RCAAP Repository
A poética da sinceridade de Rui Knopfli
Enfatizando a relação que a obra de Rui Knopfli mantém com o espaço africano como portador de experiências vivenciadas pelo poeta, e pelo qual ele nutre um sentimento de pertença bastante intenso, empreendemos a pesquisa. A resistência a uma poesia a serviço de uma ideologia levanta a questão da limitação ideológica da arte em favor de sua causa. Explorando as muitas tentativas do poeta de escrever uma arte poética, nos deparamos com uma honestidade e fidelidade consigo mesmo que guia o poeta do início ao fim de sua produção poética mesmo lhe custando o afastamento de sua terra natal e espaço de preferência. Reconhecemos o valor de sua poesia como afiliada à tradição ocidental e também a aproximação que promove com os espaços africanos. Assumimos, dessa maneira, a defesa da obra de Rui Knopfli como um dos pilares da poesia moçambicana, o pilar subjetivo, que acreditamos ser a tendência das próximas gerações poéticas em Moçambique.
2012
Gabriel Madeira Fernandes
Vozes femininas de Moçambique
Pela análise comparativa dos romances Ventos do apocalipse (1999) e Niketche: uma história de poligamia (2004), da moçambicana Paulina Chiziane, esta dissertação discute as representações e o papel social da mulher em romances que se pautam na intensa força das relações sociais que informam a maneira de agir de homens e de mulheres em Moçambique. Mostramos como as mulheres especialmente as moçambicanas , antes personagens majoritariamente representadas por uma construção estético-literária masculina, alcançam na escrita feminina de Paulina uma representação da mulher sobre a mulher. Assim, procuramos consolidar um pensamento crítico em torno da hipótese de investigação pela qual se efetiva no espaço literário a desconstrução da subalternidade instituída para as mulheres e enraizada na ordem capitalista patriarcal.
A funcionalidade da parábola do cajueiro na tessitura da obra Luuanda, de José Luandino Vieira
A presente dissertação tem como objetivo estudar o livro de estórias Luuanda, de José Luandino Vieira, mais especificamente a passagem denominada por muitos estudiosos como a parábola do cajueiro, situada na segunda estória, e por meio da identificação e análise de possíveis elementos parabólicos, buscaremos identificar a função dessa passagem para a compreensão da obra como um todo. Partindo da conceituação das parábolas neotestamentárias e de suas funções didática e confrontativa, nossa intenção é demonstrar que a passagem do cajueiro constitui-se como o elo entre as três estórias, pois promove a quebra de um comportamento passivo e conformista, descrito na primeira narrativa, além de estabelecer um princípio de reflexão e um ato de autoconfronto, na segunda narrativa, cujo resultado se materializará no comportamento das personagens da terceira estória.
Ler e ser - encontro necessário para a compreensão da complexidade sígnica do Terceiro Milênio
Este trabalho se faz no bojo das relações que se tecem entre o homem, o mundo e as máquinas, no limiar do terceiro milênio, em que a profusão de mensagens e a hibridização de linguagens, cada vez mais estão presentes em nossas vidas a exigir habilidades de leitura e compreensão diferentes das exigidas em épocas passadas. Com o advento da era tecnológica, jovens e crianças são seduzidos pelos gadgets, e demonstram uma espécie de reação condicionada, sem consciência e sem reflexão, um olhar apático a tudo o que não esteja carregado de movimentos, flashes, sons, imagens. Considerando isso, refletiu-se sobre a complexidade sígnica em que estamos inseridos e o processo de transformação da cultura, do pensamento e das linguagens, que eclode com a revolução digital, promovendo novas articulações e relações de entendimento tanto no âmbito cognitivo quanto no afetivo, pessoal. A pesquisa visa, então, sinalizar caminhos para sensibilizar o ser humano. Propomos nossa discussão, no âmbito e nas fronteiras da literatura e educação de jovens e crianças, pela via da leitura da literatura infantil e juvenil, da poesia, das artes em geral, visto que, são manifestações dotadas de qualidades capazes de suscitar novos olhares e provocar múltiplas semioses pela fruição e cognição. Compreendemos que este é o meio pelo qual o ser desta nossa era poderá transcender e voltar a experienciar um olhar de encantamento, apreendendo e aprendendo a lidar com as emoções e informações necessárias para a formação de um ser humano mais justo, solidário, ético e agente transformador de si e da sociedade em que vive.
As máscaras de Robinson Crusoe: a representação do individualismo moderno em Daniel Defoe e Mozael Silveira
Esta dissertação visa a estudar as metamorfoses do individualismo moderno em duas produções culturais distintas, concebidas em civilizações e contextos históricos também diversos, a saber: Reino Unido, à época da Revolução Inglesa e Brasil, em tempos de ditadura militar. Para isso, realizou-se uma análise comparativa entre as obras Robinson Crusoe, de Daniel Defoe e As aventuras de Robinson Crusoé, de Mozael Silveira. Assim, foi possível verificar como a literatura e o cinema, entendidos como campos narrativos, funcionam em processos dialógicos, encenando problemáticas sociais, históricas e ideológicas por meio de suas construções discursivas e linguagens próprias, de modo a simbolizar o mundo e oferecer, ao pesquisador, novas formas ou modelos para compreensão da realidade e, portanto, do próprio entendimento acerca do supracitado conceito.
2012
José David Borges Junior
Devires Inauditos: linhas de fuga em narrativas de língua portuguesa
Esta pesquisa foi impulsionada pelos seguintes questionamentos: o que se passa quando uma narrativa nos arranca do lugar onde estávamos e contribui para a construção de outro espaço? Não um espaço imaginário, elaborado a partir de um pacto ficcional, mas um espaço real, tão real quanto possível? A primeira possibilidade de resposta recaiu sobre a ciência ficção, mas uma teoria da ciência ficção que deslocasse a perspectiva de gênero literário para o ato imanente de leitura. A partir desta questão, a tese se delineia com a problematização de alguns conceitos de ciência ficção, estranhamento cognitivo e estranho, para, em seguida, desenvolver o conceito de Devir Inaudito. Em um segundo momento, há a exposição de uma possibilidade de leitura, a partir dos processos propostos na primeira parte, para algumas obras produzidas em Angola e no Brasil, a saber: Teoria geral do esquecimento, de José Eduardo Agualusa; a animação O menino e o mundo, dirigida por Alê Abreu; O natimorto: um musical silencioso, de Lourenço Mutarelli e Uma duas, de Eliane Brum.
A Lição de coisas de Antônio Cardoso: uma poética para além da prisão
A presente pesquisa na área de Estudos Comparados de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa para a obtenção do título de doutor, baseia-se em manifestações literárias angolanas, especificamente entre 1961 e 1975. Como ponto de partida, optou-se pela obra do poeta angolano António Cardoso, autor que participou dos movimentos libertários angolanos, tendo a literatura como uma de suas armas contra a opressão material, espiritual e, notadamente, a cultural, sendo isso um dos elementos determinantes para sua duradoura prisão, entre 1961 e 1974, em Luanda e no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. São de Cardoso as seguintes obras: Chão Antigo, Lubango: 1964, 21 poemas de cadeia, Lisboa: ed. Plátano (1979), Economia Política Poética (panfleto), Lisboa: Plátano (1979); A casa de mãezinha, Lisboa: Plátano, 1980; Baixa e Musseques, Lisboa: Plátano, 1980; Chão de Exílio, Lisboa: África Editora, 1980; Lição de coisas, Lisboa: Ulmeiro, 1980; 3unca é velha a esperança, Lisboa: Plátano, 1980; Poemas de circunstância e São Paulo, Lisboa: África Editora: 1980; A Fortuna [prosa], Lisboa: África editora. Como reflexo dessa experiência, o autor desenvolveu uma poética que nos permite entendê-la para além de uma literatura engajada, mesmo valendo-se dela, com uma envergadura semântica própria que, em princípio, diferencia-o de grande parte de seus contemporâneos. Vale notar que grande parte de seus livros foi publicada após o período em recorte, notadamente entre 1979 e 1981. Da relação bibliográfica acima apresentada, tomou-se como referência os versos presentes em Lição de coisas - que, em alguns momentos desta pesquisa, foram comparados analiticamente com alguns textos poéticos (inteiros ou parcialmente) de Carlos Drummond de Andrade, poemas esses insertos em seu também intitulado Lição de coisas, obra publicada em 1962, com o intuito de se verificar como se estruturam os versos deste e que vínculos podem ser estabelecidos com os daquele outro. Porém, é importante informar que os poemas de Drummond, aqui escolhidos, servirão única e exclusivamente -, como baliza para o aprofundamento da compreensão e do estabelecimento dos processos investigativos que mostrem a qualidade da produção de António Cardoso, este sim foco, objeto deste estudo. Como acessório importante, utilizou-se, também, um ou outro texto poético da obra Economia Política Poética (panfleto), de Cardoso, especificado devidamente mais à frente, com a intenção de enriquecer a compreensão do tema. Esta pesquisa, portanto, apoia-se na tese de que, na denominada literatura engajada, tomando-se os versos de Cardoso, é-nos possível depreender um conjunto de significações que abrem caminhos para análises de cunho psicofilosófico, isto é, de estudos que permitem inter-relações estabelecidas a partir do espaço opressor da prisão e seus matizes simbólicos, bem como o próprio exercício de reflexão sobre a condição do ser no âmbito da sobrevivência física e psicológica, resultante de anos a fio no cárcere.
2010
Tércio de Abreu Paparoto
Terra sonâmbula, o último vôo do flamingo e O outro pé da sereia: letras do sonho, páginas da Terra em Mia Couto
Ao longo das leituras dos romances do autor moçambicano Mia Couto é possível observar que, sistematicamente, o escritor propõe ao leitor a aproximação e a interlocução entre o mundo subjetivo das personagens no interior do texto e a História de Moçambique, protagonizada por esses atores ficcionais em recortes cronológicos em que passado e presente permanentemente estão em diálogo. Dessa forma, manifesta-se em sua prosa uma relação intrínseca entre a produção literária e, portanto, as especificidades próprias do campo ficcional e o comprometimento do autor com a realidade histórica de seu país. Através das personagens presentes em seus contos e romances, a História de Moçambique se apresenta e o autor constrói uma perspectiva crítica do país delineando uma realidade social e concreta manifesta vivamente no espaço onde as personagens circulam e vivem. O cenário moçambicano descrito, portanto, em seus romances e contos, aproxima o leitor da realidade histórica e também social do país, reunindo a dinâmica material da vida em Moçambique - com suas especificidades culturais e as tradições locais bem como uma reflexão acerca do próprio papel social da literatura.
2012
Alessandra Braghini Pardini
O fogão, o quintal e a escrivaninha: estudo comparativo entre a literatura de Cora Coralina e a de Manoel de Barros
O objetivo do presente trabalho é apresentar um estudo comparativo que põe em diálogo poemas de Cora Coralina, reeditados como obras de literatura infantil, com poemas que figuram nas obras infantis de Manoel de Barros, com o intuito de verificar representações literárias de experiências infantis construídas por ambos, e o quanto tais construções podem representar poeticamente vivências que reverberam elementos culturais e identitários dos interiores do país. Além disso, pretende-se também demonstrar o quanto as especificidades presentes nos poemas de ambos dialogam no que concerne à representação poética, cultural e identitária de experiências infantis vividas nos interiores de Goiás e Mato Grosso e, por fim, verificar em que medida tais textos devem ser levados à sala de aula de todo país para que os alunos possam entrar, simultaneamente, em contato com a poesia de Cora Coralina e Manoel de Barros, experimentando esteticamente representações culturais e identitárias do interior do Brasil. Para tanto, a metodologia buscou a fundamentação nos estudos comparatistas, apresentando representações estéticas nesse diálogo entre as obras, bem como das representações contidas nos textos literários relacionados universo cultural dos quais esses textos surgiram e com os quais procuram dialogar. Tal trabalho se justifica pela inédita aproximação entre a literatura desses dois emblemáticos nomes da poesia brasileira, bem como em razão do pequeno número de pesquisas acadêmicas realizadas em nível de pós-graduação envolvendo especialmente a obra de Cora Coralina nas universidades brasileiras.
2020
Edison de Abreu Rodrigues
Lirismo de libertação: uma leitura de poemas africanos e afrobrasileiros
A dissertação apresenta uma leitura comparativa de poemas da moçambicana Noémia de Souza, do angolano Agostinho Neto, do brasileiro Landê Onawale e do grupo de rap maranhense Clã Nordestino. Partindo do pressuposto de que os poemas estudados relacionam-se a contextos de guerra, o trabalho propõe o conceito de lirismo de libertação, pautado na articulação das dimensões ética e estética dos textos.
2011
Maria Nilda de Carvalho Mota
Representações da temática afro-brasileira na literatura infantil e juvenil: entre a escolarização da produção literária e a estetização das demandas escolares
Este trabalho tem como objetivos compreender as dinâmicas da representação literária na literatura infantil e juvenil frente às demandas educacionais presentes na Lei 10.639, e identificar possíveis diferenças quanto à natureza da representação entre obras tematizadas no contexto dessa lei e obras não tematizadas, mas que abordam as questões afro-brasileiras no âmbito de sua complexidade estética. Para tanto, será apresentado um estudo comparativo entre duas obras que foram construídas no contexto da Lei e uma obra que não tematiza as questões afrobrasileiras, todas elas compõem o acervo do PNBE. As dinâmicas da autoria, as características do discurso utilitário e o contexto educacional são elementos estudados e constituem ferramentas importantes para as discussões. São analisadas as obras O Cabelo de Lelê, de Valéria Belém; Obax, de André Neves e Raul da Ferrugem Azul, de Ana Maria Machado. Para esse estudo, foi proposta uma perspectiva interdisciplinar conforme os princípios da Literatura Comparada. Diante deles, a interação entre textos literários, por procedimentos comparatistas de análise, articulada às outras áreas do saber, possibilita o estudo mais amplo da obra como manifestação estética posicionada historicamente. Ao final, são apresentadas considerações a respeito da necessidade de mudança nas relações entre a literatura infantil e juvenil e as questões educacionais.
2014
Rogerio Bernardo da Silva
Ondjaki e os \"Anos 80\": ficção, infância e memória em AvóDezanove e o segredo do soviético
Este trabalho tem como objetivo central a análise da obra AvóDezanove e o segredo do soviético, do escritor angolano Ondjaki, em que o autor, relacionando memória e ficção, recria, pela perspectiva de um narrador-menino, o tempo e o espaço de sua infância vivida em Luanda nos anos 1980. A análise tem como base o conceito de memória coletiva desenvolvido pelo sociólogo francês Maurice Halbwachs e objetiva demonstrar de que forma esse conceito pode ser relacionado à elaboração da narrativa Avó Dezanove e o segredo do soviético e, mais especificamente, qual o papel que as duas avós do menino-narrador, AvóAgnette e AvóCatarina, desempenham na construção dessa memória coletiva. Procuraremos demonstrar também como AvóDezanove e o segredo do soviético está inscrita em um projeto literário do autor que, por meio da memória da infância, oferece elementos de reflexão sobre a história de Angola independente.
A alquimia do \"adultescer\": a literatura para juventude como rito de passagem
Por meio deste trabalho, inserido na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, objetivou-se estudar o modo como a Literatura para Juventude representa a passagem da adolescência para a idade adulta, tendo em vista a contribuição que os textos literários podem prestar para o processo de formação da subjetividade dos jovens, seja de modo realístico ou simbólico. Em termos de referencial teórico, trabalhou-se com o pensamento de diversos estudiosos da Psicologia do Desenvolvimento, tanto daqueles cujos trabalhos ativeram-se à investigação do ego, quanto dos que foram além e professaram teorias a respeito do self e do processo de individuação. No sentido de demonstrar a validade do mito do herói como estrutura narrativa simbólica do adultescer, empreendeu-se estudo comparativo de O relógio do mundo, do autor brasileiro Lino de Albergaria, com Aventuras de João Sem Medo: panfleto mágico em forma de romance, de José Gomes Ferreira, obra clássica da Literatura Portuguesa. Por meio da análise dos textos, construídos com base nas invariantes do conto maravilhoso, procurou-se demonstrar que, do ponto de vista da natureza psíquica, a conquista da maturidade é processo universal e atemporal, porém, o modo desta expressar-se no mundo está diretamente ligado com a cultura de cada lugar e época.
Memória e metapoesia em João Cabral de Melo Neto e Carlos de Oliveira
Com o intuito de investigar o papel relevante da memória na construção e formação do sentido nos poemas de João Cabral de Melo Neto e Carlos de Oliveira, e com base em estudos sobre a arte da memória, fizemos uma seleção paradigmática de textos cujo referencial ancora-se em imagens buscadas nas lembranças da infância de ambos os poetas. Partindo do referencial imagético regional, passamos a investigar como essa poesia evolui do referencial ao metapoético, passando a utilizar as imagens de densidade e estoicidade, resgatadas pela memória, como termos de comparação ao processo rigoroso e árduo de composição do poema, que atinge sua máxima depuração nas obras A educação pela pedra e Micropaisagem, de Melo Neto e Oliveira, respectivamente. A poesia crítica exercida racionalmente cria uma poética que teoriza a si mesma, refletindo sobre seus próprios meios de construção. Após essas obras que efetivaram a experiência oficinal, gradativamente tais comparações cedem lugar a construções mais indicativas, uma vez que já se conquistou o domínio das relações entre as palavras e as coisas. Seguros de que a palavra é o material com qual se constrói o poema, já não sentem a necessidade de explicar, passando a praticar a construção do poema como um elemento da realidade material.
Flagrantes de cotidianos periféricos na literatura contemporânea de Brasil e Cabo Verde
Abordamos os romances Guia afetivo da periferia, do escritor brasileiro Marcus Vinícius Faustini, e Marginais, do escritor cabo-verdiano Evel Rocha, com o interesse de estudar seus protagonistas, personagens pobres que vivem em zonas urbanas. Motivou-nos o interesse de entender como estão representadas e, por isso, tratamos de investigar suas experiências cotidianas, a partir do que pudemos identificar algumas de suas características e atitudes. Essa investigação teve como suporte teórico textos que defendem a importância de uma hermenêutica do cotidiano, recomendando a sua realização como uma forma de se potencializar a documentação de experiências de vidas anônimas e de demandas sociais legítimas, mas escondidas para a conveniência dos grupos hegemônicos. Essa hermenêutica se baseia na compreensão de que aquilo que se vive informalmente deve ser entendido como uma alavanca para o conhecimento humano. Analisamos cinco unidades temáticas mínimas que se evidenciaram comuns aos romances: vida, morte, doença, trabalho e território. Constatamos que a forma como os dois textos retratam a vida na periferia são complementares, não obstante, individualmente, privilegiem visões unívocas da realidade social que retratam. Também constatamos que os romances tanto inovam na abordagem de alguns temas, como o combate à tuberculose e a opção pelo autoemprego, como, de algum modo, ratificam posições que cerceiam os seres humanos, como quando atrelam a noção de decência ao fato de se estar ou não empregado e a pobreza à criminalidade.
2015
Giselle Rodrigues Ribeiro
O deslocamento e a orfandade nas obras Livro, de José Luís Peixoto, e Os Malaquias, de Andrea Del Fuego
Neste trabalho, defendemos a tese de que entre-espaço e subespaço configuram-se como elementos narrativos relevantes na representação do deslocamento das personagens dos romances Livro, de José Luís Peixoto, e Os Malaquias, de Andrea Del Fuego. Para atestar essa ideia e elucidar os elementos por nós sugeridos, propomos a comparação dos dois livros, por meio da análise do itinerário das personagens Adelaide e Júlia, ambas órfãs e migrantes. Assim, buscamos demarcar o espaço nas duas obras e relacioná-lo com fatos históricos e dados geográficos, a fim de observar o trabalho estético literário responsável por organizar e enfatizar as intervenções no espaço realizadas pelo governo salazarista em Portugal e pelo mandonismo rural no Brasil. Intervenções que estão ligadas ao deslocamento e à orfandade. Ao final desta pesquisa, incorporamos um ensaio fotográfico lúdico, pois parece-nos eficaz estudar a ficção também por meio da própria ficção.
Do indivíduo às redes da vida política e social: protagonismo e construção identitária em Padre Nando (Antônio Callado) e Aníbal (Pepetela)
O estudo tem como objetivo analisar comparativamente o processo de formação identitária das personagens Padre Nando e Aníbal, respectivamente protagonistas dos romances Quarup, publicado em 1967, pelo escritor Antônio Callado e A Geração da Utopia, publicado em 1992 por Pepetela. Ambos os romances abordam de forma marcante como se configuraram aspectos do processo da luta armada de sentido libertário, no Brasil e em Angola. No entrecruzamento de ficção e História, os escritores, através das marcas de seus autores implícitos, em nível dos sujeitos da enunciação (narradores) ou do enunciado (personagens) apresentam dois protagonistas engajados política e socialmente que vivem profundas transformações em seus caracteres psicossociais. O estudo dessas caracterizações constitui um rico material para problematizar os sentidos da identidade e das problemáticas que envolvem os processos da luta libertária e compreender como as transformações das personagens centrais de cada narrativa têm a ver com seus horizontes utópicos.
2015
Maristela da Soledade e Souza
Angela Lago e o processar de vozes e registros: do riso medieval ao grotesco contemporâneo
O presente trabalho tem como objetivo estudar a obra de Angela Lago, escritora e ilustradora de livros infantis, partindo da seleção de títulos que têm em comum a temática do assombro e da morte, a saber: De Morte! (1992), Charadas Macabras (1994), Sete Histórias para Sacudir o Esqueleto (2002) e Minhas Assombrações (2009). Considerada um dos grandes nomes da Literatura Infantil e Juvenil contemporânea, Angela Lago há mais de três décadas tem oferecido aos seus leitores títulos instigantes, muitos dos quais já foram objeto de pesquisa no âmbito acadêmico. Da análise de algumas dissertações de mestrado e teses de doutorado, verificamos a possibilidade de investigação de sua obra sob diferentes perspectivas teóricas. Entre os vieses possíveis, nossa abordagem considerou os conceitos teóricos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin, já apontados em alguns trabalhos, e o estudo da oralidade e da cultura escrita, propostos por Walter Ong e Eric Havelock. Reverberam nas obras os conceitos de plurilinguismo, dialogismo e a estética do grotesco, discutidos por Bakhtin, e características da oralidade, do advento da escrita e da impressão, apresentados especialmente por Ong. Realizando o entrecruzamento das teorias, procuramos demonstrar como a artista propõe o processar da interação autor/leitor de forma gradativa no corpus selecionado, passando do riso ao assombramento, do convite ao ato de contar à inserção do leitor como personagem da história. Partindo do estudo comparativo dos livros selecionados, observamos semelhanças entre os projetos estéticos, o que nos fez agrupá-los em duas categorias: obras nas quais a autora se posiciona ao lado de seu leitor, convocando-o a transmitir as histórias; obras em que a autora e leitor tornam-se personagens, com novas formas de participação.
Nas sendas da revolução: a poesia de Agostinho Neto e Solano Trindade
A presente pesquisa tem por objetivo propor aproximações entre os autores Agostinho Neto (angolano) e Solano Trindade (brasileiro). Realizamos as comparações entre ambos considerando semelhanças literárias e políticas em seus percursos. Ao longo de suas vidas os dois poetas dedicaram-se à literatura e também a causas sociais e raciais. A pesquisa centra-se na análise comparativa entre os textos de Sagrada esperança (1985) de Neto e Cantares ao meu povo (1969) de Trindade. Para embasar nossa pesquisa teremos como foco de comparação pressupostos da Négritude enquanto temática e sua ligação com o romantismo revolucionário e/ou utópico, nas sendas dos estudos levados a efeito por Michael Löwy e Robert Sayre. Ao articularmos suas convergências, acreditamos ser possível constatar que há sobrevivências românticas que se fazem vivas na Negritude, às quais podem ser verificadas nas obras eleitas para a presente pesquisa. O romantismo é aqui pensado como visão de mundo, logo, livre de suas amarras temporais. Ao, visualizarmos ecos deste romantismo presentes na Négritude acreditamos ser possível verificar em que medida as obras de Agostinho Neto e Solano Trindade, pertencem a uma forma de poesia, em que há uma preocupação dos poetas em instigar, pelo verso, a prática revolucionária capaz de gerar transformações.
2009
Oluemi Aparecido dos Santos
Capitães da areia, um estudo comparado entre os Amados: literatura e cinema em diálogo
Buscando aproximar as obras literária e fílmica dos Amados, este estudo, sob a perspectiva dos Estudos Comparados, visa abarcar a relação entre estes dois campos narrativos, discutindo como tais obras, através de determinados elementos narrativos, refletem a matéria histórica do contexto em que estão inseridas, bem como marcam o projeto político e estético de seus autores.
2015
Renata Paltrinieri Hograefe