Repositório RCAAP
Mortalidade por câncer em uma coorte de trabalhadores da indústria da borracha de São Paulo
Objetivo. Investigar as mortes por câncer em trabalhadores da indústria da borracha. Métodos. Foi seguida entre 1990 e 2000 uma coorte histórica com 9188 trabalhadores, de 743 empresas, masculinos, sobreviventes em 1990 dentre associados ao Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Borracha de São Paulo entre 1975 e 1985. Mortes por câncer foram comparadas internamente, por porte e subramo de atividade das empresas, setor de trabalho e qualificação profissional. Regressão logística condicional com abordagem por conjuntos de riscos foi usada para estimar os efeitos das exposições. Foram calculadas as Razões de Taxas de Incidência (RT) e intervalos com 95% de confiança (lC95%), ajustados por idade, tempo desde o primeiro emprego e tempo na indústria da borracha. Resultados. Encontrou-se nos trabalhadores de pequenas empresas, em relação aos empregados das empresas de grande porte, excesso de mortes por todos os cânceres (RT=2,36; IC95%:0,97-5,73), por câncer de estômago (RT=3,47; IC95%:2,57-4,67) e por câncer do Trato Aero-Digestivo Superior (RT=2,49; IC95%:1,78-3,48). Maior risco de morte por câncer também foi encontrado nos trabalhadores do setor de manutenção, em relação aos trabalhadores de escritório e de atividades de apoio, com RT=3,43; IC95%:1,04-11,26; e entre os ocupantes de funções de chefia, em relação aos trabalhadores com funções não qualificadas, com R T=2,71; IC95%:1,25-5,90. Conclusões. Foi estimado excesso de mortes por todos os cânceres e por câncer de estômago e do Trato Aero-Digestivo Superior em trabalhadores das pequenas indústrias da borracha; e excesso de mortes por todos os cânceres entre os que trabalhavam no setor de manutenção e entre os classificados como ocupantes de funções de chefia na indústria da borracha.
Infecções na infância, características maternas e leucemia linfocítica aguda em crianças
Introdução. A etiologia da leucemia linfocítica aguda (LLA), câncer mais comum na infância, não é completamente conhecida. Objetivo. Examinar a associação de infecções na infância e características maternas com a LLA em crianças residentes no Estado de São Paulo. Métodos. Estudo caso-controle com 241 casos recrutados em oito hospitais do Estado de São Paulo e diagnosticados com LLA de janeiro de 2003 a fevereiro de 2009. Os 598 controles foram selecionados na base de Declarações de Nascidos Vivos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Entrevistas com a mãe ou responsável pela criança foram realizadas no hospital para os casos e no domicílio para os controles utilizando-se questionário semelhante. A análise dos dados foi conduzida com três grupos distintos: Grupo 1 - todos os subtipos de LLA, entrevistas com as mães ou outros responsáveis pelas crianças; Grupo 2 - todos os subtipos de LLA, entrevistas com as mães; Grupo 3 - LLA de precursores B, entrevistas com as mães. Para estimar o risco de LLA associado com as variáveis relacionadas a infecções e características maternas odds ratios (OR) e intervalos com 95 por cento de confiança (IC 95 por cento ) foram calculados por meio de análise de regressão logística multivariada não condicional. Três modelos de regressão logística foram conduzidos: a) com ajuste por sexo e idade da criança; b) com ajuste por sexo, idade da criança e escolaridade materna; c) com ajuste por todas potenciais variáveis de confusão via stepwise forward selection. Resultados. Os resultados correspondentes ao Grupo 3 e Modelo 3 de análise revelaram proteção para LLA em crianças com histórico de episódios de gripe (categoria frequentemente versus não OR = 0,27; IC 95 por cento 0,15-0,48), episódios de dor no ouvido (categoria raramente versus não OR = 0,48; IC 95 por cento 0,25-0,90), frequência à creche (categoria mais de 24 meses versus nunca OR = 0,37; IC 95 por cento 0,17-0,77), e contato com cães no primeiro ano de vida (categoria sim versus não OR = 0,76; IC 95 por cento 0,45-1,27). Foi observado tênue aumento do risco de LLA em crianças com mães que referiram consumo de álcool no passado (OR = 1,29; IC 95 por cento 0,62-2,68) e ainda bebe (OR = 1,53; IC 95 por cento 0,97-2,41) em comparação àquelas cujas mães referiram nunca ter consumido álcool. Baixo nível educacional das mães foi associado com aumento do risco de LLA em crianças (categoria 0 a 4 anos versus 12 e mais OR = 2,71; IC 95 por cento 1,26-5,81). Conclusões. Os resultados mostraram que exposição a infecções na infância, frequência à creche e contato com cães no primeiro ano de vida exercem papel protetor para LLA, por outro lado, o consumo de álcool e o baixo nível educacional das mães aumentaram o risco de LLA em crianças
2014
Raquel da Rocha Paiva Maia
Anopheles (Nyssorhynchus) lanei e Culex (Culex) dolosus (Diptera: Culicidae): duas espécies que ocorrem na região de Campos do Jordão, Serra da Mantiqueira, São Paulo, Brasil
Introdução Anopheles (Nyssorhynchus) lanei foi descrito por Galvão e Amaral em 1938, a partir de espécimes coletados em Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, Estado de São Paulo, sendo provável espécie endêmica desta região. Linthicum (1988) redescreveu An. lanei baseando-se em um espécime adulto fêmea e duas genitálias masculinas de Campos do Jordão; porém, a ilustração de genitália masculina foi feita a partir de um espécime coletado na cidade de Estância, Estado de Sergipe, Brasil. Evidências morfológicas somadas a diferenças ambientais entre estas localidades indicam que os espécimes analisados por Linthicum não correspondem a An. lanei. Culex (Culex) dolosus foi descrito por Lynch Arribálzaga em 1891 com base em espécimes coletados na Província de Buenos Aires, Argentina. O último trabalho a tratar de aspectos da morfologia de Cx. dolosus é anterior à descrição de Culex eduardoi Casal & García, espécie similar a esta. Dados de literatura apontam para a existência de formas morfológicas diferenciadas em populações de Cx. dolosus, o que parece ser o caso dos espécimes que ocorrem na região de Campos do Jordão. Objetivos Este estudo visa contribuir para o conhecimento taxonômico de espécies pertencentes aos subgêneros Nyssorhynchus e Culex, que ocorrem na Serra da Mantiqueira, por meio da redescrição de An. lanei e Cx. dolosus, e também da identificação de fauna de Culicidae associada. Métodos As redescrições foram baseadas na análise de exemplares coletados na região de Campos do Jordão e implicaram em etapas de quetotaxia das larvas e pupas, biometria dos adultos e formas imaturas e elaboração de ilustrações das estruturas anatômicas da morfologia externa. Resultados Deste trabalho resultaram redescrições morfológicas detalhadas, tabelas de quetotaxia das formas imaturas e ilustrações das larvas, pupas e estruturas das genitálias masculinas. Considerações finais - Espera-se que os resultados alcançados possam ampliar e dar continuidade a estudos taxonômicos de Culicidae e também contribuir para a correta identificação de espécies de Anopheles e Culex.
Persistência da transmissão de Schistosoma mansoni em localidade de Itariri, na região do Vale do Ribeira, São Paulo, Brasil
Introdução A transmissão de esquistossomose é considerada um problema de saúde pública em várias regiões do Brasil, entre elas, a região do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo. Em 2009, um censo coprológico com alunos de 6 a 14 anos na escola estadual do bairro de Ana Dias, no município de Itariri, detectou 34 casos de esquistossomose (16,8 por cento de positividade) e sinalizou a existência de transmissão autóctone importante naquela área. Objetivo Aprofundar os conhecimentos sobre a transmissão de esquistossomose no bairro de Ana Dias. Métodos Aplicou-se um formulário aos pacientes, a fim de conhecer seus hábitos em relação às coleções hídricas e condições de saneamento das suas residências. As coleções hídricas do bairro são pesquisadas rotineiramente e os planorbídeos encontrados, examinados para verificar a existência de cercárias. Dos dados obtidos foi realizado um levantamento de coleções com presença de planorbídeos infectados por S. mansoni no período de 2000 a 2010, que foram visitadas e tiveram suas coordenadas anotadas e transferidas para mapas digitalizados. Essas informações foram relacionadas com as obtidas através dos formulários para se conhecer alguns aspectos da transmissão local. Resultados Foi aplicado formulário em 31 pessoas (91,2 por cento do total) e 100 por cento delas declararam ter contato com águas de pelo menos um dos dois principais rios do bairro. Quanto ao saneamento, 50,1 por cento têm o despejo dos dejetos em fossas e valas a céu aberto e 22,6 por cento despejam diretamente nos rios. No período, cerca de 50 por cento das coleções hídricas apresentaram planorbídeos positivos para S. mansoni. Verificou-se que a maioria das coleções positivas são valas de drenagem existentes em bananais e tem ligação direta com os dois rios freqüentados pela população. Nos bananais há casas cujo esgoto é despejado diretamente em valas de drenagem. Conclusões O estudo mostrou que a transmissão autóctone persiste no bairro e ocorre principalmente em função dos rios freqüentados como principal opção de lazer da população. A contaminação dos rios acontece pelos dejetos lançados neles por deficiência do saneamento básico local. Além do trabalho de controle atual, é necessária a realização de atividades regulares que possibilitem a identificação e tratamento dos portadores de esquistossomose, evitando-se a contaminação das coleções. Paralelamente recomenda-se a implantação de obras de saneamento rural, para que se interrompa o ciclo de transmissão
2011
Alexandra Myuki Yoshioka Trevisan
Estimativa da incidência de câncer nas redes regionais de saúde e municípios do estado de São Paulo, 2010
Introdução: Estatísticas sobre a ocorrência de casos novos de câncer são fundamentais para o planejamento e monitoramento das ações de controle da doença. No estado de São Paulo, a incidência de câncer é obtida indiretamente por meio de estimativas oficiais (para o estado como um todo e sua capital) e, de forma direta, em municípios cobertos por Registro de Câncer de Base Populacional (RCBP). Existem, atualmente, três RCBP ativos (São Paulo, Jaú e Santos), um inativo (Barretos) e um em reimplantação (Campinas). Dado o desconhecimento do panorama da incidência de câncer em áreas não cobertas por RCBP, este estudo teve como objetivo estimar a incidência de câncer, calcular taxas brutas e padronizadas por idade, específicas por sexo e localização primária do tumor para as 17 Redes Regionais de Atenção à Saúde (RRAS) de São Paulo e municípios, em 2010. Método: Utilizou-se como estimador da incidência de câncer a razão Incidência/Mortalidade (I/M), por sexo, grupo etário quinquenal dos 0 aos 80 anos e localização primária do tumor. O numerador da razão foi formado pelo número agregado de casos novos entre 2006-2010, em dois RCBP ativos (Jaú e São Paulo, respectivamente, com cobertura correspondente a 0,3 por cento e 27,3 por cento da população estadual). No denominador, o número de óbitos oficial nas respectivas áreas e período. O número estimado de casos novos resultou da multiplicação das I/M pelo número de óbitos por câncer registrados em 2010 para o conjunto de municípios formadores de cada uma das RRAS ou para cada município. O método de referência foi aquele utilizado no Globocan series, da Agência Internacional de Pesquisa contra o Câncer. O ajuste por idade das taxas de incidência ocorreu pelo método direto, tendo como padrão a população mundial. Resultados: Estimaram-se 53.476 casos novos de câncer para o sexo masculino e 55.073 casos para o feminino (excluindo-se os casos de câncer de pele não melanoma), com taxas padronizadas de 261/100.000 e 217/100.000, respectivamente. No sexo masculino, a RRAS 6 apresentou para todos os cânceres a maior taxa de incidência padronizada (285/100.000), e a RRAS 10, a menor (207/100.000). Os cânceres mais incidentes em homens foram próstata (77/100.000), cólon/reto/anus (27/100.000) e traqueia/brônquio/pulmão (16/100.000). Entre as mulheres, as taxas de incidência padronizadas por idade foram de 170/100.000 (RRAS 11) a 252/100.000 (RRAS 07); o câncer de mama foi o mais incidente (58/100.000), seguido pelos tumores de cólon/reto/anus (23/100.000) e de colo uterino (9/100.000). Conclusões: Os resultados apontaram diferentes padrões de incidência com taxas que ultrapassaram a magnitude estadual. Dados provenientes de RCBP locais podem ser usados na obtenção indireta de estimativas regionais e locais. Neste estudo, as taxas de incidência apresentadas podem estar sub ou superestimadas refletindo a qualidade, completitude e padrões observados no RCBP de maior representatividade considerado na análise.
2015
Carolina Terra de Moraes Luizaga
Mortalidade masculina no tempo e no espaço
Introdução: No Brasil, verifica-se maior mortalidade masculina em, praticamente, todas as idades e para quase a totalidade das causas. Objetivo: Estimar e descrever a tendência da mortalidade masculina, entre 1979 e 2007, em três capitais de estados brasileiros, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS), segundo faixa etária, local de residência e causa básica de morte. Material e método: As populações de estudo referem-se aos contingentes de residentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, nos triênios, 1979/1981, 1990/1992, 1999/2001 e 2005/2007 e aos respectivos óbitos. As fontes de dados foram IBGE e Sistemas de Informações em Saúde do Ministério da Saúde. As localidades foram selecionadas por, reconhecidamente, apresentarem adequada qualidade das informações necessárias. Calcularam-se coeficientes de mortalidade gerais (brutos e padronizados) e específicos, médios para os triênios. Foram feitas comparações entre os indicadores, no tempo e no espaço. Resultados: Verificou-se, no período e nas três capitais, declínio da proporção de crianças e de jovens e tendência crescente da proporção de pessoas de 60 anos e mais de idade. Até os 24 anos, homens predominaram na população; a partir daí, já se observaram maiores participações femininas e razões de sexos cada vez mais baixas, evidenciando, entre idosos, alta presença de mulheres, fato associado à elevada mortalidade masculina (coeficientes padronizados, respectivamente, no início e fim da série temporal, de 11,9 e 9,4 óbitos por mil homens, em São Paulo; de 12,7 e 9,8 óbitos por mil homens, no Rio de Janeiro e de 12,1 e 9,5 mortes por mil homens, em Porto Alegre). Notou-se acometimento intenso de homens jovens pelas causas externas, cujos coeficientes específicos, para homens de 20 a 24 anos, foram, em 1979/1981 e 2005/2007, respectivamente, de 163,8 e 165,8 por cem mil homens paulistas; de 241 e 336,2 por cem mil, no Rio de Janeiro, e de 144,1 e 236,1 por cem mil, em Porto Alegre. Ao longo da série, as causas externas apresentaram grande estimativa de risco de morte masculina, sendo que, em 2005/2007, foram a primeira causa de morte em homens até a idade de 40 a 44 anos, em São Paulo e Rio de Janeiro; em Porto Alegre, manteve a primeira posição até a faixa de 30 a 34 anos. Após, em quase todos os grupos etários seguintes, as doenças do aparelho circulatório aparecem como a principal causa de morte e, as neoplasias passam à segunda posição entre as mais importantes causas de morte masculina. Considerações finais: As localidades evidenciam características de cidades em vias de desenvolvimento, com redução da fecundidade, aumento da longevidade e conseqüente envelhecimento populacional. As estimativas do elevado risco de morrer de homens tornam clara sua vulnerabilidade em adultos jovens, acometimento intenso das mortes violentas; a partir dos 35 anos, as doenças crônicas e degenerativas se destacam. A intensidade com que estes eventos ocorrem, entre homens, demanda ações que possibilitem redução dos índices de mortalidade por causas preveníveis e evitáveis, eliminando comportamentos de risco e adoção de hábitos de vida saudáveis. Diante disso, haverá aumento da sua esperança de vida e redução das diferenças entre mortalidade feminina e masculina
2010
Carolina Terra de Moraes Luizaga
Estudo da expansão da Leishmaniose Visceral no estado de São Paulo e de fatores intervenientes
INTRODUÇÃO: Leishmaniose visceral (LV) é uma doença negligenciada que afeta milhões de pessoas no mundo e que constitui um grave problema de saúde pública. OBJETIVOS: Descrever no tempo e no espaço, a dispersão de Lutzomyia longipalpis e a expansão da LV no estado de São Paulo (SP); identificar fatores associados a estes processos. MÉTODOS: Foram realizados estudos descritivos, ecológicos e de análise de sobrevida. Informações sobre o vetor e os casos foram obtidas na Superintendência de Controle de Endemias e no Sistema de Informações de Agravos de Notificação para o período de 1997 a 2014. A área de estudo foi composta pelos 645 municípios de SP. Foram produzidos mapas temáticos e de fluxo e calcularam-se incidência, mortalidade e letalidade por LV em humanos (LVH). Utilizou-se a técnica de análise de sobrevida (Curvas de Kaplan-Meier e Regressão de Cox) para a identificação de fatores associados à dispersão do vetor e expansão da LV. RESULTADOS: A partir da detecção de Lu. longipalpis em Araçatuba em 1997, deram-se a ocorrência do primeiro caso canino (LVC) (1998) e o primeiro caso humano (LVH) autóctones (1999) em SP. Até 2014, foi detectada a presença do vetor em 173 (26,8 por cento ) municípios, LVC em 108 (16,7 por cento ) e LVH em 84 (13 por cento ). A expansão dos três fenômenos ocorreu no sentido noroeste para sudeste e se deram a velocidades constantes. Na região de São José do Rio Preto, a dispersão do vetor deu-se por vizinhança com municípios anteriormente infestados, a expansão da LV relacionou-se com os municípios sede das microrregiões e a doença ocorreu com maior intensidade nas áreas periféricas dos municípios. A presença da Rodovia Marechal Rondon e a divisa com o Mato Grosso do Sul foram fatores associados à ocorrência dos três eventos, assim como a presença da Rodovia Euclides da Cunha para presença do vetor e casos caninos, e, presença de presídios para casos humanos. CONCLUSÕES: A dispersão do vetor e da LV em SP iniciou-se, a partir de 1997, próximo à divisa com o estado do Mato Grosso do Sul, avançou no sentido noroeste para sudeste, na trajetória da rodovia Marechal Rondon, e ocorreu em progressão aritmética, com as sedes das microrregiões de SP tendo papel preponderante neste processo. A ocorrência autóctone de LVC e LVH iniciou-se na sequência da detecção de Lu. longipalpis em Araçatuba e de seu espalhamento por SP e não a partir dos locais onde anteriormente ele já estava presente. O uso da análise de sobrevida permitiu identificar fatores associados à dispersão do vetor e a expansão da LV. Os resultados deste estudo podem ser úteis para aprimorar as atividades de vigilância e controle da LV, no sentido de retardar sua expansão e/ou de mitigar seus efeitos, quando de sua ocorrência.
Caracterização de populações de Culex coronator (Diptera: Culicidae) e distinção de fêmeas adultas de Culex coronator e Culex usquatus por meio da análise da morfometria geométrica de asa e de sequências gênicas
Culex coronator Dyar & Knab e Culex usquatus Dyar são duas espécies irmãs, que fazem parte do Complexo Coronator, composto por mais quatro espécies (Culex usquatissimos Dyar, Culex ousqua Dyar, Culex camposi Dyar, Culex covagarciai Forattini). As fêmeas deste grupo são indistinguíveis por caracteres morfológicos, sendo a identificação possível somente através da distribuição e tamanho das cerdas apicais que ornamentam o gonocoxito da genitália masculina. Cx. coronator, é a espécie com maior distribuição geográfica, ocupando as Américas do Norte, Central e Sul. Já Cx. usquatus só foi registrado nas Américas Central e do Sul, ocorrendo em simpatria no Brasil com Cx. coronator. Apesar da semelhança morfológica das fêmeas das duas espécies, até o momento, somente Cx. coronator foi encontrado naturalmente infectado por diversas arboviroses. Considerando que estudos populacionais são importantes para compreender a evolução e a dinâmica de populações de pontencias vetores, e que a correta identificação de fêmeas é fundamental para estudos de competência vetorial, os objetivos deste trabalho foram: (1) distinguir fêmeas adultas de Cx. coronator de Cx. usquatus (2) obter conhecimento da estrutura populacional de Culex coronator nas regiões Sul e Sudeste (3) examinar a possível existência de outras espécies não descritas e/ou incorretamente identificadas sob o epíteto de Cx. coronator. Para tanto foram utilizadas duas ferramentas: uma morfológica (morfometria de asa), e outra genética (4 loci de microssatélites e sequenciamento do fragmento barcode do gene COI). As análises dos três marcadores mostraram que as populações do Sudeste são geneticamente e morfologicamente diversas, mas não apresentam estrutura populacional, enquanto as populações do Sul são mais homogêneas, e diferentes das do Sudeste. Assim, tanto os microssatélites como a morfometria geométrica, mostraram alguma estruturação populacional em relação às macrorregiões Sul e Sudeste. A análise da morfometria da asa distinguiu as espécies de Cx. coronator e Cx. usquatus, enquanto a análise do COI barcode apresentou uma politomia das duas espécies. Nenhum marcador indicou a existência de um complexo de espécies sob o espíteto Culex coronator.
Bancos de dados hierárquicos em inquéritos epidemiológicos
Introdução - A preocupação com a qualidade e disseminação dos dados em inquéritos é crescente no mundo. A integração entre banco de dados, planejamento da amostra, questionário e entrada de dados é fundamental para que resultados observados sejam válidos e precisos. A bibliografia pesquisada apontou que os inquéritos raramente produzem arquivos organizados, padronizados e prontos para disseminação, o que impossibilita estudar diferentes objetos de investigação com base em informações já coletadas. Objetivos - Implementar modelo hierárquico para entrada de dados em inquéritos epidemiológicos. Métodos - Foi utilizada a UML (Linguagem de Modelagem Unificada) para o projeto lógico e o Makeview do Epi Info para obtenção das estruturas de dados. Os testes foram feitos em um setor censitário do inquérito Acesso a Medicamentos - FAPESP. A documentação foi gerada no Makeview com ajuda de uma macro do Excel. Resultados - O modelo permite criar arquivos relacionais flexíveis, conforme a necessidade do objeto de estudo, com unidades estatísticas escolhidas dentre os 4 níveis hierárquicos: setor censitário, domicílios, indivíduos e questões específicas. Conclusão - A possibilidade de criar infinitas visões sobre os dados representa um avanço em comparação com o modelo plano. Deve ser usado como padrão em inquéritos epidemiológicos, pois permite estudar o efeito de conglomeração das unidades de análise, além de viabilizar a disseminação com dados organizados. O Epi Info pode ser usado para implementar modelos hierárquicos que considerem as variáveis do plano amostral.
2008
Silvio Fernando Barbieri
Estudo da fauna de mosquitos (Diptera: Culicidae) em reservatórios de contenção de cheias em área metropolina da cidade de São Paulo, SP
Introdução. A cidade de São Paulo vem adotando medidas no enfrentamento das inundações, como a implantação dos Reservatórios de Contenção de Cheias \"Piscinões\", que no período de estiagem, após as precipitações, propiciam a formação de criadouros de culicídeos, especialmente nos componentes hidráulicos. Objetivos. Avaliar os aspectos ecológicos da fauna de culicídeos nos Reservatórios de Contenção de Cheias Caguaçu e Inhumas, verificando a diversidade, dominância, similaridade e riqueza de espécies. Correlacionar fatores abióticos com a abundância numérica de mosquitos. Materiais e Métodos: Coletas mensais de culicídeos, no período de março de 2006 a fevereiro de 2007, empregando-se os métodos de conchas e aspirador à bateria. Em laboratório, após o desenvolvimento das larvas, os adultos foram identificados até a categoria de espécie. Resultados. Foram coletados 8.917 espécimes de culicídeos, dos quais 7.750 larvas e pupas e 1.167 adultos. Os espécimes identificados foram distribuídos em 4 gêneros e 13 espécies. Observou-se a dominância de Culex (Culex) quinquefasciatus, que representou 98% dos espécimes coletados no Inhumas e 92% no Caguaçu. A maior freqüência de mosquitos foi registrada no Piscinão Inhumas (6.378 larvas e 930 adultos) e maior riqueza de espécies no Caguaçu (11 espécies). Verificou-se correlação positiva entre a temperatura a e abundância numérica de imaturos nas duas áreas, correlação positiva no Piscinão Caguaçu e correlação negativa no Inhumas entre a precipitação e a abundância numérica de imaturos. As análises estatísticas demonstraram que os fatores abióticos analisados exercem pouca influência na população de adultos. Conclusões. A espécie Culex quinquefasciatus mostrou-se dominante e mais freqüente nos dois ambientes. Medidas de controle da espécie nos piscinções estudados se fazem necessárias tendo em vista seu potencial epidemiológico na transmissão de agentes patogênicos.
Avaliação de coberturas vacinais aos 12 e 24 meses de idade por meio de um sistema informatizado de imunização em Araraquara (SP)
Introdução: Nas últimas quatro décadas o Programa Nacional de Imunização (PNI) apresentou grande evolução, alcançando ótimas estimativas de cobertura vacinal calculadas por meio de dados administrativos. Este método, entretanto, não permite o cálculo da proporção de crianças com esquema completo e a avaliação da oportunidade (vacinação na idade preconizada). Sistemas informatizados de imunização (SII) permitem uma avaliação mais acurada da cobertura vacinal. Objetivos: Descrever e avaliar a cobertura vacinal, tanto de vacinas específicas quanto do esquema completo, assim como a oportunidade de vacinação, em crianças aos 12 e 24 meses de idade no Município de Araraquara nascidas entre 1998 e 2013. Métodos: Este estudo de série temporal usou dados de um SII, Sistema Juarez, do Município de Araraquara. Para cada coorte de nascimento, considerou-se o calendário vacinal do PNI vigente. Verificou-se a validade das doses e analisaram-se as coberturas vacinais oportunas e atualizadas para vacinas específicas e esquema completo. As tendências das coberturas vacinais foram analisadas por meio do método Prais-Winsten e a oportunidade do esquema completo foi apresentada por uma adaptação do método Kaplan-Meier. Resultados: Todas as coberturas de vacinas específicas apresentaram tendência crescente aos 12 meses de idade. Aos 24 meses, as coberturas atualizadas apresentaram tendência crescente e as oportunas, estacionárias. As coberturas oportunas e atualizadas do esquema completo no período foram de 62por cento e 84por cento aos 12 meses, respectivamente, e de 41por cento e 78por cento aos 24 meses, e apresentaram tendência estacionária, principalmente por conta da limitação de idade na aplicação da vacina Rotavírus. O método Kaplan-Meier permitiu visualizar que as vacinas aplicadas a partir dos seis meses de idade representam o momento de quedas mais acentuadas nas coberturas e que a introdução de novas vacinas não apresentou efeito negativo constante nas mesmas. As quedas nas coberturas foram mais relacionadas à idade de aplicação da dose do que ao número de doses de uma vacina. A porcentagem de crianças que receberam doses inválidas e com doses em atraso foi menor do que a encontrada na literatura. Conclusões: Este estudo mostrou as potencialidades de um SII numa cidade de médio porte, que permite análises mais complexas e acuradas das coberturas vacinais.
2016
Vinícius Leati de Rossi Ferreira
Crença, responsabilidade e comunicação sobre a dengue em Aparecida, SP: um estudo de representações sociais
Introdução: A epidemia de dengue ocorrida em Aparecida, no ano de 2007, pode ter sido causada por vários fatores, como exemplo a falta de participação popular nas atividades de controle de criadouros do mosquito citada pelos agentes comunitários de saúde (ACSs). O principal objetivo foi investigar o pensamento técnico emitido pelos ACSs e o senso comum, o qual pode subsidiar técnicas e linguagens adequadas para uma participação popular efetiva. Metodologia: Dada a importância das mulheres nos cuidados da casa e dos ACSs no repasse de informações técnicas sobre a dengue, esses foram os dois grupos alvos da pesquisa. A técnica do Discurso do Sujeito Coletivo foi utilizada para identificar o conhecimento sobre a dengue e o vetor Aedes aegypti. Essa técnica consistiu em analisar o material verbal coletado por meio de questões abertas, relacionadas à biologia do mosquito vetor, às responsabilidades no controle da dengue e às fontes de informações que influenciaram na construção do conhecimento sobre a doença e o vetor. Resultados: Tanto os ACSs quanto a população definiram a reprodução do mosquito relacionada à água, porém há confusão sobre qual o tipo mais adequado para a reprodução. Na visão das mulheres a população precisa colaborar mais nas atividades de controle, porém a responsabilidade é atribuída ao governo. Já os agentes revelaram a necessidade da conscientização da população quanto às responsabilidades. Houve confusão sobre qual o papel do governo nas atividades na visão dos ACSs, pois o próprio trabalho foi representado como o governo. Conclusões: A contribuição efetiva e permanente dos moradores é fundamental. Por isso é preciso reavaliar as formas de repasse de informações e melhorar o treinamento e formação dos agentes que devem orientar a população não apenas para a prática de técnicas, mas principalmente para o exercício da cidadania.
2008
Andressa Francisca Ribeiro
Cobertura e uso do solo e sua influência na ocorrência de raiva nos municípios de Jacareí e Santa Branca, Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, entre 2002 e 2009
Objetivo: Realizou-se um estudo, no período de 2002 a 2009, com a finalidade de verificar se as mudanças nas classes de cobertura da terra e no uso do solo podem exercer influência na ocorrência da raiva, nos municípios de Jacareí e de Santa Branca, situados na Região do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, Sudeste do Brasil. Métodos: A ferramenta utilizada para avaliar estas alterações foi o sensoriamento remoto, através de imagens de satélite Land-sat. Para pesquisar a presença do vírus da raiva (RABV) foram coletados animais silvestres atropelados nas rodovias, morcegos encontrados na área urbana em atitude suspeita, morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus e animais de interesse econômico (ADIE) que vieram a óbito por enfermidade com sintomatologia nervosa. O material coletado, sistema nervoso central (SNC), desses animais foi encaminhado para o laboratório de referência nacional, o Instituto Pasteur de São Paulo (IP-SP) e para o Laboratório de Sanidade Animal da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)- Pólo Regional do Vale Paraíba (PRDTA/VP) - Pindamonhangaba-SP. A determinação da presença do antígeno viral foi feita através da prova de imunofluorescência direta (IFD) e o isolamento do vírus através da inoculação intracerebral em camundongos (IC). Os inóculos das amostras foram submetidos à prova de reação em cadeia pela polimerase transcriptase reversa (RT-PCR) para verificar a presença do vírus da raiva. Resultados: No período de estudo tivemos a ocorrência de dez casos da doença, sendo três em morcegos insetívoros na zona urbana de Jacareí, e sete em ADIE, sendo dois, em Jacareí e cinco, em Santa Branca. Todos os animais silvestres terrestres examinados foram negativos para a presença do vírus da raiva em todas as provas realizadas (IFD, IC, RT-PCR). O material proveniente dos morcegos foi negativo para as provas de IFD e IC, porém três amostras, oriundas de morcegos insetívoros, resultaram positivas para a prova de RTPCR. As amostras de ADIE examinadas resultaram positivas para todas as provas realizadas. O sequenciamento genético utilizou amplificações referentes à glicoproteína viral das 8 amostras positivas para rt-pcr, obtendo para os cinco isolados de ADIE linhagem de desmodus rotundus e para os três isolados de morcegos linhagens de nyctinomops laticaudatus e tadarida brasiliensis. Quando foi estudada a cobertura do solo e seu uso, considerando os municípios, constatou-se que não haviam ocorrido mudanças significativas entre 2002 e 2009. Optou-se por fazer buffers de raio de 3 km tendo como centro de cada buffer as coordenadas geográficas de casos positivos para raiva. Como em duas situações houve sobreposição entre áreas de buffers, resolveu-se considerar a área da união dos mesmos. Foi interessante que, mesmo nestes buffers não houve mudanças significativas, apesar da ocorrência da doença. Conclusão: Na escala utilizada, considerada micro, a enfermidade aconteceu, mesmo sem mudanças aparentes na região. Provavelmente, em uma escala macro outros resultados poderiam ser obtidos
2010
João José de Freitas Ferrari
Análise espacial e espaçotemporal da Aids no município de São Paulo entre 2001 e 2010
Dos casos de Aids notificados no Brasil desde 1981, 14 % ocorreram no município de São Paulo. A vigilância epidemiológica da Aids permite identificar características da doença na população após a infecção pelo HIV. O estudo ecológico pretende descrever o perfil epidemiológico da Aids no município de São Paulo entre 2001 e 2010 a partir da análise espacial e espaçotemporal dos casos notificados na população com 13 anos e mais segundo gênero, faixa etária, raça / cor, escolaridade, categoria de exposição, local de residência e ano de diagnóstico. Foram notificados 28146 casos, com predomínio de transmissão pela via sexual. Observou-se diminuição das taxas de incidência na população em geral, exceto nos homens de 13 a 29 anos e nas pessoas acima de 60 anos. A razão de sexo na faixa etária de 13 a 19 anos aumentou para 2,7 casos em homens para cada caso em mulher. Na população masculina a proporção de casos aumentou entre os homossexuais com maior concentração na região Central da cidade; nas mulheres a via de transmissão heterossexual predominou em todo o município. Após geocodificação e análise espacial de dados foram identificados três aglomerados espaciais na população masculina e 10 na feminina, dois aglomerados espaçotemporais na população masculina e sete na feminina (p 0,05) utilizando-se o modelo discreto de Poisson; foram apresentadas as informações destes aglomerados (identificação, número de setores censitários e casos de Aids, risco relativo, período e distritos administrativos envolvidos). As técnicas de geoprocessamento permitem associar informações agregadas, ambientais e globais, além de estabelecer tendências da epidemia na população em geral e em subgrupos populacionais específicos. A análise espacial de dados pode ser útil às ações de vigilância e controle da Aids no município de São Paulo, além de contribuir no planejamento da assistência à saúde das pessoas vivendo com HIV/Aids
Pesquisa de infecções por Flavivirus sp. em aves silvestres provenientes das áreas verdes do município de São Paulo
INTRODUÇÃO: Em grandes cidades, como São Paulo, a pequena porcentagem de matas existentes é representada pelos parques municipais. Estas áreas, além de representarem ambientes de lazer para as pessoas, albergam uma enorme diversidade biológica, desde mosquitos até aves e mamíferos. A interação destas espécies favorece a circulação de Flavivirus, causadores de importantes doenças humanas, que têm nas aves um importante reservatório. Atribui-se às aves migratórias o papel de carreadoras dos vírus, já que as mesmas percorrem longas distâncias para completar seu ciclo biológico. A chegada de aves do Hemisfério Norte ocorre em alguns Parques, o que favoreceria a dispersão de alguns vírus, como o Vírus do Nilo Ocidental, já que nestas áreas estão presentes mosquitos potencialmente vetores. OBJETIVOS: identificar infecção por Flavivírus nas aves dos parques municipais de São Paulo. MÉTODOS: De Março de 2012 a Janeiro de 2013, foram coletadas amostras de swab de cloaca, orofaringe e sangue de aves capturadas em redes de neblina de duas áreas do município de São Paulo: Parque Anhanguera e Fazenda Castanheiras/APA Bororé Colônia. As aves foram anilhadas e liberadas após a coleta do material. Foi realizada técnica de RT-PCR em tempo real, utilizando iniciadores genéricos que amplificam fragmento do gene NS5 de Flavivirus. Amostras positivas foram encaminhadas para sequenciamento. RESULTADOS: Foi capturado um total de 231 aves, em sua maioria da Ordem Passeriformes. De um total de 463 amostras, nenhuma amostra apresentou presença de RNA viral. DISCUSSÃO: Em se tratando de alguns Flavivírus, os passeriformes são considerados os reservatórios mais competentes no ciclo de transmissão, pois atingem altos níveis de viremia. Cabe ressaltar que algumas espécies desta ordem, de ocorrência na cidade de São Paulo, já foram identificadas como portadoras dos vírus Rocio e Ilhéus. A ausência de positividade é esperada, pois embora altamente sensível, a técnica de PCR depende do estado de viremia das aves, que é curta. CONCLUSÃO: Os parques municipais são áreas que aproximam aves, mosquitos e humanos, pelo papel ambiental e de lazer que os mesmos representam. Este fato classifica estas áreas como locais com potencial de transmissão de Flavivirus, o que torna importante a continuação este estudo, aumentando as áreas de abrangência, para conhecer os Flavivírus circulantes e realizar vigilância para vírus que podem ocasionar problemas de Saúde Pública
Investigação de esgotamento físico e emocional (burnout) entre professores usuários de um hospital público do município de São Paulo
Este estudo teve por objetivo avaliar aspectos da saúde e do trabalho de professores da rede pública da cidade de São Paulo, usuários do Hospital do Servidor Público Municipal. A síndrome de burnout, ou síndrome de esgotamento profissional, foi considerada como risco ocupacional nessa categoria. Não encontramos outros estudos utilizando instrumento para avaliação de burnout em professores do município. Participaram da pesquisa 76 docentes com indicação de tratamento psicológico. A investigação consistiu na aplicação de inventários para avaliação de burnout: Maslach Burnout Inventory (MBI) e Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (CESQT); aplicação de questionário sociodemográfico e ocupacional e entrevista semiestruturada. Foram realizadas análises estatísticas sendo encontrada associação entre o número de alunos atendidos e a situação funcional e também associação entre o sentimento de realização profissional e: acústica, ruído, poeira, limpeza da sala de aula, número de alunos atendidos, incômodo com os alunos, incômodo com os pais e duração da licença médica. 33,96 por cento dos medicamentos em uso regular estavam relacionados à síndrome metabólica e 30,82 por cento a transtornos psiquiátricos. A avaliação dos participantes de que seus problemas de saúde tinham relação com o trabalho mostrou associação com: ter sofrido agressão dentro da escola; conhecer outras vítimas de agressão; duração da licença médica; e número de alunos atendidos. 51,32 por cento referiram ter sofrido agressão dentro da escola no último ano. 78,95 por cento relataram agressão sofrida por outras pessoas (sendo 81,67 por cento outros professores) no mesmo período. A apuração do MBI apontou nível alto de burnout em pelo menos uma escala em 76,31 por cento da amostra. A apuração do CESQT apontou burnout em 85,52 por cento dos participantes. Os resultados dos testes psicológicos apresentaram concordância (p<0,001). O MBI mostrou associação com 19 variáveis sociodemográficas e o CESQT com 11 delas, indicando que aspectos do contexto de trabalho estão relacionados ao burnout apurado por meio dos inventários. Consideramos que a democratização do ensino e a proposta da aprendizagem em ciclos transformaram o modelo educacional, trazendo benefícios, porém seriam necessários mais investimentos, bem como a adequação de 6 aspectos como: número de alunos atendidos diariamente, educação continuada dos profissionais e estímulos ao apoio mútuo entre professores, coordenadores pedagógicos e diretores de escola.
Desigualdades no uso e acesso aos serviços de saúde entre a população idosa do município de São Paulo
Objetivos: Este estudo é parte do Projeto Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (SABE), com o objetivo de identificar as desigualdades no acesso e uso de serviços de saúde entre idosos no município de São Paulo, Brasil. Métodos: Em 2000, foram entrevistados, 2143 indivíduos com 60 anos ou mais, utilizando-se o questionário padronizado do SABE. A amostra foi obtida em dois estágios, utilizando-se setores censitários com reposição, probabilidade proporcional à população e complementação da amostra de pessoas de 75 anos. Os dados finais foram ponderados, de forma a serem expandidos. Foi mensurado o uso de serviços hospitalares (internações) e ambulatoriais (consultas médicas) nos últimos quatro meses e o não uso de serviços de saúde (mesmo precisando), relacionando-os com fatores de capacidade, necessidade e predisposição (renda total, escolaridade, seguro saúde, morbidade referida, auto-percepção, sexo e idade). Resultados: A proporção dos entrevistados que referiu ter utilizado algum serviço de saúde, nos últimos quatro meses, foi de 4,7 por cento com relação à internação hospitalar e 64, 4 por cento com referência ao atendimento ambulatorial. Dos atendimentos ambulatoriais, 24,7 por cento ocorreu em hospital público e 24,1 por cento em serviço ambulatorial público sendo que nos serviços privados, 14,5 por cento ocorreu em hospital e 33,7 por cento em clínicas. A não utilização foi relacionada à pouca gravidade da doença, qualidade e distância dos serviços e custo. Na regressão logística multivariada, observou-se associação entre a utilização de serviços e sexo, presença de doenças, auto-percepção de saúde, interação da renda e escolaridade e posse de seguro saúde, sendo que a escolaridade isoladamente apresentou efeito inverso. Conclusão: Foram observadas desigualdades no uso e acesso aos serviços de saúde e inadequação do modelo de atenção, indicando necessidade de políticas públicas que levem em conta as especificidades dessa população, facilitem o acesso e possam reduzir essas desigualdades
2006
Marilia Cristina Prado Louvison
Estudo dos fatores associados à capacidade para o trabalho em trabalhadores do Setor Elétrico
Introdução A capacidade para o trabalho é influenciada por vários fatores, incluindo a condição de saúde, características sócio-demográficas, estilo de vida e fatores relacionados ao trabalho. Objetivo Analisar os fatores associados à capacidade para o trabalho em uma população de eletricitários. Métodos Estudo transversal onde foram analisados 475 trabalhadores, voluntários, de uma empresa privada no setor eletricitário do Estado de São Paulo, Brasil. Os dados foram coletados por meio de questionários auto-preenchidos (Índice de Capacidade para o Trabalho - ICT, Escala Estresse no Trabalho - EET, Medical Outcomes Study 36 Item short form health survey SF-36, Questionário de Baecke, Questionário de tolerância de Fagerström e Questionário AUDIT). A relação entre as variáveis foi analisada por meio do coeficiente de correlação de Spearman, e para comparação das médias foram utilizados os testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. A análise conjunta das variáveis foi feita por meio de regressão linear múltipla. Resultados Foi identificada uma diminuição progressiva do valor do ICT significativamente associada aos aumentos da idade (r=-0,16, p<0,001), do índice de massa corporal (r=-0,17, p<0,001), do consumo de álcool (r=-0,11, p=0,019), do tempo na empresa (r=-0,17, p<0,001) e da intensidade do estresse no trabalho (r=-0,37, p<0,001). O valor do ICT apresentou elevação associada ao incremento da prática de atividade física (r=0,19, p<0,001). A média do valor do ICT esteve associada à unidade de trabalho (p=0,043). O ICT esteve associado significativamente com as diversas dimensões do estado de saúde físico e mental (p<0,001 em todas as dimensões). A análise múltipla, ajustada por sexo e tempo na empresa, evidenciou que os fatores que melhor explicaram a variação do ICT foram o estresse no trabalho e as dimensões da saúde física. Uma segunda análise, excluídas as dimensões da saúde, mostrou que o estresse no trabalho, a unidade de trabalho e características do estilo de vida foram os fatores que melhor explicaram a variação do ICT. Conclusões A pesquisa evidenciou que o estresse decorrente de fatores psicossociais do trabalho, a elevação do índice de massa corporal, o consumo de bebida alcoólica e o local de trabalho podem contribuir para a diminuição da capacidade para o trabalho, e que uma boa qualidade do estado da saúde física e a prática de atividade física podem contribuir para a manutenção da capacidade para o trabalho dos eletricitários.
Aproximações acerca do cotidiano: enigmas e revelações de pessoas com hepatite B
A Região Amazônica é considerada área de alta endemicidade para hepatite B. No Estado do Acre e na capital Rio Branco caracteriza-se um quadro em que jovens e adultos jovens, em pleno período reprodutivo e produtivo para o trabalho e para o estudo, constituem população gravemente acometida pela doença. Assim, procurouse neste estudo a compreensão do modo de vida de pessoas portadoras do HBV, de ambos os sexos, entre 15 e 30 anos, para contribuir no enfrentamento da complexidade desse quadro, através de ações de saúde mais condizentes com as necessidades desses sujeitos. Os métodos qualitativos se mostraram mais apropriados, pois possibilitam a compreensão dos acontecimentos e da forma como os sujeitos vivenciam as experiências. Reconheceu-se no cotidiano, históricooriginal- significativo, uma oportunidade de se descobrir novos caminhos de entendimento para a realidade. Buscou-se os participantes a partir do Serviço de Assistência Especializada, valendo-se de instrumentos de pesquisa exclusivos, utilizados para obtenção de informações socioeconômicas e para nortear as entrevistas com os sujeitos. Foram realizadas doze entrevistas, duas das quais com familiares. Os depoimentos prestados, juntamente com as anotações de campo e os apontamentos da observação participante, além das informações colhidas pelos questionários iniciais, constituíram os registros analisados. A análise do material possibilitou as seguintes categorias: descoberta da doença, contemplando as situações que precipitaram o diagnóstico nos casos assintomáticos e sintomáticos, além das principais informações acerca da enfermidade; doença no cotidiano, abrangendo as percepções quanto aos efeitos adversos do tratamento, as restrições procedentes da doença e/ou do tratamento farmacológico e os cuidados profiláticos; modo de vida, apresentando as estratégias de enfrentamento à doença, modalidades através das quais os sujeitos confrontam-se com as implicações da hepatite B, quais sejam, a religiosidade, o apoio espiritual e familiar, e o planejamento para o futuro, além das relações afetivas no cotidiano, e por último, a categoria preconceito e estigma, realidade ainda presente no contexto de doenças infecciosas. Assinalam-se assim, as compreensões do modo de vida, a partir do cotidiano, de pessoas que vivem com o vírus B, para colaborar no maior entendimento de suas necessidades de saúde, podendo subsidiar estratégias de assistência mais equânimes, vislumbrando a atenção integral desses sujeitos
Mortalidade materna no município de São Paulo, 2000 a 2008
Introdução: A mortalidade materna é um grande problema de Saúde Pública no Brasil e no mundo. Atinge muitas mulheres e representa um indicador de pobreza e iniquidade social. Objetivo: Analisar as mortes maternas ocorridas no município de São Paulo em uma série histórica de 2000 a 2008. Métodos: Estudo ecológico, que analisou os óbitos maternos ocorridos em residentes do município de São Paulo entre os anos de 2000 a 2008. Foram utilizados dados das Declarações de Óbito e dos relatórios do Comitê de Mortalidade Materna. O mapa de exclusão/inclusão social e as áreas homogêneas dos 96 distritos administrativos foram utilizados como unidades de análise. Foram calculadas as razões de mortalidade materna, o percentual de subnotificação de causas maternas declaradas e fator de correção. Foram analisadas as causas que ocultavam os óbitos maternos. A análise de tendência da mortalidade para o município foi realizada por meio de modelos de regressão polinomial e a para análise de correlação utilizou-se o teste de correlação de Pearson. Foi considerado o nível de significância de 5 por cento (p<0,05). Para análise do preenchimento das variáveis 43 e 44, as Declarações de óbito foram localizadas no arquivo morto da Prefeitura Municipal. Resultados: Ocorreram 877 óbitos. A Razão de Mortalidade Materna (RMM) foi de 53,2 óbitos/100.000 Nascidos Vivos. A série histórica apresentou tendência decrescente estatisticamente significativa, com redução de 1,73 ao ano. As menores RMM foram encontradas nas áreas homogêneas de menor exclusão social, e as maiores, nas áreas de maior exclusão. As áreas mais excluídas apresentaram risco de morte materna aproximadamente três vezes maior que na área menos excluída. A correlação de Pearson revelou moderada correlação negativa entre a RMM e o índice de exclusão/inclusão global (-0,37), o índice de desenvolvimento humano (-0,40) e de autonomia (-0,36). As principais causas de morte materna foram as obstétricas indiretas. O percentual médio de subnotificação das causas maternas foi de 45,38 por cento, e o fator de correção médio foi 1,83. Destacou-se o grande percentual de causas mal definidas declaradas. Entre 2004 a 2006, 43,4 por cento das declarações apresentaram os campos 43 e 44 preenchidos corretamente. A maioria das declarações apresentou três diagnósticos informados. Conclusões: A RMM mostrou relação com as condições socioeconômicas. É necessário maior investimento em treinamentos para o correto preenchimento das Declarações de óbito. É necessário a implementação mais efetiva de ações de saúde voltadas para a mortalidade materna
2013
Tatiane Sano Furukawa Zacarias