RCAAP Repository

A dinâmica da presença brasileira no Índico e no Oriente. Séculos XVI-XIX

O propósito deste ensaio - que busca revisar e complementar a historiografia sobre o tema - é oferecer uma perspectiva brasileira do comércio para além do Cabo da Boa Esperança, examinar a presença brasileira no Estado da Índia e, ainda, resgatar as dinâmicas iniciativas dos comerciantes brasileiros, bem como destacar o importante papel dos portos brasileiros. Salienta a importância de Moçambique como ponto de convergência e de articulação entre o Oriente e o Ocidente, não apenas em termos comerciais mas também do ponto de vista cultural, referindo-se à contribuição brasileira aos costumes e à dieta dos habitantes da África Oriental, da Índia, da China e do Japão.

O Amazonas e o Prata na mitogeografia da América

Vários rios americanos intrigaram navegadores e cosmógrafos. Tal reação lança luz sobre um estrato cultural profundo ligado à simbologia dos grandes mananciais. Já na antiguidade clássica e nos primórdios do cristianismo, os rios estavam associados a um duplo significado: ora como obstáculo (limite natural de uma identidade coletiva) e ora como atalho (signo da possibilidade de romper fronteiras e permutar espaços). Preocupação constante nas estratégias européias de penetração e controle do território, o Amazonas e o Prata deram vida a um notável complexo mitológico. Suas margens serviram para ordenar uma série de referências fabulosas, tais como tribos de gigantes e pigmeus, o reino das amazonas, as montanhas resplandecentes do Parima, a província de Omagua, o El Dorado. O papel deste imaginário fluvial foi dar consistência ao desconhecido, ajudando a tornar o Novo Mundo uma realidade mais coerente e compreensível.

Definindo nação e Estado: rituais cívicos na Bahia pós-Independência (1823-1850)

Através de uma análise dos ritos cívicos na Bahia após a Independência, este artigo examina a maneira pela qual o Estado e a nação foram representados e pensados tanto pela elite quanto pelo povo no espaço festivo que reunia todas as classes sociais. Desta maneira, aborda as grandes questões sociais e políticas numa época em que uma sociedade recém-saída do regime colonial tentava se representar: raça, cidadania, pertencimento à nação e lealdades locais versus lealdade nacional. O artigo sustenta que havia uma visão popular do Estado que não se enquadrava nas festas oficiais e que perpetuava uma leitura alternativa do significado da Independência. Todavia, aos poucos, as festas cívicas contribuíram para o fortalecimento de identidades brasileiras e baianas.

Luzes a quem está nas trevas: a linguagem política radical nos primórdios do Império

O artigo ressalta as linguagens políticas, no sentido de John Pocock e Quentin Skinner, como instrumento de análise para o estudo dos projetos políticos concorrentes no Brasil, particularmente na primeira metade do século XIX. Analisa, assim, a linguagem política radical desenvolvida em fins do Primeiro Reinado e durante o período regencial pelos chamados "liberais exaltados", tomando como exemplo as definições doutrinárias dadas para um conjunto de cento e oito conceitos de significação política produzidos pelo principal jornal exaltado da corte do Rio de Janeiro, a Nova Luz Brasileira, publicado entre 1829 e 1831.

Sob o signo da iconologia: uma exploração do livro Saturno e a melancolia, de R. Klibansky, E. Panofsky e F. Saxl

Ao ser publicado, na Inglaterra, em 1964, o livro Saturno e a melancolia perdera os referenciais históricos e culturais que marcaram sua versão embrionária, na Hamburgo da década de 1920. As turbulências do século XX levaram à obsolescência um aspecto decisivo do projeto inicial: o realce, através da obra de Albrecht Dürer, da contribuição da Alemanha ao ideal renascentista do homem superior e temperamental, numa prefiguração do conceito romântico de "gênio". Os autores, judeus assimilacionistas, começaram o trabalho quando a crise da República de Weimar coincidia com a internação num hospital psiquiátrico de seu patrono intelectual, o historiador da arte Aby Warburg. A ascensão do nazismo os dispersou e eles se afastaram cada vez mais da figura e das idéias de Warburg.

Peculiaridades no Brasil

No summary/description provided

Milenarismo e política

No summary/description provided

A história nas histórias

No summary/description provided

Year

2001

Creators

Cunha,Maria Clementina Pereira

Dezessete: a Maçonaria dividida

O artigo analisa a especificidade e peculiaridade da maçonaria pernambucana, suas divergências em relação aos pedreiros-livres flumineneses, e a participação dos mações na revolução de 1817. Fugindo ao controle do Grande Oriente Lusitano, a maçonaria de Pernambuco esteve no centro dos projetos para o novo governo da capitania, depois da vitória da insurreição. As diferenças entre as várias correntes políticas que abrigava fez com que as propostas para o novo regime pudessem variar muito, passando da radicalidade republicana à restauração do pacto dos Bragança com a capitania. Longe de ser sepatatista, o movimento pretendia preservar a autonomia local no âmbito do Estado que surgisse com o colapso da monarquia absoluta, fosse este um Império constitucional luso-brasileiro ou uma monarquia liberal na antiga América Portuguesa.

Papéis incendiários, gritos e gestos: a cena pública e a construção nacional nos anos 1820-1830

A proliferação de manifestações como papéis chamados de incendiários, além de vozes, gritos e gestos nas ruas da capital do Império (Rio de Janeiro) nas décadas de 18201830, marca uma série de transformações e também permanências dos espaços públicos na polis. Da mesma forma, a sala do Teatro, na Corte, aparece como cena desta teatralização da política, em meio a tais expressões manuscritas, verbais e gestuais (que permanecem após a consolidação da imprensa periódica). Em geral elas continham aquilo que não podia ser impresso (ou mesmo falado) dentro dos limites vigentes e, ainda, permitiam envolver setores mais amplos do que o público habitualmente leitor ou redator. Destaca-se a importância de tais manifestações públicas para a política vivida no cotidiano, numa sociedade caracterizada pela comunicação oral e visual e num momento de construção da ordem nacional. As fontes utilizadas são: relatos de diplomatas franceses e jornais da época.

O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro, no século XVIII

O artigo analisa a especificidade das formas de organização da geração de escravos africanos vindos da África Ocidental para a cidade do Rio de Janeiro no século XVIII. A autora mostra como esses africanos se reorganizam no interior das irmandades católicas destinadas a homens pretos e como garantem espaços de organização étnica e reprodução do grupo.

A dinâmica demográfica de Luanda no contexto do tráfico de escravos do Atlântico Sul, 1781-1844

Este artigo objetiva, em primeiro lugar, reconstruir a história demográfica de Luanda entre 1781 e 1844, por meio do manejo de um grande número de censos coevos, apontando, em última instância, para a possibilidade de reconstituir a história da população de certas regiões do continente africano para o período anterior a 1900. Em segundo lugar, no caso específico deste centro urbano, o maior exportador de escravos da costa ocidental, indica-se que a sua história populacional não pode ser apreendida unicamente por meio do manejo de variáveis como os altos graus de mortalidade, resultantes das secas, das vagas de fome, das epidemias e do próprio processo de escravização. Deve se levar em conta, ainda, a dinâmica demográfica dos portos escravistas no âmbito maior do sistema do Atlântico Sul, particularmente a economia política de seu maior mercado, o Rio de Janeiro.

Year

2002

Creators

Curto,José C. Gervais,Raymond R.

Reis negros coroados

No summary/description provided

Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista: notas de pesquisa

Este artigo trata dos padrões de alforrias vigentes no Rio de Janeiro Oitocentista. Detecta o duplo movimento representado pela passagem das manumissões pagas para as gratuitas, e o concomitante predomínio dos africanos entre os escravos que alcançavam o mundo da liberdade. Busca as explicações para ambos os fenômenos e aponta para procedimentos metodológicos que eventualmente permitem melhor abordar a questão.

Afogando em nomes: temas e experiências em história econômica

O texto expõe preocupações temáticas do grupo de história econômica (séculos XVIIXIX), sob minha orientação, no LIPHIS e no PPGHIS. É dada especial atenção para os seguintes temas: império português, hierarquia social e processos de mudanças na sociedade colonial. O texto termina por apresentar questões metodológicas de pesquisa debatidas no grupo.Várias das idéias a seguir são hipóteses de investigações ainda em curso e, portanto, sujeitas a reparos.

Do selvagem convertível

A atitude de tolerância frente à alteridade indígena e a representação do índio tupinambá docilmente "convertível" contidas no relato do capuchinho Claude d'Abbeville,Histoire de la Mission... en l'isle de Maragnan (1614), são claramente tributárias do livro do huguenote Jean de Léry,Histoire d'un voyage fait en la terre du Brésil (1578). O capuchinho parafraseia o huguenote em várias passagens, mostrando o índio como objeto de análise "etnográfica", sem excluí-lo - como faz Léry - da possibilidade de salvação. Provavelmente, Claude d'Abbeville responde, desta forma, às expectativas do público francês, num contexto de exortação à colonização do Maranhão e de propaganda da obra apostólica da Ordem dos Capuchinhos.

Dom Sebastião contra Napoleão: a guerra sebástica contra as tropas francesas

O artigo analisa a sobrevivência do sebastianismo em Portugal no início do século XIX, a partir dos escritos que provocaram a chamada "guerra sebástica", travada paralelamente às guerras contras as tropas de Napoleão Bonaparte.