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Labirintos perdidos: ficção contemporânea em trânsito nos romances de Bernardo Carvalho e Francisco José Viegas (2000-2010)

Esta tese investiga de que forma a ficção contemporânea de língua portuguesa encontra possibilidades de resistência à crise do romance que tem se estabelecido na contemporaneidade. As obras dos autores Bernardo Carvalho e Francisco José Viegas, inscritos no início do século XXI, permitem verificar como a ficção da era atual suplanta a crise da narrativa e inscreve-se como elemento de resistência. Com base nas teorias de Walter Benjamim, Theodor Adorno, Zygmunt Bauman e Andreas Huyssen - acerca do declínio da narrativa e do romance aliadas a questões de deslocamento, memória e identidade procuramos demonstrar que essa ficção responde a um momento de crise e de transição. Assim, a ficção dos autores investigados representa não a crise do romance, antes configurase como romance da crise, justamente por encontrar nas questões conflitantes (transgressão narrativa, deslocamento espacial, diluição da memória e identidades fluídas) os muros para a construção de seu labirinto ficcional.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Adenize Aparecida Franco

Eça de Queirós e o extremo oriente

O presente estudo apresenta uma análise das representações do Extremo Oriente nas obras do escritor português Eça de Queirós (1845-1900). Através de um estudo amplo de obras de diversos momentos da carreira do escritor português, procuramos demonstrar que o Extremo Oriente queirosiano estabelece uma representação complexa das relações Ocidente-Oriente, não se limitando às imagens cristalizadas do Oriente na literatura portuguesa, em que se destacam o exotismo e o caráter imaginário. Como principais pilares teóricos, nos apoiamos nas teorias orientalistas, principalmente as de Raymond Schwab (1950) e Edward Said (1978), e da fortuna crítica queirosiana. Realizamos uma análise comparativa de textos ficcionais e não ficcionais do autor que, nomeadamente, compreende os romances O Mistério da Estrada de Sintra (1870), escrito juntamente com Ramalho Ortigão, O Mandarim (1880) e A Correspondência de Fradique Mendes (1900); os textos de imprensa A Marinha e as Colônias (1871), A Pitoresca História da Revolta da Índia (1871), A França e o Sião (1893), Chineses e Japoneses (1894), A Propósito da Doutrina Monroe e do Nativismo (1896), França e Sião (1897); e o relatório consular A Emigração como Força Civilizadora (1979).

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2022-12-06T14:53:37Z

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José Carvalho Vanzelli

\'Uns contos iguais a muitos\': estórias africanas, relações de trabalho e estrutura narrativa no contexto colonial angolano e moçambicano (décadas de 50/60).

Nesta tese, a partir da leitura de estórias escritas por João Dias, José Craveirinha, Luís Bernardo Honwana, Costa Andrade, Antonio Cardoso, Luandino Vieira, Arnaldo Santos e Jofre Rocha nas décadas de 50 e 60 no contexto colonial angolano e moçambicano, analiso as estratégias narrativas utilizadas pelos autores para formalizar a violência das relações de trabalho impostas pelo colonialismo. No estudo dessas narrativas engajadas focalizo e sistematizo as estruturas convergentes que denunciam a exploração do trabalhador e da trabalhadora em Angola e Moçambique. Com efeito, considerando as recorrências estruturais encontradas e sistematizadas no contexto recortado, julgo que enuncio aqui, cônscio dos limites do estudo, a existência de uns contos iguais a muitos, ou seja, de diferentes estórias que valendo-se de estratégias narrativas congruentes formam uma estrutura de denúncia das relações de trabalho. Enunciadas por um(a) narrador(a) empenhado(a), estas estórias de enclausuramento, resistência e libertação articulam um confronto entre as ações das personagens agressoras brancas (patrões e seus agentes) e as dos(as) trabalhadores(as) negros(as). Além disso, é recorrente o uso de uma temporalidade tensiva e a inserção dos(as) trabalhadores(as) em espaços sociais compartimentados. Diante da vida rastejante e dos caminhos fechados, da exploração, da imobilidade e do racismo, as estórias também estruturam um processo de resistência no qual os(as) trabalhadores(as) enfrentam seus agressores e promovem a contra-violência do colonizado.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Luiz Fernando de França

A arte de contar histórias: uma poética da memória em Leite derramado de Chico Buarque

Analisamos, nesse trabalho, o romance Leite Derramado (2009), escrito por Chico Buarque, e observamos a reconstrução dos fatos e associações fictícias organizadas através da edição memorialística do narrador. O romance é narrado por um homem de cem anos, que se encontra em um leito de hospital, e transmite suas experiências à medida que as rememora. Essas memórias dialogam com uma percepção social, de uma determinada classe, reconhecível, inclusive, na estilização da linguagem elaborada pelo autor. A arte de contar histórias, que em Leite Derramado se manifesta por meio da transmissão oral, atenderá às necessidades comunicativas do narrador e dialogará com sua perspectiva melancólica. Ao revelar os recursos utilizados pelo narrador-protagonista para reconstituir verbalmente sua história e a de seus ancestrais, percebemos os eventos históricos manipulados pela retórica de Eulálio, cuja perspectiva esclarece seu discurso de classe, baseado nas experiências próprias ou alheias resgatadas pela memória que, por sua vez, se apresenta de maneira desalinhada. Assim, esse trabalho busca iluminar a forma como os registros históricos, descritos pelo narrador, são transmitidos e como sua força deixa de incorrer num simples pano de fundo para alçar instâncias de destaque dentro da obra

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2022-12-06T14:53:37Z

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Ari Silva Mascarenhas de Campos

Matrizes para um estudo da literatura feminina: uma leitura comparativa de Sóror Mariana Alcoforado e Sor Juana Inés de la Cruz

Esta tese foi organizada e proposta com a finalidade de comparar a obra e a transgressão de Sóror Mariana Alcoforado ou a ela atribuídas a parte da obra e à transgressão de Sor Juana Inés de la Cruz, uma vez que são duas personagens exemplares do Barroco ibero-americano. Ambas serão aproximadas a partir do conhecimento dos respectivos modelos de escrita, e também através do conhecimento do trabalho artístico criado com base na herança deixada por elas. Estarão em discussão, ainda, a vida que os conventos femininos de Portugal e Nova-Espanha proporcionavam, a profundidade e a insistência com que o século XVII levou a cabo uma política sobre sexualidade e a fortuna crítica de Sóror Mariana e de Sor Juana. Ao remeter o leitor para as Cartas portuguesas, para a Carta atenagórica, para a Respuesta a Sor Filotea, para La carta e para alguns poemas, o próprio exemplo de trabalho artístico e intelectual feminino estará exposto e fundamentado. A remissão permitirá caracterizar e recuperar a dinâmica do percurso feminino e a sua dicção, dentro de um panorama literário masculino.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Betina dos Santos Ruiz

Traços do chão, tramas do mundo. Representações do político na escrita de Mia Couto e Patrick Chamoiseau

Como gesto de resistência ao colonialismo e em relação às assimetrias impostas pelos centros homogênicos, em face do poder político das metrópoles europeias, escritores de margens periféricas assumiram um papel protagonista na luta pela libertação de seus países. Os sistemas literários que floresceram ao longo desse período de luta anticolonialista também estreitaram relações entre esses escritores, cujas ideias circularam pelas metrópoles e pelos territórios colonizados. No caso dos territórios africanos colonizados por Portugal, se em 1975 alcançaram a independência após mais de uma década de conflito armado, o mesmo não ocorreu com as ilhas antilhanas sob a dominação francesa exceto o Haiti, cuja independência se deu no século XIX. Desse modo, considerando essa diferença histórica, convocamos neste trabalho textos de reflexão do escritor martinicano Patrick Chamoiseau e o do moçambicano Mia Couto, cujos desempenhos como intelectuais, na cena global da informação, os colocam em destaque na busca por respostas capazes de discutir as tensões político-culturais próprias da contemporaneidade. Assim, propomos, pelo método comparativo e por critérios metodológicos dialéticos, analisar os ensaios Lintraitable beauté du monde adresse à Barack Obama (2009), uma coautoria de Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant, e E se Obama fosse africano? (2009c), de Mia Couto, procurando destacar as estratégias de revisão epistemológica de conceitos eurocêntricos, bem como as de inserção do pensamento de margem na cena política global. Em um segundo movimento analítico, propomos confrontar três linhas de força que se apresentam nos romances Texaco (1993b), de Patrick Chamoiseau, e Jesusalém (2009b), de Mia Couto, quais sejam, as representações da memória, do feminino e do espaço. Entendemos tais representações como importantes elementos do campo de articulação de forças políticas direcionado à construção de projetos identitários na Martinica e em Moçambique, em relação com o sistema planetário.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Luana Antunes Costa

O jogo estético na obra de Pepetela: a subversão da forma como um novo modo de expressão no mundo contemporâneo

Esta dissertação tem por objetivo estudar a subversão da forma do romance policial clássico nos livros Jaime Bunda, o agente secreto; Jaime Bunda e a morte do americano e O Terrorista de Berkeley, Califórnia, do autor angolano Pepetela que recria o gênero com o uso da paródia, da ironia, da polifonia e do riso. Traça-se um panorama do romance policial em Angola, desde o século XIX para situar o autor estudado e verificar-lhe as rupturas com o gênero. Segundo a pesquisa, a originalidade do escritor aparece com o uso da multiplicidade de gêneros narrativos para compor estas narrativas policiais, explorando a própria natureza do romance, ou seja, a sua permeabilidade a todo gênero. O trabalho ainda estuda as possibilidades que o romance policial de Pepetela propicia de uma análise sobre a complexidade social e as relações de poder exercidas no seio da sociedade angolana, uma vez que, o benguelense explora, por meio de suas personagens, as situações experienciadas pelos habitantes da cidade, exibindo-a sob os signos da solidão, do crime, da doença e da sedução.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Ana Silvia Grigolin

Grimm e Majidí: figurações da cumplicidade na infância em João e Maria e Filhos do paraíso

A presente dissertação atém-se, ao fazer uso do método de abordagem comparativista, à experiência da cumplicidade entre os irmãos protagonistas do conto de fadas João e Maria (versão de Jacob e Wilhelm Grimm) e do filme iraniano Filhos do paraíso (direção de Majid Majidí [1998]). Apesar de estarem situados em diferentes contextos histórico-político-culturais, os casais de irmãos apresentados no conto e no longa-metragem superam a situação de extrema pobreza material em que vivem, bem como as adversidades a eles impostas pelos adultos. Para a realização da pesquisa, realizou-se um estudo acerca da poética e do alcance de trabalho dos irmãos Grimm e de Majid Majidí. As narrativas literária e cinematográfica ganham ora análises isoladas ora conjugadas, a fim de se observar, nesta correlação, as especificidades e as similaridades no tocante aos vínculos construídos pelos protagonistas das duas obras. Inúmeras são as adaptações literárias, em língua portuguesa, para \"João e Maria\", as quais atestam a relevância do clássico na perene formação do imaginário da criança, ao mesmo tempo em que abarcam o tema conflituoso da separação e do abandono no seio familiar; as produções de Majidí e demais cineastas iranianos que retrataram o lugar cultural das crianças no Oriente Médio manifestam, em meio à severa censura do regime político, a restrição econômica em consórcio com a inocência e os prematuros compromissos na fase da infância. Dentre os pressupostos teóricos e aportes críticos evocados no curso da dissertação, estão os de Vladimir Propp, Nelly Novaes Coelho e Maria Tatar, na área de literatura, e os de Jacques Aumont, Alessandra Meleiro e Marcel Martin na área do cinema.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Dayse Oliveira Barbosa

Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e poesia moderna

A presente tese é sobre gnosticismo, doutrina religiosa da Antiguidade tardia, em sua relação com a poesia. Procura circunscrever seu âmbito, definir suas características e localizar seus principais temas: entre outros, o dualismo, os mito do demiurgo, das duas almas, do andrógino primordial, sua noção do tempo e sua relação com hermetismo, astrologia e alquimia. Mostra como mitos e temas gnósticos e até um estilo, um modo gnóstico de escrever, reaparecem ou são retomados por poetas românticos, simbolistas e modernistas, inclusive aqueles de língua portuguesa. Entre outros, examina William Blake, Novalis, Gérard de Nerval, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Lautréamont, Breton, Fernando Pessoa, Dario Veloso e Hilda Hilst. Sustenta que, sendo arcaico e anacrônico em seu dualismo e sua complexa cosmovisão e teologia, ao mesmo tempo o gnosticismo pode ser associado a uma mentalidade moderna e, como parte dela, a criações literárias, algumas inovadoras, pelo caráter sincrético e por formular uma crítica total, cósmica, na era da crítica. Também mostra como poetas não apenas absorveram ou reproduziram aquela doutrina, mas o fizeram de modo pessoal e original, transformando-a e reinventando-a. E, principalmente, como, utilizando suas categorias e temas, tentaram promover uma subversão do senso comum, da percepção instituída do mundo, justificando paralelos do gnosticismo como misticismo rebelde com a rebelião romântica e seus continuadores.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Claudio Jorge Willer

Escrita feminina e laços familiares: Clarice Lispector e Marvel Moreno

Esta pesquisa procura desenvolver uma leitura da produção literária de duas mulheres a russo-ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector e a colombiana Marvel Moreno. Da primeira, foram selecionados contos publicados no volume Laços de família (1960). Da segunda, contos publicados no volume Oriane, tía Oriane (1980). Vale-se, para tanto, de metodologias do comparativismo e de teorias sobre a literatura feminina. E procura problematizar questões referentes a esse universo em que mulheres escrevem sobre o ser feminino, aí considerado num sistema que inclui experiências existenciais, relações sociais e que considera também o campo mais amplo da própria condição humana. Entre os vários aspectos estudados, considerou-se o modo como as autoras comparadas estruturam as personagens femininas, nos seus diversos estágios de desenvolvimento: enquanto crianças e adolescentes em formação, na sua primeira juventude como mulher, na vida de casada e no seu papel de mãe. A análise comparativista dos contos está fundamentada em alguns elementos considerados pela crítica feminista como determinantes do conjunto de obras produzidas por mulheres, ressaltando-se, dentre eles, o uso frequente do discurso indireto livre e da narração em primeira pessoa, recursos que, mediante a mobilização da lembrança do passado, da auto-análise e da auto-descoberta, colaboram para uma problematização da identidade feminina e do significado da existência.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Claudia Esperanza Duran Triana

Caminhos teóricos para a leitura literária de práticas de resistência subalterna.

A elaboração deste trabalho foi motivada pela percepção de que as vozes de indivíduos subalternizados, embora muitas vezes explicitadas no texto literário, passam freqüentemente despercebidas no processo analítico desses textos. A crença de que isto se deve não a uma negligência preconcebida, mas antes a uma colonização das [nossas] perspectivas cognitivas (QUIJANO, 2005, p.237), motivou-nos, conseqüentemente, a realizar um trabalho de natureza propositiva. Um trabalho, cabe dizer, que torne legível, para o estudioso de literatura, um arcabouço teórico capaz de auxiliá-lo na estruturação de análises literárias que abracem uma perspectiva descolonizada. E que assim sendo, auxilie o leitor e/ou crítico literário a transcender o enfoque dado à caracterização da opressão que demarca a existência subalternizada, ao potencializar a atenção para com as estratégias de resistência postas em movimento, pelo indivíduo marginalizado, para garantir as condições necessárias à sua sobrevivência. Desse modo, e entendendo a desconstrução das subalternidades como opção ético-políticoepistemológica, tratamos de recuperar a perspectiva bakhtiniana do outro; os conceitos de Relação e de Crioulização, propostos por Édouard Glissant; as reflexões sobre o homo situs e os sítios simbólicos de pertencimento, elaboradas por Hassan Zaoual; e a razão cosmopolita proposta por Boaventura de Sousa Santos. Isto se deu, porque o consenso intelectual percebido nos textos teóricos considerados quanto à existência, à capacidade e ao valor do papel de pessoas historicamente outremizadas mostrou-se adequado ao modelo teórico que desejávamos propor. Mas também porque nossa intenção era a de somar em conjunto os esforços das diferentes disciplinas acadêmicas, para interpretar e documentar diferenças e construir pontos de vista plurais (DIAS, 1998, p.128). Cumpre, ainda, dizer que o desenvolvimento desta dissertação se apoiou no intuito de contribuir para com a difusão da noção de existência subalterna, memoravelmente trabalhada por Spivak nos anos 1980, e recentemente transcendida por pesquisadores latino-americanos, quando se atêm ao exame da colonialidade do poder e de uma geopolítica do conhecimento, e por intelectuais portugueses ao considerarem os estudos e movimentos desenvolvidos a partir do Sul Global.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Giselle Rodrigues Ribeiro

A Bruta Flor do Querer: amor, performance e heteronormatividade na representação das personagens lésbicas

A literatura, instrumento de representação e questionamento dos comportamentos sociais, tanto pode induzir a discussão de papéis de gênero e sociais, como sugerir a adoção de ideias e condutas. A representação da afetividade de personagens lésbicas, em sua relativamente recente e modesta emergência na história da literatura, recebe o peso das delimitações femininas em face de um cânone falogocêntrico. As características comportamentais impostas às subjetividades das mulheres, de tão largamente utilizadas, são naturalizadas nos e pelos discursos da cultura ocidental, tornando-se assim uma espécie de manual de regulação da performance amorosa. Tal normatização incide inclusive na representação de casais homoafetivos, o que muitas vezes reforça estereótipos num viés hierarquizante e heteronormativo de diferenciação e valoração sexista. Assim, o objetivo do presente trabalho é, por meio da Crítica Literária Feminista e dos Estudos de Gênero, sobretudo com base nas obras de Judith Butler, Michel Foucault, Adrienne Rich e Monique Wittig, estabelecer a comparação entre as personagens das obras O Corpo, de Clarice Lispector (1974), Eu sou uma Lésbica, de Cassandra Rios (1982) e Azul é a Cor mais Quente, de Julie Maroh (2013), para analisar a representação da afetividade lésbica e a incidência da heteronormatividade nestas personagens em ascensão na literatura das últimas décadas do século XX e início do século XXI. Para isso se faz necessário considerar as diferenças entre os três gêneros literários do corpus (conto, romance e novela gráfica) e seus respectivos suportes que apontam para uma popularização deste tipo de protagonismo, bem como sua recepção pela crítica e pelo público.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Claudiana Gois dos Santos

Travessias solitárias: um estudo sobre as personagens de João Antônio e Caio Fernando Abreu

Os projetos literários de João Antônio e Caio Fernando Abreu complementam-se ao representarem, de diferentes maneiras, o indivíduo marginalizado nas grandes cidades, problematizando o contexto histórico e social de produção dos textos e priorizando o trabalho com a linguagem e a criação ficcional. Para uma melhor compreensão das obras desses dois escritores brasileiros, realizamos um estudo comparativo entre suas personagens, bem como uma reflexão sobre alguns de seus contos. Inicialmente, foram analisados dois textos que possuem como tema central a postura diante da escrita. São eles: o ensaio Corpo-a-corpo com a vida (1975), de João Antônio, e a Carta ao Zézim (1979), enviada por Caio Fernando Abreu a José Márcio Penido. Em seguida, o primeiro capítulo apresenta um estudo comparativo dos contos Galeria Alaska, de João Antônio, e Caçada, de Caio Fernando Abreu, narrativas que tratam de questões relacionadas ao homoerotismo. O segundo capítulo realiza uma comparação entre dois contos protagonizados por personagens femininas marginalizadas: Mariazinha tiro a esmo e Dama da noite, respectivamente de João Antônio e Caio Fernando Abreu. Por último, seguindo a mesma ordem de autoria, o terceiro capítulo analisa os contos Três cunhadas Natal 1960 e Creme de alface, os quais discutem a inserção social da classe média.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Flavia Merighi Valenciano

A metapoesia na obra de Florbela Espanca e Cecília Meireles

Nesta tese de doutoramento, estudaremos a metalinguagem poética de Florbela Espanca e Cecília Meireles que vai compor o discurso de ambas. Considerando a reflexão sobre a criação poética a partir de Aristóteles, tomaremos sua Poética para observar a variação conceitual que se processou até hoje. Verificaremos como em Florbela Espanca e em Cecília Meireles se incorpora tal conceito à luz da perspectiva de poetas modernos como Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé. Deste modo, tanto Florbela quanto Cecília levantam problemas de linguagem ou de produção literária na poesia, conforme postulou Jakobson em Lingüística e poética, levando-se em conta, também, a capacidade decodificadora do receptor na esteira de Terry Eagleton. Procuraremos mostrar como se revela, na obra das poetisas, o discurso feminino, que, na busca empreendida pela mulher, ao encalço de sua própria imagem e de seu lugar no mundo, se implicita a compreensão do fazer poético.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Silvia Helena Miguel Trevisan

Um estudo da temporalidade nos romances: O amanuense Belmiro e Para sempre

O objetivo deste trabalho é, à luz da Literatura Comparada, tecer uma rede de vínculos entre os romances O Amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, e Para Sempre, de Vergílio Ferreira, para cotejá-los, realçando suas semelhanças e dessemelhanças, e, conseqüentemente, compreendê-los melhor. Para isso, após breves considerações sobre determinados conceitos relativos à composição do romance, como enunciado e enunciação, narrador e narratário, o foco narrativo, o espaço e a personagem, centralizamos a discussão no conceito de tempo distinguindo três noções: tempo físico, tempo interior e tempo lingüístico, com destaque para as duas últimas e o utilizamos como eixo no estudo das obras, na intenção de verificar como os narradores-personagens vêem seu passado e vivem seu presente. No que tange ao tempo lingüístico, privilegiamos o estudo do uso dos verbos, dentre outras palavras temporais, a fim de verificarmos os efeitos de sentido nas escolhas dos dois autores; quanto ao tempo interior, que não é marcado pelo relógio, mas pela intensidade com que as personagens vivem diferentes momentos, enfatizamos o estudo da relação das personagens com o passado. Também, em virtude da clara diferença entre os tipos de romance analisados, destinamos considerável parte do trabalho ao estudo do gênero narrativo.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Maristela Reggiani

Portugal, um país \"neutro\" perante a guerra: a desconstrução da propaganda salazarista em Fantasia Lusitana

António de Oliveira Salazar foi a figura central do Estado Novo português (1933-1974), responsável pelo estabelecimento de um governo antidemocrático, autoritário, que fez uso da censura, promoveu a tortura, e criou órgãos que disseminavam os valores do regime, tais como o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional). Podemos dizer que a atuação da propaganda foi tão eficiente durante os longos anos de ditadura que não é incomum, nos dias atuais, encontrar parcelas da população portuguesa que reproduzem vários mitos criados ou disseminados durante o governo de Salazar, chegando mesmo a enaltecer a figura do ditador. Para uma melhor compreensão desse contexto, nosso objetivo é analisar o documentário Fantasia Lusitana (2010), de João Canijo (Porto, 1957), pois nele o realizador desconstrói a propaganda salazarista, produzida, sobretudo, durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Composto exclusivamente por material de arquivo, o documentário conjuga excertos de filmes, noticiários, canções, fotografias, documentos, jornais e revistas, produzidos ou chancelados pela SPAC (Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas), bem como material de fontes independentes ou externas, portanto, não submetido ao crivo da censura. Neste segundo bloco, destacamos o registro fotográfico de refugiados estrangeiros que utilizaram Lisboa como rota de fuga da perseguição nazista, uma vez que Portugal havia adotado o status de neutralidade durante a guerra. Entretanto, o contraponto ao discurso oficial promovido pelo governo ditatorial se dá principalmente através das anotações de Alfred Döblin, Erika Mann e Antoine de Saint-Exupéry, três intelectuais famosos que, por meio de um olhar crítico e isento da influência da propaganda, registraram suas impressões sobre o Portugal salazarista enquanto fugiam da guerra. O contraste entre essas duas realidades se dá, sobretudo, por meio da criteriosa montagem em Fantasia Lusitana, capaz de transportar o espectador, muitas vezes de forma inesperada, tanto para o fantasioso mundo português criado pela propaganda estatal, quanto para a dura realidade imposta às vítimas e aos refugiados da guerra.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Márcio Aurélio Recchia

O desencanto utópico ou o juízo final: um estudo comparado entre A costa dos murmúrios, de Lídia Jorge, e Ventos do apocalipse, de Paulina Chiziane.

Esta tese de doutoramento analisa a voz feminina que conta a guerra e as representações literárias possíveis, a partir de simbolizações de extermínio e ruptura no espaço da guerra em Moçambique. A análise será realizada por um viés comparatista, tendo em conta a circulação de repertórios literários que se realiza entre os países de língua oficial portuguesa e a perspectiva do comparatismo da solidariedade (Benjamin Abdala Junior), uma estratégia crítica para se relevar o comunitarismo cultural, de acordo com a linha de pesquisa literatura e sociedade nos países de língua portuguesa. Desta forma, buscaremos consolidar um pensamento crítico em torno da hipótese de investigação pela qual se efetiva na imagem literária a desconstrução de mitos sociais que têm sua história em termos sociais, destacando os respectivos aspectos históricos e a ascensão dos comunitarismos possíveis (de gênero, da língua, da cultura), por meio da análise comparativa dos romances A costa dos murmúrios, de Lídia Jorge (Lisboa, 1988) e Ventos do apocalipse, de Paulina Chiziane (Maputo, 1995).

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2022-12-06T14:53:37Z

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Debora Leite David

As formas do medo na literatura infantil e juvenil de língua portuguesa: da exemplaridade à busca de alternativas para a superação

Este trabalho visa a analisar algumas formas do medo na literatura infantil e juvenil de língua portuguesa, com base nos Estudos Comparados de Literatura. Para tal, serão utilizados conceitos como polifonia, dialogismo, intertextualidade e prática social, reveladores de mudanças na forma de se tratar o medo desde a utilização dos mitos, pelos povos primitivos, passando pela didática comportamental dos textos exemplares e culminando na pedagogia da superação em textos modernos. O tema revelou-se interessante para um trabalho de pesquisa, visto ser um ingrediente sempre presente na vida humana, desde a infância, quando as narrativas são de fundamental importância para a construção da alteridade na criança, assim como para revelar a realidade social na busca por transformação e liberdade. A escolha do corpus promoveu a divisão do estudo em duas etapas: a primeira, analisandose textos exemplares, constatando-se o medo como inibidor de comportamentos socialmente indesejáveis, com as obras Chapeuzinho Vermelho, conto de Charles Perrault, e A mãe canibal e seus filhos, conto popular africano adaptado por Júlio Emílio Braz; a segunda, estudando-se textos modernos, caracterizados pela busca do novo, incentivando a transgressão, cuja análise centra-se nas obras Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, O gato e o escuro, do moçambicano Mia Couto e O gatinho Nicolau, Chapeuzinho Vermelho e o Lobo, de Aurélio de Oliveira.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Eleusa Jendiroba Guimarães

As marcas da violência: uma leitura de Estação das chuvas, de José Eduardo Agualusa, e Maio, mês de Maria, de Boaventura Cardoso

Esta dissertação analisa a temática da violência em dois romances angolanos contemporâneos, designadamente Estação das chuvas (1996), de José Eduardo Agualusa, e Maio, mês de Maria (1997), de Boaventura Cardoso. No primeiro caso, lançando mão de um procedimento metaficcional e de viés testemunhal, Agualusa retraça o percurso que vai da emergência do moderno movimento nacionalista nos princípios da década de 1950 ao reinício da longa e sangrenta guerra civil em 1992, tendo como clímax as repressões levadas a cabo pela direção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) contra os grupos contestatários de extrema-esquerda e contra as dissidências políticas pouco antes e logo após a independência. Ao passo que, no segundo caso, de maneira alegórica e fantástica, Cardoso recupera a vaga de terror vigilância, capturas, prisões, torturas e execuções sumárias desencadeada pela polícia política do regime monopartidário na sequência da tentativa de golpe de Estado de 27 de maio de 1977. Desse modo, através de uma leitura comparativa desses romances, procuramos interpretar e explicar em que medida, a despeito de suas diferenças, ambos os autores inscrevem a violência como motivo central de figuração, transformando as ruínas da memória social em matéria de criação e reflexão artística.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Osvaldo Sebastião da Silva

Entre textos e contextos: a poesia e a crônica de Ana Paula Tavares

A leitura crítica da poesia e das crônicas de Ana Paula Tavares é conduzida nesta tese a partir das relações entre literatura e história, com especial atenção para a resposta expressiva da autora angolana às perspectivas e às vozes das mulheres situadas social, histórica e culturalmente. Nas crônicas e nos poemas analisados, esses pontos de articulação com a história se revelam pela forma como os signos da cultura, da vida, da sexualidade, da maternidade, da resistência e dos desafios impostos às mulheres pela matriz de dominação masculina, pelas guerras e pelas crises sociais são codificados em linguagem poética a partir da visão organizadora de uma autoracriadora inscrita nos textos. A trajetória desse olhar que se desenha na produção da autora e se reflete na forma como são expressas as vozes das mulheres é traçada por meio da leitura atenta dos livros de poemas Ritos de Passagem, O lago da lua, Dizes-me coisas amargas como frutos e Ex-votos, assim como das crônicas publicadas em A cabeça de Salomé.

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2022-12-06T14:53:37Z

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Rosana Baú Rabello