RCAAP Repository

A cidade e o governo dos homens: sobre o lastro educacional da urbanidade contemporânea

A presente investigação teve como alvo analítico a aliança discursiva entre cidade e educação na atualidade, a partir de um tipo de problematização fundamentado no pensamento de Michel Foucault. Mais especificamente, foram mobilizadas as teorizações foucaultianas sobre representação, verdade, história e genealogia com o intuito de embasar os procedimentos de endereçamento às fontes eleitas. Para tanto, partiu-se da constatação de uma profusão de iniciativas voltadas ao fomento de medidas de cunho pedagógico/formativo nos mais diversos contextos e equipamentos urbanos contemporâneos, nos quais práticas educacionais são flagradas permeando variadas circunstâncias externas ao âmbito exclusivamente escolar. Destaca-se aí a proposta internacional de cidade educadora, a qual constitui a temática fulcral em análise neste estudo, sendo considerada um horizonte tão apregoado quanto fugidio de articulação entre determinadas formas de organização citadina e modos de existência possíveis aos seus habitantes. Com base na hipótese de que o lastro educacional de iniciativas dessa ordem não seria algo exclusivo do tempo presente, optou-se por perspectivar tal horizonte segundo um plano estratégico composto por outros modelos de cidade considerados ideais em diferentes momentos históricos. Assim, a primeira parte da investigação consiste na forja de um cenário analítico que se debruçou sobre alguns projetos urbanos ficcionais; dentre eles, quatro referências históricas receberam destaque: A República, de Platão; Utopia, de Thomas More; Cidade do Sol, de Tommaso Campanella; e Walden II, de Burrhus Frederic Skinner. Visou-se, então, esquadrinhar cada um desses modelos idealizados, adotando como vetor de leitura os arranjos educacionais a eles atinentes. Uma vez percorrido tal cenário e tendo em vista o que ele permitiu esboçar acerca das relações entre educação, modos de governar e processos de subjetivação, o problema urbano-educativo contemporâneo foi examinado mais detidamente. Em uma espécie de jogo de claro-escuro analítico, tratou-se ora de interpelar as racionalidades que o sustentam, ora de confrontá-lo com os ideais de cidade previamente analisados, de modo que, ao final, fosse possível posicioná-lo no bojo de um panorama complexo no qual se emaranham tanto linhas acirradas de governo das condutas, quanto irrupções heterotópicas imprevistas pelas idealizações que o promovem. Mediante tais ponderações críticas, pode-se admitir que a educação ocupa um lugar paradoxal no encontro entre a cidade e seus homens, sendo convocada, ao mesmo tempo, a afiançar o exercício da liberdade e a sujeitá-lo aos intentos do ordenamento urbano.

Azanha e a democratização do acesso ao ensino: 1967-1970

Este trabalho visa compreender a concepção de democratização do acesso ao ensino em José Mário Pires Azanha a partir dos vínculos entre ação política e elaboração conceitual. Em uma época marcada pela crença de que a escola pública é, sob todos os aspectos, um fracasso, um exame da obra teórica e do percurso político de Azanha pode se mostrar relevante para pensar e fomentar políticas públicas capazes de dar um significado à escolarização pública. Seus mais de 50 anos como professor e administrador público, sua atuação política e grande parte de sua obra foram dedicadas à defesa de uma concepção específica de democratização do ensino, e seus exercícios teóricos sobre o tema baseiam-se nas medidas que levou a cabo em sua passagem pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo durante a administração Ulhôa Cintra (1967-1970). Ao estudar a noção de democratização do ensino veiculada por Azanha e sua implantação, este trabalho lança luz sobre a delicada questão das políticas educacionais durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Mesmo num contexto de crescente cerceamento das liberdades políticas, o Estado adotou políticas visando democratizar o direito social à educação. Esta pesquisa procura matizar o papel dos inúmeros atores envolvidos nesse complexo cenário, que envolveu diferentes projetos pedagógicos e posicionamentos políticos entre um aparato fortemente repressivo e as diversas modalidades de resistência que se desenhavam ao longo do processo.

Year

2012

Creators

Ariam José Ferreira de Castilho Cury

Leitura e escrita de professores: socialização e práticas profissionais

Levando em conta os processos de socialização familiar, escolar e profissional de um grupo de professores, este trabalho propõe examinar as repercussões de um programa de formação continuada nas práticas de ensino de docentes da Educação Básica, em particular, nas práticas de leitura e escrita. O referencial teórico do estudo vale-se de conceitos de Bourdieu, Lahire, Elias e Setton. Por meio do exame de diferentes arranjos das experiências socializadoras dos professores, o trabalho indaga sobre as possibilidades de transformação das práticas docentes, sobretudo, as relacionadas ao ensino da leitura e da escrita pelo fato de serem as que foram priorizadas e enfatizadas pelo referido programa de formação. O trabalho empírico, de cunho etnográfico, adotou como procedimentos metodológicos a observação participante e a entrevista semiestruturada. Oito professores (seis mulheres e dois homens) egressos do PEC-Municípios programa especial de formação de professores de modelo semipresencial que diplomou alguns milhares de professores em nível superior foram acompanhados. As análises desenvolvidas indicam que a transformação do habitus docente por meio de dispositivos de formação continuada só se faz possível mediante determinadas condições. Professores submetidos a outras experiências formativas similares, oferecidas pelas secretarias de educação e/ou buscadas pelos docentes em outros contextos, apresentam maior probabilidade de alterar suas práticas pedagógicas. Por outro lado, a força da experiência socializadora secundária pode funcionar como um fator que dificulta fortemente a mudança das práticas, favorecendo a manutenção de uma perspectiva tradicional do ensino. Igualmente, a falta de condições objetivas no contexto profissional acarreta conflitos entre crenças e disposições para agir por parte dos professores, resultando em práticas frustradas ou apropriações superficiais que funcionam como travas à transformação do habitus docente. Assim, a socialização profissional, diante das forças das socializações primárias e secundárias e das condições contextuais de trabalho, no máximo, pode enfraquecer certas disposições docentes contribuindo, desse modo, para a formação de um habitus pedagógico híbrido (Setton). A respeito das práticas de leitura e escrita dos professores, as análises revelam que as potencialidades do modelo de formação continuada em foco são limitadas para uma transformação de maior abrangência, uma vez que atingem tão somente as práticas de ler para estudar e de ler para fins de trabalho. A hipótese inicial de investigação relacionada a um possível fomento do gosto pela leitura e escrita por prazer nos professores cursistas, tendo como pano de fundo a simetria invertida, não foi confirmada. Tais práticas apareceram cerceadas, principalmente, pela falta de condições objetivas de cunho material e temporal. O exame dos processos que configuram o habitus dos professores ao longo da vida, nos vários espaços de socialização em que foram formados, confirmou os pressupostos das teorias da ação, porém, indicando a necessidade de novos aprofundamentos que possam conduzir a uma compreensão maior sobre os determinantes da prática pedagógica e suas relações com o capital cultural herdado do campo familiar e escolar. No nível micrológico em que as análises foram desenvolvidas, foi possível chegar a um resultado que vai ao encontro da tese da reprodução cultural de Bourdieu: professores que nutrem o gosto por ler e escrever são melhores docentes quanto ao estímulo do gosto pela leitura e escrita de seus alunos.

Year

2014

Creators

Eliana Scaravelli Arnoldi

Políticas educacionais em Angola: desafios do direito à educação

Este estudo examina o modo como a política pública educacional vigente efetiva a educação como um direito fundamental previsto na Constituição da República de Angola e em tratados internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O fundamento deste exame se assenta no princípio de que no Estado Constitucional, a ação deste resume-se na proteção e na garantia dos direitos individuais e coletivos conducentes a conferir valor a dignidade humana. Por isso, à educação, como política pública social e tarefa do Estado, é-lhe conferida créditos, quando garante o acesso de todos à ela, e a garantia da qualidade da educação oferecida aos que acedem a escola. Contudo, o sistema de educação em Angola, em diferentes momentos históricos, não assentou a sua ação necessariamente no princípio do Estado Constitucional, apesar de, depois de 1975, a educação ter sido formalmente declarada um direito. Esse processo histórico construiu obstáculos à efetivação do direito. Com a LBSE (Lei 13/01) teve início a implementação da política educacional que visou ajustar a educação à opção de Estado Democrático de Direito no contexto da segunda República. Mas, essa lei não fundamenta a educação como um direito a efetivar. Todavia, a materialização da política no sistema de educação revela a presença de ações que respondem às premissas do direito à educação. Tendo esses elementos em consideração, definimos como objetivo do estudo a compreensão de como é articulada a política em educação, especificamente no seu conteúdo, na efetivação do acesso e do atendimento como garantia do direito à educação em Angola. O referido estudo sustentou-se na análise documental e em referentes bibliográficos. Na categoria de documentos, analisamos alguma legislação de cada período abordado no estudo, isso serviu para situar alguns ideais políticos formalmente vigentes nessas realidades. Acreditamos que a análise da educação e das políticas públicas que a sustentam precisam considerar o ambiente econômico, político e o quadro legislativo em que ela se insere. Pudemos compreender que os obstáculos à efetivação do direito à educação resultam de opções de políticas anteriores que o prejudicaram a favor do cumprimento de agendas de governo instituídos. A política de educação corrente acentua a sua ação em dar resposta às ideias que sustentam a mundialização da educação, estas baseiam-se essencialmente nos fundamentos gerais da agenda mundial da educação. Isso concorre para a homogeneização na concepção de políticas locais. Esta perspectiva reduz o foco da abordagem que se espera que lide com as questões concretas da realidade local visando a superação destes obstáculos históricos à efetivação do direito, por isso, demandando o alargamento da arena da definição da agenda educacional para a participação efetiva da sociedade civil e prescindindo do centralismo vigente dominado pela ação do governo e das agencias internacionais.

Year

2014

Creators

Isaac Pedro Vieira Paxe

Por uma história econômica da escola: a carteira escolar como vetor de relações (São Paulo, 1874 -1914)

O estudo da materialidade da escola, no caso, a carteira escolar, evidencia como questões de ordem econômica e administrativa estão relacionadas à estrutura e ao funcionamento das instituições de ensino. Por isso, neste trabalho, investiga-se a emergência da escola como mercado consumidor, do Estado como comprador e da indústria de mobiliário escolar, em São Paulo, entre o fim do século XIX e início do século XX. Para tanto, as fontes utilizadas foram inventários de bens, ofícios e correspondências de diretores e professores solicitando material escolar (documentos produzidos no interior da escola); notas fiscais de compra e/ou importação, catálogos de fábricas de móveis escolares, almanaques, recibos de fornecedores (fontes vinculadas ao comércio e à indústria escolar); manuais e revistas pedagógicas que discutem a relação entre a carteira escolar e a saúde dos alunos, os fundamentos higiênicos, pedagógicos, antropométricos e ergonômicos do mobiliário escolar (documentos produzidos por especialistas); relatórios, lista e livros de almoxarifado (documentos provenientes da administração pública). A opção metodológica consistiu em tomar a carteira como fio condutor da análise, seguindo os rastros deixados na cultura material escolar, como artefato escolar e industrial; na história econômica, como mercadoria; na história conectada, como objeto que circula entre países e culturas. Tal procedimento mostrou que a indústria teve uma contribuição significativa na expansão e criação das condições físicas da escola elementar, moderna e de massa. Elucida também os desafios econômicos e administrativos do Estado, como prestador de serviço público, para suprir materialmente a escola e permitir a implantação da obrigatoriedade escolar. Como resultado, evidenciou-se que as carteiras escolares são vetores de relações pedagógicas, higiênicas, culturais e comerciais. Portanto, além de um objeto escolar, ela é também um artefato industrial mostrando que a história e a configuração da escola não se definem somente no interior dela, mas na relação com o mundo externo, em dimensões econômicas, políticas e sociais. Isso implica em que as políticas públicas e práticas administrativas voltadas para a escola na sua formulação e introdução não podem levar em conta somente as questões internas à instituição. A compreensão da e a interferência na cultura escolar demandam atenção também às relações extraescolares.

Year

2014

Creators

Wiara Rosa Rios Alcântara

Movimentos e práticas epistêmicos e suas relações com a construção de argumentos nas aulas de ciências

Este trabalho tem como objetivo central compreender as possíveis relações entre os movimentos e práticas epistêmicos produzidos pelo professor e por alunos e a construção de argumentos. Apresentamos a análise das interações discursivas entre uma professora de ciências e alunos de sétimo ano do ensino fundamental ao longo de uma sequência didática intitulada O problema do costão rochoso. A metodologia foi feita a partir de uma abordagem qualitativa e envolveu a análise das transcrições das aulas registradas em vídeo. A sequência didática se baseou no modelo de teorias competitivas, em que são apresentadas hipóteses que podem sustentar uma afirmação. Além de escolher qual hipótese seria a adequada, os alunos deveriam também elaborar justificativas sobre as escolhas que fizeram. As análises realizadas abrangeram a identificação das relações entre tempo e práticas científicas escolares ou de exposição processual; identificação dos movimentos e práticas epistêmicos oriundos da interação entre professora e alunos; identificação do produto e processo argumentativos e análise comparativa dos discursos orais e escritos dos alunos durante a resolução do problema proposto. Foi possível constatar que as práticas epistêmicas muitas vezes especificam o movimento epistêmico evidenciando o objetivo a que ele se propõe, pois o mesmo movimento epistêmico pode estar relacionado a práticas epistêmicas diferentes. Na segunda parte da aula foram encontradas práticas epistêmicas referentes à construção de argumentos, as quais se relacionam principalmente à avaliação do argumento e à verificação da interpretação de dados/evidências. Os alunos de maneira geral, por meio das interações discursivas, e do papel mediador do professor, foram capazes de identificar os dados, organizar as informações e escolher uma das hipóteses, e produziram discursos orais e escritos, os quais apresentaram características bastante distintas em relação a estrutura e composição.

Year

2014

Creators

Mariana Guelero do Valle

Os bens comuns intelectuais e a mercantilização

Esta tese investiga as relações entre os bens comuns intelectuais e a mercantilização, e os efeitos dessas relações, principalmente para o universo da educação. Seus objetivos centrais são: apresentar as principais teorias sobre bens comuns, e avaliá-las quanto à capacidade de detectar e equacionar essas relações, e quanto à adequação para abordar bens comuns intelectuais; analisar se bens comuns e mercantilização são incompatíveis, e até que ponto podem coexistir; verificando, em casos existentes de novos modelos de negócio que envolvem o compartilhamento de bens intelectuais, se a mercantilização pode surgir a partir de bens comuns intelectuais, e indicando, em caso positivo, se o saldo resultante de compartilhamento e mercantilização nesses diferentes modelos é socialmente positivo ou não. A análise da mercantilização é feita de uma perspectiva conceitual (baseada em Marx e Polanyi) e histórica, abordando a transição do feudalismo ao capitalismo (e sua relação com o cercamento dos bens comuns), a ascensão do neoliberalismo, e o avanço de mecanismos específicos de mercantilização de bens intelectuais (a propriedade intelectual e os sistemas de travas tecnológicas). A análise das teorias de bens comuns centra-se numa leitura crítica da corrente mais consolidada: a neoinstitucionalista, formada em torno dos trabalhos de Elinor Ostrom; avalia-se seus principais méritos (a refutação empírica da noção da tragédia dos comuns; e a identificação dos design principles frequentes em bens comuns longevos), pressupostos (como o individualismo metodológico e a teoria da escolha racional) e limitações (como pontos cegos em relação a poder e desigualdade, e a restrição à escala local). Discute-se ainda autores que apresentam abordagens alternativas, como aqueles mais próximos ao marxismo (e, em particular, Hardt & Negri), e as complementaridades e contrapontos que oferecem à corrente neoinstitucionalista, particularmente quanto às limitações nela identificadas. Em relação à aplicação dessas teorias a bens intelectuais, detecta-se a ampla influência da categorização econômica de bens (utilizada na corrente neoinstitucionalista), e argumenta-se pela necessidade de uma categorização mais dialética; recomenda-se ainda uma nova abordagem para o princípio das fronteiras. Discute-se as relações da educação com a mercantilização e os bens comuns, apontando os efeitos de ambos sobre as possibilidades de acesso e apropriação de bens intelectuais. Por fim, a tese apresenta e analisa cinco casos relacionados a novos modelos de negócio que envolvem compartilhamento de bens intelectuais. Conclui-se que em todos eles há a possibilidade de surgimento de mercantilização, de diversas formas, mas que o saldo resultante de mercantilização e compartilhamento varia; esses casos são, do melhor ao pior saldo: o crowdfunding (em que pode ocorrer mercantilização dos serviços de intermediação); o acesso aberto ouro (em que há mercantilização do espaço de publicação, que assume forma particularmente nociva nos periódicos predatórios); dois casos ligados à participação de empresas no desenvolvimento do software livre (o Android e os patches ck, em que os projetos podem ser direcionados na gestão e pelo custeio de modo a favorecer estrategias comerciais de empresas); e a publicidade comportamental online (em que ocorre uma mercantilização de segunda ordem: a da audiência).

Year

2014

Creators

Miguel Said Vieira

A atividade pedagógica da educação física: a proposição dos objetos de ensino e o desenvolvimento das atividades da cultura corporal

A atividade pedagógica da Educação Física lida com as atividades da cultura corporal, tal qual o jogo, a luta, a dança, a mímica e a ginástica, que podem ser consideradas os objetos de ensino dessa disciplina. A tese defendida neste trabalho é que os objetos de ensino da Educação Física devem ser elaborados a partir da explicação e sistematização das dimensões genéricas que constituem as atividades da cultura corporal. O objetivo da pesquisa foi elaborar uma proposição sobre os objetos de ensino da Educação Física como uma expressão do processo histórico de desenvolvimento das atividades corporais. O trabalho fundamentou-se nos princípios teórico-metodológicos da Teoria Histórico-Cultural e do Materialismo Histórico e Dialético, notadamente no princípio referente à análise lógico-histórica dos fenômenos. Essa fundamentação nos permitiu investigar as condições necessárias para o surgimento das atividades da cultura corporal (sua gênese), bem como as relações essenciais que as constituem (sua estrutura). Destaca-se dessa investigação duas sínteses principais. A primeira delas refere-se às dimensões simultaneamente humanizadora e alienadora das atividades da cultura corporal, dimensões essas que se encontram sintetizadas no fenômeno Esporte como a mediação central que permitiu o desenvolvimento dessas atividades em nossa sociedade. A segunda síntese refere-se às proposições das relações essenciais da cultura corporal às quais denominamos de: criação de uma imagem artística com as ações corporais, controle da ação corporal do outro e domínio da própria ação corporal. Essas relações, sistematizadas em seus aspectos gerais, constituem-se nos objetos de ensino da Educação Física, passando a ser o principal critério pedagógico para a determinação dos conteúdos e modos de organização do ensino dessa disciplina em uma perspectiva histórica e cultural da formação humana. A elaboração da tese nos permite afirmar que a Educação Física deve ensinar essas relações gerais e essenciais, que se manifestam nas muitas e diferentes formas das atividades da cultura corporal e que expressam modos de ação e capacidades humano-genéricas desenvolvidas pela prática social. Essa conceituação da Educação Física permite que ela contribua para concretizar o objetivo geral do trabalho educativo escolar a partir da especificidade de suas atividades: a formação do pensamento teórico dos estudantes e professores.

Year

2014

Creators

Carolina Picchetti Nascimento

A dialética dos conhecimentos pedagógicos dos conteúdos tecnológicos e suas contribuições para a ação docente e para o processo de aprendizagem apoiados por um ambiente virtual

Esta pesquisa investigou as contribuições do conhecimento pedagógico do conteúdo tecnológico para as competências docentes e para o processo de aprendizagem apoiado por ambiente virtual. Caracterizou-se como uma investigação qualitativa, de natureza descritivo-exploratória, em um contexto didático, com observação participante e abordagem netnográfica. Foi realizada na disciplina Ambientes de Aprendizagem Cooperativa Apoiados em Tecnologias da Internet: Novos Desafios, Novas Competências (EDM 5053), pertencente ao quadro de disciplinas da área de concentração da pósgraduação Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares, da Faculdade de Educação da USP. Foram utilizadas técnicas qualitativas de coleta de dados (diário de bordo, formulários de avaliação processual, registros em chats, fóruns de discussão, entrevista e grupo focal). Os dados coletados foram analisados sob a perspectiva das categorias de autopoiese, metacognição e interação, relacionadas no horizonte interpretativo de um processo de ensinoaprendizagem, que dialogou com o modelo explicativo da ação docente Technological Pedagogical Content Knowledge (TPACK). Dentre as contribuições, destacou-se o entendimento de que os objetivos didáticos são alcançados na inter-relação com os estudantes e na relação dialética teoria e prática, e não pela mera presença de infraestrutura tecnológica disponível nas aulas. As propostas pedagógicas devem estar abertas ao diálogo, à criatividade e à negociação de sentidos para a construção cooperativa do pensamento autônomo e exercício da liberdade. A ação docente experiente representou uma variável que reiterou a exigência de metodologias e estratégias representadas também pelo modelo TPACK, isto é, a articulação dos diferentes saberes, com destaque para o conhecimento pedagógico de conteúdo tecnológico. Este se constituiu em um aspecto orientador de reflexões necessárias para elaboração de propostas pedagógicas, apoiadas por tecnologias digitais de informação e de comunicação (TDIC), ou seja, fundamentou a importância do conhecimento docente em diálogo com o conhecimento discente, na seleção das tecnologias, no estudo de suas melhores estratégias metodológicas, qual sua intencionalidade educativa, com vistas ao atendimento das expectativas de aprendizagem e demandas de conhecimentos específicos, articuladas aos conteúdos tecnológicos. A continuidade de pesquisas na área pode levar à compreensão aprofundada do tema e impulsionar a pedagogia apoiada por TDIC, com a finalidade de enriquecer experiências docentes e discentes.

Year

2014

Creators

Rosária Helena Ruiz Nakashima

A pedagogia universitária e suas relações com as políticas institucionais para a formação de professores de educação superior

A pesquisa apresentada tem como objetivo geral analisar a Pedagogia Universitária e suas relações com as políticas institucionais para formação de professores da Educação Superior com vista à constituição de seu campo de conhecimento. A questão central observa como o campo de conhecimento da Pedagogia Universitária se constitui e se relaciona com as políticas institucionais para a formação de professores da Educação Superior. Como objetivos específicos, busca-se analisar as concepções de formação subjacentes aos programas e espaços formativos oferecidos pelas instituições; estudar a relação entre a formação e o desenvolvimento profissional docente; compreender as motivações e legitimidades que levam as instituições a oferecer esses programas e espaços formativos; e conhecer suas estrutura e organização. Privilegiamos a fecundidade do movimento e da mudança na apreensão do objeto de pesquisa com aproximação ao método dialético, realizando a análise de conteúdo a partir de Bardin (2011). Nossas abordagens epistemológica e metodológica nos conduziram a trabalhar com as categorias analíticas: Universidade, Pedagogia Universitária e Políticas de formação de professores para a Educação Superior, amalgamando-as com as categorias temáticas apreendidas do campo empírico: Política, Cotidiano e Espaço. Sustentando nosso estudo, recorremos às contribuições de Vázquez (2011), Kosik (1976), Santos, M. (2012a 2012b), Heller (2008), Bobbio (2000), Demo (1994), Veiga (2006, 2012), Cunha, M. I. (2006, 2010), Pimenta (1998), Almeida (2006, 2011, 2012), Almeida e Pimenta (2009) e Pimenta e Almeida (2011). Os dados revelaram que a Pedagogia Universitária é um campo de conhecimento profícuo e em expansão que contribui na proposição de políticas institucionais de formação de professores da Educação Superior, sobretudo quando se trata da formação pedagógica. Contudo, nesse cenário, as instituições desenvolvem a formação de professores através de ações, programas e espaços formativos tensionados pela ausência de políticas estatais contributivas para o delineamento do perfil do professor da Educação Superior. Nesses espaços e programas, a concepção de formação subjacente resvala na formação permanente e continuada vinculada ao desenvolvimento profissional docente. Porém, essas concepções convivem paritariamente com noções da formação tradicional e técnica, nas quais a didática aparece como o domínio de ferramentas para ensinar, além desta ser confundida com a pedagogia. As relações entre a formação e o desenvolvimento profissional docente ainda não são realidade concreta, nos programas e espaços formativos investigados, pois as instituições têm seus programas centrados nas necessidades institucionais e pouco contemplam as fases da carreira docente. As motivações e legitimidades desses programas estão relacionadas às demandas oriundas do contexto de mudanças, especialmente a expansão da Educação Superior. Ademais, as instituições se empenham em promover a participação do professor no estabelecimento desses programas estruturados e organizados, privilegiando a reflexão coletiva sobre as práticas desenvolvidas no cotidiano das instituições e no dia a dia da sala de aula.

Year

2014

Creators

Alda Roberta Torres

Práticas de leitura no teatro de grupo: aproximações com a escola

Visando estabelecer pontos de contato entre leitura, teatro e educação, a presente pesquisa tem por objetivo investigar práticas de leitura envolvidas nos processos criativos de grupos de teatro, especificamente a Cia. Paidéia de Teatro (Cia. Jovem Paidéia) e a Cia. Antropofágica (PY). Essas duas companhias integram o atual teatro de grupo paulistano e foram contempladas pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo ao longo de algumas edições. Na primeira etapa da pesquisa, foram realizadas observações e entrevistas junto aos grupos teatrais em questão (pesquisa de campo). Ainda nessa etapa foi feito um levantamento no Acervo do Fomento ao Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. A leitura dos projetos dos demais grupos de teatro contemplados pela lei forneceu maior compreensão das ações culturais decorrentes do programa, bem como do panorama teatral delineado por essa política pública. A busca pelo entendimento do funcionamento do programa e dos grupos fomentados, aliada aos estudos sobre leitura nos grupos de teatro (in locu), forneceu subsídios que sustentam uma de nossas hipóteses de pesquisa: a configuração de práticas culturais dentre elas, a relacionada à leitura advinda do Programa de Fomento ao Teatro. A partir da coleta de dados e do referencial teórico adotado, a figura do líder surge como fundamental na condução das práticas coletivas de leitura, cuja mediação, segundo a análise, fundamenta-se em formação literária, cultural e política ampla por parte dos diretores teatrais. Elementos como o improviso, o trabalho com o corpo, com a escuta, e a formação pela ação e pela experiência, entre outros aspectos, também trazem implicações às práticas de leitura. Por fim, nosso estudo está centrado na ideia de que as práticas teatrais de leitura desenvolvidas por grupo que mantêm, como integrantes em seus núcleos de formação, jovens em faixa etária escolar possam iluminar as práticas escolares de leitura.

Year

2014

Creators

Mei Hua Soares

Os desafios de definir um bom professor e a herança das escolas alternativas paulistanas: perspectivas de coordenadoras pedagógicas e professoras do ensino fundamental I

Diante de diferentes qualificações usadas na descrição do que seja um bom professor do ensino básico, a presente pesquisa se propõe a analisar a maneira pela qual determinadas professoras e coordenadoras pedagógicas são capazes de identificá-lo na sua prática profissional. Foram investigadas, na literatura especializada, as teorias pedagógicas e psicológicas que regularam as concepções de docência escolhidas pelas escolas em diferentes momentos. Tendo em vista a atual hegemonia da chamada \"pedagogia das competências\" e sua definição do \"bom professor\" como \"professor competente\", este estudo buscou compreender a forma pela qual essas ideias são consideradas no contexto investigado. O estudo tomou como ponto de partida, para tanto, as ponderações de José Pires Azanha e a leitura desse autor de obras de Israel Scheffler, Ludwig Wittgenstein e de Alain (Émile Chartier). Como base empírica, foram escolhidas profissionais de escolas privadas da cidade de São Paulo, que, pelas suas trajetórias na história recente, são consideradas como referência. Trata-se de estabelecimentos que se originaram, direta ou indiretamente, das \"escolas alternativas\" dos anos 1970, procuradas por pais que se autoconsideravam intelectuais de esquerda e contrários à ditadura militar. Foram selecionadas escolas cujos projetos pedagógicos buscam se contrapor às chamadas escolas tradicionais, seja pela ambição por mudanças na relação professor-aluno, seja pelo destaque ao papel ativo dos estudantes. Realizou-se, nessas escolas, uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, por meio de entrevistas semiestruturadas com as coordenadoras do Ensino Fundamental I e com as professoras por elas apontadas como \"boas professoras\". Nas entrevistas, foram identificados os referenciais teóricos e as influências que, desde o movimento da Escola Nova até o chamado construtivismo, norteiam tanto o trabalho das coordenadoras pedagógicas como o das professoras. Constatou-se que as \"boas professoras\" buscam preservar seus pontos de vista, mesmo diante de condições adversas colocadas pelo mercado competitivo e da inserção dessas escolas na lógica neoliberal e empresarial, em que discursos de competência e de excelência ganham primazia. Notou-se descrições amplas, difusas e de grande labilidade na definição do que professoras e coordenadoras consideram como \"bom professor\". As professoras, todavia, mostraram-se menos preocupadas com a coerência, conscientes da complexidade de seu ofício e do caráter retórico do uso das teorias. Na comparação entre as entrevistas das coordenadoras pedagógicas e das professoras, constatou-se que, em função de exigências diferentes e das posições diversas que ocupam nas organizações escolares, evidenciam-se algumas visões conflitantes e percepções opostas. No caso das coordenadoras, esses discursos contraditórios enaltecem simultaneamente, como característica do bom professor, a autonomia e a capacidade de submissão a uma pedagogia de resultados e aos controles avaliativos, com uma demanda do professor ser tradicional e inovador ao mesmo tempo.

Year

2014

Creators

Patrícia Rossi Torralba Horta

A inserção de bebês na creche e a separação como operador simbólico

Este trabalho de pesquisa consiste num esforço teórico com foco de interesse na dinâmica subjetiva vivenciada por bebês em processo de estruturação psíquica ao serem defrontados com a primeira experiência escolar, tendo como referencial a conexão psicanálise e educação. O motivo que inspirou a investigação foi a busca por um pouco de entendimento em relação aos impasses vivenciados nessa passagem. O choro e a dificuldade experimentada pela mãe em confiar seu bebê a alguém desconhecido conferem à entrada da criança na creche um caráter traumático, pois representam uma separação, no discurso corriqueiramente utilizado. Para isso, encontrou-se suporte nas noções de constituição psíquica e de campo do Outro e nas operações lacanianas de alienação e separação que permitiram estabelecer um contraponto entre estruturação subjetiva e noção de desenvolvimento infantil. A partir dessa abordagem e da noção lacaniana de separação como uma operação fundante do psiquismo, foi possível propor uma leitura dos impasses que permeiam a inserção da criança no mundo público como mais uma vicissitude do vir a ser um sujeito.

Year

2014

Creators

Andréia Aparecida Oliveira de Souza

Remuneração dos professores da rede privada de educação básica na cidade de São Paulo

O objeto de estudo desta pesquisa foi o perfil e a remuneração de docentes que atuaram até 2018 na rede privada de educação básica na cidade de São Paulo. Dado o crescimento do setor privado na educação básica na última década, o objetivo foi analisar as características dos docentes atuantes na iniciativa privada de ensino e sua remuneração, e investigar se houve alteração destes aspectos no período. No primeiro estágio da pesquisa, realizou-se uma análise da produção acadêmica cujo tema central foi a escola privada no Brasil. Foram encontradas produções acadêmicas nas áreas de Sociologia da Educação, Administração Escolar, Política e Economia da Educação e Economia. Posteriormente, buscaram-se trabalhos sobre remuneração de professores da educação básica e, a partir disso, lançou-se mão de uma revisão bibliográfica por meio de pesquisas no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e nas revistas da área de Educação de grande circulação nacional. Na análise dos dados da cidade de São Paulo, utilizou-se o Censo Escolar de 2007 a 2018, para examinar e apontar as mudanças ocorridas no setor privado dentro do período, levando em consideração as matrículas e os estabelecimentos para cada distrito da cidade de São Paulo e realizando o georreferenciamento desse crescimento. Por fim, o trabalho trouxe à tona a discussão sobre o perfil e a remuneração dos professores da rede privada no Brasil e na cidade de São Paulo, utilizando como fontes de dados o Censo Escolar, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Concluiu-se que a rede privada de ensino na cidade de São Paulo é muito heterogênea em termos de demanda e oferta e, consequentemente, atraiu e contratou diferentes tipos de perfil de professores, o que também se refletiu em remunerações diversificadas. Mais especificamente sobre a remuneração dos professores do setor privado, em âmbito nacional e na cidade de São Paulo, os valores variaram, a depender de três fatores: a) jornada semanal; b) formação do professor; c) etapa educacional em que o professor leciona. Este último fator foi uma característica marcante na análise salarial do setor privado em contraposição ao setor público, pois esta diferença salarial está presente nas Convenções Coletivas de Trabalho que determinam o piso da categoria e nos dados de remuneração observados por meio da Rais. Para o piso da categoria na cidade de São Paulo, verificou-se que o aumento real foi muito pequeno em duas décadas de análise. Sobre os valores médios, houve aumento salarial para todos os professores da rede privada em todos os níveis, fruto do crescimento econômico observado no período. No entanto, constatou-se imensa heterogeneidade salarial nessa rede em vista dos altos coeficientes de variação e pelos valores de posição (quartis e mediana) calculados a partir dos dados coletados, confirmando a complexidade e diversidade do setor privado da educação básica.

Year

2020

Creators

José Quibao Neto

Frederico Carlos Hoehne e a Seção de Botânica: caminhos cruzados entre as ciências, os cientistas e as instituições (1917-1938)

A Seção de Botânica foi um setor criado no Instituto Butantan a partir do desenvolvimento do Horto Oswaldo Cruz e de atividades dedicadas ao estudo da flora. De 1917 a 1938, esteve sob a coordenação do botânico Frederico Carlos Hoehne e vinculou-se também, em distintos momentos, ao Museu Paulista e ao Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal. Ao analisar a implementação da Seção de Botânica durante a gestão de Hoehne, tendo em vista as finalidades das instituições às quais se atrelou e as práticas científicas instituídas, a pesquisa examina simultaneamente mobilidades e permanências: por um lado, a Seção de Botânica transitou entre instituições do Estado de São Paulo, ocasionando a mobilidade de suas coleções, de seu responsável e de parte dos funcionários; por outro, o fato de Hoehne ter permanecido na função por quase vinte anos possibilitou certa continuidade das práticas científicas, não obstante as particularidades e propósitos de cada local. O estudo se vincula às discussões que dizem respeito à história das ciências, que ampararam teórica e metodologicamente a investigação, e entende como central o reconhecimento de que o conhecimento científico é produzido em contextos precisos de tempo e lugar. As instituições científicas e as práticas científicas ajudaram a delimitar a análise, que enfocou a atuação de Hoehne em instituições paulistas. No tocante às práticas científicas, foram privilegiados o desenvolvimento e a organização de hortos botânicos, as excursões científicas, o herbário, as exposições de botânica, as consultas e permutas realizadas, as publicações e também a conservação da Estação Biológica do Alto da Serra. Tais atividades foram permeadas pelas preferências e convicções de Hoehne sobre a botânica, a sociedade e o papel do Estado, com destaque para a valorização da flora indígena, a defesa dos estabelecimentos científicos públicos, a educação da população e o engrandecimento da Nação. A aliança entre ciência e política ajudaram-no a trilhar uma trajetória em São Paulo, onde foi parte importante na consolidação de um projeto que culminou na criação de novos lugares e instituições em que a botânica teve papel primordial. A pesquisa indica que Hoehne e a Seção de Botânica tiveram suas trajetórias intimamente interligadas e foram fundamentais no processo de institucionalização da botânica em São Paulo.

Year

2020

Creators

Luna Abrano Bocchi

Motivação e aprendizagem no ensino superior: um estudo de caso com estudantes do curso de licenciatura em física da UFPI

No cenário educacional brasileiro, o curso de Licenciatura em Física enfrenta uma situação crítica e dramática, repercutindo num insuficiente número de egressos anuais de licenciados para atender as demandas do mercado de trabalho vigente em todo país. Como parte deste contexto, o curso de Licenciatura em Física da Universidade Federal do Piauí (UFPI), apresenta altos índices de retenção, de reprovação e de evasão, resultando em baixas taxas de sucesso dos estudantes no curso. Este trabalho dedicou-se a fazer uma investigação sobre a relação entre condicionantes sociais, trajetórias escolares e de vida, indicadores de fluxo no curso e perfil motivacional de estudantes no curso de Licenciatura em Física, diurno e noturno, da UFPI. Para isso, se utilizou de uma metodologia com abordagem qualitativa e orientação interpretativa, através de três estudos complementares e articulados entre si, envolvendo os níveis de análise: individual, estrutural e institucional. Dessa forma, a análise focou, além de aspectos cognitivos, também os afetivos e interpessoais dos estudantes. Os instrumentos de produção de dados foram questionários, entrevistas e pesquisa documental. Na análise e discussão dos dados, foram utilizados fundamentos da sociologia da educação de Bourdieu, de Lahire e de Vicent Tinto. O suporte teórico para discussão dos resultados produzidos foi o cenário nacional da Licenciatura em Física em outras Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, variáveis motivacionais e bases das teorias sociocognitivas da motivação para a aprendizagem. Como resultado do estudo, buscou-se: construir variáveis que retratam o perfil socioeconômico cultural dos pesquisados, identificar disposições individuais singulares que são favoráveis ao constructo da motivação, construir categorias que definissem suas trajetórias acadêmicas e sua relação com os indicadores de fluxo (taxas de reprovação, retenção, evasão e de sucesso no curso); e a interrelação de todos esses parâmetros com a motivação do estudante para o curso. Da articulação realizada nos três níveis analíticos, constatou-se que, por um lado, os dois primeiros indicam que há muitas razões para os estudantes terem baixos níveis de motivação para o curso, fora do controle dos professores e da instituição de ensino; por outro lado, a análise institucional mostrou que há algumas ações ao alcance da instituição, que poderiam melhorar, sensivelmente, a experiência dos alunos na UFPI e com provável redução de desmotivados para o curso. As conclusões apoiadas nas análises individual e estrutural foram complementadas e reforçadas pelas conclusões da análise institucional. Embora não se tenha feito uma pesquisa completa sobre o sistema social da UFPI nos diferentes cursos, acredita-se ter sido suficiente para os propósitos da investigação. Por fim, constatou-se que a situação dos estudantes de Licenciatura em Física da UFPI, é uma realidade local que pode ser descrita pelo panorama nacional, indicando que a tendência das trajetórias desses estudantes estão intimamente relacionadas ao seu perfil socioeconômico cultural e às suas disposições para a ação, competências e apetências, resultando numa baixa qualidade motivacional para o curso, que por sua vez, repercute nos indicadores de fluxo no curso, confirmando de que o sistema de ensino vigente, de um modo geral, contribui para a reprodução social das classes e não para a mobilidade da classe social.

Year

2020

Creators

Maria de Nazaré Bandeira dos Santos

Avaliação da aprendizagem nas representações de licenciados indígenas, professores em exercício na educação básica, em São Gabriel da Cachoeira-AM

Este trabalho resulta de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, realizado com estudantes indígenas de um curso de licenciatura, professores em exercício na educação básica em São Gabriel da Cachoeira, município do Amazonas. O estudo aqui proposto teve por objetivo analisar as representações e possíveis modelos de avaliação da aprendizagem que emergiram das manifestações desses estudantes, coletadas por meio de entrevista semiestruturada. O estudo das representações teve como referência a teoria das representações de Lefebvre, a qual nos permitiu perceber como o fenômeno poderia ser elaborado e vivenciado pelos sujeitos da pesquisa, com base nas informações que nos revelaram da realidade social investigada e da compreensão que tinham do contexto onde se inserem. Dessa perspectiva e em diálogo com a teorização a respeito da avaliação de cunho formativo, procuramos distinguir contradições e tendências relacionadas ao fenômeno, conforme formulações de autores como Barlow; Fernandes; Hadji; Perrenoud; Lopes & Silva. Desses autores, detivemo-nos, sobretudo, na distinção que pontuam quanto a dois modelos diferentes de avaliação da aprendizagem: um, que atende a um aspecto de quantificação e classificação, e outro, que envolve a ideia de emitir um juízo qualitativo e aproximativo da realidade. Como resultados relevantes deste estudo, destacamos que a avaliação da aprendizagem é concretizada pela preocupação dos licenciandos com a aprendizagem dos alunos, pela necessidade de constantemente rever seu trabalho pedagógico, e, principalmente, pelo compromisso assumido com e por toda a comunidade, pais, lideranças indígenas, alunos e professores, com uma educação diferenciada, contextualizada e que atenda suas necessidades. Concluímos que as representações dos licenciandos a respeito da avaliação da aprendizagem, apesar de não assumirem ainda grande estruturação e sistematização, estão, numa tendência relevante, intensamente, ancoradas em elementos característicos da perspectiva formativa da avaliação.

Year

2016

Creators

Josiani Mendes Silva

Quando a favela é extensão da universidade: o Programa Avizinhar em meio às relações entre a USP e a São Remo

O propósito da presente pesquisa é apresentar uma reconstrução dos elementos da história do Programa Avizinhar (1998 2007), sua origem, suas transformações e as circunstâncias de seu fim, e verificar a percepção dos atuais moradores da Favela São Remo, contígua ao câmpus Butantã da Universidade de São Paulo, os quais foram o público alvo deste projeto, a respeito das relações que se estabelecem entre a São Remo e o espaço universitário uspiano, compreendendo a variedade de olhares que lançam sobre essas interações a partir de suas memórias sobre os contextos que originaram o Avizinhar e outros elementos presentes nessa relação. Na primeira parte, foram analisados documentos diversos do Programa Avizinhar, como relatórios anuais oficiais do Programa; ofícios; cartas; e-mails; diários de campo dos educadores e estagiários; ocorrências internas da Guarda da Universidade de São Paulo (USP); entre outros, e realizadas entrevistas com profissionais da CECAE (Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária de Atividades Especiais) e do Avizinhar que ajudaram na interpretação dos dados obtidos nos documentos. Na segunda parte, foram realizadas entrevistas com moradores da São Remo, ex-participantes do Programa. Estas tiveram como objetivo, a partir das memórias desses participantes, compreender: sua perspectiva acerca dos sentidos de sua participação no Avizinhar, quais as relações que eles tinham com a Cidade Universitária antes e durante a participação, o que pensam sobre a forma como se estabelecem as relações entre a USP e a São Remo e que percepção eles têm de fatores que os aproximam e que os distanciam da USP enquanto universidade. Foi verificado que o Avizinhar pode ser compreendido em dois níveis, um do ponto de vista institucional e outro na perspectiva dos funcionários, ou seja, apesar dos inúmeros conflitos existentes em torno desta iniciativa no interior da universidade, a equipe que esteve envolvida com o seu desenvolvimento forjou uma maneira inovadora de relação estabelecida entre a USP e a favela vizinha ao câmpus. As entrevistas com os participantes trazem suas memórias sobre o Avizinhar, que destacam a importância da sociabilidade no Programa, revelam que o câmpus era entendido e frequentado principalmente como um espaço da lazer, no entanto eles eram recebidos de forma hostil pela guarda universitária. Ainda a partir das memórias dos jovens, foi possível identificar marcas que as interações entre a USP e a São Remo deixaram no território, bem como verificar a complexa percepção dos participantes com relação à USP, que é ao mesmo tempo ameaça e aliada e que se encontra perto mas ainda inacessível.

Year

2016

Creators

Mariana Machado Rocha

O que os jovens têm a dizer sobre ciência e tecnologia? Opiniões, interesses e atitudes de estudantes em dois países: Brasil e Itália

A presença eminente e a forte influência da C&T na sociedade atual são inevitáveis e impulsionam mudanças nos diferentes espaços-tempos. Dessarte, a aprendizagem e/ou atitudes e valores atribuídos ao ensino de ciências constituem espaço privilegiado na construção da cidadania, autonomia, pensamento e ação na forma como os estudantes incorporam e se beneficiam de tais transformações. Desse modo, o desencanto dos jovens pela ciência e pela carreira científica é algo que tem preocupado professores, acadêmicos e elaboradores de políticas públicas em diversos países na atualidade. Diante dessa constatação, conhecer o perfil dos jovens brasileiros por meio da expressão de seus interesses, opiniões e atitudes acerca da ciência e tecnologia é uma forma significativa de relacionar não só a relevância que ela tem para eles, bem como sua influência sobre suas preferências, tanto no que se refere à opção acadêmica como à profissão, sendo este o objetivo desta pesquisa, que tem como enfoque ampliar e aprofundar essas discussões, inserindo-se no campo da avaliação educacional de natureza quantitativa. Por se tratar de uma tendência internacional, e no intuito de não só compreender, mas buscar conexões entre a construção de indicadores de percepção pública em diferentes contextos socioculturais e como estes influenciam na construção de valores sobre a ciência e tecnologia, a Itália se configurou no cenário de um estudo colaborativo. Os dados da pesquisa foram coletados pelo instrumento Barômetro, em uma amostra de representação nacional, nos dois países, baseados em um plano amostral. Participaram do estudo: Brasil - 78 escolas e 2.368 jovens; Itália - 99 escolas e 3.503 jovens. Os dados encontrados apontam que brasileiros e italianos possuem grande interesse pelos temas científicos abordados na escola, principalmente os que estão relacionados com o corpo humano e seus cuidados, especialmente entre as meninas. De modo geral, os jovens de ambos os países possuem atitudes positivas com relação aos desafios ambientais e visão otimista quanto ao futuro no sentido de que, devido à C&T, haverá melhores oportunidades para as gerações futuras e serão encontradas curas para doenças. Apesar de demonstrarem interesse pelas aulas de ciências, em ambos os países, tanto meninas quanto meninos têm pouca aspiração em serem cientistas e trabalhar com tecnologia avançada. Embora apresentem atitudes positivas e otimistas com relação à C&T, a busca por informações científicas em centros de ciência e museus é incipiente e restrita a uma pequena parcela da população, especialmente no Brasil. O hábito informativo mais utilizado pelos jovens brasileiros, no geral, é assistir à TV, e, especificamente, entre as meninas, dedicar-se à leitura de livros e revistas especializadas. Os italianos assistem a documentários e utilizam a internet para a busca de informações científicas. Tais dados apontam que jovens de países em desenvolvimento, como os brasileiros, estão se alinhando às posturas e atitudes de jovens europeus, embora as diferenças socioeconômicas e culturais, bem como os sistemas de ensino, o currículo e as decisões pedagógicas apresentem diferenças marcantes. Em 2007, por meio do instrumento ROSE, pesquisadores brasileiros buscaram conhecer a percepção dos jovens com relação à C&T, dessa forma, como o Barômetro, em sua construção, considerou a permanência de elementos que pudessem estabelecer relações entre as posturas dos jovens, cabe ressaltar que, por meio de uma série histórica, observou-se que, dentre os sete anos transcorridos entre a primeira coleta de dados e esta pesquisa, os dados indicam que as atitudes positivas com relação à ciência aumentaram e apresentam esperanças de que a ciência venha a contribuir com o mundo e com as explicações que a ciência ainda não descortinou. Entretanto, mantiveram o interesse em conhecer assuntos sobre doenças como o câncer e principalmente no fato de aprender a tratá-las, mas demonstram desinteresse em conhecer doenças como HIV/AIDS e como controlá-la. Com relação ao meio ambiente, mantiveram a percepção de que as pessoas continuam se preocupando pouco com os problemas ambientais e que cada um pode influenciar de forma positiva na proteção ambiental. Continuam demonstrando grande interesse pela ciência escolar e pelas aulas de ciências, porém, de forma significativa, caiu o interesse em seguir carreiras científicas e que lidem com tecnologia. Diante dos resultados apresentados, espera-se abrir caminhos para futuras investigações, bem como fomentar reflexões com base em um diálogo entre as vozes manifestas, currículos, livros didáticos, professores e elaboradores de políticas públicas.

Year

2016

Creators

Jaqueline Pinafo

Dificuldades de leitura de alunos dos anos finais do ensino fundamental em uma escola de zona rural baiana: representações de professores de diferentes disciplinas

Esta pesquisa teve por objetivo analisar as representações de professores de diferentes disciplinas frente às dificuldades de leitura de alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, a partir de suas falas e ações em sala de aula. O trabalho, de cunho antropológico-dialético, baseia-se, por um lado, na teoria das representações de Henri Lefebvre, para quem as representações, formando-se entre o vivido e o concebido, são contemporâneas da constituição do sujeito, e, por outro, na literatura educacional que discute como os professores adquirem novos conhecimentos e reconstroem seu fazer pedagógico a partir da reflexão na e sobre a prática (SCHÖN, SHULMAN, TARDIF, NÓVOA, MIZUKAMI, PENIN, ANDRÉ, entre outros). Além desse referencial, a análise baseia-se ainda na literatura que discute o ensino da leitura e da escrita como um processo contínuo a ser trabalhado por todos os professores da escola (SOARES, KLEIMAN, NEVES, NIZA, SOLÉ, entre outros). A pesquisa configura-se como um tipo de estudo de caso e foi norteada pela abordagem qualitativa. Para a coleta das informações, foram conjugados alguns procedimentos metodológicos, como a entrevista semiestruturada, a observação em sala de aula e a utilização de instrumentos como o questionário, o roteiro de entrevista e documentos escritos. Os sujeitos envolvidos foram professores experientes, licenciados nas respectivas áreas de atuação, que lecionavam em uma escola da rede municipal de ensino, na zona rural de um município do estado da Bahia. A análise dos dados fortalece a importância de pesquisas na sala de aula para compreendermos algumas questões da vida cotidiana escolar que interferem no processo de ensino, e, consequentemente, na aprendizagem dos alunos. Tal análise possibilita afirmar, à guisa de conclusão, que: a) aspectos da prática pedagógica mais enfatizados na formação inicial especificamente a valorização dos conhecimentos específicos da disciplina escolar são objetos de deslocamento, fortalecendo a importância dos conhecimentos pedagógicos; b) os docentes dos anos finais do Ensino Fundamental das diferentes disciplinas escolares, por meio de discussões e reflexões na própria escola, têm encontrado, ao lado de seus pares, alternativas para lidarem com as dificuldades de leitura dos alunos; c) a relação entre formação de professores com a leitura e a escrita nos anos finais do Ensino Fundamental configura-se como um conhecimento que faz parte da base de conhecimento dos professores construído ao longo do exercício da docência; b) estudos da vida cotidiana escolar e a partilha na escola, relacionada às necessidades de ensino identificadas suscitam elementos que podem conduzir os professores a buscar possibilidades de trabalho mais próximo da realidade concreta da sala de aula, subvertendo os limites disciplinares. Por último, o estudo traz à baila uma questão, reiterando a importância de o sistema de ensino propor diferentes medidas que possam melhor lidar com a concreta diminuição do tempo de aprendizagem dos alunos, tendo em vista a distância moradia - escola, especialmente nas escolas rurais.

Year

2016

Creators

Maria Vitória da Silva