Repositório RCAAP
Eça ensaísta: estudo sobre o trabalho jornalístico de Eça de Queirós para a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, ao final do século XIX
Partindo da afirmação de Antonio Candido de que Eça de Queirós escreveu na última década do século XIX seus \"artigos mais avançados politicamente\" sobre o socialismo e a burguesia capitalista, esta pesquisa definiu como seu objeto de estudo uma série de artigos publicados nesse período na Gazeta de Notícias, diário carioca de grande prestígio, que contemplava essa temática. Os pressupostos que direcionaram a pesquisa foram a de que os textos apontados por Antonio Candido configuravam em seu conjunto um projeto literário e, individualmente, poderiam ser compreendidos como ensaios, no sentido proposto por Adorno e Lukács. Para se testar tais idéias, procedeu-se a uma análise da forma dos artigos integrada com o estudo de seu contexto histórico e literário, utilizando-se para tanto os recursos teóricos e interpretativos de Roberto Schwarz, John Gledson e Dolf Oehler, além do direcionamento crítico desenvolvido por Candido.
2007
Jose Carlos Siqueira de Souza
A poética de Manoel de Barros e a relação homem-vegetal
O presente trabalho é uma escolha, entre muitos caminhos, de uma pesquisa iniciada no Curso de Mestrado. A dissertação, defendida em 2000, na FFLCH, USP, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Lúcia Pimentel de Sampaio Góes, recebeu o título de O REINO VEGETAL E O IMAGINÁRIO: comparação entre mitos do Leste do Mediterrâneo, narrativas indígenas brasileiras e textos literários da Cultura Ocidental Européia, (ênfase a Portugal e Brasil). O caminho escolhido, agora, é detectar a influência dos vegetais na criação poética de Manoel de Barros. Voltados para o mundo das plantas, recortando poemas fitomórficos, relacionados aos vegetais do referido autor, comparando-os com textos visuais e verbais, observaremos possíveis semelhanças e ou diferenças Autores de Portugal, Brasil e África estarão presentes, com textos poéticos. O trabalho está estruturado em dois grupos de comparações: 1 autores brasileiros, portugueses e africanos de língua portuguesa. Escolhemos criações de autores como Cecília Meireles, Murilo Mendes, Lúcia Pimentel Góes, Fernando Pessoa, Herberto Hélder, Ruy Cinatti, Rui Knopfli, João Melo e outros. 2 textos visuais de Arcimboldo, pintor italiano, Van Gogh, holandês, René Magritte, belga e Frida Khalo, mexicana. Seguindo a Dissertação defendida em 2000, nosso trabalho está apoiado em três centros de interesse, seguindo as principais tendências observadas por Mircea Eliade1, em seus estudos sobre os mitos relacionados aos vegetais de diversos povos: a) A identificação da árvore com o cosmos b) A identificação da árvore com o homem c) A nostalgia do paraíso Esses centros de interesse aparecem entrelaçados de modo plural. Além disso, estarão mesclados em nossa pesquisa, os elementos: Terra, Ar, Fogo e Água, envolvendo os três níveis cósmicos: Mundo Subterrâneo, Mundo Terrestre e Mundo Celeste.
2007
Nery Nice Biancalana Reiner
O corpo grotesco como elemento de construção poética nas obras de Augusto dos Anjos, Mário de Sá Carneiro e Ramón López Velarde
O trabalho objetiva uma análise do corpo grotesco enquanto elemento construtivo da poética de três autores do início do século XX: Mário de Sá-Carneiro (Portugal); Augusto dos Anjos (Brasil) e Ramón López Velarde (México). Os escritores foram escolhidos pelo fato de, na mesma época, abalarem as respectivas sociedades em que viveram com produções poéticas inovadoras. Baseando-se nisto, a abordagem é feita a partir das teorias de W. Kayser, sobre o grotesco romântico e Mikhail Bakhtin sobre o realismo grotesco. A pesquisa identificou a necessidade de relacionar o corpo grotesco com a teoria do Decadentismo, pois esta estética constitui uma das primeiras rupturas rumo ao que convencionou chamar de modernidade. Por fim, analisamos a definitiva entrada do grotesco no cânone dos três países e a relação existente entre a categoria literária (e o corpo grotesco) com a poesia moderna.
2007
Rogério Caetano de Almeida
Nas fronteiras da memória: Guimarães Rosa e Mia Couto, olhares que se cruzam
Este trabalho tece uma comparação entre as obras de João Guimarães Rosa e Mia Couto, contemplando as semelhanças e diferenças entre seus projetos estéticos, tendo como fio condutor a tradição oral. Segundo Walter Benjamin, todos os grandes escritores hauriram da tradição oral e, Ángel Rama parece corroborar com isso, quando diz que os escritores da modernidade recorrem a essa vertente para tecerem as suas narrativas. Rosa e Mia se voltam para o passado e seus olhares se cruzam ao recriarem as lendas, mitos, ritos, provérbios e chistes na elaboração de seus textos. É certo que, a tradição oral em suas narrativas não representa os costumes de seus povos na íntegra, uma vez que, na obra de Guimarães Rosa é retratada como algo evanescente e, mesmo na de Mia Couto, que faz parte do cotidiano, ela já aparece fragmentada. Porém, a preocupação maior é com o processo de recriação, pois este acaba nos remetendo à história de seus países, uma vez que as perspectivas dos autores parecem convergir no mesmo ponto: a \"modernização\" implantada de maneira brusca naquelas sociedades, relegando a uma \"terceira margem\", grande parte de suas populações. Brasil e Moçambique são países que têm em comum a língua portuguesa, herdada do colonizador que foi o mesmo. No entanto, são portadores de culturas distintas, pois, apesar da semelhança entre os elementos que as compõem, os valores são diferentes. As narrativas de João Guimarães Rosa e de Mia Couto não representam a História, mas contam história. Dessa forma, narração, memória e História se entrecruzam de tal maneira, que as fronteiras entre ficção e realidade se tornam muito tênues.
Memórias inventadas: um estudo comparado entre \'Relato de um certo oriente\', de Milton Hatoum e \'Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra\', de Mia Couto
Este trabalho realiza um estudo comparado entre o romance Relato de um certo Oriente, do escritor brasileiro Milton Hatoum e Um rio chamado Tempo, uma casa chamada Terra, do escritor moçambicano Mia Couto, com a finalidade de verificar as estratégias de construção da memória. Com base na hipótese de que a memória, nestes textos, é imaginação de possibilidades do devir que não se esgota em quadros fixos, a tese focaliza as dominantes técnicas e temáticas de construção da narrativa através do uso feito pelos autores do motivo da viagem, da fotografia e da epistolografia na composição dos quadros de memória. Para refletir sobre os narradores que se movimentam no espaço impreciso das misturas, envolvidos em complexas práticas culturais em interação, vale-se do apoio teórico e crítico de conceitos como hibridismo, mestiçagem, transculturação, crioulização e ambivalência. Este exercício crítico faz-se no horizonte do comparatismo da solidariedade, proposto por Benjamin Abdala Junior para os estudos das literaturas ibero-afro-americanas.
2007
Vera Lúcia da Rocha Maquêa
Os (des)caminhos da nação: um estudo comparado do espaço em Terra sonâmbula e Mãe, materno mar
Nesta tese de doutorado, são analisados comparativamente dois romances, Terra sonâmbula do autor moçambicano Mia Couto e Mãe, Materno Mar do angolano Boaventura Cardoso. A abordagem incide no espaço por ser considerado categoria fulcral de ambas as narrativas, sendo estabelecidas as relações entre os elementos internos e externos dos textos quanto ao tema da nação. Os principais espaços da análise são a estrada, a terra e o mar, destacando-se a questão da transitividade dos veículos, ônibus e trem, sendo formulada a hipótese de que tal problema constitui-se, muitas vezes, como discurso metafórico para a situação de Angola e Moçambique no período posterior à Independência. Trata-se, portanto, de um estudo comparativo que tem como fundamentação teórica e crítica um conjunto de autores de áreas diversas, estabelecendo-se um diálogo entre literatura, geografia, história e religião. A análise e comparação apontou para a prevalência de dualidades, contrapontos e ambivalências de diversos motivos que se relacionam ao espaço, tais como: imobilidade/movimento, vontade/destino, vida/morte, luz/sombra, tradição/modernidade, realidade/imaginação, religião/política. Como a ambivalência caracteriza-se, geralmente, por um lado negativo e outro positivo, subentende-se que do caos enfrentado no espaço se pode passar à ordem, à harmonia. Assim, como a estrada projeta um futuro, fazendo-se na terra e terminando no mar com seus atributos maternais, considera-se possível entender os finais abertos dos romances como formas de esperança, indicando a possibilidade de um renascimento individual e da nação.
2016
Everton Fernando Micheletti
Contos e cantos de resistência: diálogos entre narrativas breves de Boaventura Cardoso e canções de Chico Buarque
A presente dissertação analisa comparativamente os contos do primeiro livro do escritor angolano Boaventura Cardoso, Dizanga dia Muenhu, e canções do compositor brasileiro Chico Buarque, compostas entre o período de 1970 e 1985, com o fito de revelar, a partir das respectivas linguagens, a elaboração estética e a crítica social que emergem de obras escritas sob períodos de repressão. O trabalho busca, a partir das narrativas breves e das letras das canções, refletir sobre os caminhos da resistência à opressão e os ideais utópicos que mobilizaram os dois autores estudados.
2016
Estefânia de Francis Lopes
Para uma filosofia do cabelo: uma análise de Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida
Este trabalho apresenta uma análise da obra Esse Cabelo, de Djaimilia de Almeida (2015), a partir de uma proposta que combina elementos históricos e culturais com aspectos formais: ao mesmo tempo em que construímos um percurso sobre a enunciação do \"eu\" - até chegarmos aos marcadores de raça, nacionalidade e gênero que acabam configurando a narrativa, dando vistas a um possível \"arquivo negro português\" - reconhecemos procedimentos textuais próprios dos gêneros filosóficos, tais como o do Ensaio e do Aforismo. Assim, tomando de empréstimo uma expressão que aparece no livro, formulamos o conceito de \"filosofia do cabelo\" a fim de oferecer uma interpretação que contemple o movimento de oscilação da narrativa, que ora recolhe traços de sua origem, ora se confronta com o próprio intento de (re)construir o \"eu\".
Princesa: natura, cultura, acaso e liberdade
Esta tese tem como objetivo principal apresentar Princesa (1994), de Fernanda Farias de Albuquerque e Maurizio Jannelli. Embora escrito a quatro mãos, o texto nasce de uma narrativa em três vozes, dentro do cárcere romano de Rebbibia: Fernanda Farias, uma transexual brasileira; Maurizio Jannelli, um ex-terrorista italiano; Giovanni Tamponi, um ex-assaltante de bancos de origem sarda. Princesa narra a história de múltiplos trânsitos entre cidades, países, identidades, gêneros, consciências, contextos e corpos e, devido à sua particular gênese criativa, de conteúdo, de edição e de publicação, encontra-se em uma zona fronteiriça, o que nos levou a realizar, de forma semelhante, longas e intricadas viagens pela teoria literária. Assim, para o estudo da obra, recorremos à noção de entrelugar, com base nos pressupostos de Santiago (1971), Bhabha (1998) e à teoria da tradução, de Santos (2002); de autoria, gênero e nacionalidade literária; de dialogismo com obras pertencentes tanto ao sistema literário italiano quanto brasileiro; e, por último, nos apoiamos nos estudos da teoria queer, bem como nos Estudos Culturais e Pós-Coloniais, na medida em que a narrativa entrelaça a história da transformação de um corpo, para além dos limites do sexo e do gênero, com questões como pertencimento, Estado-Nação e migrações contemporâneas.
2016
Luciana Miranda Marchini Ulgheri
O imaginário e as manifestações do silêncio
O silêncio integra as experiências humanas, compõe o pensamento, tece a linguagem e configura a conduta e as manifestações artísticas. O imaginário e as manifestações do silêncio representam o anseio pela busca de faces do silêncio presentes no imaginário, nas experiências humanas e nas linguagens artísticas. Faces que, ao potencializarem o movimento de introspecção, podem contribuir para a abertura de portais e para a reorganização das vivências do ser. Para desenvolver o estudo, realizamos uma pesquisa bibliográfica e uma leitura analítica de obras artísticas de dois campos narrativos diferentes: fílmico e literário. As obras selecionadas para exame têm em comum a vigorosa presença do silêncio. Pela sua riqueza poética, os filmes Padre, padrone (1977) e Mutum (2007) e as produções literárias O Espelho (2001) e Manuelzão e Miguilim (2001) além de outros textos inesquecíveis colaboraram no desenvolvimento das análises. Para ampliar o entendimento sobre o imaginário, foram imprescindíveis os autores: Castoriadis (1982), Durand (2001), Maffesoli (2012) e Ruiz (2003). Também, como referência, Orlandi (2005; 2007), dada sua expressiva pesquisa a respeito do silêncio, além de outras teses que, ao tratarem do tema, trouxeram relevantes contribuições.
2019
Edna Alencar da Silva Rivera
Entre discos e lobos: o medo e o insólito revelados pelas ausências nas obras Vinil Verde e Os lobos dentro das paredes
A presente tese procurou estudar como a ausência, representada por elementos como a incomunicabilidade, a não-identificação, o entre-lugar, a perda e a morte, dentre outros, ajuda a deflagrar atmosferas e emoções de insólito e de medo nas obras Vinil Verde (2004), curta-metragem de Kleber Mendonça, e Os lobos dentro das paredes (2006), narrativa gráfica de Neil Gaiman. Em ambos os enredos, o mundo ficcional dos personagens é desestabilizado por fatos inexplicáveis que se sobrepõem à rotina do cotidiano. A ausência faz parte da existência humana e, como recurso estético, ajuda a construir variados sentimentos, sensações e ambientações, como a solidão e a melancolia. Dentre os efeitos que ela pode provocar, estão os do insólito e o do medo. O insólito na narrativa ficcional carrega a força e a potência de desestruturar a ordem, provocando incômodo, estranhamento e dúvida. O medo, por sua vez, é uma sensação inerente ao ser humano que, no campo ficcional, como experiência estética, tem fascinado crianças, jovens e adultos, o que se traduz pelo grande número de produções literárias e fílmicas que se fundamentam no susto e no pavor. Por um viés comparativo e multidisciplinar, que engloba obras de diferentes suportes (um livro ilustrado e um audiovisual), foram postos em foco os principais recursos estéticos que cada suporte utilizou para revelar os traços de ausência e, como resultado, provocar o estranhamento e o medo. O profícuo diálogo entre as linguagens verbal, visual e sonora, em que a palavra, a imagem e o som se articulam para construir múltiplas significações e múltiplas leituras, proporciona uma rica troca de saberes e uma singular leitura de mundo.
2017
Maria de Lourdes Guimarães
Samba, suor e cerveja: a poética do mascaramento no Carnaval modernista
A pesquisa sobre as figurações do Carnaval fundamenta uma das estratégias textuais dos escritores no primeiro tempo modernista, motivados pelo desejo de minimizar o sentimento de inautenticidade oriundo da emulação sistemática de matrizes estéticas europeias. A adoção da festividade momesca, por parte dessa geração, ocorre após a leitura dos poemas coligidos por Manuel Bandeira no volume Carnaval, em 1919, o que motiva significativas enunciações em poemas e manifestos literários de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e outros escritores e artistas iconográficos coetâneos. Essa visada nacionalista crítica assegura-se numa permeabilidade com as manifestações culturais desvinculadas das abordagens academicistas, entre as quais estão os registros do cancioneiro popular, poesiacantada em que as figurações carnavalescas são profusas. Na análise desse conjunto de poemas, constatamos a emergência de uma poética do mascaramento, em que três constantes o corpo, o tempo e os humores (a melancolia e a alegria) são submetidas a outramentos, o que suscita a hipótese de que esses poetas inventam uma tradição objetivando a positivação da originalidade nativa, tendo a festa de Carnaval e suas variantes míticas como motivação literária. No decênio de 1930, as figurações carnavalescas tornam-se rarefeitas na poesia escrita para livros, estabelecendo a palavra cantada como espaço de permanência. Com Orfeu da Conceição, em 1956, Vinicius de Moraes faz convergir ambas as vertentes, fragilizando a fronteira que as separava . Nesse percurso, constatamos que as figurações momescas obedecem a uma gramática do mascaramento, o que, por analogia, favoreceu o delineamento das singularidades da categoria brasilidade.
2019
Victor Roberto da Cruz Palomo
Narradora e ideologia em Lúcia Miguel Pereira e Maria Lamas: os anos 1930
A presente pesquisa tem por objetivo a análise comparada dos romances Maria Luísa e Amanhecer, de Lúcia Miguel Pereira e Para além do amor e A Ilha Verde, de Maria Lamas, publicados durante os anos 1930. Considera-se como hipótese a presença da perspectiva ideológica, amparada por certa estrutura patriarcal, por um lado, e feminista, por outro, que desvenda uma narradora em diálogo com o contexto social e histórico a que estão circunscritos os romances.
2019
Tatiane Reghini de Mattos
Utopias no universo distópico: a escrita de autoria feminina em Moçambique
No campo dos estudos africanos de língua portuguesa, a crítica literária tem relacionado o conceito da utopia às obras artísticas que discutem os processos históricos de Independências, bem como às formações dos Estados nacionais, no século XX. A distopia, por outro lado, concatena-se aos textos que destoam dessas primeiras perspectivas, como crítica aos agenciamentos independentes, a exemplo das Guerras Civis que se sucederam. Contraditoriamente, os estudos sobre a utopia pouco tem relação com esses pontos de vista, baseando-se apenas na historiografia ocidental (HALL, 1992-1993) como possibilidade conceitual (CLAYES, 2001), a partir de modelos narrativos fixos, nas paradimáticas obras de Thomas More, Utopia (1516) e George Orwell, 1984 (1949). Nesse sentido, propondo um rompimento com o \"conceito de influência\" (LUGARINHO, 2016), a partir do descentramento das relações hierárquicas relacionadas aos cânones, o presente estudo teve como objetivo questionar a fixidez conceitual dessas terminologias, provocando uma reflexão: não seria possível discuti-las através de produções discursivas que não espelhem as realidades dos \"Impérios\" (HARDHT & NEGRI, 2000)? Para refletir sobre essa e outras questões, a escolha do corpus se deu a partir de textos de autoria feminina em Moçambique, como possibilidade de diálogo entre as teorias pós-coloniais e de gênero, justamente observando como essas duas terminologias se desvencilham de modelos fíxos. Logo, o presente estudo propôs, além de uma visão panorâmica da autoria feminina em Moçambique, ao longo do século XX, a análise comparada de dois romances contempoâneos, Ventos do Apocalipse (1999), de Paulina Chiziane e Neighbours (2012), de Lília Momplé, que particularizam a experiência da Guerra Civil (1977-1992) no país, constatando que, paradoxalmente, as obras ambientam uma perspectiva distópica, mas com algumas pulsões utópicas, e essas marcas são encontradas, principalmente, nas trajetórias das personagens femininas.
2020
Larissa da Silva Lisbôa Souza
SOBRE LOBOS, MENINAS E FLORESTAS: Literatura infantil/Juvenil e Valores Sociais
Esta pesquisa tem como objetivo primeiro investigar as transformações nos textos literários para crianças e jovens, oriundos de mudanças nas relações sociais, e verificar em que medida a literatura infantil e mesmo a juvenil tem exteriorizado no seu universo textual novas maneiras de percepção sobre as narrativas primordiais ou clássicas, consolidadas como tal a partir do século XVII. Na contemporaneidade, sobretudo a partir da segunda metade do século XX no Brasil da releitura do novo texto infantil, observou-se que tais narrativas e seus valores outrora marcados pela presença de uma pedagogia altamente moralizante e excludente, agora reorganizam as estratégias de captação para retomar não só os clássicos ou histórias que caíram no gosto da criança e do jovem, no passado, mas ainda para atualizar narrativas capazes de fazer parecer serem outras, dado o novo arranjo da vestimenta destas novas histórias que intencionam, de modo significativo, evidenciar uma literatura com mais recursos de visualidade e plasticidade, bem como um modo de ser e de estar dessa nova criança e também do jovem num mundo de valores diversos, cujos reflexos corroboram um universo literário de atualizadas prescrições. Assim, tomou-se como corpora as obras Chapeuzinho Amarelo (2006), de Chico Buarque, ilustração de Ziraldo, Chapeuzinho Vermelho (1996), de Charles Perrault, Chapeuzinho Vermelho, dos Grimm (2009), Sapato de salto (2011), de Lygia Bojunga, Antecedentes de uma famosa história (2010), de Carolina Alonso, ilustração de Mariana Massarani, conto publicado em Não era uma vez: contos clássicos recontados coletânea de autores latino-americanos, A outra história de Chapeuzinho Vermelho (2016), de Jean-Claude R. Alphen, ilustrada pelo próprio autor e as intersecções forjadas no texto Preciosidade (1991), de Clarice Lispector, conto publicado em Laços de família. Para tal investigação, foram utilizados como fundamentação teórica elementos dos Estudos Comparados de Literatura, bem como de outras ciências da linguagem afins, além de estudos sobre a gênese e a História da Literatura Infantil e, posteriormente, a Juvenil. Com base em estudos já desenvolvidos sobre essa modalidade de textos, busca-se adentrar mais um pouco nessa floresta ainda vasta de textos que refletem valores humanos e sociais.
2019
Ecila Lira de Lima Mabelini
A mulher e o discurso masculino nos romances de Eça de Queirós
Pretende-se fazer uma análise comparativa dos principais romances de Eça de Queirós (O crime do padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias, A ilustre casa de Ramires e A cidade e as serras), tentando observar como a representação do feminino acontece e como ela é guiada pelo olhar masculino idealizado e socialmente conformado, tanto dos narradores quanto das personagens masculinas. Deseja-se mostrar como esta visão sobre as mulheres se modifica em cada um dos romances representados realisticamente pelo escritor português, resultando em diferentes opiniões, idealizações e conceitos sobre elas. Dessa maneira, desejamos mostrar que Eça, de alguma forma, denuncia a opressão sofrida pelas mulheres no século XIX.
Entre dor e liberdade: um olhar sobre o tema da loucura nos romances de Paulina Chiziane
Na presente tese de doutorado, procuramos construir uma investigação sobre a experiência da loucura a partir das personagens Minosse, Emelina e Maria das Dores presentes em dois romances da moçambicana Paulina Chiziane: Ventos do apocalipse e O alegre canto da perdiz. Além disso, procuramos analisar como a autora, a partir dessas personagens, constrói a experiência do desvario, desvelando também um movimento dialético em que a própria autora, ali revelada, ilumina questões relacionadas às opressões de gênero, raça e classe. Tais questões, parece-nos, lançam as personagens femininas às margens de suas estruturas sociais em que a loucura se manifesta como uma potencial forma de existir e resistir às diversas formas de opressão social. Nesse sentido, os estudos de João Frayze, Michel Foucault e Frantz Fanon foram fundamentais para o desenvolvimento desta análise, bem como os estudos feministas que se organizam a partir das reflexões acerca do tema da interseccionalidade, como são os casos de Bakareé-Yousuf, Patricia McFadden, Amina Mama, bell hooks e Angela Davis. Ao inserir o tema da loucura por meio das personagens femininas de Ventos do apocalipse e O alegre canto da perdiz, notamos que a autora, em sua sistemática escrita engajada, procura trazer para o primeiro plano de sua escrita, experiências de resistência manifestas também pelas minorias historicamente silenciadas.
De armas e de palavras: um estudo comparado da temática da guerra em Terra Sonâmbula, de Mia Couto, e Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane
Esta tese de doutoramento tem por finalidade o estudo comparado das obras de dois escritores do macrossistema de literaturas de língua portuguesa, os moçambicanos, Mia Couto e Paulina Chiziane. Trabalhamos a temática da guerra sob a perspectiva do fantástico clássico (Todorov, 2008) e do fantástico contemporâneo (Sartre, 2006; Bessière, 1974) em dois romances, Terra sonâmbula (Couto,1992) e Ventos do apocalipse (Chiziane, 1999), tomando os mesmos como espaços dialógicos e em transformação, marcados pela História. ( Bakhtin, 1988; Lukács, 2006). O nosso enfoque comparatista buscou atar as questões do alheio ao próprio de forma a propiciar um melhor entendimento da literatura moçambicana e seu contexto, assim como, através dessa possibilidade de maior compreensão, facilitar sua divulgação.
2011
Lisângela Daniele Peruzzo
O rap ecoa na literatura infantil
Em nossa pesquisa intitulada O Rap Ecoa na Literatura Infantil, buscamos investigar diálogos que a literatura infantil e juvenil estabelece com outras formas de comunicação e outras artes, movimento que vem ocorrendo com intensidade e que concorre para modificações nesse universo literário, bem como, na imagem de seu interlocutor. Elaboramos um breve estudo por alguns caminhos percorridos historicamente pelos textos infantis, passamos por uma contextualização sobre a música, e os elementos que compõem a Cultura Hip-Hop e um de seus pilares o rap, posto que, selecionamos para objeto de estudo a obra Um Garoto Chamado Rorbeto, do rapper Gabriel Contino O Pensador. Buscamos evidenciar códigos literários e manifestações da cultura hip-hop compartilhados, as negociações entre os discursos sociais, o de denúncia característico do rap e o do poder instituído fortemente representado na obra; a partir disso, buscamos tangenciar possíveis imagens de criança e de infância que se fazem presentes em nossa contemporaneidade.
O intelectual de Edward Said em Memórias do cárcere de Graciliano Ramos
Este trabalho tem por finalidade apresentar os resultados da simetria entre o intelectual exposto por Edward Said na obra Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos. O papel do intelectual na sociedade sempre foi alvo de questionamentos e Edward Said apresentou um modelo moderno e engajado dessa classe, que tem como missão principal representar os mais oprimidos. A importância deste trabalho se dá pela tentativa de encontrar e descrever a correspondência que existe entre as ideias de Edward Said e a conduta de Graciliano Ramos no período em que esteve preso e após a prisão também. O objetivo é traçar e entender quem é a figura que Said marca como intelectual engajado e moderno capaz de compreender os problemas sociais e, por meio de suas ideias, tentar amenizá-los, destacando as reais dificuldades que atingem as sociedades carentes. Além disso, por meio do entendimento do indivíduo exposto como intelectual por Said, apresentar os comportamentos de Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere que os liga a esse intelectual. A hipótese é que, mesmo em situações diferentes, Edward Said e Graciliano Ramos apresentam pontos em comum e, a partir de suas ideias, conseguem dar voz aos que lhe cercam de alguma forma, mantendo seus princípios e não se deixando influenciar por fatores que não correspondem a seus ideais.
2015
Amanda Nascimento Fernandes