Repositório RCAAP
O método Bick de observação da relação mãe-bebê: aspectos clínicos
O artigo apresenta o método Bick de observação da relação mãe-bebê como uma ferramenta clínica a partir do relato de uma experiência de aplicação à investigação psicanalítica da relação mãe-bebê com síndrome de Down. Discutimos o potencial terapêutico do método, baseado na função continente do observador. O caso apresentado evidencia a postura empática da observadora que, por meio de uma atitude silenciosa e sutil, oferece um holding para a condição de desamparo vivida pela mãe.
2022-12-06T14:20:14Z
Oliveira-Menegotto,Lisiane Machado de Lopes,Rita de Cássia Sobreira Caron,Nara Amália
A relação transferencial com crianças autistas: uma contribuição a partir do referencial de Winnicott
O artigo reflete a relação transferencial na clínica psicanalítica com crianças autistas. Verifica-se que, a partir do trabalho de Melanie Klein (1930), a análise da transferência com crianças autistas é realizada por meio de interpretações verbais e o lugar do analista é o de intérprete. A partir do pensamento de Winnicott, o analista ganha outro lugar na situação transferencial com a criança autista para além da função de intérprete. Dentre as ideias de Winnicott, enfatiza-se a questão do holding e da interpretação, o modelo da "mãe suficientemente boa" como um norteador da transferência e a importância dos vínculos sensoriais não-verbais na relação transferencial.
2022-12-06T14:20:14Z
Januário,Lívia Milhomem Tafuri,Maria Izabel
Abuso sexual: do que se trata? Contribuições da psicanálise à escuta do sujeito
O artigo é parte da Dissertação de Mestrado "O sujeito abusado da psicanálise". A partir de uma revisão crítica da bibliografia sobre o tema do abuso sexual, enfatiza a questão do manejo psicanalítico nesses casos e pretende sustentar um diálogo da psicanálise com outros campos de saber, diferenciando a proposta psicanalítica das demais abordagens encontradas na literatura. A tendência contemporânea de normalização e patologização dos casos é outro ponto de questionamento. Tendo como premissa que o manejo clínico não se define previamente à escuta do sujeito, sem levar em conta sua responsabilidade pelo que lhe ocorreu, verificamos que, muitas vezes, em nome de uma "cientificidade" e do "bem-estar" da criança, corre-se o risco de reforçar uma dimensão policial, de vigilância administrativa, e deixar de lado a implicação subjetiva de cada um.
2022-12-06T14:20:14Z
Brandão Junior,Pedro Moacyr Chagas Ramos,Patrício Lemos
Adolescência e divórcio parental: continuidades e rupturas dos relacionamentos
O objetivo deste artigo é apresentar uma revisão da literatura científica que aborda os relacionamentos pais-filhos no contexto das transições familiares relacionadas à separação e/ou divórcio parental, enfocando reações, experiências, concepções e sentimentos dos filhos, especialmente os adolescentes. Primeiramente, é apresentada uma revisão geral dos estudos do divórcio, seguida de pesquisas que especificamente associam adolescência e transições familiares. A maioria dos estudos destaca a importância da qualidade da parentalidade e manutenção dos relacionamentos entre pais e filhos após a separação. As repercussões que as continuidades e rupturas têm sobre os relacionamentos entre pais e filhos são discutidas.
2022-12-06T14:20:14Z
Hack,Soraya Maria Pandolfi Koch Ramires,Vera Regina Röhnelt
As falhas na emergência da autoconsciência na criança autista
Crianças com transtorno autístico apresentam falhas significativas na emergência da autoconsciência reflexiva. O objetivo do presente trabalho é analisar os processos envolvidos nestas falhas através de uma discussão das abordagens naturalista e construtivista no campo da filosofia, da neurociência, da psicologia do desenvolvimento e do transtorno autístico. Conclui-se que a abordagem construtivista permite uma melhor compreensão destas falhas, por considerar que elas advêm de prejuízos inicialmente inatos na capacidade de identificação afetiva destas crianças que prejudicam a interação social e o desenvolvimento da linguagem e, por conseguinte, sua capacidade autorreflexiva.
2022-12-06T14:20:14Z
Fiore-Correia,Olívia Balster Lampreia,Carolina Sollero-de-Campos,Flavia
Mudança em psicoterapia de grupo: reflexões a partir da terapia narrativa
Este estudo de caso visa compreender o processo de mudança de uma pessoa em psicoterapia de grupo a partir de uma perspectiva narrativa. A observação participante e a análise dos registros das doze sessões de um grupo de curto prazo permitiram investigar episódios e intervenções terapêuticas que contribuíram para a construção de uma narrativa em que a pessoa se descrevia com uma maior autonomia em sua vida, superando a narrativa anterior saturada pelo problema. Entendemos que os recursos propostos pela perspectiva narrativa, tais como a identificação de acontecimentos extraordinários, a externalização do problema e o fortalecimento das narrativas de enfrentamento ajudaram a construir novos sentidos por meio da criação de um espaço dialógico no contexto grupal. Apesar da fertilidade da aproximação das propostas narrativas ao campo grupal, as reflexões realizadas apontaram ainda alguns desafios a serem enfrentados.
2022-12-06T14:20:14Z
Carrijo,Rafael Santos Rasera,Emerson Fernando
A feminização na psicose: empuxo-à-mulher e erotomania
A tendência à feminização nas psicoses constitui uma questão para a direção do tratamento psicanalítico. Denominada por Jacques Lacan de empuxo-à-mulher, ela se distingue da posição do neurótico no lado mulher da divisão dos sexos. Este trabalho tem por objetivo conceituar o empuxo-à-mulher e delinear o destino que o delírio é capaz de lhe conferir. O procedimento consiste em circunscrever a problemática da sexuação entre os humanos com base na teoria freudiana e no ensino de Lacan sobre a inscrição do sujeito na partilha sexual. Os casos Aimée e Schreber serão abordados com o intuito de delimitar a pressão da estrutura no empuxo-à-mulher, a emergência do fenômeno e sua articulação com a erotomania.
2022-12-06T14:20:14Z
Gama,Vanessa Campbell da Bastos,Angélica
Jacques Lacan e a clínica do consumo
O texto destaca e percorre os principais momentos nos quais Jacques Lacan se deteve sobre a questão do consumo e, ao fazê-lo, desdobrou três pontos. Inicialmente, o consumo articula-se à ética e à constatação da impossibilidade de pensá-lo apenas com a noção de valor de uso; aquelas de valor de gozo e valor de desejo tornam-se necessárias. A seguir, a associação do consumo ao campo pulsional, especialmente ao objeto oral e às fantasias de devoração, evidencia o deslizamento do "consumismo" à "consumição", que leva o sujeito da posição de consumidor à de objeto consumido. Finalmente, o consumo é tratado nos últimos textos de Lacan através de uma pequena mutação no Discurso do Mestre que faz surgir o Discurso do Capitalista.
2022-12-06T14:20:14Z
Rosa,Márcia
O rei está nu: Contrapoder e realização de desejo, na piada e no humor
A finalidade deste artigo é a de demonstrar como a piada e o humor têm como alvo privilegiado o campo do poder, sendo assim práticas discursivas eminentemente sociais. Além disso, como formas que seriam de realização de desejo, segundo Freud, seriam ainda formas de desconstrução do poder.
2022-12-06T14:20:14Z
Birman,Joel
Humor, desidealização e sublimação na psicanálise
A motivação principal deste artigo é demonstrar que a metapsicologia do humor se oferece, na obra freudiana, como o paradigma a partir do qual se podem compreender as operações em jogo no processo da sublimação. Percebe-se, assim, que a associação entre duas problemáticas sombreadas pela tradição psicanalítica - o humor e a sublimação - contribui para o esclarecimento de ambas. Ao longo do texto são enfatizados o trabalho de desidealização promovido pelo humor, a modalidade identificatória envolvida na sua produção, a referência do humor negro à condição de orfandade que caracteriza o sujeito moderno, bem como a política que acompanha a anunciação do dito humorístico e, mesmo, do Witz (espirituosidade) de modo geral. Finalmente, demonstra-se a filiação do humor ao realismo grotesco, amplamente analisado por Mikhail Bakhtin, indicando como, na enunciação humorística, é preciso considerar a participação da alegria, sua força motriz.
2022-12-06T14:20:14Z
Kupermann,Daniel
O que quer uma mulher?
No summary/description provided
2022-12-06T14:20:14Z
Maurano,Denise
A psicanálise e as narrativas modernas: a transmissão em questão
Em O narrador, Benjamin afirma que a narrativa que transmitia a experiência coletiva é substituída na modernidade pela informação jornalística e pelo romance, cujos objetos são as experiências individuais. Trata-se do momento de emergência da narrativa centrada no eu, ou no que Freud isolou como o "romance familiar do neurótico". Contudo, no romance e no conto prepondera a busca do sentido que possa suportar as vicissitudes de um eu que não encontra amparo na vida compartilhada; já a psicanálise inaugura uma práxis que dará lugar a um sujeito não mais igual ao eu individual. A intervenção analítica realiza, através da fala, uma operação com a história que permite a emergência do sujeito do inconsciente. Ponto de ancoragem de uma transmissão que, embora instaurada no campo das narrativas modernas, não se apoia no sentido e constitui um campo que se realiza apenas no fragmentário e no pontual.
2022-12-06T14:20:14Z
Lo Bianco,Anna Carolina Costa-Moura,Fernanda Solberg,Marisa Cytryn
Caracterização dos sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) em meninas vítimas de abuso sexual
O presente artigo descreve a presença de sintomas ou do diagnóstico do Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) em meninas vítimas de abuso sexual. Além disso, buscou-se comparar o uso de dois instrumentos de avaliação diagnóstica do TEPT infantil em duas amostras clínicas. No Estudo I (n=40 meninas), os sintomas foram avaliados através de uma entrevista clínica, baseada no DSM-IV/SCID/TEPT. E no Estudo II (n=15 meninas), através da versão brasileira da K-SADS-PL/TEPT. Os resultados apontaram semelhanças na presença do diagnóstico de TEPT nas duas amostras, próxima a 70%, apesar de os instrumentos indicarem diferenças específicas quanto à manifestação dos critérios C (evitação e entorpecimento) e critério D (excitabilidade aumentada). Pequenas diferenças na estrutura e na forma de aplicação dos instrumentos foram observadas. Conclui-se que ambos se aplicam à pesquisa e à avaliação clínica do TEPT infantil.
2022-12-06T14:20:14Z
Habigzang,Luísa Fernanda Borges,Jeane Lessinger Dell'Aglio,Débora Dalbosco Koller,Silvia Helena
A clínica psicanalítica na universidade: reflexões a partir do trabalho de supervisão
Partindo do trabalho como supervisores de estágio acadêmico, desenvolvido em uma clínica-escola do curso de graduação em psicologia, levantam-se questões pertinentes à condução de processos clínicos, fundados na perspectiva psicanalítica, nesses ambientes. É confrontado o lugar do saber e do sujeito na universidade e na psicanálise como elementos que fundam uma ética que é própria a esta - questionando, com isso, alguns efeitos aí produzidos sobre a inserção do aluno no campo psicanalítico e a possibilidade de sua transmissão pelo trabalho de supervisão. Privilegiando os efeitos suscitados pela imposição de um prazo para o encerramento dos atendimentos clínicos desenvolvidos no estágio, o posicionamento freudiano frente a esse dispositivo é tomado como paradigma da posição do analista frente aos impasses que lhe são apresentados no exercício de seu trabalho.
2022-12-06T14:20:14Z
Pinheiro,Nadja Nara Barbosa Darriba,Vinicius Anciães
Funcionamento psíquico e manejo clínico de pacientes somáticos: reflexões a partir da noção de desafetação
O presente estudo tem como objetivo apresentar um panorama, em termos teóricos e clínicos, da concepção psicossomática de Joyce McDougall. A noção de desafetação será utilizada como operador conceitual básico. Trata-se de um distúrbio da economia afetiva típico de pacientes somáticos, o qual promove uma incapacidade quase total em manter contato com as emoções próprias e alheias. Dentre outras especificidades da clínica psicanalítica com pacientes somáticos, destaca-se que ao profissional será imposto o desafio de funcionar como um filtro - sendo, assim, capaz de regular o afluxo de excitações, que tende a desencadear descargas corporais em função da inviabilidade, associada à desafetação, e de recorrer às palavras para torná-lo dizível.
2022-12-06T14:20:14Z
Clemente,Juliana Pereira Landim Peres,Rodrigo Sanches
A castração e seus destinos na construção da paternidade
Freud elaborou três versões sobre o pai: Édipo, o Pai da Horda e Moisés. Nessas versões o autor relata o parricídio e, portanto, para Freud, o pai é o pai morto. Se o filho é uma das soluções para a mulher, para o homem o filho assume os contornos do objeto fóbico, pois o pai se relaciona de forma privilegiada com a castração. O acesso à paternidade exige que o homem reatualize seu Édipo, colocando novamente seu desejo à prova e reativando conflitos adormecidos. Tal percurso leva, inevitavelmente, ao encontro com a castração que produz perdas narcísicas. No entanto, aqueles homens que suportam o primeiro impacto e sustentam o lugar de pai transmitem aos filhos muito mais do que genes.
2022-12-06T14:20:14Z
Moreira,Jacqueline de Oliveira Borges,Adriana Araújo Pereira
Relações conjugais e familiares na perspectiva de mulheres de duas gerações: "Que seja terno enquanto dure"
Este relato é um recorte de extensa pesquisa que buscou identificar a rede de representações sociais (RS) estabelecida em torno do ser mulher na família. Centra-se na questão da conjugalidade e busca verificar se a vivência conjugal e familiar sofreu modificações significativas num intervalo de aproximadamente 3 décadas. Foram realizadas 20 entrevistas narrativas, semiestruturadas, com mulheres de estrato socioeconômico médio e baixo: 10 que tiveram filhos nos anos 1960 (1ª geração) e 10 nos anos 1990 (2ª geração), filhas das primeiras. A entrevista permitiu às participantes falarem de suas experiências e práticas cotidianas em relação aos contextos familiar e conjugal. Visando agregar procedimentos complementares, os dados foram organizados/analisados a partir de adaptação do método fenomenológico para investigação psicológica e do software Alceste. Os resultados evidenciaram tanto continuidades quanto rupturas entre as gerações, podendo ser destacadas mudanças expressivas de uma geração à outra em relação a importantes aspectos do relacionamento conjugal como: a manutenção do casamento que deixa de ser o objetivo principal; as relações conjugais, de forma geral, tornam-se mais abertas; há redução de interdições em relação à mulher; e o investimento feminino no casamento passa a dividir espaço com o maior envolvimento masculino.
2022-12-06T14:20:14Z
Coutinho,Sabrine Mantuan dos Santos Menandro,Paulo Rogério Meira
Fazer uma obra no tempo
Mostramos que uma imagem, a partir do momento em que é captada pelo aparelho psíquico, é sempre tomada em um tempo não cronológico, mas anacrônico, que é a temporalidade própria à memória tal como Freud a definiu. A imagem no tempo psíquico e visual é uma imagem-traço, que drena para si as ínfimas partículas da realidade que servirão de ponto de passagem entre o dentro e o fora. Fazer uma obra é tomar algum tempo e modificá-lo pela forma plástica/estética. Quando o sujeito faz uma obra, ele capta e, ao mesmo tempo, se refaz daquilo que fez traço (no sentido do traço mnésico), ele se apropria pela sensação (estética) dos acontecimentos de sua história. A criação é um processo de tempo, de futuro, logo, de presente. A imagem é projeção para um porvir que traz consigo os traços do passado. Ela faz face a um novo ponto de vista, a novas imagens.
2022-12-06T14:20:14Z
Masson,Céline Czermak,Sabira de Alencar
A caverna: um retrato literário da inserção do sujeito no emergente modelo de produção moderno
O presente texto realiza uma leitura da obra A caverna, de José Saramago, buscando a interface dessa produção com questões concernentes à Psicologia. Mais especificamente, a relação entre o trabalho e sua influência no processo de produção de subjetividades. Com base na realidade literária retratada, o ensaio levanta questões relativas ao advento da Modernidade (período histórico em que a narrativa se passa); a inserção do sujeito nessa nova época, caracterizada pelo modelo industrial de produção; e seu estabelecimento como modo de vida predominante das sociedades modernas. O cenário de transição para uma nova ordem social contextualiza o drama da família Algor. Além disso, aborda as metamorfoses sofridas pelo trabalho e que são impostas ao trabalhador, em virtude da organização sócio-histórica então emergente.
2022-12-06T14:20:14Z
Xavier,Monalisa Pontes Aquino,Cássio Adriano Braz de Miranda,Luciana Lobo
Distinção teórico-clínica entre depressão, luto e melancolia
Este artigo aborda os principais aspectos da depressão, na contemporaneidade, visando distingui-la do luto e da melancolia. Para isso, tomamos como eixo teórico a noção, por nós postulada, de crença narcísica (objeto por excelência do tipo de sintoma depressivo aqui abordado). Procuramos demonstrar que a presença hegemônica da crença narcísica na subjetivação pode levar a uma forma de reação à perda que se distingue tanto do luto quanto da melancolia. Este tipo de depressão apresenta-se como uma das principais formas de sofrimento psíquico que aparecem na clínica psicanalítica contemporânea.
2022-12-06T14:20:14Z
Pinheiro,Maria Teresa da Silveira Quintella,Rogerio Robbe Verztman,Julio Sergio