio Mendonça – Funchal) Marta Guinot (Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo) Patrícia O'Neill (Hospital Beatriz Ângelo, Loures) Paulo Sá Rodrigues (Hospital Fernando da Fonseca, Lisboa) Pedro Amorim (Hospital de Santo António, CHP, Porto) Susana Cadilha (Hospital de Santa Marta CHL Central, Lisboa) Suzana Parente (Hospital São Franscisco Xavier, CHL Ocidental, Lisboa)
2016
Abelha, Fernando Amorim, Pedro Rodrigues, Paulo Martins, António Augusto Órfão, Maria Rosário