Repositório RCAAP
Avaliação de marcadores sorológicos, microbiológicos e moleculares para diagnóstico da brucelose canina
A brucelose causada pela B. canis constitui uma infecção sistêmica e zoonótica que acomete principalmente os cães, causando problemas reprodutivos. O diagnóstico da infecção é difícil, sendo necessária a associação do diagnóstico clínico aos métodos laboratoriais diretos e indiretos para sua confirmação. Um dos problemas relativos ao diagnóstico laboratorial está relacionado à ausência de marcadores que possibilitem a identificação acurada de cães em ausência de bacteremia. A partir do exposto, foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar o desempenho de testes laboratoriais diretos e indiretos como marcadores da infecção por B. canis em cães e determinar a combinação de testes que possibilite o diagnóstico da brucelose canina com maiores valores de sensibilidade e especificidade. Foram coletadas amostras de sangue, soro e aspirado de linfonodo de 92 cães, sem distinção de sexo, idade ou raça, incluindo cães reprodutores e não reprodutores. A hemocultura e a reação em cadeia pela polimerase (PCR) foram previamente realizadas nas amostras de sangue e, com base nos resultados, os 92 animais foram divididos em dois grupos: infectados (n=37) e não infectados (n= 55). Em seguida, as amostras de aspirado de linfonodo foram submetidas à PCR e ao cultivo microbiológico e as amostras de soro foram testadas por um ensaio imunocromatográfico (EIC). A partir dos resultados obtidos, a sensibilidade e especificidade diagnóstica dos testes foram calculadas utilizando os grupos infectados e não infectados, respectivamente. O coeficiente Kappa foi usado para calcular a concordância entres os testes laboratoriais e suas combinações. A proporção de resultados positivos foi de 40,2% (37/92) para os testes diretos em amostras de sangue, 29% (27/92) e 25% (23/92) para PCR e cultivo em amostras de aspirado de linfonodo, respectivamente, e 43% (40/92) para o EIC. A concordância entre os testes variou de moderada a quase perfeita. A sensibilidade e especificidade diagnóstica foram, respectivamente, 65% e 95% para PCR em amostras de aspirado de linfonodo, 62% e 100% para o cultivo microbiológico em amostras de aspirado de linfonodo e 92% e 89% para o EIC. A PCR em amostras de aspirados de linfonodos apresentou maior sensibilidade em relação ao cultivo aplicado a estas amostras, sendo uma alternativa ao diagnóstico microbiológico. A associação entre os testes de PCR em amostras de aspirados de linfonodos e de sangue e o EIC possibilitou um aumento da sensibilidade diagnóstica, por possibilitar a identificação de cães na ausência e na presença de bacteremia, com maior rapidez.
2018
Julia Teresa Ribeiro de Lima
Estudo da esporotricose em gatos domésticos no município de Guarulhos, estado de São Paulo
A esporotricose é uma micose zoonótica que no Brasil afeta centros urbanos. O gato tem papel chave na transmissão fúngica desta doença. Nos últimos 3 anos, a cidade de Guarulhos já registrou mais de 1500 casos em gatos e assumiu o status de notificação compulsória. O objetivo do presente trabalho foi analisar a epidemiologia das cepas do clado clínico patogênico Sporothrix schenckii em relação aos aspectos fenotípicos, moleculares e de suscetibilidade aos fármacos das amostras isoladas de gatos no município de Guarulhos (São Paulo). O estudo foi dividido em dois experimentos, sendo o primeiro composto por 119 gatos divididos em três grupos: Caso, Contactante e Não-Contactante. As amostras foram obtidas por meio de suabe nas lesões dos animais do grupo Caso e dos demais grupos de suabe oral e submetidas à cultura micológica; em paralelo, amostras foram obtidas para processamento de citologia em meio líquido por emblocado celular (CB). As amostras isoladas foram submetidas a PCR para identificação da espécie, bem como aos testes de sensibilidade aos fármacos microdiluição e E-Test. Durante as colheitas 25 gatos foram submetidos à eutánasia e as amostras de pele e órgãos submetidos à análise histopatológica e imunohistoquímica. O segundo estudo foi composto por 135 gatos divididos em dois grupos: Sintomático e Assintomático. As amostras obtidas foram processadas para cultura micológica e PCR, só que desta vez, a PCR foi realizada diretamente da lesão e não após o isolamento fúngico. Neste estudo, foi obtido 92,31% de positividade dentre os gatos suspeitos com esporotricose em cultivo micológico. No projeto, 100% das amostras foram identificadas como S. brasiliensis. A técnica proposta de citologia em meio líquido por emblocado celular (CB) apresentou 93% de positividade para Sporothrix spp, com sensibilidade de 97,50% entre o isolamento fúngico e 94,87% para a imunocitoquímica. Concluindo deste modo, que o CB pode ser uma boa opção para diagnóstico em saúde pública. A investigação da susceptibilidade dos isolados aos fármacos: terbinafina, a anfotericina B, o itraconazol, fluconazol e o voriconazol foram de 0,06 0,5 µg/ml, 0,002 2 µg/mL e 0,023 - > 32 µg/ml, > 256 µg/mL e 1 - 8 µg/mL, respectivamente. As amostras submetidas à histopatologia e imunhistoquímica demonstraram presença do Sporothrix spp em pele, linfonodo mesentérico, baço, fígado, pulmão e coração. Não foi observado elemento fúngico no rim. Não foi estabelecida relação entre intensidade de infiltrado inflamatório e intensidade de Sporothrix na pele. Conclui-se que a PCR realizada de amostra diretamente de lesão pode ser utilizada em áreas cuja frequência da doença é alta, visto que a sensibilidade diagnóstica foi de 90,20%, contudo a especificidade foi de 42,11%. Sendo assim, em áreas de baixa frequência da esporotricose, recomenda-se o emprego do padrão ouro que é a cultura micológica para pesquisa de Sporothrix spp e com a realização da PCR para as amostras cuja isolamento for obtido. As variáveis de tipo de lesão e início do tratamento interferem no resultado diagnóstico de PCR direto da lesão.
2018
Fernanda Fidelis Gonsales
Perfil de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em fêmeas ovinas do Estado da Paraíba, Brasil, do nascimento à maturidade sexual
A toxoplasmose é uma zoonose de distribuição mundial que acomete o homem e os animais homeotérmicos, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Este parasita é responsável por doenças congênitas, abortamento e natimortalidade em algumas espécies, como nos ovinos. Apesar de surtos de abortamentos por T. gondii serem considerados frequentes, são raras as descrições desses surtos em ovinos no Brasil, mesmo a infecção sendo bastante prevalente e os isolados muito virulentos. Estudos tem mostrado uma forte associação entre a presença de anticorpos contra o parasito nas mães e a não ocorrência de problemas reprodutivos por T. gondiidurante a gestação. O objetivo do estudo foi avaliar a ocorrência da infecção por T. gondii em ovinos, da região semi-árida do Estado da Paraíba e determinar se esses animais adquirem a infecção no primeiro ano de vida, antes do início da fase reprodutiva. Para tanto, foi feito o acompanhamento da dinâmica de anticorpos anti-T. gondii, pela reação de imunofluorescência indireta (RIFI ≥64), no soro dos animais desde o nascimento até os 12 meses de idade, obtidos uma vez por mês. Foram avaliadas 56 fêmeas mestiças e suas 61 crias, pertencentes a sete propriedades rurais com manejo semi-intensivo (representativo das fazendas da região). Das 61 cordeiras estudadas, 55,7% (34/61) (IC 95% 44,9%-71,4%) estavam susceptíveis à infecção no final dos 12 meses, uma vez que nesses animais somente foram detectados anticorpos colostrais ou estas se mantiveram negativas por todo o estudo. O restante, 44,3% (27/61) (IC 95% 28,6%-55,1%) ou nasceram infectadas (5/27; 18,5%) ou se infectaram no primeiro ano de vida (22/27; 81,5%). Os títulos de anticorpos variaram de 64 a 65.356 e as variáveis analisadas (presença de gatos, tipo de água fornecida, tipo de aprisco, manejo sanitário e existência de esgoto dentro da propriedade) não apresentaram associação com o resultado reagente das cordeiras. A análise descritiva não identificou um período mais comum de soroconversão nos animais. O estudo concluiu que aproximadamente metade das ovelhas estavam susceptíveis a infecção pelo T. gondii durante a primeira gestação, estando mais propícias a problemas reprodutivos pelo coccídio.
Soroprevalência e fatores de risco associados a leptospirose em equinos reprodutores no Estado de Santa Catarina, Brasil, nos anos de 2016 e 2020
A leptospirose possui distribuição mundial, sendo considerada uma das zoonoses mais importantes do mundo, podendo acometer os animais e humanos das mais variadas formas. Apesar dos estudos sobre soroprevalência da leptospirose em equinos demonstrarem que a exposição dos cavalos ao agente patogênico é alta, a maior parte dos animais é acometido de forma subclínica, gerando grandes prejuízos na criação de cavalos no Brasil e no mundo. O objetivo deste trabalho é avaliar a soroprevalência da leptospirose em equinos utilizados para a reprodução nos anos de 2016 e 2019 no Estado de Santa Catarina e os fatores de risco associados. No estado de Santa Catarina, nos anos de 2016 foram coletados soro sanguíneo de 305 equinos e em 2019 e 2020 um total de 103. O teste empregado foi o da Soro Aglutinação Microscópica (MAT). No ano de 2016, 145 (47,5%) apresentaram anticorpos anti Leptospira spp., enquanto 2019 e 2020 apenas 34 (33%) foram soropositivos. Quanto a fatores de risco, no ano de 2016 os fatores que apresentaram significância estatística para o tipo de reprodução, onde a monta natural se apresentou como um fator de risco, assim como éguas que tiveram reabsorção fetal e animais que viajaram. Quanto aos sorogrupos mais prevalentes no ano, tivemos o Icterohaemorrhagiae sorovar Icterohaemorrhagiae (22,8%), Pomona sorovar Pomona (18,6%) e Icterohaemorrhagiae sorovar Copenhageni (14,3%). O Sorogrupo Panama sorovar Panama apenas 1 exemplar com titulação de 1600 indicando uma fonte de infecção ativa do sorogrupo no estado. Quanto aos sorogrupos mais prevalentes nos anos de 2019-20, tivemos o Cynopteri sorovar Cynopteri (12,4%), Pomona sorovar Pomona (12,4%) e Australis sorovar Australis (6,2%). Tanto o sorogrupo Panama sorovar Panama como o Cynopteri sorovar Cynopteri não pertencem a lista de sorovares presentes nas vacinas comerciais disponíveis para cavalos. O Estado de Santa Catarina evidenciou uma ampla distribuição de soroprevalentes, podendo haver influencias climáticas e de educação continuada na prevalência da doença. O monitoramento epidemiológico da doença em equinos se faz necessário para a criação de programas efetivos de controle da zoonose no estado.
2021
Aline Tamye Izutani Aragão
Caracterização das populações de cães e gatos domiciliadas no município de São Paulo
O presente trabalho teve como objetivo estimar as populações canina e felina domiciliadas nos distritos administrativos do município de São Paulo, caracterizando-as demograficamente, bem como o oferecimento de cuidados veterinários e a forma de manutenção dos animais em domicílio. Para tal, utilizou-se amostragem complexa com seleção aleatória em dois estágios: setores censitários e domicílios. Em cada distrito administrativo, foram visitados seis setores censitários e 20 domicílios em cada setor sorteado. De setembro de 2006 a setembro de 2009, um total de 11.272 entrevistas foram feitas. A média de cão/domicílio com cão foi estimada em 1,60 e a média de gato/domicílio com gato, 1,69. A razão homem:cão foi estimada em 4,34 e a razão homem:gato, 19,33. A partir da população humana de 10.882.121 habitantes, no ano de 2007, estimou-se a população animal em 2.507.401 cães e 562.965 gatos. A população canina é composta de 52,7% de machos, enquanto a felina, de 45,1%. A proporção de felinos castrados (39,0%) foi superior a dos caninos (17,1%), considerando ambos os gêneros. As proporções de fêmeas esterilizadas (23,4% dentre os cães e 46,1% dentre os gatos) são superiores às de machos (11,4% dentre os cães e 31,5% dentre os gatos), em ambas as espécies. A idade média de cães foi estimada em 4,99 anos e a de gatos, 3,53 anos. A proporção de gatos não vacinados contra a raiva nos últimos 12 meses (6,8%) foi superior à proporção de cães (1,6%). A proporção de cães com restrição de acesso à rua (64,4%) foi superior à dos gatos (42,5%). A restrição e a esterilização dos animais são reflexos da posse responsável que deve ser incessantemente discutida e divulgada a fim de promover conscientização dos proprietários quanto aos modos de manutenção e oferecimento de cuidados veterinários. A caracterização das populações animais é a base da estruturação de progamas de controle populacional e de zoonoses. Estudos populacionais que respeitam a heterogeinedade dos aspectos administrativos e geográficos de um município, permitem medidas de ações em saúde mais direcionadas.
Dinâmica do efeito da homeopatia utilizada no tratamento de doenças em suínos pets
O presente trabalho objetiva verificar a evolução das doenças dos suínos pets através de acompanhamento de casos clínicos atendidos, no Serviço de Clínica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e a domicilio pela Medica Veterinária Izabelle Joanny de Oliveira CRMV-SP 36.101. O estudo compreende 10 animais com problemas dos sistemas tegumentar, gastrointestinal, respiratório, neurológico, linfático, endócrino, musculo esquelético, genitourinário e cardiovascular, que apresentaram excelente evolução ao tratamento homeopático, registrados e avaliados quanto ao grau de gravidade dos sinais clínicos comparando a sintomatologia antes e após o tratamento homeopático.
2020
Izabelle Joanny de Oliveira
Avaliação e atribuição de fatores de risco da presença de Salmonella spp. em estabelecimentos de frango de corte no estado de Santa Catarina
O objetivo deste estudo foi avaliar e atribuir possíveis fatores de risco associados à presença de Salmonella spp. em estabelecimentos de frango de corte no estado de Santa Catarina, Brasil. Foi definido um estudo caso-controle em estabelecimentos de frango de corte, que estão submetidos às monitorias previstas na Instrução Normativa MAPA/SDA nº 20, de 21 de outubro de 2016. Os resultados das monitorias realizadas no ano de 2020 foram analisados e, posteriormente, foi aplicado um questionário epidemiológico em 398 propriedades (199 casos e 199 controles) pelo Serviço Veterinário Oficial do Estado de Santa Catarina. O modelo final de regressão logística múltipla demonstrou que as variáveis capacidade de alojamento (> 50.000 aves; OR = 2,19, IC 95% = 1,27 3,78 e p = 0,004), idade do galpão mais antigo (> 10 anos; OR = 2,05, IC 95% = 1,28 3,50 e p = 0,009) e o número de pessoas que trabalham na produção de frango de corte (≥ 3 pessoas; OR = 1,59, IC 95% = 1,01 2,51 e p = 0,043) foram associados como fatores de risco para a presença de Salmonella spp. O estudo sugere que os fatores de risco encontrados predispõem a uma maior chance de falhas nos procedimentos de biosseguridade e, por consequência, um maior risco para a presença de Salmonella spp. A ausência de doenças avícolas importantes no país, como influenza aviária e doença de Newcastle, pode levar ao entendimento de que há uma necessidade limitada de manter procedimentos de biosseguridade, e, consequentemente, a redução do risco percebido de doenças é um fator conhecido por influenciar na adoção de biosseguridade. Considerando que a avicultura catarinense está baseada na agricultura familiar, políticas públicas e privadas devem ser construídas para auxiliar na manutenção e ampliação da produção avícola no estado.
2021
Priscila Belleza Maciel
Estudo microbiológico fecal de linhagens de camundongos, de estirpes de E. coli e do meio ambiente em biotérios
Os camundongos têm sido amplamente utilizados na experimentação desde o século XVII, devendo sua qualidade microbiológica ser pesquisada e mantida, para evitar que eles adoeçam ou morram durante o experimento, não transmitam zoonoses e para que os resultados apresentados no experimento sejam confiáveis. A Escherichia coli faz parte da microbiota entérica dos mamíferos, podendo algumas linhagens causar infecções. As estirpes patogênicas apresentam diferentes fatores de virulência, como as endotoxinas, adesinas, enterotoxinas, fator citotóxico necrosante e as hemolisinas. Este trabalho teve como objetivos: analisar as microbiotas aeróbias bacteriana e fúngica presentes no intestino das linhagens de camundongos Swiss, C57BL/6, BALB/c, C3H/HePas, C3H/HeJ, MDX e YCx43, verificando se existem diferenças entre elas; avaliar a suscetibilidade \"in vitro\" frente aos antimicrobianos das E. coli isoladas, verificando se existem diferenças entre as linhagens; verificar a ocorrência de resistência a múltiplos antimicrobianos nas E. coli isoladas; pesquisar os fatores de virulência das E. coli isoladas, também investigando se existem diferenças destes entre as linhagens estudadas; identificar os microrganismos presentes nos diferentes ambientes em que estes animais são mantidos, verificando se existem diferenças entre eles. Os camundongos foram necropsiados e coletou-se uma pequena quantidade de seu conteúdo fecal que foi semeado nos meios de cultura BHI, ágar sangue de carneiro 5%, ágar MacConkey e ágar Saboraud dextrose. Foi realizando o antibiograma e PCR das E. coli isoladas. Realizou-se a cultura de suabes da mesa, maçaneta de porta e exterior das luvas dos funcionários. Verificou-se que as linhagens de camundongos estudadas apresentam microbiotas fecais diferentes; as estirpes de E. coli são diferentes em cada linhagem e apresentam resistência a múltiplos antibióticos, que as estirpes de E. coli isoladas não são patogênicas, que as bactérias isoladas nas salas do biotério não foram influenciadas pela microbiota fecal dos camundongos e que o monitoramento microbiológico de rotina dos animais, do ambiente e dos técnicos, e as normas de biossegurança são indispensáveis e devem ser sempre adotados e mantidos no biotério.
2008
Clarice Yukari Minagawa
Proteção cruzada entre bacterinas antileptospirose produzidas com três representantes do Sorogrupo Sejroe. Ensaio experimental em hamsters (Mesocricetus auratus)
Foi investigada a existência de proteção cruzada entre bacterinas bivalentes formuladas com um de três representantes do Sorogrupo Sejroe: hardjo (bacterina A), wolffi (bacterina B) e guaricura (bacterina C), e uma estirpe do sorovar pomona, empregada por ser patogênica para hamsters (Mesocricetus auratus) e possibilitar a realização do teste de potência com desafio. Os ensaios foram efetuados em hamsters machos, comparando-se os níveis de anticorpos aglutinantes e neutralizantes, respectivamente obtidos nos testes de soroaglutinação microscópica (SAM) e inibição de leptospiras in vitro (ICL). Os animais receberam duas doses de vacinas via subcutânea; aos dez dias da segunda dose, foram inoculados com culturas não inativadas dos respectivos sorovares do Sorogrupo Sejroe. Aos 21 dias pós-infecção (d.p.i.), os animais foram sangrados, os soros (n=8) foram agrupados em pools e submetidos aos testes de SAM e ICL. O teste de potência com desafio para o sorovar pomona foi adaptado do protocolo preconizado pelo United States Department of Agriculture, mas as vacinas não foram diluídas e o esquema de imunização empregou duas aplicações de 1,0mL pela via subcutânea em intervalo de dez dias; o desafio foi efetuado aos dez dias da segunda aplicação; os óbitos por leptospirose foram registrados e, aos 21 d.p.i., os sobreviventes foram sacrificados e a condição de portadores renais foi investigada através de cultivos de tecido renal para isolamento de leptospiras. No teste de potência com o sorovar pomona, o número de doses infectantes empregado para desafio (100) situou-se dentro da faixa preconizada (10 a 100); respectivamente para as bacterinas A, B e C, as proporções de mortes por leptospirose entre os animais vacinados foram de 1/10, 0/10 e 3/10, e as de portadores renais de leptospiras entre os sobreviventes foram 2/9, 1/10 e 2/7. Os resultados do teste SAM revelaram que a bacterina A induziu reações para os sorovares hardjo e wolffi; a bacterina B, para hardjo, wolffi e guaricura, e a bacterina C, apenas para a guaricura, e do teste de ICL, que animais vacinados com as bacterinas B ou C apresentaram proteção para hardjo, wolffi e guaricura; entretanto, a bacterina A conferiu proteção apenas para wolffi. Apesar das variações no poder imunogênico segundo a estirpe de leptospira empregada para a produção das bacterinas, houve proteção cruzada entre os sorovares hardjo, wolffi e guaricura.
Estomatite Vesicular Alagoas: estudo da transmissão entre tilápias nilóticas (Oreochromis niloticus) experimentalmente inoculadas e cobaios (Cavia porcellus) através da água e desenvolvimento de um método diagnóstico
Diante da necessidade de responder algumas indagações relacionadas a epidemiologia da Estomatite Vesicular, principalmente aquelas que dizem respeito a ocorrência de surtos em locais onde existem coleções d\'água, foi desenvolvido um modelo de transmissão do VSA utilizando a água como via de transmissão, a tilápia nilótica, inoculada intraperitonealmente, como fonte de infecção e o cobaio como hospedeiro susceptível. O objetivo da utilização deste modelo biológico de transmissão do Vírus da Estomatite Vesicular foi de avaliar o papel desempenhado pelos peixes no ciclo epidemiológico, propor um modelo de ciclo epidemiológico do VSA, destacando o papel da água como via de transmissão e padronizar uma técnica de RT-PCR para a detecção do VSA, em amostra de tecidos. Através do modelo desenvolvido, fica demonstrado que estes peixes eliminaram partículas virais na água, decorridos 13 dias pós-inoculação e que esta última se caracteriza como via de transmissão, possibilitando a infecção dos hospedeiros susceptíveis (cobaios) através de inoculações experimentais em coxim plantar. A tilápia nilótica pode ser considerada como uma fonte de infecção, por ser capaz de eliminar um agente infeccioso no meio ambiente e através de uma via de transmissão este agente alcançou o hospedeiro susceptível; os peixes podem ser inseridos no ciclo epidemiológico da Estomatite Vesicular como fonte de infecção, sendo capazes de eliminar na água partículas virais infectantes, destacando o papel da água como via de transmissão; fica padronizada uma técnica de RT-PCR dirigida ao gene codificador da proteína RNA-polimerase, útil para a detecção direta do Vírus da Estomatite Vesicular Alagoas e Indiana em amostras de tecidos.
2003
Carlos Henrique de Azeredo Lima
Caracterização molecular de plasmídeos carreadores de genes codificadores de beta-lactamases de espectro estendido em Enterobactereaceas isoladas de suínos
A produção de beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) tornou-se um desafio em saúde pública por restringir as opções terapêuticas para o tratamento de infecções causadas por bactérias gram-negativas. O objetivo desse estudo foi avaliar a ocorrência de estirpes produtoras de ESBL nas granjas de suínos brasileiras, bem como caracterizar os plasmídeos carreadores dos genes blaESBL quanto ao grupo de incompatibilidade, tamanho e presença de genes de resistência adicionais. As estirpes foram isoladas em meio MacConkey e identificadas por MALDI-TOF. Posteriormente, os valores de concentração inibitória mínima foram determinados por microdiluição e/ou ágar diluição para aminoglicosídeos, carbapenens, cefalosporinas, fluoroquinolonas, tetraciclinas, sulfas e cefalosporinas associadas a inibidores competitivos. Os genes codificadores de beta-lactamases foram identificados por PCR assim como o grupo de incompatibilidade dos respectivos plasmídeos carreadores e o grupo filogenético das estirpes de E. coli. A análise de clonalidade foi realizada por ERIC-PCR e MLST. Finalmente, o ambiente genético do gene blaCTX-M-15 foi determinado por PCR e/ou sequenciamento, sendo que os plasmídeos carreando genes blaESBL foram transferidos às estirpes receptoras E. coli TOP10 e C600 por transformação e conjugação, respectivamente, e parcialmente sequenciados. As estirpes de Escherichia coli produtoras de CTX-M-2 foram as mais prevalentes, sendo endêmicas no estado de Minas Gerais. Além disso, é relatada a presença da enzima CTX-M-15 em estirpes de E. coli (ST224, ST410, ST1284), Klebsiella pneumoniae, Enterobacter cloacae e Pseudomonas aeruginosa (ST3201). O gene blaCTX-M-15 esteve associado a plasmídeos IncF e foi transferido com sucesso para a estirpe receptora E.coli TOP10, plasmídeos IncF também foram associados a presença do gene blaCTX-M-2. O gene blaCTX-M-8 foi detectado em quatro novos STs de E. coli (ST5845, ST5847, ST5848 e ST5350) e não foi adquirido pelas estirpes receptoras. Estes dados indicam que a vigilância de fenótipos resistentes na produção suína deve de ser considerada uma prioridade, assim como a preferência ao uso de antimicrobianos de espectro estrito a fim de evitar a disseminação desses fenótipos nas granjas e sua possível transmissão para população humana.
2016
Ketrin Cristina da Silva
Ornithodoros brasilienses (Acari: Argasidae): estudos morfológicos de larvras e adultos, ciclo biológico em condições laboratoriais e investigação e diagnóstico de Rickettsia spp
Ornithodoros brasiliensis Aragão é um carrapato endêmico do Brasil, restrito às regiões serranas e frias do estado do Rio Grande do Sul. É uma espécie bastante agressiva aos humanos, causando febre, muita dor e intensa resposta inflamatória no local da picada. O ciclo biológico de O. brasiliensis (ovo a adulto, única geração) realizado nos anos 50, utilizando ratos brancos como hospedeiros, levou um total de 103 e 184 dias de amplitude, com máximo de 7 ínstares ninfais observados e com emergência de adultos a partir de N4, estando os machos em maior proporção. Os hospedeiros apresentaram febre e uma bactéria espiroqueta denominada Borrelia brasiliensis foi descrita de esfregaços sanguíneos desses animais. Porém as borrélias não puderam ser cultivadas por muito tempo, e acabaram desaparecendo. Houve um silêncio de mais de 50 anos sobre relatos de ocorrência de O. brasiliensis, deixando inclusive dúvidas se a espécie estava extinta de fato. No entanto, há cerca de quatro anos, alguns espécimes de carrapatos da mesma localidade foram coletados e identificados como O. brasiliensis. O presente trabalho teve por objetivos estudar a morfologia e a biologia de O. brasiliensis, em condições de laboratório, bem como investigar a presença de bactérias do gênero Rickettsia em espécimes coletados. Ninfas e adultos foram alimentados em cobaias de laboratório e as fêmeas acasaladas realizaram posturas que resultaram nas gerações sucessivas. A larva e os adultos foram descritos e redescritos, e comparados com as espécies próximas, O. rostratus e O. turicata. Análises moleculares de uma porção do gene 16S rDNA mitocondrial foram comparadas com as sequências depositadas no GenBank e apresentaram valores de máximo bootstrap de 100% para ambas, O. rostratus e O. turicata. O ciclo biológico completo (ovo a ovo) de O. brasiliensis foi obtido entre 215,4 e 195 dias, em média, para duas gerações consecutivas, respectivamente. Os períodos médios de pré-oviposição, oviposição e incubação dos ovos (em dias), para a geração F1 foram 76,7 ± 27,01 (31-117); 15,55 ± 5,36 (10-24); 10,6 ± 4,5 (3-19) e para geração F2 foram 54,1 ± 8,7 (40-65), 15,8 ± 8,9 (7-36); 15,4. Os períodos médios de pré-ecdise larval foram de 12,5 ± 1,8 (10-15), considerando as duas gerações. A larva não se alimenta, enquanto que há um repasto sanguíneo para cada instar ninfal, antes de cada muda. Um total de 5 instares ninfais foi observado, sendo que os períodos médios de préecdise para os instares N1, N2, N3, N4 e N5, respectivamente para as duas gerações foram de 33,3 ± 4 (32-45), 38,6 ± 2,5 (36-47), 31,1 ± 3,4 (28-42), 34,8 ± 3,3 (31-43), 37,2 ± 2,4 (35-41) e 32,5 ± 3,3 (29-40), 37,5 ± 2,5 (34-44), 34,6 ± 3,2 (31- 37), 36,5 ± 2,5 (34-42), 32,5 ± 0,7 (32-33). Os períodos médios de alimentação para os ínstares ninfais, foram semelhantes nas duas gerações, sendo de 28,62 ± 3,67 (25,2 35,1) minutos. Adultos alimentam-se repetidas vezes, e as posturas sempre são precedidas de repasto sanguíneo, embora somente dois ciclos gonotróficos foram observados. O primeiro ciclo gonotrófico apresentou maior número de ovos depositados, com 139 ± 13,8 (53 197) em relação ao segundo 73,8 ± 10,6 (53 123). A investigação da presença de riquétsia foi avaliada em 107 espécimes recentemente coletados, evidenciando um total de 12 exemplares positivos. O produto amplificado pela PCR foi sequenciado e as análises moleculares apresentaram homologia de 98% com sequências disponibilizadas no Genbank, correspondentes a uma espécie asiática denominada RDa420 (AF497584) e outra brasileira, Rickettsia bellii (DQ865204) .
Estratégias para o manejo do teiú (Salvator merianae Duméril & Bibron, 1839), um lagarto invasor no arquipélago de Fernando de Noronha, PE, Brasil
Fernando de Noronha é um arquipélago oceânico localizado a 345 km da costa brasileira, habitado desde o século XVII. Sua economia é baseada no turismo, que tem apresentado rápido crescimento nas últimas décadas. Este ecossistema único é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco e é um sítio Ramsar. Toda sua extensão terrestre e grande parte da área marinha ao seu redor é protegida por duas unidades de conservação federais, sob tutela do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Existem pelo menos 15 espécies de plantas e animais nativos oficialmente ameaçadas de extinção, algumas destas endêmicas do arquipélago. Dentre as 22 espécies de animais e plantas invasoras conhecidas em Fernando de Noronha, o teiú (Salvator merianae) constitui um grande risco à fauna nativa por ser um predador oportunista de grande porte. O potencial impacto do teiú é reconhecido e seu manejo é previsto pelas unidades de conservação do arquipélago. O teiú se encontra presente em altas densidades na ilha principal tendo sido também registrados indícios de sua presença ao menos na Ilha Rata. A densidade de teiús encontrada em Fernando de Noronha foi de 13,8±3,9 animais por hectare em uma área não habitada e com vegetação relativamente preservada e de 4,0±1,1 animais por hectare numa área pouco habitada. O número estimado de indivíduos atualmente vivendo na ilha principal variou entre 6.906 a 12.270 indivíduos adultos. A área de vida estimada foi de 10,5 (7,3- 15,3) ha para ambos os sexos. A probabilidade de captura foi de 0,24±0,06 animais/armadilha/dia na área, com 4 animais/ha, sendo influenciada pelo tamanho dos indivíduos. O teiú também constitui um potencial risco à saúde pública do arquipélago, por serem portadores da bactéria Salmonella entérica, isoladas em 56,9% dos animais capturados e em 70,5% dos pontos amostrados. Ao menos 15 sorotipos foram determinados por métodos moleculares para esta população. Para propor formas de manejar esta espécie em Fernando de Noronha, foram criados modelos de viabilidade populacional com diferentes cenários de manejo por 10 anos. Nos cenários sem manejo, a população de teiús não se extingue ao longo de 30 anos. O aumento das probabilidades de extinção é proporcional ao aumento da intensidade de manejo, tanto nos cenários que consideram a população de toda a ilha principal (A) quanto nos cenários que consideram parte desta população numa área de 214 ha (B). A remoção anual de 20% dos indivíduos adultos seria suficiente para gerar cenários de extinção da população. Com a remoção anual de 50% dos indivíduos adultos, a probabilidade de extinção seria de 54% e a média do tempo para a extinção estaria entre 5,2 e 5,4 anos de manejo, demonstrando que o controle desta espécie é possível em Fernando de Noronha, se os métodos de captura e esforço forem 16 adequados. O manejo em uma pequena área (C) de 2,14 ha poderia ser feito em apenas 13 dias utilizando-se 10 armadilhas. Na área B (que inclui a área C), o manejo de maior intensidade poderia ser realizado em 44 dias por ano, durante quatro anos, utilizando 258 armadilhas. As recomendações incluem o aumento gradativo da área manejada, o uso de manejo adaptativo, o envolvimento da sociedade e o sinergismo com outros esforços de manejo de espécies invasoras na área ambiental e de saúde pública. Este estudo fornece a base científica para um programa de manejo com objetivo de conservar a biodiversidade e de melhorar a saúde pública em Fernando de Noronha.
Chigger mites (Trombidiformes: Trombiculidae) of birds from Brazilian southeastern: morphological studies and investigation of the presence of Rickettsia spp.
Brazil has 58 species of chigger mites parasitizing different animal groups. Of these, only 6 species were reported for birds, being 1 of Apolonia, 2 of Eutrombicula, 1 of Neoschoengastia and 2 of Parasecia. The larvae of chiggers cause deep lesions and cutaneous reactions in the host, and are often cited as vectors of pathogens. In the United States, public health departments have come across the need for cataloging and knowledge of the biology of these mites as potential vectors of Rickettsia spp. In Brazil, the first cases of Brazilian Macular Fever (BMF) diagnosed in São Paulo were associated with these mites because they were found in outbreaks of the disease. However, its role in the epidemiology of rickettsial disease has not been confirmed. Another concern is dermatitis caused by the bite of these mites, popularly known as trombiculiasis. As it is well known, thrombiculid mites are not specific and several cases of bites in humans have been reported. Thus, the purpose of the present study is to know the current situation of chigger mites parasitizing birds, to clarify aspects of its taxonomic complexity, as well as to provide information about its participation in the epidemiology of Rickettsia in some localities in the southeastern region of the country. From the material examined in the present study were identified 8 species: Blankaartia shatrovi n. sp., Blankaartia sinnamaryi, Microtrombicula n. sp., Eutrombicula tinami, Eutrombicula goeldii, Parasecia n. sp.1, Parasecia n. sp.2, Parasecia n. sp.3. The mites were kept in absolute alcohol, were submitted to DNA extraction and investigation of the presence of Rickettsia. One of the samples showed 100% for Rickettsia felis. Therefore, for Brazil now, we have 13 species described for the entire national territory, with the exception of the Midwest region, and, in addition, the first record of the presence of Rickettsia in chigger mites on South America.
Caracterização e análise comparativa de genomas de estirpes de Leptospira isoladas no Brasil
O presente estudo teve como objetivo caracterizar o genoma de estirpes de Leptospira isoladas no Brasil e realizar a análise comparativa destes com os genomas disponíveis no banco de dados GenBank. Foram caracterizadas 17 estirpes isoladas de distintas espécies animais, em diferentes regiões do Brasil, no período de 1998 a 2012. Estas foram previamente tipificadas por sequenciamento do gene 16S rRNA e soroaglutinção microscópica em seis espécies (L. interrogans, L. santarosai, L. inadai, L. kirschneri, L. borgpetersenii e L. noguchii) e mais de oito sorogrupos. Foi realizado o sequenciamento em plataforma Illumina™ MiSeq e montagem dos genomas com algoritmo ab initio. Para ordenação e anotação foram utilizados genomas de referência das respectivas espécies estudadas. Foi realizada a análise in silico da Tipagem por Sequenciamento de Multilocus (MLST) para os três protocolos vigentes de Leptospira. A análise comparativa dos genomas, incluindo wgSNP, foi realizada intra-espécie avaliando as variações existentes entre os sorogrupos das espécies de Leptospira estudadas. As estirpes de L. interrogans apresentaram resultados na MLST congruentes com a sua identificação prévia. No caso de L. kirschneri, apenas uma estirpe apresentou novos alelos nos três protocolos de MLST e se distancia das demais estirpes brasileiras de L. kirschneri. As estirpes de L. santarosai, assim como as de L. borgpetersenii e L. noguchii, possuem novos alelos e/ou perfis alélicos para pelo menos dois dos protocolos vigentes de MLST, sendo que ainda se destacam em um agrupamento próprio de origem brasileira. Os genomas de L. interrogans apesar de apresentarem alta identidade e sintenia com a referência sorovar Copenhageni, também apresentaram regiões de diferença entre os respectivos sorogrupos. Os genomas dos sorogrupos Australis e Serjoe se destacaram por apresentarem inserções e deleções, respectivamente, principalmente no cromossomo 2. O genoma de L. borgpetersenii também apresentou grande variação de composição, como esperado para espécie, sendo esta proporcionada por sequências de inserção e transposição de elementos móveis. Os sorogrupos Canicola e Pomona apresentaram maior proximidade entre si na análise wgSNP. Também foram identificados dois plasmídeos nos genomas do sorogrupo Canicola com alta identidade aos plasmídeos descritos na estirpe chinesa do mesmo sorovar. Na espécie L. kirschneri, a estirpe 47 (M36/05) apresentou alta identidade e sintenia com os genomas do sorovar Mozdok, como esperado, incluindo a estirpe brasileira de origem humana. Já a estirpe 55 (M110/06) se diferenciou dos demais genomas de L. kirschneri tanto no MLST quanto no wgSNP. O genoma brasileiro de L. inadai apresentou alta identidade à referência americana de origem humana, incluindo a presença de um bacteriófago próprio da espécie. A distinção das estirpes brasileiras de L. santarosai na MLST, também foi evidenciada na análise comparativa e no wgSNP, sendo que a estirpe 68 (M52/8-19), que não apresentou reatividade aos sorogrupos testados, ainda se diferencia das demais reafirmando a possibilidade de novo sorogrupo/sorovar. Dessa forma, o estudo genômico possibilitou a identificação de particularidades das estirpes brasileiras de Leptospira, incluindo a existência de elementos extra-cromossomais, proximidade com estirpes de origem humana indicando maior risco para saúde pública, além da possibilidade de novo sorogrupo de L. santarosai.
Caracterização epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Espírito Santo
Foi conduzido um inquérito soroepidemiológico da brucelose bovina no Estado do Espírito Santo através de parceria firmada entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Espírito Santo (IDAF-ES) e o Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP). O Estado foi dividido em dois estratos amostrais, conforme o tipo de exploração predominante e a capacidade operacional do IDAF-ES para a condução do trabalho de campo. A amostragem foi delineada para a determinação da prevalência de propriedades positivas (focos) e de animais soropositivos para a brucelose bovina por estrato amostral. Foi realizada uma seleção aleatória de 300 propriedades (unidades primárias) por estrato amostral, e dentro das unidades primárias, foram amostradas, aleatoriamente, 10 fêmeas bovinas com idade igual ou superior a 24 meses (unidades secundárias) quando o rebanho foi constituído por até 99 fêmeas da mesma faixa etária, ou todas as fêmeas existentes nessa faixa etária se não totalizassem 10 animais; quando o rebanho foi constituído por mais de 99 fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, foram amostradas 15 fêmeas da mesma faixa etária. Ao todo foi colhido sangue de 5370 fêmeas bovinas provenientes de 636 propriedades distribuídas nos dois estratos amostrais. Na ocasião da colheita, foi aplicado um questionário epidemiológico por propriedade e as coordenadas geográficas foram obtidas com um aparelho de GPS. Para o diagnóstico sorológico da brucelose bovina, foi utilizado o teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) como prova de triagem e o teste do 2-mercaptoetanol como prova confirmatória. Uma propriedade foi considerada foco quando apresentou pelo menos um animal soropositivo. As análises realizadas foram: (a) determinação das prevalências de focos e de animais soropositivos; (b) identificação de fatores de risco para a brucelose bovina; e (c) análise de agrupamentos espaciais de focos. As prevalências de focos de brucelose bovina e de animais soropositivos no Estado do Espírito Santo foram de 9,00% [6,97% - 11,55%] e 3,53% [1,93% - 6,37%], respectivamente. No estrato amostral 1, as prevalências de focos e de animais soropositivos foram de 6,80% [4,47% - 10,21%] e 3,43% [1,33% - 8,57%], respectivamente. No estrato amostral 2, a prevalência de focos foi de 10,86% [7,86% - 14,84%] e a prevalência de animais soropositivos foi de 3,69% [2,13% - 6,33%]. Os fatores de risco para a brucelose bovina no Estado foram utilização de inseminação artificial (OR = 7,05) e confinamento/semi-confinamento dos animais (OR = 2,98). No estrato amostral 1, as propriedades com mais de 15 fêmeas com idade ≥ 24 meses (OR = 5,18), que alugam pasto (OR = 2,85) e que utilizam inseminação artificial (OR = 6,76) possuíram maior chance de serem focos. No estrato amostral 2, a existência de mais de 42 bovinos no rebanho (OR = 5,31), utilização de inseminação artificial (OR = 11,72), compra de reprodutores em exposição (OR = 16,7) e confinamento/semi-confinamento dos animais (OR = 2,99) foram os fatores mais associados com a presença da doença. A vacinação de fêmeas entre três e oito meses de idade foi um fator protetor contra a doença nos dois estratos amostrais e em todo o Estado. Não houve tendência de formação de agrupamentos espaciais de focos em relação às propriedades livres.
2006
Sérgio Santos de Azevedo
Caracterização molecular de isolados de Sarcocystis spp. obtidos de fezes de marsupiais do gênero Didelphis pela análise de fragmentos gênicos de sequências codificadoras de antígenos de superfície dos parasitos
O objetivo deste trabalho foi desenhar primers, amplificar fragmentos de três loci que codificam antígenos de superfície de protozoários do gênero Sarcocystis spp. isolados do intestino de marsupiais do gênero Didelphis spp., sequenciar os fragmentos gênicos de todos isolados e compará-los entre si e com fragmentos de sequências homólogas disponíveis no GenBank. Trinta e duas amostras de Sarcocystis spp. de gambás do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tiveram o DNA extraído e amplificado utilizando marcadores moleculares em genes codificadores de antígeno de superfície (SAG-2, SAG-3, e SAG-4). Entre essas amostras, 28 tiveram pelo menos um dos fragmentos gênicos sequenciados. Foi possível sequenciar os 3 fragmentos gênicos de 20 amostras. As análises das sequências dos genes renderam os seguintes resultados: SAG-2: 275 nucleotídeos e sete alelos para 26 amostras; SAG-3: 353 nucleotídeos e seis alelos para 21 amostras; SAG-4: 278 nucleotídeos e onze alelos para 25 amostras. Para cada marcador, análises filogenéticas foram realizadas empregando métodos de distância. As reconstruções filogenéticas permitiram verificar as relações de ancestralidade entre os diferentes alelos, que foram nomeados de acordo com o critério de evolução inferido na topologia das árvores. Para os três loci, diferentes alelos foram agrupados em três grupos ou genótipos, que foram nomeados com caracteres em números romanos I, II, III e IV. Diferenças intra-genótipo (sub-genótipos) foram representados por letras minúsculas (Ia, Ib, Ic, etc.). Cada alelo foi nomeado com numeração arábica (Ia1, Ia2, Ia3, etc.). Nas analises filogenéticas concatenadas baseada em dados de aminoácidos foi possível dividir as amostras dentro de três grupos. A filogenia baseada nas sequências de aminoácidos indica que três grupos de organismos devem existir dentro do complexo de indivíduos da população estudada (Sarcocystis-RS, Falcatula-like e Neurona-like). Embora o grupo designado como Sarcocystis-RS tenha um único alelo para o locus gênico SAG-3 (configuração do tipo III), táxons deste grupo compartilham alelos com indivíduos do grupo Falcatula-like. Assim, seria plausível assumir que exista uma troca gênica entre as duas populações. No que diz respeito ao grupo Neurona-like, nenhum dos indivíduos deste grupo compartilham alelos com indivíduos de outros grupos. No entanto, esta observação precisa ser confirmada, pois as análises foram baseadas em poucas sequências Neurona-like (duas sequências). Este relato revela uma notável diversidade genética entre os isolados de Sarcocystis spp de gambás do Brasil.
Viabilidade de cistos de Toxoplasma gondii em carnes suínas processadas por maturação provenientes de animais experimentalmente infectados
O objetivo do presente estudo foi avaliar a viabilidade de cistos de Toxoplasma gondii em carnes suínas processadas por maturação úmida por 14, 21 e 28 dias a 0º (±1), assim como avaliar a distribuição dos cistos em órgãos e cortes comerciais de suínos experimentalmente infectados. Para tanto, dois experimentos foram conduzidos e em ambos, os suínos foram infectados com 3.000 oocistos do isolado TgCkBr57 (BrII). O lombo foi o corte muscular escolhido para sofrer o processo de maturação por ser o corte convencionalmente utilizado para o processo. O lombo direito de cada suíno foi submetido ao processo de maturação e o esquerdo foi mantido como controle, sem processamento. No Experimento 1 três suínos foram infectados. Dos lombos processados por maturação (n=3) e controle (n=3) realizou-se bioensaio em gatos e em camundongos e o período de maturação foi de 14 dias. Nesse ensaio também avaliou-se a distribuição de cistos teciduais pelo bioensaio em camundongos do cérebro, retina, língua, diafragma e coração e de cortes musculares: lombo (m. longissimus), copa (m. longissimus, spinalis dorsi, rhomboideus), filé mignon (m. psoas major), coxão-duro (m. biceps femoris), coxão mole (m. semimembranosus) e alcatra (m. gluteos medius). No Experimento 2 seis suínos foram infectados e foi realizado o bioensaio em camundongos dos lombos que ficaram sob maturação por 14 (n=2), 21 (n=2) e 28 (n=2) dias. Em ambos os experimentos, cistos de T. gondii presentes nos lombos permaneceram viáveis após 14 dias de maturação úmida, com confirmação pelo bioensaio em gatos e em camundongos. Nos períodos de 21 e 28 dias, pelo bioensaio observou-se que os camundongos não se infectaram, indicando que o processo inviabilizou os cistos. Quanto à distribuição dos cistos, estes foram isolados da copa, coração, diafragma e língua dos três suínos; do filé mignon, coxão duro e cérebro de dois suínos e da alcatra e lombo de um suíno. Nenhum camundongo infectou-se no bioensaio com o coxão mole e com a retina. Os resultados demonstram que a maturação em embalagem a vácuo por 14 dias em temperatura controlada (0ºC) não foi eficaz para inativação dos cistos de T. gondii, porém, o processo se mostrou eficiente quando a maturação foi feita por período igual ou superior a 21 dias. Cistos de T. gondii foram encontrados em praticamente todos os órgãos e cortes avaliados, demonstrando a ampla distribuição do parasita em suínos e a importância dessa espécie como fonte de infecção para o homem.
Sequenciamento, anotação e análise do genoma de Mycobacterium pinnipedii e genômica comparativa de espécies do Complexo Mycobacterium tuberculosis
O Complexo Mycobacterium tuberculosis (MTBC) causa tuberculose em humanos e animais e é composto de 12 espécies bacterianas com diferentes tropismos por hospedeiros e perfis de virulência. O MTBC se originou na África, e evoluiu clonalmente por meio de mutações pontuais e deleções genéticas de até 12Kb. Apesar das variações fenotípicas, sequências homólogas de genomas do MTBC são 99,95% idênticas e transferências horizontais de genes são consideradas ausentes. Estudos compreensivos de genômica comparativa incluindo todas as espécies de MTBC a fim de identificar os determinantes genéticos dessas diferenças fenotípicas não estão disponíveis. Paralelamente, a recente descoberta de uma estirpe relacionada a Mycobacterium pinnipedii infectando múmias peruanas pré-colombianas, isto é, antes da introdução europeia da tuberculose nas Américas, levantou dúvidas quanto ao papel do M. pinnipedii na evolução do MTBC e sobre a co-evolução desses patógenos com populações humanas. Desta forma, esta dissertação tem como objetivos: (i) sequenciar e anotar os genomas completos de estirpes de M. pinnipedii isoladas de um leão marinho no Brasil e compará-los com outras estirpes da mesma espécie depositadas em bancos de dados públicos; (ii) produzir uma avaliação de genômica comparativa de todos as espécies descritas do MTBC a fim de identificar genes relacionados à virulência e à adaptabilidade ao hospedeiro. No primeiro estudo, foi realizado o sequenciamento dos genomas completos de dois isolados de M. pinnipedii obtidos da carcaça de um leão marinho ( Otaria flavescens) encontrada no Rio Grande do Sul. Análises comparativas das mutações encontradas nesses genomas indica que esse animal estava infectado por duas estirpes diferentes desta bactéria. Este achado constitui o primeiro relato de infecção mista por M. pinipedii nesta espécie hospedeira e sugere que o patógeno é altamente endêmico na população de origem deste animal. Em contraste com estirpes de M. tuberculosis, a genômica comparativa entre estirpes modernas e antigas de M. pinnipedii depositadas em bancos de dados públicos indica proteomas altamente conservados e a ocorrência de um decaimento gênico através de deleções e pseudogenização, em um processo ativo de redução do genoma que vem ocorrendo há, pelo menos, 1.000 anos. Por fim, duas linhagens filogenéticas, modernas de M. pinnipedii foram detectadas globalmente, circunscritas por geografia e, consequentemente, por espécies hospedeiras. No segundo estudo, o objetivo foi investigar a presença e conservação de epítopos de células T e fatores de virulência no genoma core, acessório e espécie específico de 205 estirpes do MTBC. A estrutura do pan-genoma do MTBC mostra que a maioria das proteínas (832.234/866.916, 96,00%) está no genoma core, que é composto por proteínas importantes para a sobrevivência bacteriana. A análise da arquitetura do genoma acessório de MTBC com a distribuição dos epítopos mostrou, pela primeira vez, um mecanismo de variação antigênica de epítopos de células T baseado na perda de genes. Adicionalmente, foi possível observar variações significativas na quantidade de genes relacionados aos fatores de virulência, principalmente em estirpes de M. pinnipedii e M. africanum , sugerindo que a perda gênica relacionada à virulência possui importante papel nos fenótipos bacterianos. Em conclusão, os resultados apresentados contribuem para o entendimento da interação patógeno-hospedeiro de M. pinnipedii e outros membros do MTBC, sugerindo marcadores genéticos importantes dessa interação, e elucidando efeitos de pressões seletivas na determinação dos fenótipos de adaptabilidade hospedeira e virulência do grupo clonal MTBC.
2019
Taiana Tainá Silva Pereira
Inibição da replicação do virus da raiva in vitro e in vivo por meio de interferência por RNA
A raiva é uma zoonose que afeta todos os mamíferos e causa cerca de 55.000 mortes humanas por ano, causada pelo vírus da raiva. O vírus da raiva pertence à Ordem Mononegavirales, Família Rhabdoviridae e o Gênero Lissavirus. Atualmente, o tratamento humano se baseia no uso do Protocolo de Milwaukee composto de indução do paciente ao coma e uso de massiva terapia antiviral. O protocolo, apesar de ter sido utilizado duas vezes com sucesso, inclusive em um caso brasileiro, ainda requer aprimoramentos. Neste sentido, a interferência por RNA (RNAi) é uma nova abordagem para terapia de doenças virais. O objetivo deste trabalho foi avaliar a inibição da replicação do vírus da raiva in vitro e in vivo utilizando RNAi. Para tanto, foram utilizados três siRNAs (siRNA 124, siRNA 750, siRNA B) com a fita antisenso complementar ao mRNA da nucleoproteína (N) do vírus da raiva. Para o ensaio in vitro foram utilizadas a cepa PV do vírus da raiva e as células de BHK-21 (Baby hamster kidney). As monocamadas celulares foram infectadas com a cepa PV e depois de 2 horas de incubação transfectadas com cada um dos siRNAs em combinação com Lipofectamine 2000®. Depois de 22 horas as placas teste e controle foram submetidas à imunofluorescência direta (IFD) com conjugado globulina de coelho anti-nucleocapsídeo do vírus da raiva/isotiocianato de fluoresceína (BIO-RADTM). Os resultados revelaram títulos de 5,71logTCID50/ml, 5,56logTCID50/ml e 5,65logTCID50/ml para os siRNAs 124, B e 750, respectivamente, enquanto que, para a placa controle, o título foi 6,43logTCID50/ml. Para o ensaio in vivo, foram usados camundongos albino suíços de 21 dias com peso entre 11 e 14g, infectados com a cepa PV via intracerebral. Duas horas depois da infecção foi inoculada por via intracerebral uma solução do \"pool\" dos três siRNAs com Lipofectamine 2000® . Os animais com paralisia foram sacrificados e aqueles sobreviventes foram observados até completar 30 dias de observação quando foram, então, sacrificados. O sistema nervoso central de todos os animas foi recolhido e submetido a IFD. O título viral do grupo teste foi 7.03logLD50%/ml e do grupo controle 7.13logLD50%/ml. O resultado do ensaio in vitro demonstra que os siRNAs utilizados são efetivos em inibir a replicação do vírus da raiva, com eficiências equivalentes. A utilização do \"pool\" dos três siRNA em camundongos resultou em 30% de animais sobreviventes frente a 100 DL50% do vírus PV, enquanto que a mesma dose levou a 100% de mortalidade nos animais não tratados. Pode-se atribuir a menor eficiência em inibir a replicação do vírus da raiva in vivo quando se compara com os resultados in vitro possivelmente às elevadas doses virais utilizadas. Estes resultados, ainda que indiquem a necessidade de mais estudos, permitem concluir que a RNAi é uma tecnologia promissora como antiviral contra a raiva.
2010
Ekaterina Alexandrovna Durymanova Ono