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A ordem de um tempo: folhetos na coleção Barbosa Machado
Neste artigo, os autores estudam a grande coleção de opúsculos montada no século XVIII pelo bibliófilo português Diogo Barbosa Machado, que integra atualmente o acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Destaca-se inicialmente a importância da escrita na Época Moderna e a circulação de folhetos impressos como elementos de poder. Em seguida, discute-se a coleção como agrupamento de peças preciosas, e a trajetória de ascensão social de seu artífice. O ponto central do artigo é a taxionomia empreendida pelo colecionador, relacionada também aos vários tempos percorridos pela coleção. Formula-se assim a hipótese da brecha do tempo em que vivia Barbosa Machado.
2007
Monteiro,Rodrigo Bentes Caldeira,Ana P. Sampaio
Bode Francisco Orelana: uma representação humorística da intelectualidade brasileira entre patrulhas ideológicas, autocensura e odarização
O artigo apresenta uma análise do personagem Bode Francisco Orelana criado pelo cartunista Henrique de Souza Filho - Henfil nos anos iniciais da década de 1970. Este personagem foi utilizado para colocar em discussão a coerção instaurada pela ditadura sobre os intelectuais e demais grupos produtores de cultura, o papel político da intelectualidade no contexto repressivo, os debates intraintelectuais e o problema da autocensura, fruto do terror propagado pela censura militar. A proposta central é assinalar a condição engajada do autor e de sua obra, apresentando-a como parte de um mecanismo de luta e um esforço de resistência que colaborou para o reavivamento e/ou para a formação de identidades nos sujeitos.
2007
Pires,Maria da Conceição Francisca
"Constantemente derrubo lágrimas": o drama de uma liderança negra no cárcere do governo Vargas
A finalidade deste artigo é enfocar o drama vivido por Isaltino Veiga dos Santos (uma das principais lideranças do movimento negro brasileiro na década de 1930) no cárcere do governo Vargas. Apesar de preso pela Delegacia de Ordem Política e Social (Deops) sob a acusação de realizar atividades subversivas, Veiga dos Santos negou veementemente ser comunista. Assim, a questão central a ser respondida aqui é: ele realmente era comunista ou houve algum tipo de engano por parte do órgão de repressão do governo Vargas?
2007
Domingues,Petrônio
As viagens científicas realizadas pelo naturalista Martim Francisco Ribeiro de Andrada na capitania de São Paulo (1800-1805)
Martim Francisco Ribeiro de Andrada é conhecido da historiografia sobretudo por sua atuação política no período da Independência, quando integrou o Gabinete dos Andradas, tendo sido o primeiro ministro da Fazenda do Brasil. Sua obra científica, no entanto, foi pouco estudada. O objetivo deste trabalho consiste em resgatar o perfil de naturalista na trajetória de vida do personagem, contribuindo assim para a historiografia das ciências no período da Ilustração luso-americana setecentista. Martim Francisco realizou diversas viagens científicas pela Capitania de São Paulo no exercício do cargo de Diretor Geral das Minas de Ouro, Prata e Ferro. As viagens serão analisadas como fazendo parte do projeto político-reformista posto em prática pelo principal ministro da Viradeira, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que visava aproveitar racionalmente os recursos naturais, sobretudo os minerais, da sua principal colônia, o Brasil. Tais produções naturais eram vistas como fontes de riquezas imprescindíveis para a modernização do Império Português.
2007
Varela,Alex
Novas perspectivas sobre a presença francesa na Bahia em torno de 1798
A publicação e análise da correspondência e de um Projeto de invasão da Bahia enviados pelo capitão da Marinha Antoine-René Larcher ao Diretório da República Francesa em 1797 permitem conhecer, sob novos ângulos, os episódios da chamada Conjuração Baiana, tanto pela abrangência social dos conspiradores, quanto por dimensões até então desconhecidas pela historiografia de projetos efetivamente inseridos numa perspectiva mais ampla de tentativas de expansão da Revolução Francesa.
2007
Jancsó,István Morel,Marco
"El Proceso" e Igreja Católica na Argentina: entre a cruz e a espada
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2007
Souza,Jessie Jane Vieira de
A memória, o historiador e o cidadão. A memória do Proceso argentino e os problemas da democracia
O objetivo aqui é examinar a versão principal do passado recente argentino - a do Nunca más - e com isso mostrar que papel ela cumpriu na construção da nova democracia, republicana e liberal, sustentando-a e ao mesmo tempo condicionando-a. Quero, também, tratar a questão dos historiadores e sua complexa, para não dizer ambígua, relação com essa memória da ditadura e da democracia, e o papel por eles exercido na consagração ou contestação das memórias coletivas construídas.
2007
Romero,Luis Alberto
Das palavras e das coisas curiosas: correspondência e escrita na coleção de notícias de Manuel Severim de Faria
Enquanto vigorou a União das Coroas Ibéricas (1580-1640) aprofundaram-se as relações de conhecimento acerca das conquistas luso-espanholas. Alguns circuitos e conexões surgiram constituídos por funcionários e clérigos letrados, tanto de enviados com o objetivo de registrar e descrever as partes do Oriente e do Ocidente como dos que ao lado de suas atividades administrativas e evangelizadoras enviavam informações e conhecimentos delas. Manuel Severim de Faria, Chantre da Sé de Évora, criou e centralizou um desses importantes circuitos, do qual fizeram parte, entre outros, o vice-rei Diogo do Couto e os freis Cristóvão de Lisboa e Vicente do Salvador. Outros, menos conhecidos, relatavam em cartas as notícias com grande rapidez, como as da guerra contra os holandeses na Bahia em 1624-25.
2007
Megiani,Ana Paula Torres
A escrita dos guaranis nas reduções: usos e funções das formas textuais indígenas - século XVIII
O uso da escrita por parte dos guaranis foi intenso a partir da celebração do Tratado de Madri, em 1750. Diante da permuta de territórios sul-americanos, por parte das monarquias ibéricas, os indígenas alfabetizados das reduções destinaram à prática da escrita novas finalidades. Nessa ocasião, os contatos epistolares foram muito valorizados pelos guaranis. A decisão indígena de manifestar por escrito suas opiniões expressa por um lado a importância conferida às negociações in scriptis e, por outro, o conhecimento das práticas administrativas vigentes no Império espanhol. No século XVIII, os guaranis letrados escreveram com freqüência e, por vezes, com maior desenvoltura do que os colonizadores hispano-americanos.
2007
Neumann,Eduardo
Ilustração, experimentalismo e mecanicismo: aspectos das transformações do saber médico em Portugal no século XVIII
Nas últimas décadas, um dos temas da historiografia luso-brasileira tem sido o das relações entre a medicina e a cultura científica no século XVIII. Parte de uma pesquisa mais ampla sobre o tema, este artigo apresenta algumas considerações acerca da influência do experimentalismo e do mecanicismo no saber médico do período. Nesse sentido, propomos analisar a crítica dos "estrangeirados" à tradição galênica, o papel da reforma dos Estatutos da Universidade de Coimbra, de 1772, e a influência do mecanicismo na anatomia. O objetivo principal é o de contribuir para a compreensão das transformações do saber médico no contexto da Ilustração em Portugal.
2007
Abreu,Jean Luiz Neves
Dinâmica da modernidade na América Latina: sociabilidades e institucionalização
O presente trabalho pretende delinear alguns traços significativos do que se poderia compreender como modernidade na América Latina. O interesse radica em discutir como a caracterização da particular experiência histórica da modernidade latinoamericana requer de uma interpretação do sentido e significado dos processos de institucionalização de sociabilidades, disciplinamento e uniformidade cultural. Uma análise da modernidade na América Latina sugere destacar aqueles dispositivos normativos que fazem referência à formalização e institucionalização de experiências sociais. Assim, pretende-se argumentar que as múltiplas práticas modernizadoras parecem ter apresentado uma ambígua lógica institucionalizadora: caracterizam-se por seus marcados signos de fragilidade e ausência em determinadas esferas da vida social, ao mesmo tempo em que denotam uma forte presença homogeneizadora e disciplinar, materializadas em uma instituição, o Estado, que conseguiu se situar acima das demais.
2007
Gadea,Carlos
O rei da América: notas sobre a aclamação tardia de d. João VI no Brasil
O texto apresenta algumas possibilidades analíticas para a decisão tardia de aclamar d. João VI no Brasil, tendo o rei assumido o título monárquico desde a morte de sua mãe, d. Maria I, em 20 de março de 1816. A decisão pela aclamação e a forma grandiosa da cerimônia, quase dois anos depois, deve ser analisada à luz da mudança do contexto europeu após a derrota de Napoleão, da restauração das forças monárquicas impressas nos tratados do Congresso de Viena, e, no Brasil, considerando os novos perfis dos ministros de d. João nos últimos anos de sua permanência na América
2007
Hermann,Jacqueline
Varnhagen em movimento: breve antologia de uma existência
O objetivo deste artigo é o de esboçar uma breve antologia da vida e obra do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), cuja existência transcorre praticamente toda fora do Brasil. Procuro relacionar parte da sua imensa obra a esse olhar distanciado, efeito de seu movimento quase ininterrupto em busca de arquivos e documentos sobre a história e a geografia do Brasil que se encontravam no exterior. Além disso, tento enfatizar a importância da viagem e da visão in locu como recursos cognitivos para a escrita da história em um contexto marcado pela emergência da história como ciência e sua ambição à objetividade narrativa e à imparcialidade do historiador.
2007
Cezar,Temístocles
Tradição crítica e crítica da tradição: as fortunas da ars histórica
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2007
Turin,Rodrigo
Visões de identidade de escritores judeus: O Eu e o Outro
Este estudo trata do desafio que diversos autores brasileiros de ascendência judaica enfrentam ao negarem uma afirmação absolutista de expressão étnica ou identitária que emerge hoje em dia nas discussões sobre pluralidade, multiculturalismo e o que é considerado "politicamente correto." Entre outros temas, o assunto de alteridade é especialmente referido para sublinhar como a expressão literária de autores judeus no Brasil desconstrói o flagrante emprego tradicional de "identidade." Esta ótica se inspira muito no pequeno livro de aforismos de Leon Wieseltier,Against Identity, [Contra Identidade] e de visões articuladas por outros pensadores como Hannah Arendt, John Stuart Mill, Sigmund Freud, Zygmunt Bauman, Charles Taylor e Edward Said. Aqui a argumentação ou exposição se apropria basicamente de certas obras de ficção de Clarice Lispector e de Samuel Rawet, mas também inclui breves referências a outros escritores judeus no Brasil, como Moacyr Scliar, Cíntia Moscovich, Bernardo Ajzenberg, junto com pensamentos de artistas,scholars, pensadores, e ensaístas internacionais, judeus e não-judeus, a fim de entender principalmente como eles abordam, no seu tratamento ficcional e não-ficcional, a idéia de identidade, pertencimento e alteridade, seja ela étnica, grupal ou individual.
2008
Vieira,Nelson H.
Os olhos do regime militar brasileiro nos campi. As assessorias de segurança e informações das universidades
O artigo analisa um dos aspectos da ação repressiva do regime militar brasileiro nas Universidades, o funcionamento das Assessorias Especiais de Segurança e Informações - AESI. Com base em documentação inédita o texto coloca em foco a ação de tais agências, que funcionaram como braço avançado da comunidade de informações noscampi. As AESI exerceram tarefas de vigilância, censura, contrapropaganda e triagem ideológica dos membros da comunidade universitária, o que implicou, às vezes, a demissão de professores e a expulsão de estudantes.
2008
Motta,Rodrigo Patto Sá
Escrita da história e representação: sobre o papel da imaginação do sujeito na operação historiográfica
Este artigo discute o problema da representação histórica, com ênfase no papel desempenhado pela imaginação do sujeito na construção do objeto e do texto da história. Tomando como ponto de partida o conceito de representação-efeito, argumenta-se que o papel da imaginação não deve ser nem descartado, nem superestimado, como por vezes parecem sustentar os envolvidos no debate. Argumenta-se, também, que uma reconsideração do papel da imaginação permite repensar a relação entre texto histórico e seu leitor, tomado como agente ativo de leitura.
2008
Azevedo,Danrlei de Freitas Teixeira,Felipe Charbel
A fortaleza e o navio: espaços de reclusão na Carreira da Índia
Este artigo pretende salientar algumas relações que podem ser estabelecidas entre os dois principais veículos da expansão portuguesa: a fortaleza e o navio. Esses dois espaços de reclusão podem ser entendidos como "instituições totais", na forma como as define Erving Goffman, e apresentam profundas semelhanças, principalmente quando se analisam momentos-limite vividos pelos indivíduos, durante os naufrágios e durante as situações de cerco. Para este efeito privilegia-se a presença portuguesa no Oceano Índico, caracterizada pela construção de uma rede de fortalezas sem uma significativa penetração no território.
2008
Doré,Andréa