Repositório RCAAP

O teatro trans-ibérico: Raul Brandão e Valle-Inclán

O teatro trans-ibérico: Raul Brandão e Valle-Inclán tem como objetivo: pesquisar, analisar e comparar a literatura dramática desses dois artistas e escritores contemporâneos; ambos representantes de suas gerações literárias, na península ibérica, e desencadeadores de uma moderna dramaturgia no início do século XX. Antes de apresentar o estudo comparativo do teatro português e espanhol, do início do século XX, faremos observar alguns aspectos históricos e sociais da contínua decadência peninsular deste período, questões que aproximam ambos ainda mais, e que enfaticamente influenciaram na formação dos temas, das concepções artísticas e literárias dos dramas desses dois autores de povos vizinhos. Um painel amplo e detalhado da vida e obra de cada autor, em seu respectivo contexto histórico, fez-se aqui necessário para vislumbrar o percurso realizado por cada um deles e o desenvolvimento de suas respectivas produções literárias. Testemunhas comprometidas com esse período, Raul Brandão e Valle-Inclán, ao término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), na plenitude literária de suas vidas, decidiram criar uma dramaturgia de vanguarda. Jesus Cristo em Lisboa (Brandão, 1927) e Los cuernos de Don Friolera (Valle-Inclán, 1921) são frutos do inconformismo de uma época conturbada; peças características de um teatro, que apostava em mudanças e, sobretudo, buscavam alguma reação sinestésica de suas respectivas sociedades. Elegemos os dois dramas mencionados, por serem considerados os precursores do teatro moderno, e por se tratarem de peças polêmicas, produções cinematográficas e de difícil encenação. Tratando-se também de estudo comparativo, recolhemos um conjunto de recepções críticas sobre nossos autores e suas respectivas obras dramáticas, em vida tanto quanto postumamente. Por fim, após investigação, conclui-se a respeito das diferenças e semelhanças desta dramaturgia ibérica, presente nas peças de Raul Brandão e Valle- Inclán.

Ano

2006

Creators

Fermín Vañó Ivorra Filho

Cabo Verde em perspectiva feminina: a produção literária em língua portuguesa de Ivone Aida e Orlanda Amarílis

Esta pesquisa analisa comparativamente as personagens femininas dos contos de Ivone Aída e Orlanda Amarílis. Ambas as autoras revelam particularidades do cotidiano feminino cabo-verdiano na ilha e na diáspora. Em consonância com o propósito da hermenêutica do cotidiano que procura registrar aspectos concretos da vida de todos os dias, de homens e mulheres, o caráter dinâmico do conto ilumina nas obras de Orlanda Amarílis e Ivone Aída a história cultural caboverdiana e as identidades sociais nela inseridas pelo viés do estudo das relações de gênero. Analisando a situação social feminina vigente em Cabo Verde, durante longo tempo sob o signo da resignação e da obediência, concluímos que as escritoras propõem que o futuro aguardado deve levar em conta o presente das experiências, movido pela esperança concreta que não se esgota em uma realização particular, mas estimula constantemente a ação das mulheres que constroem o seu porvir e o do país. Consideramos a esperança concreta, patente nos textos literários analisados, como um sentimento mobilizador de práticas transformadoras das condições opressoras da sociedade frente aos discursos fatalistas, ampliando a compreensão do real e permitindo visualizar-se de maneira antecipatória uma nova realidade, em prol da construção de novas identidades.

Ano

2012

Creators

Jussara de Oliveira Rodrigues

Entre percursos e berros: o eu entretecido por fios de memória em Wanda Ramos e em Tereza Albues

Esta tese efetua uma leitura comparada das obras Percursos (Do Luachimo ao Luena), publicada em 1981, pela portuguesa Wanda Ramos (1948 1998), e O Berro do Cordeiro em Nova York, escrita em 1995 pela mato-grossense Tereza Albues (1936 2004), focalizando a memória enquanto elemento estético literário organizador da narrativa, cuja gênese está ligada ao ato de recordar as experiências de vida pela personagem principal a partir das relações sociais, constituídas durante todo o percurso de sua existência e, de modo especial, no presente da narração. Ao tecer a própria história, o eu é sujeito e objeto da sua percepção e da abordagem discursiva. Ao rememorar e construir sua história de vida sempre à luz do ficcional, as protagonistas atribuem uma espécie de unidade ao eu textual que se distingue do eu da experiência, descontínuo e fragmentado pela infinitude da existência em oposição ao mundo finito, fixado através da linguagem escrita; pela vulnerabilidade do vivido, impossível de ser apreendido pelo sujeito na totalidade, e pela fragmentação do ser em constante mobilidade. A rememoração no ato criador das duas narrativas literárias mencionadas vem acompanhada do imaginário ficcional, capaz de preencher as lacunas provocadas pelo esquecimento e pela limitação da percepção e da apreensão do vivido pelas protagonistas. Por considerar o ato de lembrar intrinsecamente ligado às relações interpessoais, a memória como uma habilidade psicológica do ser humano, que depende dos signos para se fazer expressar e que os signos possuem significados constituídos socialmente, o suporte teórico desse trabalho é norteado pelos estudos de Halbwachs e de Bakhtin, acrescidos das abordagens de Walter Benjamin referentes à habilidade de narrar como uma das peculiaridades fundamentais do ser humano intimamente ligada ao processo mnemônico. Este estudo nos leva a entender que a formação das protagonistas revelada, construída e apresentada no final dos textos por meio do discurso metalingüístico está entrelaçada às próprias escrituras do eu, tendo como ápice desse processo a autonomia da obra de arte em relação a seu criador.

Ano

2010

Creators

Leonice Rodrigues Pereira

As imagens em palavras: sensações e percepções na leitura de obras da modernidade

Esta tese tem por objetivo apreender as relações do código verbal nas imagens das palavras, promovendo o resgate da palavra, a qual prescinde do código visual, e que descreve as sensações e percepções diferenciadas e múltiplas, mostradas em níveis graduados, do contextual ao estético; concomitantemente com os traços de modernidade, detectados nas obras selecionadas. O corpus de análise compõe-se de nove obras, dos autores brasileiros tem-se: Bartolomeu Campos de Queirós, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Leo Cunha, Lygia Bojunga e Paulo Leminski; dos portugueses, Alice Vieira e José Saramago; e do africano, Mia Couto. Através da observação de algumas características comuns, e buscando-se apoio teórico nos autores que discorreram e discutiram criticamente a modernidade, foram captados tais traços comuns, elencados no primeiro capítulo. O segundo capítulo faz uma pequena incursão sobre os modos de processar a percepção. O terceiro apresenta as análises realizadas, categorizadas em três paradigmas, evidenciando-se os traços de modernidade, cuja presença aparece em menor ou maior grau. Desta forma, o verbal comprova a sua força e seu caráter essencial, que tanto sugere quanto mostra sensações e percepções na leitura da palavra imagética.

Ano

2015

Creators

Daniela Yuri Uchino Santos

\'Quase\' como antes: a (des)construção das representações de infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil

Este trabalho visa a apresentar um estudo investigativo do processo de construção e desconstrução das representações da infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil inglesa e brasileira. Para tanto, estabelecemos, a priori, no Capítulo I, as bases conceituais de nosso trabalho, bem como tratamos das esferas culturais, econômicas, políticas, ideológicas que propiciaram o surgimento do conceito de infância da classe operária durante a Revolução Industrial, e investigamos de que forma interesses de formação da mão de obra trabalhadora e movimentos sociais e filantrópicos, assim como obrigações legislativas fizeram com que a jornada de trabalho infantil fosse paulatinamente diminuída e os diversos tipos de ensino fossem instaurados, de acordo com o contexto socioeconômico em questão. A seguir, a tentativa de traçar um perfil literário histórico e social que demonstre as diversas representações da infância da classe trabalhadora na Inglaterra e no Brasil ou a ausência delas --, procedemos à análise de obras literárias representativas da condição da criança que fosse filha de trabalhadores ou ela mesma trabalhadora. Assim, no Capítulo II, iniciamos nossa exploração através da análise de Kim, de Rudyard Kipling, e O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett, bem como de Os meninos e o trem de ferro, de Edith Nesbit, para discutirmos representações de classe e infância entre as personagens, bem como sua relação com o espaço habitado e a relação dialética entre base e superestrutura existentes tanto na literatura relativa à colônia inglesa quanto ao território inglês, e então partimos para a análise de Saudade, de Tales de Andrade, como obra exponencial do projeto político-pedagógico de uma República ainda em construção e carente da formação de uma identidade nacional, e colocamos em evidência as relações entre o protagonista e as demais personagens e o espaço do campo e da cidade, como forma de ressaltar a visão utópica e idílica da comunhão da criança com a natureza como base formadora ideal de uma civilização. No capítulo III, avançamos na história para abordarmos Ballet Shoes, de Noel Streatfeild, primeiro livro de uma série das irmãs Fossil, adotadas por um arqueólogo na Londres dos anos 1930 e que, diante do desaparecimento deste, se vêem forçadas a trabalhar para garantir a subsistência. Neste contexto, exploramos questões de cunho social e histórico e discutimos representação de classe, infância e trabalho, numa tentativa de estabelecermos um ponto de diálogo com o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, e aí retomarmos, no contexto nacional de uma república herdeira de uma tradição escravocrata, a relação entre família, trabalho e infância na existência da protagonista. Ainda na discussão da relação de infância, classe e trabalho, o Capítulo IV apresenta uma análise de A fantástica fábrica de chocolate, de Roald Dahl, e Açúcar amargo, de Luiz Puntel, para contrapor as visões do modo como a criança da classe trabalhadora volta a ter sua infância cada vez menos idealizada e mais inserida na realidade adulta do trabalho, da desestrutura familiar, da falta de recursos materiais e da necessidade de garantir sua subsistência. O Capítulo V apresenta não obras emblemáticas ou definitivas sobre o tema, mas novas possibilidades de leitura social inglesa e brasileira da infância da classe trabalhadora e do crescimento de jovens em tais contextos, e a forma como a descoberta de cada um se dá em tais ambientes. Para tanto, apresentamos uma análise de Reviravolta, de Damian Kelleher, e Jardim do céu, de Edison Rodrigues Filho. Com este caminho percorrido, compreendemos que houve, de fato, um processo de construção de uma infância da classe trabalhadora, que ora foi maquiado pelo discurso rousseauniano do bom selvagem e da inocência, ora foi calado em detrimento da expansão de uma literatura infantil e juvenil mais centrada na figura da criança sacralizada, nos termos de Viviana Zelizer (1985), para então voltar a figurar, a partir principalmente dos anos 1980, não como representação de uma classe, mas como ser constituinte de uma sociedade multifacetada que já não comporta, há muito, mascaramentos sociais ou políticos em favor da propaganda de um ideal inexistente

Ano

2014

Creators

Fabiana Valeria da Silva Tavares

O canto do galo, o pouso da mosca: exclusão social em Manuel Lopes e Graciliano Ramos

Partindo das narrativas de ficção Galo cantou na baía (1936), de Manuel Lopes, e Um ladrão (1939), de Graciliano Ramos, buscamos investigar as estratégias discursivas dos autores de nosso corpus quando da tentativa de se mobilizar em favor das populações que viviam em condições de extrema carência, tendo na literatura um forte meio de promover os debates urgentes daquele momento histórico, caracterizado pela opressão de regimes ditatoriais. Desta maneira, a perspectiva narrativa é um dos pontos centrais do trabalho. Em confluência com a fatia social retratada nos contos, pareceu-nos fundamental o debate sobre a fome e seus efeitos para o organismo humano, que findou por dirigir nosso trabalho. Encontramos na obra de Josué de Castro uma rica pesquisa capaz de conduzir nossas análises, levando-nos da condição de faminto dos personagens a seu desdobramento: a condição de criminoso principiante. Buscamos analisar, também, as construções ideológicas que influenciavam as consciências naquele período da história, encontrando em Louis Althusser os subsídios para tal análise.

Ano

2011

Creators

Maria Luzia Carvalho de Barros Paraense

Entre literatura, cinema e filosofia: Miguilim nas telas

Esta pesquisa teve como objetivo analisar a literatura e o cinema a partir da filosofia contemporânea. Foram objetos deste estudo a literatura, aqui representada por João Guimarães Rosa, e o cinema inspirado por uma de suas obras. Analisou-se Campo Geral, novela publicada pela primeira vez em Corpo de Baile (1956) em relação a Mutum (2007), de Sandra Kogut, o filme mais recente de inspiração rosiana até a organização do projeto de pesquisa que deu origem a esta tese. Para a análise do corpus da pesquisa, emprestamos alguns conceitos da filosofia, especialmente de Gilles Deleuze, um autor que se dedicou ao cinema e à literatura em seus escritos individuais e na parceria com Félix Guattari. Fazendo um recorte da literatura e do cinema à luz dos conceitos filosóficos selecionados, reafirmamos as potências contemporâneas da arte rosiana. Ao trabalharmos conceitos em um plano transversal coerente com o pensamento deleuziano, também estabelecemos critérios para uma análise comparatista entre literatura e cinema, explorando principalmente o conceito de fabulação.

Ano

2013

Creators

Davina Marques

A simbolização nas imagens poéticas de Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner Andresen: tempo e espaço

Numa mesma época marcada por reflexões filosóficas sobre o tempo e suas relações com o espaço, Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner Andresen entregaram ao mundo os seus primeiros escritos poéticos, nos quais revelam que essas mesmas reflexões não se distanciam da poesia. Ao contrário, num espaçotempo caracterizado pela transitoriedade das coisas, a poesia se apresenta como forma de equilíbrio em meio à passagem, evitando a total dispersão do ser. Assim sendo, nossa análise procura focalizar as formas que espaço e tempo assumem na poesia de ambas as escritoras, investigando a possibilidade desses \"cronotopos\" servirem à revelação da experiência humana no tempo e no espaço.

Ano

2006

Creators

Jussara Neves Rezende

Percurso do orfão na literatura infantil / juvenil, da oralidade à era digital: a trajetória do herói solitário

A orfandade é um tema bastante recorrente na literatura infantil e juvenil. Desde as antigas narrativas orais, como os contos de fadas, por exemplo, o arquétipo do órfão é revisitado regularmente na construção de diferentes personagens, sendo mantida, porém, uma estrutura básica predominante, principalmente no que concerne à sua trajetória. Investigar a recorrência dessa temática, partindo da análise de alguns contos populares até alcançar as mais recentes obras voltadas para o público jovem, foi um dos objetivos desta pesquisa. Uma outra meta foi estabelecer paralelos e divergências entre as figuras secundárias que compõem essas narrativas, como as madrinhas, as madrastas, os irmãos, os amigos, os seres mágicos, entre outros, e focalizar o papel que elas desempenham na trajetória do órfão, agindo ora como \"desvios\", ora como \"atalhos\" em seu caminho. Um terceiro propósito da dissertação foi estudar a circulação da personagem órfã contemporânea entre a literatura e outras mídias, como as histórias em quadrinhos (HQ) e o cinema. Para isso, tomamos três personagens da ficção criadas originalmente para três diferentes suportes - Harry Potter (literatura), Peter Parker (HQ) e Luke Skywalker (cinema) - e procuramos estabelecer similaridades e divergências em três momentos de seus percursos: partida, iniciação e retorno. Ao compararmos as trajetórias desses três heróis órfãos, podemos perceber as visíveis intersecções entre elas e somos levados a crer que, mesmo modificadas pelos estilos literários e pelas mídias que lhes servem de suporte, essas personagens solitárias conservam, contudo, a essência das características de seu remoto substrato popular, proveniente da oralidade.

Ano

2006

Creators

Lais de Almeida Cardoso

A psicanálise do brinquedo na literatura para crianças

O presente estudo realiza uma leitura psicanalítica do brinquedo na literatura para crianças. Aborda-se o conceito e a história da infância, da literatura para crianças e do brinquedo, como as transformações ocorridas com esses conceitos na atualidade. Estabelece-se uma comparação entre o brinquedo e o livro, considerados produtos culturais. São discutidos o brinquedo e sua dupla expressão, como um objeto inventado pelo adulto e reinventado pela criança. Utilizando a Psicanálise como instrumento de interpretação, a pesquisa faz uma análise de duas histórias clássicas da literatura, do século XIX: O soldadinho de chumbo, do dinamarquês Hans Christian Andersen e Conto de escola, do brasileiro Machado de Assis. Mostra diferentes representações do brinquedo na literatura contemporânea para crianças, do final do século XX e início do século XXI, em treze obras literárias estudadas. As obras trabalhadas compreendem edições nacionais e traduzidas, em diferentes gêneros e categorias: prosa e poesia, narrativas com texto e sem texto verbal. O brinquedo, entendido como o objeto cultural que propicia o encontro entre o universo adulto e o infantil, está representado de diversas maneiras, como uma transgressão, uma catarse, uma via de comunicação da criança com o mundo interno e externo. Depois de apresentadas e analisadas as obras, são estudados o brinquedo e sua ausência, o brinquedo como um retorno à infância e a literatura como brinquedo. São trabalhadas algumas referências sobre o brinquedo dos autores da Psicanálise: Sigmund Freud, Sándor Ferenczi e Donald W. Winnicott.

Ano

2006

Creators

Ninfa de Freitas Parreiras

O Brasil-menor de idade - crianças e infâncias em Graciliano Ramos e João Antonio

Neste trabalho, pretendemos destacar a relevância dos personagens infantis nos textos de Graciliano Ramos e João Antônio, escritores brasileiros do século XX, marcados pela crítica e pela denúncia da realidade nacional, elementos centrais em ambos os projetos literários. Buscamos demonstrar como os personagens infantis presentes nos textos desses dois escritores tornam mais explícitos os traços de arbitrariedade e autoritarismo próprios da formação social brasileira que eles denunciam em seus escritos. Nossos corpora são contos ou capítulos de romances e têm como critério de seleção, não a simetria de gêneros, mas o protagonismo dos personagens infantis, cujos processo de integração social são marcados pela violência e pelo autoritarismo, característicos da cultura senhorial (CHAUÍ, 1996) e da violência estrutural (GORENDER, 2000), associadas aos dois traumas fundamentais de nossa formação: o processo colonial e a escravização dos negros (RIBEIRO, 1999). A leitura comparativa dos textos de Graciliano Ramos e João Antônio possibilita uma percepção mais apurada da centralidade do tema das infâncias e das crianças na obra de cada um deles, pelo fato de que a abordagem delas evidencia e, ao mesmo tempo, redimensiona as contundentes críticas que os autores fizeram à realidade nacional.

Ano

2019

Creators

Adriano Guilherme de Almeida

O aprendiz de Fradique Mendes: Eça de Queirós na leitura de Gilberto Freyre

A presente dissertação trata do modo como a obra de juventude do sociólogo e escritor Gilberto Freyre estabelece uma forte relação intertextual com o conjunto da obra de Eça de Queirós. Tomamos por referência o livro Tempo de aprendiz, onde se encontram reunidos diversos textos jornalísticos do jovem intelectual brasileiro, livro repleto de referências ao escritor português. A análise de tais referências revela que a apropriação da obra queirosiana por meio de alusões e citações foi uma forma de Freyre se capitalizar simbolicamente - na expressão de Pierre Bourdieu - frente a um meio intelectual brasileiro que lhe era adverso. Procuramos ainda, a partir daí, fazer algumas inferências de como o modo de apropriação que Freyre faz da obra de Eça se transforma no decorrer de seu percurso intelectual .

Ano

2007

Creators

Vania Regina Gomes

Roteiro da literatura de Timor-Leste em língua portuguesa

A presente pesquisa tem como escopo reunir e comentar a Literatura de Timor-Leste em língua portuguesa, tendo como base seus principais representantes. Das lendas às narrativas de viagem, da poesia dos escritores politicamente engajados aos romances escritos na diáspora, o presente estudo procura identificar as principais questões que estiveram no horizonte dos timorenses em diferentes momentos de sua história, assim como delinear a imagem que o conjunto desses textos acabou por produzir de Timor na contemporaneidade.

Ano

2013

Creators

Damares Barbosa Correia

Angústia e O amanuense Belmiro: duas visões de uma mesma época

O trabalho visa a comparar duas obras escritas no mesmo período pensando nas diferentes posições adotadas pelos escritores em suas narrativas na tentativa de passar para o leitor suas impressões e reflexões sobre o mundo em que vivem. As duas obras, Angústia, de Graciliano Ramos, e O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, foram escritas em meados dos anos 30 e retratam a vida de funcionários públicos que moram em espaços urbanos; são intelectuais citadinos que vivem em uma mesma época, mas que reagem à vida de maneira muito diversa. Com essa comparação, espera-se encontrar os pontos divergentes (pois as obras podem ser consideradas antagônicas no que diz respeito à maneira de narrar), mas, sobretudo, os pontos convergentes, levando-se em consideração as problemáticas vividas em um determinado espaço (meio urbano pouco industrializado - próprio de centros urbanos de menor importância econômica) e tempo (a tumultuada e importante década de 30) por intermédio da figura do funcionário público, central nas duas obras

Ano

2014

Creators

Michele de Araújo

Experiência colonial e pós-colonial na ordem ruinosa do mundo: uma leitura de O esplendor de Portugal, de António Lobo Antunes

A observação dos procedimentos formais empregados por António Lobo Antunes em O esplendor de Portugal (1997) levou-nos a constatar a existência, no livro, de uma visão crítica muito peculiar e complexa a respeito da História do colonialismo português e do contexto pós--colonial em que Angola e Portugal inserem-se. Dessa forma, o objetivo de nossa dissertação de mestrado é elucidar a dinâmica social representada nO esplendor de Portugal e a condução que o desígnio autoral dá a essa representação. Nesse sentido, procuramos identificar as inter- -relações entre os elementos formais estruturadores da obra e aqueles que regem as dinâmicas sociais que nela figuram. Para alcançarmos tal objetivo, direcionamos nossos estudos a leituras de teoria e crítica literária pautados nas noções de redução estrutural e de interpretação dialética, que Antonio Candido propõe. Paralelamente, procedemos ao delineamento e à análise dos contextos históricos que envolvem o enredo do romance em questão, com ênfase à observação das dinâmicas dialéticas que se deram entre o desenvolvimento do capitalismo das grandes potências mundiais e o atraso econômico de Portugal, bem como ao modo como essas dinâmicas intervieram na constituição e na manutenção das formas sociais de base do colonialismo português na África. Depois desse embasamento teórico, efetuamos a análise literária de O esplendor de Portugal e constatamos que, nessa obra, a visão crítica sobre o colonialismo português em suas imbricações com as conjunturas políticas e econômicas mundiais assenta-se no cruzamento, dentro do romance, de diversas temporalidades, que se situam entre o fim do século XIX e o ano de 1995. É a partir do cruzamento dessas temporalidades que o desígnio autoral faz sobressaírem questões como os modos de exploração da força de trabalho angolana, a atuação do grande capital estrangeiro em Angola, o travamento das expectativas de expansão econômica dos colonos proprietários, subordinados que estavam ao Estado português e ao poderio do grande capital, a corresponsabilidade desses colonos na instituição e na generalização da violência que permeou as relações sociais na colônia e a influência que os interesses estrangeiros também tiveram na exploração de Angola, nos rumos da guerra colonial e na intensificação e ampliação dos conflitos existentes entre os movimentos nacionalistas angolanos. A principal conclusão a que chegamos, portanto, é a de que o pilar sobre o qual se assenta a construção de O esplendor de Portugal é a composição, subjacente à complexa rede narrativa do romance, de uma rede não menos complexa de relações causais entre as temporalidades abrangidas no livro, na qual se destacam as linhas de ruptura e de continuidade históricas que sustentam essa rede e que constroem a representação do presente catastrófico em que se situam os narradores.

Ano

2016

Creators

Fernanda Fatima da Fonseca Santos

Bunda e Bond: uma paródia em dois tempos

Esta dissertação tem como objetivo analisar a paródia e suas nuances. Através do confronto entre os personagens Jaime Bunda, da obra Jaime Bunda, o agente secreto do escritor angolano Pepetela; e James Bond, personagem das obras homônimas de Ian Fleming, no sentido de analisar como os dois personagens se entrecruzam por meio das linhas da teoria paródica. Pepetela, no seu romance, traz uma crítica ácida às condições de Angola pós-revolução utilizando-se da paródia e, também, ao parodiar James Bond com seu Jaime Bunda desconstrói o arquétipo do homem ideal, encarnado em Bond e jamais apresentado em Bunda. Nesse sentido, a paródia será decisiva para o entendimento do verso e reverso da medalha, como veremos, ao longo deste trabalho, ao confrontar os dois agentes, Bond e Bunda se distanciarem e, paradoxalmente, se alinharem, tornando-se uno nas suas histórias.

Ano

2018

Creators

Luiz Carlos Loureiro de Lima Junior

Uma curva pela mão esquerda: autoficção e alteridade na trilogia Os filhos de Próspero de Ruy Duarte de Carvalho

O trabalho aqui proposto apresenta a hipótese de que na obra de Ruy Duarte de Carvalho, especialmente nos livros que compõem a trilogia Os filhos de Próspero, autoficção é utilizada como uma espécie de artíficio para representar o outro, o não ocidental. Nos três romances que compõem a trilogia, Os Papéis do Ingles, As paisagens propícias e A terceira metade, é possível observar um narrador-personagem, identificado com o autor, que se desloca pelo sul de Angola e norte da Namíbia, contando ao leitor sobre as paisagens que percorre e as pessoas que encontra em seu caminho. Pretendemos analisar dois aspectos centrais dessas narrativas: o modo como se configura o narrador e a forma encontrada por Ruy Duarte de Carvalho para representar o outro em suas narrativas, tomando como base a fortuna crítica escrita sobre sua obra do autor, textos teóricos sobre a autoficção como gênero literário e a discussão sobre alteridade e etnografia presente na literatura antropológica do fim do século XX.

Ano

2018

Creators

Aline Tótoli Molina

O fantástico no contexto sócio-cultural do século XX: José J. Veiga (Brasil) e Mia Couto (Moçambique)

O desenvolvimento deste trabalho pautou-se em obras artísticas, engajadas politicamente, pertencentes ao macrossistema de Literaturas de língua portuguesa, a saber, uma Moçambicana: Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra, de Mia Couto, e outra brasileira, Sombras de Reis Barbudos, de J.J. Veiga. A partir desse comparativismo entre os dois contextos, chegou-se a uma idéia do que é o fantástico contemporâneo, e procurou-se aprofundar o estudo sócio-cultural ressaltado nos conteúdos das duas obras. A temática \"opressão\" permitiu estudar as relações de poder e submissão entre as personagens das duas obras. Esta temática perpassou a análise crítico-literária fundamentando, filosoficamente, a atuação das personagens, reflexos muitas vezes da situação histórica vivenciada pelos autores. Semanticamente variada e polêmica, a palavra \"opressão\" prestou-se, nesta abordagem, a uma interpretação de possibilidade de um estudo sócio-cultural do momento em que as obras foram escritas, seguindo a linha filosófica desenvolvida pelo pensador alemão Sigmund Freud, no que se refere à interpretação do duplo. A pesquisa serviu-se de teóricos como Todorov, Caillois e Bessière, para a abordagem do gênero fantástico presente nas duas obras. Pelo fato de ter-se pesquisado toda a produção literária dos dois autores, sentiu-se a necessidade de citar outras obras, o que ajudou a estabelecer um diálogo entre as narrativas selecionadas e as demais obras dos dois escritores. Ao estudar as narrativas dos autores, pensou-se que fosse necessário uma inserção na história recente dos dois países cujo levantamento vem inserido nos anexos. Por não esquecer o contexto sócio-cultural da elaboração dos dois textos, é que a pesquisa espelha as circunstâncias históricas da época da criação das mesmas, sem deixar, contudo de perceber que a literatura vai além desse simples espelhar do real, pois a obra literária, além de dialogar com o mundo em que está inserida, dialoga com tempos e espaços outros que não os da realidade. A escolha desse tema se deu também pela indagação de ordem teórica, o que justifica a escolha do corpus, apresentado para estudo.

Ano

2009

Creators

Irene Severina Rezende

Um Samuel Rawet qualquer: pensamento-prosa

A presente dissertação consiste num estudo acerca da produção ensaísticonarrativa de Samuel Rawet. Trata-se de um ensaio no que há de mais disperso e não hierárquico no termo desenvolvido em contínua revisão. De um trabalho iniciado e inacabado, à medida em que sugere e proposita diversas trilhas, encruzilhadas e encontros entre autores e teorias ao redor dos escritos de Rawet. Se a disposição analítica segue a cronologia dos livros publicados pelo autor, isso se dá não porque pensamos sua produção numa totalidade sistêmica, formadora de uma obra fechada, mas como campo transitivo onde toda uma transformação de paradigmas literáriofilosóficos incorre e transborda. Do primeiro livro de narrativas, Contos do imigrante, de 1956, ao último, Que os mortos enterrem seus mortos, de 1981, percebemos uma intensa trajetória de especulação e atuação literárias. Seus textos ensaios, contos, novelas, peças teatrais, artigos para jornais e revistas , sempre investigativos e inovadores, suscitam e exigem um pensamento atento à rede de relações transversais emergente no pós-guerra, ao redimensionamento ontológico dado no desabamento das estruturas metafísicas

Ano

2014

Creators

Tiago da Cunha Fernandes

A literatura para criança no Brasil e em Portugal: meio de revelação do eu e do mundo

A proposta desta pesquisa é analisar qual o olhar a respeito da criança e da infância que está presente nas obras dos renomados escritores Lúcia Pimentel Góes e António Torrado. Na forma peculiar de revelar o Eu e o Mundo, cada um dos autores imprime sua percepção de vida e de mundo na tessitura de suas obras. Ludicidade, poeticidade, identidade são pontos que se destacam nos textos analisados. Da extensa publicação da escritora brasileira elegemos as seguintes obras literárias: Zé Diferente, Dráuzio, Trim, O dedal da vovó, Dudu, amigo do mar; O jardim de Lucita, A maior boca do mundo, Amanhã e Jajá, Bumba meu boi, mapinguari, curupira und... e Momotaro, o menino que nasceu do pêssego. Do escritor português foram contempladas as estórias: O veado florido, A cadeira que sabe música, A corneta faladora, O segredo dos búzios, Como se faz cor-de-laranja, A mania das pressas, O pajem não se cala e o Menino Grão de milho. A cultura, cultura da infância e a criança no Brasil e em Portugal também mereceram destaque como base teórica norteadora para a análise das obras.

Ano

2010

Creators

Claudimeiri Nara Cordeiro Kollross