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Infância, religião e colonialidade: trajetórias de homens gays
A colonização do ser e do saber passaram pela imposição de um regime de verdade que construiu na América Latina a subalternização e o aniquilamento das cosmologias indígenas e dos negros escravizados. O saber de matriz cristã eurocêntrica foi progressivamente incorporado por meio de um tropo performativo pelo discurso científico a partir do final do século XVIII na Europa disseminando-se nas colônias do novo mundo. Os traços desse esquadrinhamento e hierarquização dos sujeitos pela passagem/acoplamento da religião-ciência construíram a cisheteronormatividade que atravessa os modos de subjetivação. Este ensaio toma narrativas de trajetórias de vida de sujeitos homossexuais identificados com a teologia cristã e relatos de membros da Igreja Cristã Contemporânea publicados na seção de “Testemunhos” da página virtual da instituição. A perspectiva teórica utilizada hibridiza conceitos da teoria descolonial, da genealogia foucaultiana e dos estudos queer.
2019
Nardi, Henrique Caetano Gonçalves, Robson Antônio da Silva
Apostas crianceiras na contramão do discurso colonizador nas religiões: o conto de Kiriku e a filosofia Ubuntu
O presente artigo objetiva apontar, a partir de epistemologias africanas, uma alternativa aos discursos e práticas, nomeados como intolerância religiosa, que possui números expressivos no Brasil. Partindo das análises históricas de investidas cristãs no Brasil colônia, entendemos que as lógicas coloniais encontram-se ainda imbricadas nos modos de viver religião no país. Consideramos, ainda, o adultocentrismo também como uma marca de colonização por um ideal de homem branco, adulto e cristão, um modelo europeu de existência. Desse modo, buscamos junto ao conto africano de Kiriku e à filosofia africana Ubuntu pautar o debate sobre outra forma de existência que nos permita coabitar na diferença, onde o desejo de domínio ou destruição que se encontram nas ações de violência de cunho religioso, dariam lugar a um modo crianceiro de abertura ao outro e a seus possíveis.
2019
Braga, Laíra Assunção Silveira, Luiz Henrique Lemos
Literatura infantil e ancestralidade africana: o que nos contam as crianças?
Imiscuída nas tendências da literatura infantil de temática da cultura africana e afro-brasileira está a ligação entre as crianças e a ancestralidade, talvez porque a criança seja diretamente afetada pelo encantamento do mundo a sua volta. É seguindo essa pista que este texto analisa como personagens negras da literatura infantil brasileira e africana lidam com os seres viventes e não viventes e como aprendem e apreendem o mundo a partir do contato com o sagrado. Nessa busca, dois elementos se destacam: a comunidade e o espírito ancestral. São eles que evidenciam o quanto a criança é protagonista do vínculo que mantemos com nossas origens e forças espirituais.
Entre o sagrado e o profano: as crianças contam outras histórias de caxambu, flechas, água e escola
O artigo tem por objetivo colocar em cena, imagens de crianças em seus entrecruzamentos com o sagrado e o profano, adulto e criança, privado e público. Nesses cruzamentos, vivendo heterotopias de si, as crianças não reivindicam as políticas de inclusão com saberes colonizadores que buscam capturar a raridade da vida. As crianças, o sagrado e o profano em encontro, produzem neste trabalho deslocamentos epistemológicos e fazem como força-convite em seu aparecimento que possamos acolher sua raridade. O artigo se vale de experiências em viagem cruzada pela academia e práticas religiosas que desconfiam da norma e do poder colonizador retroalimentado. Em deslizes teóricos e metodológicos, como aposta política fazemos a convocação para que deixemos que as crianças possam viver uma vida no deslizamento entre o sagrado e o profano. Abstract: This paper aims to put on scene, children’s images between their crosslinks with the sacred and the profane, adult and child, private and public. At these crossing, living their own heterotopias, children don't claim inclusion policies with colonizing knowledge that seek to capture the rarity of life. The children, the sacred and the profane in encounter, produce at this work(paper) epistemological displacement and make as inviting force in their appearance so that we can welcome their rarity. The paper is based on cross-travel experiences by the academy and religious practices that distrust the norm and the colonizer power.In theoretical and methodological sliding as a political bet, we call children to live a life sliding between the sacred and the profane. Keywords: children; sacred, profane Keywords: children; sacred, profane
2019
Hautequestt Filho, Genildo Coelho Rodrigues, Alexsandro Oliveira, Kiusam Regina
O rei está nu: desaprendendo e entendendo os tempos em que eu vivo
No presente ensaio, os autores tentam se livrar de algumas tecnologias textuais impostas à academia e lançam-nos em uma incursão epistêmica pautada na articulação entre uma dimensão contra-pedagógica e queer-decolonial para pensarmos como os a[r]tivismos e a própria arte pautam algumas implicações de pensar o decolonial. Seu intuito é investigar como a aposta decolonizadora, baseada na problemática de violência de gênero e a permanente colonialidade do poder e do saber como forma de dominação, podem gerar saberes de desaprendizagens insurgentes que fraturam o modelo colonial tornando possível outras formas de produção subjetiva.
Criança pessoal de um caso oblíquo: des-Colonização e Resistência na Escola
Atenta-se nesses escritos para descrições e levantamentos sobre como; transpassado por delimitações curriculares como a prescrição, o currículo oculto, o currículo nulo e outras conformações; a infância é colonizada instrumentalmente, no Sistema Escolar, e de qual maneira os pontos de resistência, docente e discente, podem contribuir com a des-Colonização das infâncias categorizadas ao longo do tempo, principalmente no que tange à apropriação religiosa.
2019
Porto, João Magro, Adriana Pinel, Hiran
Criança e religião no cinema brasileiro: educação contemporânea
Ao relacionar criança e religião no cinema brasileiro, o presente texto articula um posicionamento crítico-reflexivo a respeito da educação atual. Isso levanta uma pergunta: qual seria a diversidade que aproxima criança e religião no cinema nacional? Para exemplificar, os filmes selecionados foram Central do Brasil (1998) e Abril Despedaçado (2001), ambos de Walter Salles; Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund; e Capitães da Areia (2011), de Cecília Amado. No formato ensaio, o percurso metodológico elege a pesquisa empírica, qualitativa, de observar, descrever e discutir sobre essas películas, a partir dos estudos contemporâneos. O resultado demonstra a potencialidade desses filmes para a produção de conhecimento atrelada à produção de subjetividade na educação contemporânea.
A criança e o candomblé: considerações acerca de uma educação decolonial
As considerações deste artigo problematizam as perspectivas educacionais para a infância, tomando o Candomblé como fonte de aprendizagem. Se a ideia iluminista de “formação humana” continua sendo importante para a educação da criança, então propomos neste artigo ampliar o significado de “formação” para o envolvimento da espiritualidade na materialidade infantil. Com isso, há uma breve retomada das filosofias de Descartes e Rousseau para ilustrar a concepção ocidental e em seguida discutimos, no contexto de diáspora africana, noções de aprendizagem e educação para a infância no Candomblé. Tal proposta consiste na decolonização, caracterizada pelo envolvimento, acolhimento e africanidade. Uma decolonização que problematiza a noção de idade a partir da dinamicidade entre o tempo iniciático e o físico. Portanto, defendemos a ideia de “formação” pela aprendizagem contínua entre o adulto e a criança, o físico e o espiritual.
2019
Iyagunã, Dalzira Maria Aparecida Dantas, Luis Thiago Freire
Homossexualidade e identidade trans no Islã
Resumo: Muitas vezes me deparo com indivíduos, que estão pessoalmente preocupados ou não com esta questão, que ouviram tanto sobre o assunto, e seus opostos, que querem ter uma ideia ao mesmo tempo sintética. e global desta questão, do ponto de vista da chamada tradição árabe-muçulmana. Eu proponho resumir aqui as fontes das escrituras islâmicas relacionadas à questão da diversidade de naturezas, gêneros, sexualidades humanas. Assim, em uma abordagem certamente mais comprometida politicamente do que a da maioria dos intelectuais de nosso tempo, posso ao mesmo tempo esclarecer certas noções teológicas que podem parecer herméticas para os não iniciados.
Aprendizagem/desaprendizagem de gênero das crianças da educação infantil
Os estudos articulados sobre as infâncias e relações de gênero que se desenvolveram numa perspectiva histórica sociocultural e existencial questionaram o determinismo biológico, ou qualquer outra espécie de determinismo. Nesta rota vimos que as crianças são compreendidas como sujeitos que se agenciam em situações específicas, embora, existam regras prescritas estruturalmente que se materializam nas relações de classe, raça, gênero, religiosidade, regionalidades, nacionalidades. Tendo como marco tais estudos esculpiremos (através do olhar, ouvir, falar, ludicizar e escrever) quatro cenas desenroladas no Centro Municipal de Educação Infantil na cidade do Salvador, onde as crianças (3 a 5 anos) nos ajudam a construir reflexões sobre as famosas dicotomias de gênero, suas ambiguidades e seus desdobramentos sem os embaraços e mal-estar promovido pelos preconceitos existentes no mundo adultocêntrico.
2019
Miranda, Amanaiara Conceição de Santana Messeder, Suely Aldir
Cinderela, igreja e infância: produção de masculinidade e feminilidade numa escola rural
Como um projeto de “Cinema e Educação”, uma narrativa cinematográfica “A Cinderela (1950)” capturada pelos estúdios da Disney e os dogmas de uma igreja Evangélica poderiam se encontrar? Nos cotidianos de uma sala de aula. Tais encontros foram produzidos numa escola localizada numa área rural da Zona da Mata mineira e aqui caligrafamos as redes que atravessaram a produção do tornar-se menino e menina naquele espaço. Nesse sentido, mergulhamos nos fluxos que nutrem a produção de estar criança na escola. E para potencializar a reflexão, utilizamos as narrativas e os estudos nos/dos/com os cotidianos para a composição da cena tramada. Consideramos que os papéis masculinos e femininos são invenções que atravessam todo um sistema social, religioso e econômico e que a escola é um espaço potente para pensarmos nas multiplicidades de existências. Como também, de escapes as categorizações nas produções de vidas.
2019
Amorim, Graziele Corrêa e Silva, Rúbria de Cássia Magalhães Herneck, Heloísa Raimunda
O poder da infância: espiritualidade e política em afroperspectiva
Nós assumimos uma abordagem afroperspectivista para analisar o “poder da infância”. Este artigo tem objetivo de apresentar a infância como um modo de ser extraordinário. Após a leitura de duas narrativas espirituais, nós vinculamos a infância com poder verdadeiro. Em termos afroperspectivistas, a política e a espiritualidade só são atividades mais bem sucedidas a partir da infância. A análise comparativa entre Cristianismo e Candomblé levou-nos ao ponto de vista de que ambas convergem num aspecto central. A infância é o fundamento da conexão entre as dimensões espiritual e material, e a superação desta dualidade. A Infância é chave para produção de uma política biocêntrica.
Reflexões de professoras de educação infantil sobre a condição feminina na docência
A pesquisa teve como objetivo investigar como as professoras que atuam na Educação Infantil em escolas municipais de Vilhena, Rondônia, compreendem o seu próprio trabalho e as questões de gênero no âmbito da docência. O trabalhou seguiu a abordagem qualitativa e utilizou como instrumento de coleta de dados a entrevista. Participaram do estudo quatro professoras. Os resultados demonstram concepções reducionistas sobre o protagonismo feminino na docência e uma associação da figura materna, carinhosa e abnegada, ao ideal de professora. As constatações se sustentam na concepção da “inclinação natural” da mulher para o cuidado. É notório que a questão de gênero precisa ser explorada nos currículos dos cursos de formação inicial, aprofundando as discussões sobre o tema, com o objetivo de abandonar discursos e práticas que fomentam a desigualdade de gênero.
2019
Penafiel, Kelly Jessie Queiroz da Silva, Claudiane Alencar Zibetti, Marli Lúcia Tonatto
Sociologia das ausências e das emergências: um estudo numa Instituição de Ensino Superior do Oeste da Bahia
A pesquisa objetiva discutir os conceitos de sociologia das ausências e das emergências, propostos por Santos (2002; 2007), relacionando-os com a proposta pedagógica (PP) de uma instituição de ensino superior (IES). Realizou-se uma pesquisa exploratória, qualitativa, tratando inicialmente desses conceitos, associando-os posteriormente com a PP adotada pela IES. Identificou-se que há uma proximidade da pedagogia institucional com os conceitos, posto que nela se trabalha com utopias realistas, objetivando educar com vistas ao desenvolvimento coletivo, também sustentável. A guisa de conclusão verificou-se que a PP relaciona-se diretamente com os conceitos de Santos, porquanto busca repensar sua práxis educativa, a fim de atuar no desenvolvimento local da sociedade, apostando no fato de que um mundo melhor pode ser possível através do reconhecimento da realidade, compreensão e do desenvolvimento buscando o bem-estar coletivo.
2019
Rafagnin, Thiago Ribeiro Rafagnin, Maritânia Salete Salvi Salvi, Luciana Rita Bellincanta
COTIDIANO E EXPERIÊNCIAS DE SI: visibilidades de estudantes em uma escola da periferia urbana
Este artigo pesquisa o cotidiano de uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental, investigando como articular tal cotidiano ao currículo dos anos finais da Educação Básica em uma escola da periferia do município de Pelotas - RS. Para tanto, o trabalho faz aproximações entre cotidiano, na perspectiva de Michel de Certeau, e entre jogos de linguagem, segundo Ludwig Wittgenstein. A fim de priorizar a cultura dos/as estudantes no currículo escolar, construímos uma experiência educativa inspirada no pensamento de Jorge Larrosa. A partir das atividades pedagógicas produzidas para os estudantes, analisamos as experiências de si no processo. A parte empírica visibiliza vivências dos/as jovens relacionadas a circunstâncias de abandono; a esperanças de um futuro melhor; e à importância de atitudes de esperteza para sobreviver no cotidiano.
2021
Conrado, Gabriela Dutra Rodrigues Fonseca, Márcia Souza da
ESTADO DA ARTE SOBRE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS E NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Este artigo trata sobre o estágio supervisionado nos anos iniciais e na educação infantil, temá-tica por vezes desvalorizada na academia e pouco debatida frente a outras questões educacio-nais. O objetivo deste artigo é contribuir para a sistematização e organização da atual produ-ção de conhecimento sobre estágio supervisionado docente nestes segmentos de ensino no Brasil. Apresenta-se o levantamento bibliográfico do Estado da Arte das pesquisas sobre estágio supervisionado docente no Brasil nos segmentos de ensino citados de 1997 a 2017. O corpus eleito para esta pesquisa foi composto pelos trabalhos apresentados nas reuniões anuais da ANPED e pelos artigos registrados na base de dados Scielo-Brasil e permitiu iden-tificar as questões que emergem dos estudos sobre este assunto. Por fim, podemos afirmar que a temática foi pouco abordada em comparação com outras áreas de investigação da edu-cação neste período.
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO LEITOR PELA VIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Este artigo resulta de ações desenvolvidas em componente de curso de pós-graduação de 45h, buscamos ouvir dezenove estudantes sobre a sua formação leitora e como ouvinte de histórias, dialogando com sua experiência docente, buscando entender: qual a constituição leitora de mediadores de leitura? Para alcançar resposta a essa pergunta, a escuta sensível foi usada como dispositivo metodológico de produção das informações, registradas em diário de campo, além da escrita individual de memorial. O objetivo geral foi descrição de mediações que se estabelecem em sala de aula no processo de enleituramento através da oralidade da contação de histórias. Os resultados apontaram para reflexões pedagógicas de abordagem da oralidade como prática em aulas com crianças, jovens, adultos e idosos. A pesquisa teve ancoragem principalmente em: Soares (2004); Orlandi (2003) e Oliveira (2018).
2020
Oliveira, Rosemary Lapa Santos, Luciene Souza
“Práticas inovadoras” no campo acadêmico da Teologia: Transformação de estruturas ou estratégias para o devir sujeito feminino de saber?
Este artigo busca compreender os significados que são produzidos pelas práticas que as mulheres docentes inauguram no campo do saber teológico, analisando até que ponto essas práticas interferem ou provocam mudanças em uma estrutura acadêmica hierárquica e masculina. É um estudo de abordagem qualitativa, baseado em pesquisa documental e em narrativas de quatroze docentes que atuam no ensino superior em três instituições católicas, localizadas na região sul e sudeste do Brasil. Para a análise dos dados utiliza-se dos pressupostos teóricos do feminismo e dos estudos de gênero, de perspectiva pós-estruturalista. Os resultados da pesquisa apontam que as práticas das docentes não provocam mudanças nas estruturas das instituições teológicas, mas mobilizam um agenciamento de si e para o conjunto das mulheres, marcando politicamente o devir da “Mulher”, como sujeito de saber teológico.
Apresentação
No summary/description provided
2019
Rodrigues, Alexsandro Araujo, Debora Oyayomi