Repositório RCAAP

O falatório de Stela do Patrocínio e o discurso da crítica literária: variações

Este trabalho se situa entre os campos da crítica literária, da estética e da ética e foi impulsionado pelo seguinte questionamento: quais são os dilemas que os textos atribuídos a Stela do Patrocínio, no livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (2001), provocam à crítica literária? Diante dessa pergunta, ele variou tanto no sentido de ampliar o seu corpus e se tornar diverso em sua discussão, como no de cometer alguns desvios no formato padrão pressuposto aos trabalhos acadêmicos. Para lidar com os textos atribuídos a Stela, mulher \"nega preta e crioula\", que ficou 30 anos internada na Colônia Juliano Moreira, tornou-se fundamental discutir algumas questões de herança do discurso da crítica literária, suas premissas, seu jogo, suas regras de atuação e o papel do pesquisador frente aos dizeres dos sujeitos subalternizados, assim como se tornou necessário, ainda que de modo inicial, testar outros modos de olhar, escutar, sentir e experimentar esse falatório, que se constrói como um anedotário, que fala sobre os desafetos contra o corpo negro, que busca um \"corpo sem órgãos\".

Ano

2019

Creators

Ariadne Catarine dos Santos

O Sétimo Juramento de Paulina Chiziane e Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie: um olhar sobre a constituição das personagens

É possível afirmar que a produção literária de qualquer sistema social dialoga com o contexto histórico, cultural, econômico e político dentro do qual está inscrita, e tal contexto, por sua vez, também dialoga e reage a essa produção definindo um constante movimento sistêmico. Tais imbricações entre literatura e contexto social incidem na construção das personagens, muitas vezes, mobilizadas, nos textos literários, pela construção de suas próprias identidades e em tensão não só com o contexto social dentro do qual vão sendo inscritas, mas também e, inevitavelmente, com as demais personagens que integram a narrativa ficcional. É a partir desses movimentos entre a constituição das personagens, suas identidades e seus respectivos contextos sociais que os romances, O Sétimo Juramento, da escritora moçambicana Paulina Chiziane e, Hibisco Roxo, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie serão analisados. Tendo por base conjunturas históricas cujas especificidades estão demarcadas, Moçambique e Nigéria, é que as personagens femininas dos romances de Adichie e de Chiziane serão aproximadas e se distanciarão entre si, mas, continuamente em tensão, confrontam o universo masculino. Essas personagens acabam por ascender nessas narrativas ficcionais como mulheres que vislumbram rupturas de sistemas sócio-político-econômico-culturais e acabam por desencadear, sobretudo, novas relações plurais de identidade. Em ambos os romances, de maneira confluente, a dinâmica das tramas reside na movimentação, transformação e ação das personagens femininas que se redescobrem na pluralidade de sua constituição como seres humanos e plenas de possibilidades concretas e objetivas de transformação social para conferirem diferentes saídas para as sociedades de classes, historicamente, opressoras, machistas, patriarcais e opressivas.

Ano

2018

Creators

Juliana Sant'Ana Campos

"Poder colonial e literatura: as veredas da colonização portuguesa na ficção de Castro Soromenho e Orlando da Costa"

Este trabalho versa sobre os romances A Chaga (1970), do autor angolano Fernando Monteiro de Castro Soromenho, nascido na Vila de Chinde (Zambézia – Moçambique), e O Último Olhar de Manú Miranda (2000), do autor goês Orlando da Costa, nascido em Lourenço Marques, hoje Maputo (Moçambique). A nossa proposta de análise comparada parte do pressuposto de que essas duas criações literárias do passado histórico recente, de Angola (Camaxilo) e Goa (Margão) — na situação de ex-colônias portuguesas — apontam a perspectivas confluentes, conforme a visão crítica da história que aqui se tentou estabelecer. Buscamos levar em consideração a imprescindível relação dialética que mantêm entre si arte e sociedade. Constata-se a identificação desses respectivos romances com os pressupostos indicados por poéticas distintas, como o Neo-Realismo e o Realismo Maravilhoso.

Ano

2005

Creators

Regina Célia Fortuna do Vale

De charadas e adivinhas: o continuum do contar em Angela Lago

Estabelecemos como objetivo de nossa pesquisa: o descortinar do olhar para obras de Literatura Infanto-Juvenil, viabilizado por meio do entrelaçamento de aspectos referentes ao imaginário medieval ao fazer literário de Angela Lago. Destacamos em Charadas Macabras, a presença do elemento capeta como veiculador de informação e ou transformação através do uso da palavra. Em Sua Alteza A Divinha, o resgate da oralidade, enfocada sob a luz da teoria bakhtiniana, concedeu a ampliação de recursos como a comicidade, a ludicidade, a brincadeira, encapsulada na obra através do jogo, do desafio oral englobados na esfera da antítese social - o popular contrapondo-se à aristocracia, o forte contra o fraco - o elemento feminino em oposição ao masculino, fatores que concorreram para o dimensionar da análise. Caminhar nas trilhas da cultura oral possibilitou, ainda, a descoberta do riso espontâneo pelos veios da improvisação, pelo evidenciar da praça pública com suas práticas, identificadas em 10 Adivinhas Picantes, além de contribuir para o despertar da literatura paródica, presente em Indo Não Sei Aonde Buscar Não Sei O Quê. A busca de releituras do conto da princesa \"expert\" em adivinhações, compiladas por pesquisadores como Adolpho Coelho e Câmara Cascudo consolidaram, sobremaneira, o propósito inicial de pesquisa - a comprovação, nos contos de Angela Lago, da influência da cultura medieval que chega, através de Portugal e Brasil. Na conclusão, retomamos os elementos pertinentes à cada obra permeados ao âmbito do leitor, e palmilhados, particularmente, ao universo da criança - quintal da casa do faz-de-conta, lugar onde a magia, a alegria e o sonho, são.

Ano

2001

Creators

Rosemarie Giudilli Cordioli

A hora e a vez da perifeira: A literatura marginal/periférica e o cinema feito em Pernambuco a partir da Retomada

Esta dissertação tem como objetivo realizar um estudo comparado entre o livro Capão Pecado, de Ferréz e o filme Febre do rato, de Cláudio Assis. A proposta deste trabalho é comparar as obras, tendo como base a problematização do movimento Literatura Marginal/Periférica, integrado pelo autor do livro e, assim, questionar a noção de marginalidade. A partir da análise do romance, problematiza-se o lugar ocupado pelo narrador, com seu viés didático, inserindo-o num lugar não de marginalidade, mas de intermediação, fronteiriço. Por esse viés, observo na construção do filme, algo similar, que nomeei \"entre-lugar\", tomando emprestada a expressão de Silviano Santiago. Com isso, espero lançar um novo olhar para a questão e contribuir para os estudos das obras da literatura marginal/periférica e do cinema feito em Pernambuco, no começo da década.

Ano

2020

Creators

Henrique Moura Pereira

Criar e recriar, viver e escreviver: o encontro de Lygia Bojunga e Tomie Ohtake nos livros de arte para crianças e jovens - de 7 cartas e 2 sonhos a O meu amigo pintor

A presente pesquisa tem como objeto duas diferentes versões de narrativa juvenil de Lygia Bojunga; a primeira delas é 7 Cartas e 2 Sonhos, publicada em 1982, contando com reproduções de nove pinturas de Tomie Ohtake e a segunda é O Meu Amigo Pintor, trazido ao público, sem as referidas ilustrações, em 1987, pela Editora José Olympio - republicada em 2006 pela editora Casa Lygia Bojunga, contendo o posfácio Para Você que Me Lê, com informações sobre o processo criativo dessas duas obras. Investiga-se, dessa forma, o contato da escritora com as nove imagens pictóricas ohtakeanas, que inspiraram a criação de um texto literário para o projeto Arte para Crianças e Jovens da Berlendis & Vertecchia Editores, reunindo arte literária e arte pictórica num mesmo suporte o livro com ilustração. Para tanto, se pretende estudar o diálogo entre aspectos verbais e visuais presentes na primeira obra, que, por sua vez, culminaram no refazer literário de Lygia Bojunga, que, ao reescrever a narrativa, transformou-a em outra, sem a presença do suporte artístico de Tomie Ohtake. As histórias de 7 Cartas e 2 Sonhos e O Meu Amigo Pintor são contadas por um narrador que está na passagem da infância para a adolescência, período em que se depara com o suicídio de seu melhor amigo um artista, pintor. Nesse prisma, objetiva-se investigar ainda como se deu o processo de reescrita da primeira para a segunda versão do texto literário bojunguiano, analisando os resultados dessa transformação. Partiremos do pressuposto de que os presentes estudos são importantes para instaurar uma reflexão crítica sobre o papel da literatura destinada às crianças e jovens, na vertente de sua criação e recriação artística, com e sem a dimensão suplementar da arte pictórica.

Ano

2018

Creators

Flávia Maria Reis de Macedo

Fragmentos de uma cena invisível: um estudo das imagens melancólicas do Brasil no cinema de Joaquim Pedro de Andrade

Essa pesquisa analisa três dos filmes do diretor de cinema brasileiro Joaquim Pedro de Andrade: O padre e a moça (1965), Os inconfidentes (1972) e Guerra conjugal (1975). Tivemos em vista, para essas análises, as imagens melancólicas de nação que o diretor realiza a partir de uma ideia de trauma, que se funde à história do país. Estudamos, pois, como essas imagens nos filmes constroem uma representação do Brasil, feita de violência e repressão verificamos, para isso, como é expresso o contexto de realização dos filmes: a ditadura militar brasileira. Partimos da relação entre a fragmentação, tanto narrativa, quanto formal, que esses trabalhos propõem em relação a esses contextos, revisitando o conceito de melancolia, para associar a crise da representação com o processo histórico do país notadamente violento. Debruçamo-nos sobre os estudos de autores como Jeanne Marie Gagnebin, Jaime Ginzburg e Walter Benjamin para compor uma análise em mosaico dos filmes, nessa investigação sobre o desassossego da linguagem em nomear o passado. Ao nos aproximarmos dos três filmes também melancolicamente já que esse é o olhar que propomos nas análises, identificado como característica dos filmes reafirmamos nossa crença de que a linguagem não se rende ao impossível, à constatação de que o real é irrepresentável.

Ano

2019

Creators

Carla Moreira Kinzo

O romance O Escravo (1856), de José Evaristo de Almeida no sistema literário português

Com sua ação passada em Cabo Verde, o romance O escravo (1856) de José Evaristo de Almeida está vinculado à história da literatura caboverdiana, sendo considerado por alguns críticos como o primeiro romance nativista daquela literatura. O enfoque aqui proposto procura refletir sobre o seu lugar no âmbito da Literatura Portuguesa, demonstrando que, apesar de ocupar um espaço marginal no sistema literário português, esse romance dialoga, tematicamente, com a literatura européia, na sua relação intertextual com os romances Die Verloburg In St Domingo (O noivado em São Domingos), de Bernd Henrich Von Kleist e Bug- Jargal, de Victor Hugo.

Ano

2011

Creators

Susanne Maria Lima Castrillon

O eterno selo: morte e narrativa

Notabilizada por atuação positivadora ou negativadora, desde os primórdios do homem, a morte assumiu papel fundamental. Seus ritos notadamente refletiram a compreensão humana a seu respeito, ora intimizando, ora afastando seus expedientes das relações tecidas na sociedade. Desde a origem, a Filosofia sempre procurou descobrir as implicações da morte para a vida humana. Na literatura, o tema é uma constante, muitas vezes determinando seus caminhos, suas tragédias e as soluções narrativas encontradas. Tomando como subsídios teóricos os trabalhos de Phillippe Ariès, Édouard Glissant, Michel Foucault e sobretudo Maurice Blanchot, esta dissertação busca compreender a presença da morte, em suas diversas acepções, na narrativa do escritor baiano Adonias Filho. Para isso, focaliza sua obra Memórias de Lázaro, que compõe o perséquito dos mortos (Os servos da morte, Memórias de Lázaro e Corpo Vivo), do escritor itajuipano. A proposta é que seja feito cotejo da obra do escritor mencionado com as tendências contemporâneas de escrita narrativa e com os estudiosos citados, entendida a morte como aporte essencial para a operação narrativa.

Ano

2011

Creators

João Luiz Peçanha Couto

Racionais Mc\'s: do denuncismo deslocado à virada crítica (1990-2006)

O presente trabalho analisa dois momentos na obra do grupo de rap paulistano Racionais Mc´s. O primeiro momento, de 1990 a 1993, estrutura um modo de crítica que se caracteriza pelo tom denuncista, assemelhado ao tom professoral, no enfoque das composições, cujo ponto de vista dos raps não se constrói a partir da periferia, mas deslocado, pretensamente acima dela, em razão da posição em destaque do rapper nesse espaço social. Já o segundo momento, a partir dos raps Fim de semana no parque e Homem na estrada, do álbum Raio X do Brasil (1993), é marcado pela superação do ponto de vista professoral, pois as composições formalizam a perspectiva do morador de periferia, cujo resultado estético não só olha para a periferia, mas partir desse espaço social.

Ano

2015

Creators

Charleston Ricardo Simões Lopes

As representações do imaginário popular nos romances de Carlos de Oliveira

O objetivo desta tese é investigar o vínculo da prosa ficcional de Carlos de Oliveira com as tradições populares. Para tanto, foram escolhidos os quatro primeiros romances do escritor: Casa na Duna (1943), Alcateia (1944), Pequenos Burgueses (1948) e Uma Abelha na Chuva (1953). Além disso, como subsídio, foi analisada uma coletânea de contos populares que Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira publicaram em 1957, os Contos Tradicionais Portugueses. O conto popular, fonte rica de informação interdisciplinar, anônimo e ubíquo, é um documento vivo dos costumes, idéias e mentalidades de um povo, e suas representações acabaram por impregnar a ficção de Carlos de Oliveira, artista que viveu boa parte de sua vida numa região pobre e rural, a Gândara, que teve intensos reflexos em sua obra. Entre as representações do imaginário popular que foram rastreadas em seus romances, incluem-se entidades, crenças, mitos, provérbios e ditos populares. Como se procurou evidenciar, a tradição, porém, não é simplesmente incorporada a seus romances, mas problematizada e encarada sob o viés da ironia e da crítica. Na sua escrita ficcional, a linearidade fabular, estudada por Propp, Alain Dundes e outros, é rompida e, nesse processo, desvia-se da construção esquemática dos personagens dos contos tradicionais. Conforme neste trabalho se enfatizou, na passagem do tradicional ao literário, dá-se a quebra da exemplaridade, que é importante marca do conto popular. Pela inclusão das análises de capítulos de dois romances (Casa na Duna e Pequenos Burgueses), pretendeu-se pontualmente acrescentar como, reunindo o mítico, o anedótico e o mágico, essas mininarrativas recuperam o caráter oral dos causos famosos. O resgate de contos da tradição popular lhes dá ganho da longevidade nos romances de Carlos de Oliveira, pela competência artística de, transformando-os, atualizandoos, conceder-lhes outro futuro.

Ano

2007

Creators

Maria Cecilia de Salles Freire Cesar

A literatura entre lados da guerra: uma leitura comparativa de Os sobreviventes da noite, de Ungulani Ba Ka Khosa, e Neighbours, de Lilia Momplé

A partir de uma análise comparativa de duas obras do romance moçambicano, Os sobreviventes da noite (2008), de Ungulani Ba Ka Khosa, e Neighbours (1995), de Lilia Momplé, é possível visualizar certo tipo de estruturação da narrativa em que o tempo presente parece afetado por engastes narrativos que interceptam constantemente o avanço da ação. A esses engastes narrativos correspondem inúmeras camadas de passado em que as histórias pessoais de cada personagem ganham vez na economia da obra e se sobrepõem ao tempo que corresponde à ação no presente. Essa característica estética, aqui chamada de presente dependente, é analisada à luz de uma crítica materialista que tenta conectar o dado estético à dimensão histórica do período em que essas obras foram escritas e a que ambas fazem referência. O enredo dos dois romances situa-se no conflito armado que se seguiu à independência de Moçambique. Nesse sentido, a investigação avança sobre as hipóteses que, entre a literatura e a história, motivam o fato de duas obras tratarem de um mesmo momento histórico através de estruturas estéticas aproximáveis.

Ano

2014

Creators

Ubiratã Roberto Bueno de Souza

A (des)socialização do negro em Kinaxixe, de Arnaldo Santos

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre o processo de assimilação imposto às populações do território angolano dos anos de 1950 e 1960 presente na obra literária Kinaxixe, de Arnaldo Santos, publicada em 1965, em Portugal, e em 1981, no Brasil. A obra de nove contos retrata a tensa convivência dos negros, mestiços e brancos nos musseques e bairros que circundam a costa luandense no auge da maior migração de brancos portugueses ao território angolano. Por meio de leis como o então recente Estatuto do Indigenato, de 1954 e o Acto Colonial, de 1933 acirram-se as diferenças sociais. Esse plano jurídico foi baseado em teorias darwinistas do século XIX e lido de maneira hierarquizante e subjugadora, separando as populações do território angolano como não civilizados ou assimilados, e fazendo dos portugueses, em oposição, supostamente, civilizados, aptos a colonizar as populações do território baseado, por isso, na suposta superioridade cultural e social.

Ano

2016

Creators

Sérgio Ricardo Rorato

Periódico literário luso-brasileiro O Futuro

Esta pesquisa se insere na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, tentando compreender o surgimento da revista literária O Futuro. Criada por Faustino Xavier de Novais em 15 de setembro de 1862, circulou até 1 de julho de 1863 e contou com vinte exemplares. Diferiu-se das publicações vigentes no período, pois reuniu escritores portugueses e brasileiros propondo a criação de um campo comum que fortaleceria as relações luso-brasileiras e combateria o estranho domínio representado, sobretudo, pela presença marcante da literatura francesa. Assim, esta revista defendeu a divulgação e livre circulação de obras literárias das nações do futuro: Portugal e Brasil. À luz de estudos sobre o desenvolvimento da imprensa no país, realizados por Molina (2014) e Sodré (1999), e baseando-se nas reflexões elaboradas por Massa (2009) e Sandmann (2004) acerca da existência de relações luso-brasileiras intermediadas, principalmente, pelo escritor Machado de Assis, buscamos compreender o que foi esta revista e refletir sobre alguns círculos de sociabilidade da época. Para tanto, realizamos, primeiramente, um mapeamento do periódico. Criamos três tabelas dispondo os dados encontrados e um dicionário biobibliográfico sobre os colaboradores desta revista. Em seguida, pontuamos alguns elementos presentes na carta de abertura escrita por R. Carlos Montoro e, por fim, elencamos dados em torno de três escritores: Faustino X. de Novais, Camilo C. Branco e Machado de Assis, grandes responsáveis pela concretização deste periódico. O corpus estudado apresentou novidades literárias sobretudo o romance Agulha em Palheiro - partituras musicais e gravuras, denotando os aspectos modernos deste periódico que visou, aparentemente, atingir não só o público masculino como também o feminino.

Ano

2016

Creators

Damares Rodrigues de Oliveira

Hibridização e vida social - um olhar comparativo entre Memorial do convento, de José Saramago e Bartolomeu de Gusmão: Inventor de aerostato, a vida e a obra do primeiro inventor americano, de Afonso E. Taunay

O trabalho aqui apresentado insere-se na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa e fundamenta-se na teorização sobre o hibridismo cultural e sua in-fluência nas sociedades. Tem-se em vista discutir a circulação dos repertórios culturais entre Brasil e Portugal, tal como aparecem na figura de Bartolomeu Lourenço de Gus-mão em duas obras literárias: no romance Memorial do convento, de José Saramago, e na biografia Bartolomeu de Gusmão: Inventor do aeróstato, a vida e a obra do primeiro inventor americano, de Afonso de E. Taunay. Nessa trajetória, enfocaremos como os dois autores tratam da hibridez de Gusmão, além de outros aspectos referentes ao múlti-plo e ao plural, seja no que diz respeito às obras em si, à construção de identidades em um mundo de fronteiras flutuantes e ao hibridismo como resultado do colonialismo. A hibridação permeia todos os níveis das produções culturais das sociedades e, portanto, dos fluxos entre as literaturas. Em um mundo de fronteiras flutuantes, é imprescindível buscarmos novas associações no campo do comunitarismo cultural ao qual historicamen-te nos vinculamos. A essência marcadamente híbrida de Gusmão é ressaltada tanto por Taunay como por Saramago. A partir do múltiplo, ambos unificam o personagem na figura do herói, apesar de, em Saramago, o herói fazer parte de um grupo. Em uma cons-trução biográfica de caráter transtextual, Taunay visa provar a prioridade aerostática de Gusmão e dar-lhe as glórias que não recebeu em vida. Vemos então um homem de fé, religioso e grande cientista injustiçado pela sociedade portuguesa do século XVIII. Já Saramago constrói um Gusmão profano, herético, desequilibrado, que caminha para a loucura e a morte após construir sua passarola. Esta representa o escape de um mundo opressor e injusto, em uma manobra utópica que nos remete ao sonho de Ícaro e coloca não o divino, mas o homem como o responsável pela dinâmica do mundo. Por meio de um texto que mistura história e ficção, passado e presente, ironia e transtextualidade em uma mescla de gêneros literários, Saramago faz uma releitura da História portuguesa para que melhor possamos compreender o presente e atuar criticamente para modificá-lo. Paralelamente, constatamos que devido à sua constituição altamente híbrida desde a Pré-História, sem exclusivismos de raça ou cultura, a sociedade portuguesa apresentou uma burguesia atípica, ficando marcada por uma rusticidade resultante da passagem de uma sociedade não totalmente tradicional a uma não tipicamente moderna. O seu ingresso tardio no coro europeu apenas a partir dos grandes descobrimentos marítimos determinou um tipo de sociedade que se desenvolveu, em alguns sentidos, quase à margem das ou-tras nações europeias e constitui-se uma zona de transição por ser uma das pontes pelas quais a Europa comunica-se com outros mundos. A plasticidade social portuguesa in-fluenciou na formação do Brasil colônia, em uma hibridação que se aprofundou através da mesclagem com índios e negros, possibilitando o nosso caráter tipicamente híbrido e não apenas multicultural.

Ano

2011

Creators

Inaiê Lisandre Costa Garcia Sanchez

João Carlos Marinho e Pepetela: dois escritores em ponto de bala. O gênero policial em Berenice detetive e James Bunda, agente secreto

A presente tese procura sustentar que as obras do corpus desta pesquisa, Berenice detetive, do brasileiro João Carlos Marinho, e Jaime Bunda, agente secreto, do angolano Pepetela, duas narrativas literárias de língua portuguesa, são ambas tributárias do gênero policial sem, no entanto, abdicarem de ser, ao mesmo tempo, obras sui generis. Para dar suporte a semelhante proposição busca-se, inicialmente, inventariar e comentar os mais importantes traços das principais vertentes do gênero policial e sua relação com história e sociedade; em seguida, analisa-se, em separado e comparativamente, as obras Berenice detetive e Jaime Bunda, agente secreto, a fim de compreender em qual medida estas obras se inserem no ou se afastam do gênero policial; com quais obras literárias ou cinematográficas, dentro e fora do gênero policial, e com quais vertentes do citado gênero, ambas dialogam; quais procedimentos intertextuais lançam mão em sua construção; em quais contextos ambas estão inseridas; e os efeitos estéticos, culturais e sociopolíticos que alcançam. Após a realização das análises acima mencionadas, tenta-se elucidar o modelo teórico de análise comparativa de narrativas ficcionais efetuado nesta investigação por intermédio do gênero literário, num esforço de contribuição teórica desta pesquisadora ao campo dos Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.

Ano

2013

Creators

Luci Regina Chamlian

Sagas familiares e narrativas de fundação engajadas de Érico Verissimo e Pepetela

Esta tese apresenta um estudo comparativo entre a trilogia O tempo e o vento, formada pelos romances O continente (1995), O retrato (1995) e O arquipélago (1995), do escritor brasileiro Erico Verissimo; e o romance Yaka (1998), do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como Pepetela, pelo fato dos dois escritores se utilizarem de estratégias narrativas comuns, tais como a saga familiar, a metaficção, a técnica narrativa do contraponto e a polifonia na escrita de seus romances históricos ou narrativas de fundação. A utilização de recursos narrativos comuns torna semelhantes as estruturas narrativas das duas obras que formam o corpus da pesquisa. Ao final da tese, esperamos comprovar que a obra do escritor brasileiro serviu de modelo para o escritor angolano, que incorporou algumas de suas estratégias narrativas e as adaptou ao contexto da literatura angolana, segundo o conceito de intertextualidade de Julia Kristeva (1974) que concebe a escrita de um texto literário como a leitura do corpus anterior, noção que implica ver o texto como absorção e transformação de um outro texto, de modo que o romancista ao escrever a sua obra sempre parte de um modelo pré-existente, seja para legitimá-lo ou questioná-lo, sem que isto signifique que ele tenha feito uma mera cópia do modelo apropriado.

Ano

2013

Creators

Donizeth Aparecido dos Santos

Manuel Bandeira e a claridade: confluências literárias entre o modernismo brasileiro e o cabo-verdiano

Este trabalho analisa a importância da poesia de Manuel Bandeira, dentro do contexto do Modernismo literário brasileiro, para o grupo de autores cabo-verdianos ligados à publicação da revista Claridade, sobretudo em sua primeira fase, nos anos de 1936 e 1937. Destacamos aspectos que contribuíram para a confluência literária que se verifica entre tais autores, como a similaridade das formações culturais, a busca por um modernismo que servisse de transição entre a herança literária do passado e as inovações formais, e o caráter utópico da literatura. Como conclusão, esperamos contribuir para uma nova leitura da obra do poeta brasileiro, enaltecendo aspectos até então relegados a um segundo plano, e, como conseqüência, promover uma valorização dos autores cabo-verdianos como agentes no vasto sistema das literaturas de língua portuguesa.

Ano

2006

Creators

Julio Cesar Machado de Paula

\"A gata e a fábula\" e \"Exílio\": a manifestação do desamor no mundo moderno

O presente trabalho tem por intuito demonstrar a solidão, a incomunicabilidade e a precariedade dos relacionamentos no mundo moderno. Para tanto fizemos um estudo detalhado das personagens e da linguagem simbólica presentes em A gata e a fábula, de Fernanda Botelho e Exílio, de Lya Luft. Coincidentemente, o contexto histórico das duas obras consiste na ditadura, que ocorreu em Portugal e no Brasil, porém não aparece explicitamente nos romances, mesmo porque o enfoque de ambos é o de mostrar a situação da mulher numa sociedade conservadora e patriarcal. Ambos os romances mostram a mulher à procura de sua identidade numa sociedade na qual ela sempre ocupou uma posição inferior.

Ano

2006

Creators

Alda Maria Arrivabene Genta

Contribuições para uma poética do maravilhoso: um estudo comparativo entre a narratividade literária e cinematográfica

Esta pesquisa tem como objetivo estudar o maravilhoso, enquanto um gênero narrativo, e propõe uma investigação comparativa entre a literatura e o cinema. O recorte estabelecido ficou circunscrito ao gênero dos contos maravilhosos , privilegiando a estória de A Bela e a Fera em algumas de suas variantes, comparadas à sua matriz Eros e Psique. Quanto ao cinema foi escolhido o gênero da ficção científica, elegendo o filme Matrix I como objeto de análise, apontando sua convergência estrutural com os contos, baseada na teoria de Vladimir Propp. O problema proposto foi o de encontrar possíveis elos de ligação entre a literatura milenar dos contos e o cinema moderno.Ou seja, Como o cinema - em alguns de seus gêneros- pode se conectar com o maravilhoso na literatura?

Ano

2006

Creators

Celisa Carolina Alvares Marinho