RCAAP Repository
O impacto dos fatores ambientais na incapacidade funcional de idosos: a importância de políticas públicas que valorizem o Aging in place
Introdução: A incapacidade no idoso é multidimensional, envolvendo aspectos de saúde física, emocional, cognitiva, ambiental e social. Os fatores ambientais têm um impacto importante como facilitadores ou barreiras nas atividades e participação social do idoso, especialmente relacionado ao ambiente de moradia e a capacidade de continuar vivendo no próprio domicilio apesar do envelhecimento (Aging in place). Políticas públicas devem ser pensadas levando a questão do Aging in place em consideração. Objetivos: investigar o impacto dos fatores ambientais na incapacidade de idosos que residem em conjuntos habitacionais verticais de interesse social que não contam com quesitos de acessibilidade como o elevador, sob a perspectiva da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Método: Para alcance dos objetivos propostos foi necessário a realização da validação de construto e identificação das propriedades psicométricas e de normatização do WHODAS 2.0- 12 itens para avaliação da incapacidade em idosos brasileiros. Após esta etapa, foi realizada a análise dos fatores ambientais sugeridos pela CIF e reconhecidos por moradores dos conjuntos habitacionais e sua associação com a incapacidade funcional. Os estudos transversais aqui apresentados foram realizados com duas amostras distintas: Amostra 1 para o processo de validação de construto e normatização do WHODAS 2.0 contou com 350 idosos assistidos pelo Centro de referência do Idoso na cidade de São Paulo. Com dados desta amostra foi realizada uma análise fatorial exploratória, confirmatória e teoria de resposta ao item e análise de variância para validação de construto e observação da distribuição dos escores na amostra. Amostra 2 contando com 96 idosos residentes em um conjunto habitacional com 26 edifícios verticais com até 4 andares em Bragança Paulista (SP) para análise do impacto dos fatores ambientais na incapacidade dos idosos. Com os dados desta amostra foi realizada análise de regressão linear multivariada para identificação dos fatores ambientais mais associados ao aumento do escore de incapacidade. Resultados: O WHODAS 2.0, 12 itens apresentou boa adequação das cargas fatorais em um modelo unidimensional somente com 10 itens dos 12 avaliados. A retirada do item 6 (concentrar-se) e 10 (lidar com pessoas estranhas) na análise fatorial exploratória melhorou o desempenho do teste com variância explicada de 70 por cento (x2/df = 2,45; p < 0,001, NNFI = 0,98, CFI = 0,99, GFI = 0,99, RMSEA = 0,06; Alpha de Cronbach = 0,95 e Mc Donald = 0,92). Na análise da associação entre barreiras ambientais e incapacidade observou-se que fatores ambientais como escadas, acesso ao transporte público, ruídos, clima e preconceito reconhecidos como barreira foram associados a um aumento no escore do WHODAS 2.0-BO. Conclusão: A presença de barreiras ambientais como dificuldade de acesso ao transporte público, presença de escadas na entrada da casa, ruídos, condições climáticas adversas e preconceito foram associadas a um aumento no escore de incapacidade, o que pode impedir idosos de continuar vivendo no próprio domicílio na presença de tais barreiras. Políticas públicas deveriam considerar o envelhecimento e as barreiras ambientais identificadas neste estudo para a garantia do Aging in place.
2018
Michele Lacerda Pereira Ferrer
Câncer feminino: evolução da mortalidade por câncer de mama e de colo do útero em distritos do Município de São Paulo, 1985-1999
Justificativa: Os efeitos das desigualdades no perfil de saúde-doença de uma determinada população estão associados a diferentes fatores sociais, culturais e econômicos. A busca da eqüidade em saúde depende da redução das desvantagens relacionadas àqueles fatores, o que na maioria das vezes não é uma decisão pessoal mas conseqüência de situações de inserção social estabelecidas no passado. Estudos recentes mostraram existir relação entre o local de residência e risco de morrer, mesmo após o controle por variáveis de confundimento individuais. Considerou-se como hipótese que a segregação socioeconômica que acompanha a distribuição geográfica desigual das pessoas no espaço urbano da cidade de São Paulo levou a distintas tendências de mortalidade por câncer da mama e do colo do útero. Objetivos: 1) Comparar territórios do Município de São Paulo (MSP) por meio de indicadores de estrutura etária, dinâmica populacional, longevidade e perfil de mortalidade; 2) Descrever, de acordo com os territórios de residência, as tendência da mortalidade por câncer de mama e de colo do útero; 3) Estimar os efeitos, em cada território de residência, da idade cronológica, período-calendário ou coorte de nascimento na tendência da mortalidade por câncer de mama e de colo do útero. Métodos: Estudo ecológico de série temporal conduzido com dados secundários de declarações de óbito provenientes de bancos eletrônicos de dados. Os distritos que compuseram os quatro territórios de residência, variáveis independentes do estudo, foram escolhidos segundo critérios históricos que caracterizaram o uso do solo urbano. Problemas para compatibilizar a divisão administrativa do MSP antes e após 1991 foram minimizados com o agrupamento dos distritos em quatro territórios: periféricos, operários 2, operários 1 e das elites. Os cálculos das taxas de mortalidade na população foram feitos a partir das informações da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Para comparações, utilizou-se como medida sumária a taxa de mortalidade padronizada pela estrutura etária da população do MSP de 1991. As contribuições da idade, período-calendário e coorte de nascimento nas tendências temporais foram avaliadas através do modelo idade-período-coorte. Examinaram-se: 9 faixas etárias (de 30-34 à 70 e mais anos de idade), 3 períodos-calendários (de 1985-89 à 1995-99) e 11 coortes de nascimento (de 1915-1919 à 1965-1969). Resultados: Os perfis demográficos e de mortalidade diferiram significativamente entre os territórios. Nos 15 anos analisados a mortalidade geral padronizada por idade diminuiu nos territórios das elites e, em menor escala, nos territórios operários 2 e periféricos. As taxas de mortalidade por câncer de mama mantiveram-se estáveis nos territórios das elites; aumentaram nos territórios operários e, mais expressivamente, nos territórios periféricos. A mortalidade por câncer de colo do útero diminuiu nos territórios operários 2 e das elites. De modo geral, as coortes de nascimento de 1920, 1925 e 1930 apresentaram, em relação à coorte de 1940, risco aumentado para câncer de colo do útero e diminuído para câncer de mama. As coortes mais recentes: 1950, 1955 e 1960, apresentaram risco aumentado para câncer da mama nos territórios periféricos e diminuído para câncer de colo do útero nos territórios das elites. Nos territórios periféricos, após 1950, as coortes de nascimento apresentaram aumento no risco de morrer por câncer de mama. Nos territórios das elites, após 1950, as coortes de nascimento apresentaram risco diminuído de morrer por câncer do colo do útero. A redução da mortalidade por câncer do colo do útero das residentes nos territórios das elites em períodos-calendários mais recentes pode estar associada ao uso do teste de Papanicolaou. Conclusão: A variabilidade geográfica na distribuição da mortalidade por câncer de mama e de colo do útero é, ela própria, reflexo da segregação social na cidade de São Paulo. Os sucessivos aumentos na mortalidade por câncer de mama nos períodos-calendários mais recentes e nas coortes de nascimento após 1950, entre as residentes dos territórios periféricos, permitem prever a futura carga dessa doença para os serviços de saúde da cidade. É preocupante o caráter localizado da queda da mortalidade por câncer do colo do útero, apenas nos territórios das elites, o que faz supor a baixa efetividade das políticas públicas para o controle dessa doença.
2002
Mariangela Cainelli de Oliveira Prado
Desigualdades sociais na sobrevida de câncer de boca e orofaringe em São Paulo
Introdução. Há evidências de que a desigualdade social pode influenciar o prognóstico do câncer quando foram comparadas as taxas de sobrevida segundo o status socioeconômico, entretanto isso ainda não foi estudado no Brasil. Objetivo. Analisar a desigualdade social na determinação da sobrevida específica em um, três e cinco anos, de pacientes diagnosticados com câncer de boca e orofaringe em São Paulo. Metodologia. Utilizou-se a coorte de base hospitalar do grupo de pesquisa Genoma Clínico do Câncer de Cabeça e Pescoço (GENCAPO), à qual foram aplicados novos critérios de exclusão. Assim, foram analisados dados demográficos, socioeconômicos, comportamentais, sintomas autorreferidos e de condições clínicas de 1.154 pacientes, com diagnóstico de malignidade nas regiões de boca (C00.3-C06) e orofaringe (C09-C10), arrolados de 2001 a 2009 e acompanhados por cinco anos. A desigualdade social foi aferida pela escolaridade e a ocupação. As probabilidades acumuladas de sobrevida específica em um, três e cinco anos foram calculadas pelo método de Kaplan-Meier e as diferenças entre as curvas de sobrevida, pelo teste de Log-rank. A regressão de Cox univariada e múltipla possibilitou a análise dos fatores associados à sobrevida - Hazard Ratio (HR) com IC95%. Resultados. As probabilidades acumuladas de sobrevida específica em um, três e cinco anos para câncer de boca e orofaringe, foram de 74,72%, 49,86 e 42,46%, respectivamente. Baixa escolaridade (HR=1,25; IC95%=1,03-1,51) e realização de trabalhos manuais (HR=1,37; IC95%=1,05-1,78) foram associados à menor probabilidade de sobrevivência em cinco anos na análise não ajustada. A cor da pele preta/parda, tumor de tamanho T3 ou T4 e comprometimento de linfonodos foram fatores independentemente associados à menor sobrevida específica por câncer de boca e orofaringe em um, três e cinco anos. Disfagia e dificuldade respiratória foram associados à menor sobrevida específica em um ano. Em três anos, observou-se também a otalgia e em cinco anos, a dificuldade de deglutição. Conclusões. Foi identificada associação entre a desigualdade social, menor escolaridade e trabalho manual, à menor sobrevida em 5 anos. Esses fatores, na análise ajustada pelas características demográficas, tiveram sua associação potencialmente explicada pela cor da pele preta/parda.
Monitoramento da hipertensão arterial e do diabetes mellitus no município de São Paulo: evolução das prevalências e uso de medidas de controle
Introdução: as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são reconhecidamente um problema de saúde pública, uma vez que têm gerado elevado número de óbitos, perda de qualidade de vida, podendo levar a incapacidades. Dentre as DCNT que mais acometem as populações adulta e idosa, destacam-se a hipertensão arterial (HA) e o diabetes mellitus (DM). O monitoramento das prevalências destas DCNT é de extrema importância para a vigilância, assim como o conhecimento de suas tendências e práticas de controle. Objetivo: estudar a evolução das prevalências de hipertensão arterial e diabetes mellitus, bem como as medidas de controle para essas doenças em indivíduos adultos e idosos (20 anos e mais) residentes no Município de São Paulo, nos anos de 2003, 2008 e 2015. Metodologia: foram utilizados dados dos Inquéritos de Saúde no Município de São Paulo (ISA-Capital) nos anos de 2003, 2008 e 2015, estudos transversais de base populacional. Todas as análises foram realizadas no programa estatístico Stata 14.0, por meio do módulo survey, que permite considerar variáveis de um plano de amostragem complexo. Foram realizados três estudos: 1) evolução das prevalências de HA e DM e suas medidas de controle; 2) uso de serviços de saúde para controle da HA e do DM; 3) potencialidades do ISA-Capital e sua contribuição para a gestão em saúde local. Resultados: (artigo 1) entre as pessoas de 20 a 59 anos, diferenças estatisticamente significativas foram observadas para as prevalências de: hipertensão (2003-2015) e dieta alimentar (ambos períodos). Entre as pessoas de 60 anos e mais: diabetes (2003-2015) e medicamento oral para controlar a diabetes (ambos períodos); hipertensão (2003-2015), dieta alimentar e medicamento oral para controlar a hipertensão (2003-2008). (artigo 2) observou-se aumento significativo no percentual de pessoas que referiu ir ao serviço de saúde de rotina por causa do DM no período 2003-2015. Em 2015, maior uso de serviços de saúde de rotina para controle da HA foi observado entre os idosos e as pessoas que referiram possuir plano de saúde. No caso do DM, houve associação entre o uso de serviços de baixa escolaridade. Ser idoso diminui o risco de não ir ao serviço de saúde para a controle da HA, enquanto ser do sexo masculino e não possuir plano de saúde aumentam este risco significativamente. (artigo 3) diferenças estatisticamente significativas no período 2003-2015 foram observadas para os indicadores: morbidade referida, passando de 27,9% (IC95%:24,1-32,1) em 2003 para 19,2% (IC95%:17,6-20,9) em 2015; e procura por serviços de saúde, de 13,2% (IC95%:10,59-15,9) em 2003 para 18,7% (IC95%:17,1-20,3) no ano de 2015. Foram encontradas diferenças significativas nas análises dos três indicadores segundo as CRS no ano de 2015: menor autorrelato de morbidade referida e procura por serviços de saúde na região sul em relação às regiões norte, sudeste e leste; considerando se o serviço procurado era SUS, maior autorrelato foi observado nas regiões norte, sul e leste em relação às regiões centro-oeste e sudeste. Conclusão: os inquéritos de saúde constituem importante base para o monitoramento e vigilância das condições de saúde, em especial, as doenças crônicas não transmissíveis e seus fatores de risco e proteção. A concepção de uma estratégia eficaz de vigilância e monitoramento de DCNT demanda investimentos em todas as esferas de gestão, mas é no nível local que se estabelece uma linha de base para avaliações mais precisas e particularizadas. Compreender as informações provenientes de inquéritos de saúde locais de modo a traduzi-las em práticas e políticas destinadas aos usuários dos sistemas de saúde é indispensável para o desenvolvimento do SUS.
Estratificação vertical de Anopheles cruzii, Anopheles bellator e outros mosquitos (Diptera: Culicidae) no município de Ilha Comprida, SP
Objetivo. Estudar a distribuição: sazonal e vertical de adultos e imaturos de An. cruzii e An. bellator no município de Ilha Comprida, SP. Métodos. Adultos - capturas em armadilhas luminosas CDC+CO2 a 1m, 6m e 12m do solo, das 17-20h. As densidades foram comparadas pelo Teste de Mann-Whitney. Imaturos - aspirações em bromélias de solo e em 11 classes de altura de 1m. Foi utilizado o Coeficiente de correlação de Spearman para analisar as variáveis: densidade de imaturos, volume de água e altura de fixação das bromélias. Os trabalhos de campo foram quinzenais, de setembro/2001 a setembro/2002 e foram investigadas correlações entre clima e densidade de adultos e imaturos. Resultados. Adultos - foram capturados 55226 mosquitos: 13745 a 1m, 9614 a 6m e 31867 a 12m. An. bellator representou 2% e An. cruzii, 3,3% dos Culicidae a 1m; respectivamente, 2,7% e 10,7% a 6m; e 2,5% e 13,9% a 12m. Ambas as espécies tiveram maior densidade a 12 m. An. cruzii predominou nos três estratos. Houve correlação positiva entre densidade das duas espécies e temperatura máxima. Imaturos - Foram coletados 34298 Culicidae de 25 espécies, incluindo An. bellator e An. cruzii em todos os estratos. Houve correlação negativa entre chuva e densidade desses anofelinos; para esta variável e altura das bromélias, houve correlação positiva para An. bellator e negativa, para An. cruzii. Conclusões. Confirmou-se o comportamento acrodendrófilo de An. cruzii e An. bellator. As larvas têm desenvolvimento lento e a baixa densidade por bromélia pode ser compensada pela alta densidade de bromélias. Embora não tenham sido registrados casos de malária no local, a região é receptiva à malária.
Desenvolvimento e validação de equações para estimativa de massa magra e massa gorda em homens brasileiros com 50 anos e mais de idade
Objetivo. O objetivo deste trabalho foi desenvolver e validar equações para estimar percentual de gordura e massa corporal magra em homens entre 50 e 85 anos de idade. Métodos. A população de estudo foi dividida em duas amostras aleatórias, sendo uma utilizada para o desenvolvimento das equações de regressões, e a outra para validá-Ias. Os modelos foram desenvolvidos através da análise de regressão linear múltipla, tendo como variáveis dependentes o percentual de gordura (%G) e a massa corporal magra (MCM) fornecidas pela absorciometria por raio-X de dupla energia (DEXA) e, como variáveis independentes idade (I), massa corporal (MC), estatura (Est), índice de massa corporal (IM C), dobra cutânea tricipital (DCT), perímetro da cintura (PCint), perímetro do quadril (PQ), razão cintura/quadril (RCQ), e, %G, MCM, resistência e reatância fornecidas pela análise de impedância bioelétrica (BIA) (%G BIA, MCM BIA, Res e \'qui\'c respectivamente). A análise de validação das equações foi feita através do coeficiente de correlação de Pearson, teste t-Student pareado e através do erro padrão de estimativa (EPE). Resultados. A melhor equação para estimar o %G teve, como variáveis independentes o PCint, %G BIA, DCT e I (\'r POT. 2 IND. aj\'=0,71; \'r IND. icc\'=0,82; e EPE=4,0%). Nenhuma das equações forneceu estimativas precisas da MCM. Conclusão. Verifica-se que para o %G foi possível estimar uma equação preditiva, porém são necessários outros estudos para definir uma equação para a MCM.
2003
Ligia Beatriz Bento Franz
Análise espacial da mortalidade neonatal na Região Sul do Município de São Paulo - 2002
Introdução. A mortalidade infantil vêm decrescendo em todo país e em todos estados da federação o componente neonatal é predominante. A tendência decrescente observada por da taxa de mortalidade neonatal no município de São Paulo foi insuficiente para reduzir a os diferenciais de mortalidade. A análise espacial com escala de distrito administrativo pode mascarar a existência de áreas de risco, devido sua heterogeneidade. A análise espacial pelo padrão de pontos pode contribuir para identificar áreas de risco de alta mortalidade na Região Sul do Município de São Paulo (RSMSP). Objetivo. Analisar espacialmente a coorte de nascidos vivos e a mortalidade neonatal na Região Sul do Município de São Paulo. Material e Métodos. Estudo observacional da coorte de nascidos vivos de mães residentes e ocorridos na RSMSP do ano de 2002 e dos respectivos óbitos neonatais. Fonte de dados: nascidos vivos (SINASC) e óbitos neonatais (SIM). Foram consideradas as gestações únicas e nascimentos com peso maior ou igual a 500g, sendo excluídos os nascimentos sem possibilidade de localização do endereço e sem registro de peso ao nascer. Foram realizados os seguintes procedimentos: processo de preparação e padronização dos endereços de residência materna dos bancos de dados SINASC e SIM, linkage dos bancos de dados e georreferenciamento. Do conjunto de 43587 DNs e 394 DOs foram georreferenciadas 99,6% e 99,0%, respectivamente. Na análise espacial empregou-se o padrão de pontos, calculando-se os seguintes estimadores: estimador de intensidade de Kernel e estimador de dependência espacial-Método do Vizinho Mais Próximo. Para obter as taxas de mortalidade foi utilizada a técnica de sobreposição (Overlay) de camadas, sendo o numerador a camada da interpolação dos óbitos neonatais e no denominador a camada da interpolação de nascidos vivos multiplicado por 1000. Foram selecionadas as áreas com taxas de mortalidade estimada igual ou maior de 20/1000nv e identificados como Clusters de alta mortalidade estimada Nesses Clusters com o uso da técnica de polígonos e de contagem de pontos foi calculada a probabilidade de morte neonatal. Para verificar a significância dos Clusters encontrados utilizou-se a Probabilidade de Poisson, α < 0,05 Resultados. Os clusters de nascidos vivos obtidos na Região Sul mostraram um perfil mais desfavorável do que aquele existente nas áreas de melhor condição de vida. As diferenças encontradas não se restringem à proporção de mães de escolaridade inferior a 4 anos, verificando-se existir diferentes padrões de escolaridade. Houve elevada participação de nascimentos de mães com pré-natal inadequado na região. Na análise da mortalidade neonatal identificou-se 18 clusters de alta mortalidade, 9 foram significantes (p<0,05). A probabilidade de morte neonatal encontrada nos Clusters foi de 13,8/1000nv a 32,6/1000nv. Estes clusters concentraram cerca de 35% dos nascidos vivos e 61 % dos óbitos da região. Os nascimentos localizados nos clusters de alta mortalidade apresentaram características mais desfavoráveis (maior freqüência de mães adolescentes e de baixa escolaridade, maior proporção de ausência ou de atenção pré-natal inadequada). Conclusões. A distribuição espacial dos nascidos vivos e da mortalidade neonatal não apresentou padrão aleatório e regular, havendo formação de clusters intra e inter-distritos na região, representando um ganho analítico. Os clusters de nascidos da Região Sul mostram ter um perfil mais desfavorável que nas áreas de melhor condição de vida Nos cluslers de alta mortalidade neonatal encontraram-se freqüências elevadas de dois ou mais desfechos negativos dos nascidos vivos. A identificação de cluslers de mortalidade neonatal pode contribuir para a vigilância de nascidos vivos de risco e óbitos neonatais.
2004
Cláudia Valencia Montero
Estudo comparativo entre os métodos ELISA e imunofluorescência indireta na análise amostras de sangue de cães provenientes de municípios endêmicos e enzoóticos para leishmaniose visceral americana
o presente estudo avaliou 2002 amostras de sangue de cães provenientes de áreas endêmicas (região oeste do Estado de São Paulo) e de áreas não endêmicas (município de São Paulo) para leishmaniose visceral americana (LVA), com o objetivo de otimizar os testes sorológicos preconizados pelo Programa de Controle de LVA em inquéritos sorológicos caninos, e produzidos por Biomanguinhos (Reação de Imunofluorescência Indireta / RIFI-BM e Ensaio Imunoenzimático ELISA / ELlSA-BM. Para tal, as amostras de sangue foram agrupadas em três bancos de dados: Banco (A) constituído por 97 amostras de sangue assim caracterizadas: 51 amostras com exames parasitológico e sorológico positivo sintomatologia definida como assintomática (2); oligossintomática (18) e sintomática (31); além destas, 46 amostras de sangue sorológicamente negativas das quais 26 tinham exames parasitológico e sorológico negativos e 20 somente com exame sorológico negativo; Banco (B) composto por 174 amostras pareadas de soro e sangue colhidas em papel-filtro das quais 167 com diagnóstico clínico, sorológico e parasitológico positivos; Banco (C) constituído de 1831 amostras de sangue colhidas em papel-filtro, provenientes de 3 inquéritos sorológicos caninos realizados nos municípios de Rubiácea, Piacatú e Luiziânia. A RIFI foi realizada quantitativamente nas diluições 1/20, 1/40, 1/80 e 1/160 e a leitura foi expressa por critério de cruzes sendo atribuído porcentagens para cada leitura assim definidas: A) zero (0%), B) + (25%), C) ++ (50%), D) +++ (75%) e E) ++++ (100%). Os resultados dos dois testes RIFI-BM e ELlSA-BM foram comparados com os resultados obtidos nos mesmos testes mas utilizando antígeno específico de Leishmania chagasi e permitiram concluir que a RIFI com antígeno específico (RIFI-CH) foi capaz de separar todos os verdadeiros negativos dos verdadeiros positivos. Foi possível ainda observar que a eficiência da RIFI-BM variou de 60% a 76%. Quando se compararam os resultados da RIFI-BM com soro e com papel-filtro, na diluição 1/40, como preconiza o PCLVA, observou se que para a RIFI com papel-filtro o melhor ponto de corte ficou definido como 30%, ou seja, acima de 1+ (25%) e para o soro o ponto de corte ficou estabelecido em 45%. Portanto o novo parâmetro para o ponto de corte da RIFI-BM deve ser a diluição 1/40 com leituras de 2+ (50%), ou então 1/80 o que seguramente diminuiria o número de falsos positivos. Da comparação de resultados da RIFI-BM com os do ELlSA-BM observou-se uma discordância de 23% entre os dois testes, ou seja o ELlSA-BM deixou de diagnosticar 23% dos resultados positivos em relação aos observados com a RIFI-BM. O ELISA BioManguinhos forneceu mais resultados falsos positivos com o ponto de corte estabelecido pelo Kit, quando comparado com o novo ponto de corte proposto neste estudo, que foi calculado a partir de controles negativos de eluatos. Quando o ELISA foi avaliado com o novo ponto de corte nas 3 populações caninas dos inquéritos sorológicos (Rubiácea, Piacatú e Luiziânia) a soroprevalência diminuiu em quase 50% quando comparado com o mesmo teste com ponto de corte preconizado por Biomanguinhos. Os resultados do estudo demonstraram a urgência de se implementar iniciativas para o aprimoramento de novos testes sorológicos com antígenos específicos que sejam capazes de identificar e separar as diferentes fases da doença.
Avaliação do potencial das formigas como vetores mecâncios de micobactérias em hospital especializado na assistência de pacientes de tuberculose no Estado de São Paulo
Introdução - A urbanização desencadeia inúmeros transtornos, como a disseminação de artrópodes e, conseqüentemente, de doenças veiculadas pelos mesmos. As formigas são muito adaptáveis e se beneficiam com a convivência humana. Nos hospitais, elas podem ser vetores mecânicos de inúmeras bactérias, e a diversidade de espécies encontradas nestes ambientes, causam preocupação pelo risco potencial à saúde pública. O aumento das infecções hospitalares envolvendo micobactérias ambientais, com surtos no Brasil entre 1998 a 2009 em 23 estados alarmou os órgãos e profissionais de saúde pública. Objetivos - Avaliar o potencial de formigas como vetores de micobactérias em um hospital especializado no atendimento de doentes com tuberculose. Métodos - Foram realizadas seis coletas de formigas em diferentes áreas do hospital no período de 2009 a 2010, que foram semeadas em meios de cultura de Löwenstein-Jensen e de Stonebrink para isolamento de micobactérias. As culturas sugestivas foram submetidas à coloração de Ziehl-Neelsen para bacilos álcool-ácido resistentes e identificação por métodos moleculares (PRA para o gene hsp65 com o par de primers TB11 e TB12 gênero-específico e sequenciamento genético do DNA). Resultados - Do total de 247 amostras de formigas coletadas e semeadas, 70 por cento das formigas pertenciam à espécie Tapinoma melanocephalum, 25 por cento a espécie Dorymyrmex sp., 3 por cento a espécie Camponotus sp. e 2 por cento a espécie Pheidole sp., dados similares foram observados anteriormente em pesquisas realizadas em hospitais. Quinze amostras apresentaram bacilos álcool-ácido resistentes de crescimento rápido. Nos métodos moleculares, doze pertenciam ao Gênero Mycobacterium. No PRA-hsp 65, e no sequenciamento genético do DNA, quatro amostras foram identificadas quanto à espécie (duas Mycobacterium chelonae, uma Mycobacterium parafortuitum e uma Mycobacterium murale), quatro micobactérias com resultados idênticos no PRA e não identificadas no sequenciamento foram sugestivas de uma nova espécie, e duas amostras não foram identificadas. Mycobacterium chelonae isolada nesta pesquisa foi previamente descrita como agente causador de abscessos em humanos. Conclusão - Estes dados confirmam a presença de micobactérias veiculadas por formigas no ambiente hospitalar, representando um potencial vetor mecânico destas para pacientes e profissionais de saúde, principalmente em infecções nosocomiais
2012
Ana Paula Macedo Ruggiero Couceiro
Avaliação da função sexual durante a transição menopausal e pós-menopausa das mulheres participantes do PROSAPIN - Projeto de Saúde de Pindamonhangaba
Introdução: Durante a transição menopausal, as mulheres podem sofrer alterações na atividade sexual, devido à diminuição dos níveis plasmáticos de estrogênio e androgênio. Além disso, fatores como a idade, o tempo de relacionamento e o aumento de morbidades que causam diminuição do bemestar podem levar à redução da atividade sexual. Objetivo: Estimar a prevalência da disfunção sexual em mulheres no período da transição menopausal e pós-menopausa e identificar potenciais fatores de risco. Método: estudo transversal que incluiu 756 mulheres de 35 a 65 anos cadastradas na Saúde da Família de Pindamonhangaba. Para avaliar a função sexual, foi utilizado o Female Sexual Function Index (FSFI), questionário composto por 19 perguntas referentes às últimas quatro semanas, que abrange seis domínios: desejo, excitação, lubrificação, satisfação, orgasmo e dor. Foi realizado um modelo de regressão múltipla de Poisson, no programa Stata 11. Resultados: A prevalência de disfunção sexual foi de 57,7 por cento (IC95 por cento : 54,0 por cento 61,4 por cento). Quando consideradas apenas as mulheres sexualmente ativas, foi de 39,8 por cento (IC95 por cento : 35,4 por cento 44,2 por cento). A disfunção sexual associou-se positivamente a idade (p<0,001), ao estado civil (p<0,001), a religião (p=0,003), a depressão (p<0,001) e a diabetes (p=0,013). Dentre as mulheres sexualmente ativas, a disfunção sexual associou-se positivamente também com a idade (p<0,001), a depressão (p<0,001) além do uso de medicamento ansiolítico (p=0,011). Conclusão: Houve alta prevalência de disfunção sexual entre as mulheres participantes do PROSAPIN, e os fatores associados foram: idade, o estado civil, a religião, a depressão, diabetes e uso de medicamento ansiolítico
2013
Erika Flauzino da Silva
Estudo em laboratório sobre a detecção do hábito alimentar para fases imaturas do carrapato Amblyomma cajennense (FABRICIUS, 1787)
O carrapato Amblyomma cajennense é o principal vetor da bactéria Rickettsia rickettsii, agente etiológico da febre maculosa brasileira (FMB). Os estágios imaturos destes artrópodes apresentam uma baixa especificidade para os hospedeiros, o que aumentam as chances de parasitismo em humanos. Nos anos de 2011 e 2012, a vigilância epidemiológica da FMB registrou 140 casos confirmados e letalidade de 50 por cento , a maior incidência desde a regulamentação da notificação compulsória no Estado de São Paulo, em 2001. Além disso, estudos indicam uma tendência de aumento de expansão geográfica e de número de casos da doença. A fim de aplicar medidas de controle para a FMB, a determinação de quais são os animais hospedeiros para as fases imaturas do carrapato é importante para identificar as fontes de infecção de bactérias. Entre a literatura científica não havia estudos sobre esse escopo para carrapatos da América do Sul. Neste estudo, uma abordagem para a detecção de hábito alimentar de A. cajennense foi padronizada. Resumidamente, as amostras de sangue foram coletadas a partir das seguintes espécies animais: frango, capivara, codorna, cavalo, cobaia, coelho, cachorro e um camundongo silvestre. Em seguida, o DNA foi extraído a partir destas amostras e, depois, testado para a amplificação por PCR utilizando-se três pares de diferentes oligonucleotídeos iniciadores para mamíferos, três para aves e cinco para os dois grupos de animais, além de oligonucleotídeos iniciadores específicos desenhados para roedores cricetídeos. Os genes alvos 12S rDNA, cyt b e COI resultou em positivo para a detecção de fragmentos de DNA. Por PCR foi testado posteriormente em laboratório repastos de carrapatos. Carrapatos adultos de A. cajennense que foram alimentados em coelhos quando larvas e ninfas tiveram o intestino extraído e processado para o isolamento de DNA que foi submetido à amplificação por PCR. Foi possível identificar a espécie hospedeira em 66,7 por cento dos carrapatos testados. O sequenciamento de DNA e a comparação das sequências consenso com todas as sequências do banco de dados (GenBank) permitiu a identificação em nível de espécie (coelho), com base em 98 por cento de similaridade.
Determinantes sociais da mobilidade funcional e quedas em idosos do município de São Paulo: uma análise multinível
Introdução: Estudos recentes têm mostrado que as quedas são a causa externa de morte mais importante entre idosos, podendo levar a hospitalização, lesões, dependência e aumento nos custos dos serviços sociais e de saúde. O comprometimento da mobilidade funcional é um importante fator de risco para quedas, mas aspectos sociais, ambientais e comportamentais também podem influenciar nesse evento. Objetivo: Identificar os aspectos socioeconômicos e contextuais associados com a mobilidade funcional e quedas em idosos residentes no município de São Paulo. Métodos: Foram utilizados os dados do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), uma amostra representativa para os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos do município de São Paulo, em 2010. As variáveis dependentes do estudo foram a ocorrência de alguma queda no último ano e o comprometimento da mobilidade funcional, mensurada pelo teste Timed Up and Go (TUG). Fatores individuais (estado marital, raça/cor, anos de estudo e percepção de suficiência de renda) e contextuais (Índice de Gini, área verde/ habitante, taxa de homicídio e percentual de domicílios em favelas) foram analisados por modelos logísticos multiníveis. Resultados: De 1.190 idosos inclusos, 29 por cento relataram ter caído no último ano e 46 por cento apresentaram comprometimento da mobilidade funcional. Os fatores individuais socioeconômicos não apresentaram associação com a ocorrência de queda, mas ter 8 anos ou mais de anos de estudo foi um fator protetor para comprometimento da mobilidade em todos os modelos testados (OR: 0,56). Morar em subprefeituras com taxa de homicídio moderada apresentou associação com chance aumentada de cair (OR: 1.51, 95 por cento IC: 1.09-2.07). Moderada área verde se associou com maior chance de cair entre os indivíduos com 80 anos e mais (OR:2,63, 95 por cento IC: 1.23-5.60). Conclusão: Os resultados estão de acordo com a literatura em relação à associação das características do bairro de residência com quedas e mobilidade funcional em idosos. Estratégias voltadas para prevenção de quedas e de dificuldade na mobilidade funcional devem considerar aspectos sociais e ambientais de locais públicos. Este estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) (nº processo: 2014/06721-4)
2016
Carla Ferreira do Nascimento
Gestantes usuárias do Sistema Único de Saúde no município de São Paulo: desfechos de uma coorte de dados secundários
Introdução: Apesar da melhoria dos indicadores da saúde materno infantil, os valores ainda são elevados, com a mortalidade neonatal respondendo pela mortalidade infantil e a mortalidade fetal pela perinatal. Apesar da melhoria da cobertura e qualidade dos dados dos sistemas de informação sobre nascidos vivos e mortalidade, esses não tem informação sobre a morbidade materna e do recém-nascido, disponíveis no Sistema de Informação Hospitalar do SUS e possíveis de serem vinculadas. Objetivo geral: Descrever e analisar o seguimento da gestação, do parto e dos desfechos dos nascimentos das gestantes usuárias do SUS residentes no município de São Paulo no período de 12/08/2011 a 27/01/2013. Objetivos específicos: Obter uma coorte de gestantes SUS com dados secundários. Identificar internações anteriores ao parto por complicações obstétricas, prevalência das gestações de alto risco, tipo de saída após o parto (alta, internação e uso de UTI e óbito materno) e tempo de permanência da internação do parto, no período de 12 de agosto de 2011 a 31 de dezembro de 2012. Caracterizar e estimar a razão de morte fetal e a mortalidade neonatal precoce dos nascidos vivos extraídos da coorte de gestantes SUS no município de São Paulo no período de 01 de junho de 2012 a 27 de janeiro de 2013. Identificar se há diferença da sobrevida dos óbitos neonatais segundo peso ao nascer e uso de UTI neonatal. Identificar potenciais fatores de risco para a mortalidade fetal e neonatal precoce para os nascimentos da coorte de gestante SUS. Metodologia: Tratou-se de um estudo do tipo coorte retrospectiva de população fixa das gestantes cujos nascimentos (nascido vivo e óbito fetal) ocorreram em hospitais da rede SUS no município de São Paulo no período de 01 de junho de 2012 a 31 de dezembro de 2012. Foram investigadas as internações e as readmissões hospitalares das gestantes atendidas nos hospitais SUS ocorridas no período de 12 de agosto de 2011 a dezembro de 2012. Como também, as internações dos recém-nascidos ocorridas no período de 01 de junho de 2012 a 27 de janeiro de 2013. Foram realizadas vinculações pelo método determinístico e probabilístico dos documentos base dos sistemas de informação em saúde (SIS). Foram conduzidas análises de regressão de Cox e regressão logística. Resultados: Foram vinculados 98,3 por cento das declarações de nascidos vivos (DNV) à autorização de internação hospitalar (AIH), 93,8 por cento dos óbitos fetais às AIHs, 93 por cento das AIHs dos recém-nascidos internados ao par anterior e 99,4 por cento dos óbitos neonatais a sequencia de eventos ditas anteriores. 4,3 por cento das gestantes foram internadas prévio ao parto por complicações obstétricas. Maior mortalidade neonatal, razão de morte fetal e internação dos RNs após o nascimento ocorreram em gestantes que internaram por complicações obstétricas. No estudo de sobrevida, houve aumento da sobrevida com o aumento do peso ao nascer. RNs internados em UTIN após o nascimento tiveram menor sobrevida que os RNs não internados. Os fatores de risco para a mortalidade neonatal foram: o número insuficiente de consulta de pré-natal, nascer em hospital de baixo volume de parto, prematuridade, baixo peso ao nascer, APGAR 5º < 7, presença de anomalia congênita e internação após o nascimento. Não realizar consulta de pré-natal, prematuridade extrema (<32 semanas), baixo peso ao nascer (<2499 gramas) e presença de malformação congênita foram fatores de risco comuns aos óbitos fetais e aos neonatais precoces. Raça/cor da mãe não branca e idade materna igual ou superior a 35 anos foram fatores de risco somente para os óbitos fetais. Nascimentos em hospitais com baixo e médio volume de parto foram associados à maior mortalidade neonatal precoce. Conclusão: Gestantes que apresentaram complicações obstétricas tiveram desfechos mais desfavoráveis da gestação, como internação pós-parto e mortalidade materna. Foi identificada também nesse grupo maior readmissão hospitalar dos RNs, maior prevalência de prematuridade e de baixo peso ao nascer, maior mortalidade fetal e neonatal. Internação na gestação e readmissão hospitalar do RN deve ser considerada como eventos sentinelas no monitoramento da assistência ao parto e ao recémnascido na população SUS. A concentração dos óbitos nos primeiros dias de vida refletem as fragilidades na assistência aos recém-nascidos, a gravidade das doenças dos recém-nascidos, as más condições de nascimento e a presença de malformações incompatíveis com a vida. Óbitos fetais e neonatais precoces são influenciados pelas mesmas características proximais dos recém-nascidos. Esforços devem ser direcionados para o aumento da adesão às consultas de pré-natal nas unidades básicas de saúde, com atenção especial para as gestantes não brancas
2017
Bárbara Laisa Alves Moura
Aspectos taxonômicos e biogeográficos do gênero Psychodopygus Mangabeira, 1941 e sua importância epidemiológica (Diptera, Phlebotominae)
Considerando a divergência existente entre os taxonomistas, no que concerne à aceitação de Psychodopygus Mangabeira, 1941, como gênero ou em relação à composição do mesmo, pretende-se com este trabalho um reestudo desses aspectos. Assim, com base em caracteres morfológicos e de comportamento das formas aladas e principalmente das larvas, Psychodopygus é aceito como gênero. É formado por 96 espécies e 8 subespécies, as quais foram divididas em 6 subgêneros e dois grupos de espécies. Os primeiros são: Archamerimyia n. subgên., Nyssomyia Barretto, 1962, Psathyromyia Barretto, 1962, Psychodopygus Mangabeira, 1941, Trichophoromyia Barretto, 1962 e Viannamyia Mangabeira, 1941, e os dois últimos, grupo dreisbachi e grupo flaviscutellatus. São também apresentadas chaves de identificação para os subgêneros e grupos de espécies, baseadas em caracteres do 4º estágio larvário, de fêmeas e de machos. Quanto aos aspectos biogeográficos, o gênero parece ocupar, quase que exclusivamente, as regiões denominadas umbrosas de baixas altitudes. Essas compreendem três grandes áreas, a transandina, a hileana amazônica e a atlântica. O sistema andino parece funcionar como barreira à dispersão das espécies entre as duas primeiras áreas, assim como a vegetação heliófila dos cerrados em relação às duas últimas. Com exceção de Trychophoromya, todos os demais subgêneros e grupos de espécies, se fazem representar nas três áreas. Cerca de 77,0% das espécies são exclusivas de uma ou de outra área. Aproximadamente 10,0% das espécies são de ampla distribuição, isto é, ocorrem simultaneamente nas três áreas. Comenta-se também os dados da distribuição geográfica, conhecida para cada um dos subgrupos. Os subgêneros Psychodopygus e Nyssomya e o grupo flaviscutellatus assumem maior importância epidemiológica. Os dois primeiros estão estreitamente associados à antropofilia e veiculação de parasitos do complexo Leishmania braziliensis. Já o terceiro, dotado de caráter bastante rodontofílico, é responsabilizado pela transmissão de leishmanioses, cuja etiologia atribui-se a subespécies do complexo Leishmania mexicana. Considerações sobre medidas de alcance sanitário são apresentadas. Finalmente, são ventiladas algumas hipóteses de possíveis afinidades entre os subgrupos, a partir de evidências de caracteres larvais e ecológicos.
1981
Eunice Aparecida Bianchi Galati
Contribuição ao processo de avaliação do tratamento da tuberculose: estudo realizado em um centro de saúde de São Paulo
Esta pesquisa teve como objetivos: estudar uma sistemática para a avaliação dos resultados do tratamento da tuberculose e analisar alguns aspectos do programa de controle da endemia em uma Unidade Sanitária, antes e depois da implantação da quimioterapia de curta duração. O estudo foi realizado n\'um Centro de Saúde da Capital do Estado de São Paulo, abrangendo o período de janeiro de 1980 até agosto de 1981. Foram estudadas as coortes que iniciaram tratamento de longa duração nos meses de janeiro de 1980 a agosto de 1980 e aquelas que iniciaram o de curta duração de julho de 1980 at6 fevereiro de 1981, totalizando respectivamente 295 e 250 doentes. Do primeiro para o segundo período, a taxa de internações iniciais caiu de 33,6% para 15,2%; a taxa de abandonos caiu de 64,7% para 30,8% e a taxa de tratamentos completados com sucesso, aumentou de 33,3% para 69,1%. O reforço quantitativo na estrutura de pessoal e os treinamentos realizados permitem supor que a melhora observada não seja devida apenas ao novo esquema adotado. Foi definida uma sistemática para a colheita e utilização de dados, com base no Fichário de Controle de agendamentos. O método de avaliação de resultados por coortes mensais, com correção das observações incompletas, pareceu o mais adequado.
1982
Margarida Maria Mattos Brito de Almeida
Acessibilidade de pessoas com deficiência a serviços de saúde em áreas do Estado de São Paulo - Projeto AceSS
Introdução. As pessoas com deficiência são um grupo populacional que em virtude de suas condições de saúde, apresentam algumas dificuldades na acessibilidade aos serviços de saúde. Objetivo. Estudar os problemas de acessibilidade de pessoas com deficiências físicas, visuais e/ou auditivas aos serviços de saúde em áreas do Estado de São Paulo, bem como as variações existentes segundo o tipo de deficiência e variáveis sociodemográficas. Material e Métodos. Estudo transversal com entrevistas domiciliares realizado em duas fases distintas. Fase I: entrevistas com 25 indivíduos com alguma deficiência, por meio de questionário qualitativo, com perguntas abertas, sobre os problemas de acessibilidade enfrentados no uso dos serviços de saúde, analisadas pelo método do \"Discurso do Sujeito Coletivo\". Fase II: entrevistas com 333 pessoas com deficiência, por meio de questionário fechado, que teve como tema os problemas de acessibilidade aos serviços de saúde, além de outros. Esse questionário originou-se dos resultados da Fase I, de perguntas encontradas em outras pesquisas e de conceitos da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Os dados foram analisados com frequências simples, Qui-quadrado, Qui-Quadrado de tendência e regressão de Poisson com variância robusta. O software utilizado na análise é o Stata 9.2®. Resultados. Os principais problemas de acessibilidade citados pelos entrevistados são o tempo de espera para ser atendido, a ausência de rampas, de estacionamento e de sanitários adaptados, de salas de espera com lugares insuficientes, falta de cadeira de rodas para pacientes e salas bloqueadas por obstáculos. Problemas de acessibilidade aos serviços de saúde foram relatados por 15,92 por cento dos 333 entrevistados. As pessoas com paralisia, amputação ou deficiências múltiplas, as pessoas com idade menor que 78 anos de idade ou as que precisavam de ajuda para ir ao serviço de saúde, tiveram mais problemas que os outros. Dos 160 entrevistados com alguma deficiência auditiva, 35 por cento relataram problemas para ouvir e entender o que foi dito pelos profissionais de saúde. Conclusões. Problemas como tempo de espera, ausência de rampas e/ou estacionamento, dificuldades de comunicação com os profissionais de saúde e acessibilidade às salas do serviço de saúde foram relatados pelos entrevistados. O estudo dos problemas de acessibilidade de pessoas com deficiência aos serviços de saúde pode ajudar na orientação e na criação de políticas e de programas específicos para esse grupo populacional, visando a melhoria da sua saúde geral e qualidade de vida, por meio do incremento da acessibilidade aos serviços de saúde
2010
Shamyr Sulyvan de Castro
Avaliação da contaminação por mercúrio em peixes do Alto Pantanal
Para avaliar a contaminação por mercúrio em peixes do Alto Pantanal, foram analisadas 74 amostras de peixes piscívoros das espécies Pseudoplatystoma fasciatum(cachara), Pirinanpus pirinanpu (barbado), Serrasalmus spp. (piranha), Pseudoplatystoma coruscans (pintado), Salminus maxillosus (dourado), Hemisorubin plathyrhynchos (jurupoca) e Surubin lima (jurupensém). Também foram analisadas amostras de sedimento e de material particulado em suspensão na água. As amostras foram coletadas no ano de 2000. As determinações de mercúrio total foram feitas por espectrometria de absorção atômica sem chama utilizando-se gerador de vapor frio VGA 77 da Varian® acoplado a um espectrômetro Varian® 220. As concentrações de mercúrio total nas amostras de peixe variaram de 0,02 ug/g (piranha) a 0,80 ug/g (cachara). As concentrações de mercúrio em piranhas variaram de 0,02 ug/g a 0,50 ug/g, com média de 0,16 ug/g +/- 0,12. A área CBA 2 (baías do rio Cuiabá, região próxima de Barão de Melgaço) foi a que teve as concentrações mais elevadas em relação às áreas BNG 1 (rio Bento Gomes, Poconé) (p=0,003), PAG 3 (rio Paraguai, Taiamã e Descalvado) (p=0,002) e PAG 5 (rio Paraguai, confluência com rio Cuiabá) (p<0,001), mas não houve diferença entre CBA 2 e PAG 4 (rio Canafisto, baía do Alegre e rio Alegre) . O teste de Spearman apontou correlação entre mercúrio em piranhas e mercúrio em material particulado em suspensão (r=0,561, p<0,001), e entre mercúrio em piranhas e mercúrio em sedimento da camada 0-2 cm; e não indicou correlações entre mercúrio em piranhas e mercúrio em sedimento da camada 0-10 cm, mercúrio em sedimento 0-10 cm e mercúrio em material particulado em suspensão, e mercúrio em sedimento 0-10 cm e concentração de matéria orgânica. As concentrações de mercúrio em peixes ficaram abaixo do limite máximo tolerável de mercúrio em peixes predadores, de 1 ug/g, estabelecido no Brasil. Em regiões não contaminadas, peixes de água doce apresentam teores de Hg de até 0,2 ug/g, 33% das amostras ficaram acima desse valor. Segundo a legislação brasileira, o pescado analisado não está impróprio para consumo humano, mas evidenciou-se um processo de contaminação que deve ser melhor estudado quanto aos fatores ambientais determinantes. É importante o monitoramento da região, já que estudos indicam que níveis abaixo de 1 ug/g já podem causar alterações importantes na saúde, dependendo da quantidade de pescado consumido.
Fatores associados à percepção de suficiência de renda entre a população idosa do município de São Paulo - Estudo SABE
Objetivos: Identificar fatores associados à percepção de suficiência de renda dos idosos do município de São Paulo, que relataram alguma vez ter trabalhado com remuneração e que possuíam renda. Métodos: A partir da entrevista com 2.143 idosos (60 anos e mais), em 2000, foram identificados 1.300 que não precisaram de ajuda para responder o questionário, com 13 pontos ou mais no MEEM (Mini Exame de Estado Mental), que exerceram algum tipo de trabalho remunerado, que tinham algum tipo de renda e que, esta coincidisse com a quantidade de fontes de renda informada. Utilizou-se na análise estatística o teste de associação para amostras complexas (Rao-Scott), análise univariada e multivariada de regressão logística, sendo construído através desta última o modelo final, ao nível de significância de 5 por cento . Resultados e discussão: Perceberam como suficiente sua renda, 31 por cento dos idosos. Aqueles com renda acima dos patamares analisados (per capita acima de ½ salário mínimo e renda total acima do mínimo necessário para atendimento das necessidades básicas) apresentaram maiores chances de percepção satisfatória. Independente da renda, os seguintes fatores estiveram associados com uma melhor percepção de suficiência de renda: ter trabalhado predominantemente em atividades não físicas, ter iniciado atividade laboral com 14 anos ou mais, possuir seguro/plano de saúde privado, ter duas ou mais fontes de renda, não ter passado por privação alimentar em seus primeiros 15 anos de vida, ter 70 anos ou mais, ter boa saúde e ser independente quanto à realização de atividades da vida diária. Conclusão: Situações herdadas, adquiridas ou impostas, assim como ações e decisões adotadas, durante o curso de vida, contribuíram para uma melhor percepção de suficiência de renda dos idosos
Perspectivas de controle da doença de chagas no estado de São Paulo
O controle da transmissão da doença de Chagas no Estado de São Paulo, delineado\" no presente estudo, foi equacionado e solucionado e não constitui, nos dias atuais, problema de saúde pública. O risco de ocorrência de casos agudos fica restrito a eventos isolados. Este quadro, portanto, autoriza otimismo, podendo-se supor que a atual incidência da doença no Estado seja próxima de zero e esperar que a incidência futura se mantenha nesse nível. Sob a ótica da transmissão vetorial, as ações de vigilância sobre as espécies peridomiciliares presentes atualmente no Estado têm respondido de maneira eficaz à possibilidade de infecção por Trypanosoma cruzi a partir do contato homem-vetor. A casa rural paulista não constitui hoje ecótopo adequado para a domiciliação de tais espécies de triatomíneos. O comportamento invasor, característico principalmente dos indivíduos adultos fêmeas, não tem passado despercebido à população que prontamente coleta e encaminha o inseto para análise utilizando-se, na maioria das vezes, do Centro de Saude local, numa integração da vigilância vetorial à rede de atenção à saude. O pronto atendimento a cada notificação serve de estímulo à participação. Em síntese, a vigilância vetorial está consolidada junto à comunidade e à rede de saúde local. A transmissão transfusional constitui fenômeno raro dadas as condições com que se pratica a hemoterapia no Estado de São Paulo. As ações de controle do sangue foram implementadas pela Secretaria de Saúde a partir de 1988, com índices de cobertura de seleção de doadores próximos de 100 por cento já em 1990. Mais recentemente, com a instalação da Hemo-rede estadual e a ampliação da cobertura dos Hemocentros incluindo os pequenos municípios, pode-se observar uma melhora da qualidade da hemoterapia. O descarte do candidato à doação quando procedente de área endêmica de doença de Chagas, tem contribuído para a obtenção de baixos percentuais de prevalência na triagem sorológica, situados próximos a 1 por cento . A transmissão congênita, entendida como mecanismo residual de perpetuação da infecção, ocorre em níveis discretos e pode ser perfeitamente controlada desde que se realizem provas sorológicas para doença de Chagas em gestantes com epidemiologia compatível e se pesquise a infecção na criança ao nascer e seguimento até os 6 meses. A persistência da positividade sorológica deve orientar para tratamento específico. Outros mecanismos de transmissão não apresentam qualquer importância no contexto da endemia. Resta ao sistema de saúde, portanto, olhar de frente os indivíduos infectados que merecerão atenção médica e previdenciária e cujo direito à saúde está garantido pela carta constitucional.
1994
Dalva Marli Valerio Wanderley
Dinâmica epidemiológica da tuberculose: um modelo matemático para simulação da efetividade do diagnóstico e tratamento dos casos
O presente trabalho desenvolve um modelo matemático multicompartimental, representado por um sistema de equações diferenciais ordinárias, da dinâmica epidemiológica da tuberculose. Modela-se, além do comportamento natural da doença, o tratamento de casos infectantes, enquanto medida de controle. Este último aspecto da modelagem leva em conta a duração do tratamento e a possibilidade de não adesão. Entre as premissas do modelo, destacam-se a ausência de resistência do bacilo ao esquema terapêutico, a mesma probabilidade de entrada em tratamento de casos já tratados anteriormente e casos novos e a ausência de circulação do HIV. Utilizou-se dados publicados na literatura para a estimativa dos parâmetros. A simulação da introdução da doença em uma população de suscetíveis leva ao equilíbrio, não tendo sido reproduzido o comportamento de queda duradoura da morbidade, observada em várias regiões do mundo. A simulação do tratamento dos casos infectantes produz uma redução acelerada da morbidade nos primeiros anos após o que, dependendo da taxa de entrada em tratamento, pode levar tanto a um novo equilíbrio, como produzir uma queda lenta, porém constante da morbidade tuberculosa, com tendência à extinção. O abandono do tratamento reduz a sua efetividade epidemiológica, mas na maioria das situações simuladas não anula completamente o impacto desta atividade de controle, mesmo no caso de taxas de abandono muito elevadas. É possível produzir soluções em que o abandono do tratamento leve a um prejuízo epidemiológico em relação ao comportamento da doença na ausência de intervenção, alterando-se parâmetros. O modelo proposto é apenas uma etapa na modelagem da dinâmica de transmissão da tuberculose na ausência de intervenção, se prestando, no entanto, enquanto instrumento lógico para simulações da efetividade de programas de controle.
1994
Maria Lucia Fernandes Penna