RCAAP Repository
Configurações do ofício de aluno: meninos e meninas na escola
A pesquisa aqui apresentada é resultado de trabalho de investigação qualitativa que teve como objetivos principais compreender como alunos e alunas configuram seu ofício de aluno, em quais aspectos esta construção é mais simples ou mais complexa e difícil para as crianças, além de discutir em quais aspectos a configuração do ofício de aluno é semelhante ou diferente para meninos e para meninas. Com base principalmente em três eixos teóricos o conceito de configuração, definido por Norbert Elias, os referenciais teóricos e metodológicos fundamentados nos estudos das Relações de Gênero e os referenciais teóricos e metodológicos da Sociologia da Infância o trabalho de campo foi desenvolvido ao longo de um ano, acompanhando uma turma do segundo ano do ensino fundamental em uma escola pública da rede municipal de ensino da Cidade de São Paulo. As análises concentraram-se em três dos aspectos observados: relação da professora da turma e sua organização da aula com os meninos e as meninas, as relações dos alunos e das alunas com o espaço da sala de aula e com os materiais escolares e as relações entre pares. Quanto ao gênero, uma maior competição entre as meninas pareceu levá-las a um esforço maior para cumprir seu ofício de aluno de uma maneira que respondesse à escola como aquele aluno que tem boa compreensão dos conteúdos ensinados. Já os meninos pareciam conseguir equilibrar melhor os aspectos da conversa e da bagunça com a apresentação das tarefas e o aprendizado satisfatório. Os meninos e as meninas percebidas como maus e más alunas também demonstraram peculiaridades interessantes de transgressão e, ao mesmo tempo, de muita consciência de como deve ser um aluno na escola. As conclusões destas análises evidenciam que em nenhum momento as crianças são passivas no aprendizado de seu ofício como aluno, pelo contrário, os três aspectos da análise apresentados mostraram-se imbricados e carregados tanto de reproduções quanto de interpretações ativas das crianças em relação às regras, às rotinas, aos usos de objetos, à amizade, à ajuda mútua, dentre outros aspectos.
2015
Fábio Hoffmann Pereira
Cursinho popular do município de Jandira: uma experiência educacional visando ao acesso à educação superior
A expansão de Cursinhos Preparatórios para o Vestibular no Brasil, na última década, motivou este estudo. Indicadores de acesso e qualidade da Educação Básica e da Educação Superior iluminaram a compreensão do contexto de emersão dos mesmos. Com o objetivo de analisar a organização, a dinâmica e os resultados do Cursinho Popular de Jandira, bem como as representações que sujeitos específicos envolvidos, especialmente alunos e professores (estudantes da USP), detinham sobre ele, em 2003 e 2004, 750 alunos (e desses, 20 mais especificamente) e 21 professores, foram investigados. Apoiando-se na perspectiva etnográfica e interpretativa (Erickson, F., 1986), utilizou-se de instrumentais e métodos relativos à pesquisa qualitativa focalizando um estudo de caso. O Cursinho Popular de Jandira insere-se num projeto de Política Pública para a juventude de baixa renda e sua proposta curricular e de gestão prevê o resgate da auto-estima de seus alunos, além de promover a aprendizagem, a sua evolução educacional e profissional. Os professores são referência para os alunos e na condição de estudantes Universitários, o Cursinho apresenta-se como uma oportunidade de exercício da articulação entre a teoria e a prática, assim como de responsabilidade social. Os professores e os alunos definem o CPJ como um facilitador de acesso à Educação Superior, ainda que a cada ano, apenas 6% dos alunos conseguem ingresso e desses, 0,6%, em Universidade Pública. E notável, contudo, o papel prospectivo que o Cursinho exerce perante os jovens e de como é capaz de impulsioná-los na concretização de empregos, de novos cursos e de projetos de vida. O estudo ainda deixa pistas para novas investigações, tais como: o papel regulador dos Cursinhos, a sua legalização perante o sistema educacional e propostas de Políticas Públicas para a juventude.
2005
Sílvia Maria Dias Ruedas
Implantação do ensino fundamental de nove anos e mudança educacional: estudo de duas experiências escolares no município de Taubaté/SP
Esta pesquisa teve como objeto de estudo a implantação da política educacional do ensino fundamental de nove anos, tal como expressa na lei federal no. 11.274/06. Partiu-se da suposição básica de que mudanças educativas efetivas dependem da implicação dos atores diretamente envolvidos com as práticas no interior das escolas. O compromisso da investigação foi trazer possíveis respostas aos seguintes questionamentos: como procedeu-se à implantação da política de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos em um município do interior paulista? Que debates e medidas formativas foram considerados pela gestão educacional do município? No âmbito de duas unidades de ensino fundamental, que discussões sobre a política de ampliação foram feitas e quais processos formativos foram desenvolvidos? Como objetivos específicos constaram: investigar que medidas foram consideradas pela gestão local visando à implantação da política no município; averiguar qual a inserção e participação de professores na implementação dessa política em duas escolas públicas municipais do interior paulista; compreender quais ações formativas foram desenvolvidas na esfera local e, particularmente, nos contextos de trabalho, visando ao acolhimento da política educacional; identificar que impressões gestores locais e professores das unidades estudadas revelaram a respeito de suas vivências no processo de implantação. Como referenciais teóricos, o estudo baseou-se nos textos dos documentos legais, nos estudos de Michael Fullan e Andy Hargreaves para abordar os conceitos de inovação e mudança educativa e nas formulações a respeito da formação de professores e profissionalismo docente de autores como António Nóvoa, Gimeno Sacristán, Christopher Day, João Formosinho, Júlia Oliveira-Formosinho, Paulo Freire e outros. A investigação de natureza qualitativa (LANKSHEAR, KNOBEL, 2008) constou de um estudo de caso múltiplo (STAKE, 1999; YIN, 2005) envolvendo duas unidades educacionais públicas de Ensino Fundamental I e II pertencentes à Secretaria Municipal de Educação de Taubaté/SP. Com o estudo, constatou-se que a implantação do ensino fundamental de nove anos preteriu do debate e do envolvimento os profissionais da educação. Identificou-se que as escolas estudadas não estavam devidamente organizadas tanto no que tange à infraestrutura para receber o público mais novo de seis anos, como também no tocante às suas propostas pedagógicas. Os depoimentos das professoras indicam que elas foram conduzidas a pensar estratégias emergenciais para atender crianças de seis e sete anos que estavam no 1º e no 2º ano, respectivamente. Além disso, a adoção de um sistema apostilado não atendeu às necessidades daquela população escolar do ensino fundamental. Conclui-se que há um enorme abismo entre o texto da lei, as orientações emanadas da esfera federal e aquilo que aconteceu no nível da municipalidade e, mais, no nível das unidades de educação do município.
Um projeto civilizatório e regenerador: análise sobre raça no projeto da Universidade de São Paulo (1900 -1940)
Com 8 décadas de existência, a Universidade de São Paulo tem se firmado como o grande modelo de universidade para o país. Seja pelos dados que apresenta, seja pela afirmação de sua história, tem marcado seu espaço na sociedade brasileira como referencial na formação científica, na produção cultural e na produção de elites que não raramente assumem postos de comando no país. Apesar dessas conquistas, a USP apresenta um quadro anacrônico em relação à diversidade étnico-racial, sobretudo, no seu corpo docente, que tem sido formado com um perfil étnico-racial extremamente homogêneo. A pesquisa ora apresentada objetivou entender a existência e a configuração de um possível nexo entre o debate racial das primeiras décadas do século XX no Brasil, com o processo histórico da fundação da Universidade de São Paulo. Na presente análise, três figuras ocupam papel de destaque: o eugenista Renato Ferraz Kehl e dois dos personagens centrais na configuração do Projeto USP, nomeadamente, Júlio de Mesquita Filho e Fernando de Azevedo. A partir da análise do corpus documental, formado por correspondências e textos dos intelectuais citados, foi possível identificar que muitos dos personagens ligados à história da criação da USP participaram ativamente do debate sobre raça e eugenia apresentado nas primeiras décadas do século XX. A despeito do relativo silêncio do envolvimento do tema raça com a história da USP, a presente pesquisa tem por objetivo trazer o tema à tona, por entender ser um dado relevante para a compreensão do papel da universidade e sua relação com a questão racial brasileira. Tendo estado presente na visão dos fundadores da instituição, bem como moldado o modo como estes compreendiam sua percepção da sociedade, a concepção racial vigente na elite pensante brasileira do início do século XX, manifestou-se na constituição da identidade (e identificação) entre a USP e São Paulo e está presente em seus símbolos. Tal dado fornece fortes evidências de que há, nesta instituição, uma cultura racial, isto é, uma tradição em lidar com a raça de modo implícito, por metáforas. Este fato também corrobora com a ideia de que a questão racial perpassa a USP da mesma forma como perpassa a sociedade brasileira como um todo.
2016
Priscila Elisabete da Silva
Neurociência e educação: investigando o papel da emoção na aquisição e uso do conhecimento científico
Nos último anos, o interesse acerca da compreensão dos funcionamentos do cérebro e da mente teve um crescimento vertiginoso. A Neurociência foi capaz de fornecer um novo entendimento acerca de diferentes processos cognitivos e desvendar as propriedades neurais que dão suporte à linguagem, ao entendimento aritmético, à realização de cálculos etc. Tais avanço são ainda pouco conhecidos e, por conseqüência, pouco utilizados pelos pesquisadores em Educação. Nesta pesquisa estabelecemos um diálogo efetivo entre a Educação e a Neurociência Cognitiva ao investigar uma questão ainda em aberto no Ensino de Ciências: a persistência das concepções espontâneas em Física. Combinamos o arcabouço teórico-metodológico da Neurociência com testes tradicionais em Ensino de Física, que foram validados e vem sendo utilizados há mais de três décadas em pesquisas na área. Especificamente, investigamos se diferentes padrões de respostas psicofisiológicas associadas a reações emocionais estariam vinculados a diferentes formas de representação de situações e fenômenos do mundo físico. Assim, investigamos as repostas de condutância galvânica da pele geradas em Experts (físicos e engenheiros) e Novatos (estudantes sem formação científica) ao responderem questões de Física e Controle (Matemática básica). Nossos resultados revelaram que os dois grupos apresentaram padrões de respostas emocionais bastante diferentes para os dois tipos de conteúdo. Nossos resultados permitem avançar no entendimento do papel das emoções na tomada de decisão de estudantes em testes tradicionais de levantamento de concepções alternativas, revelando possíveis influências de elementos emocionais na persistência destas concepções. Desta forma, estabelecemos uma nova abordagem de pesquisas em Educação Científica abrindo novas possibilidades de entendimento do processo de ensino e aprendizagem.
A qualidade no Programa Universidade Para Todos (PROUNI) segundo os resultados de avaliação de cursos do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES)
A presente pesquisa teve como objetivo discutir a questão da qualidade dos cursos que ofertam bolsas no Programa Universidade para Todos (ProUni). O ProUni é uma política educacional desencadeada pelo Governo Federal e implementada em 2005. É voltada ao segmento de educação superior, possuindo como uma de suas premissas a democratização do acesso, realizando a concessão de bolsas de estudos para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas em todo o país. O referencial teórico foi construído em torno da revisão bibliográfica de quatro temas: a trajetória da educação superior brasileira; as políticas de avaliação, em especial o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES); a discussão conceitual sobre qualidade da educação superior; e o debate em torno da política do Programa Universidade para Todos. No desenvolvimento da pesquisa foram utilizados procedimentos metodológicos quantitativos, por meio da análise de dados sobre os cursos que ofertaram bolsas pelo ProUni no município de São Paulo-SP, no primeiro semestre de 2014, em relação aos resultados do Conceito Preliminar de Curso (CPC), considerado o indicador oficial de avaliação da qualidade dos cursos superiores brasileiros. Foi constatado nos resultados que, no caso do grupo de cursos ProUni selecionado, nem sempre apresentam-se resultados ligados à baixa qualidade (considerando como referência de qualidade o CPC). Verificou-se que há concentração predominante na faixa 3 do indicador, considerada satisfatória; entretanto, há menos cursos na faixa 4 e um número bastante reduzido na faixa 5, que são consideradas como as que possuem maior relação com os critérios de qualidade exigidos. Também, há uma parcela menor de cursos com ausência de conceito ou de reconhecimento, o que pode trazer incertezas sobre a qualidade ofertada. Além disso, a correspondência com os critérios de qualidade utilizados mostrou-se desigual quando foram consideradas variáveis como o grau acadêmico (bacharelados e tecnólogos), o tipo de bolsa ofertada (integral ou parcial) e a área de enquadramento dos cursos. Ao realizar uma comparação entre o grupo de cursos ProUni selecionado, em relação com os demais cursos avaliados pelo CPC, em São Paulo-SP e no Brasil, observou-se que os cursos ProUni acompanharam a tendência de resultados dos demais cursos, e em alguns casos, apresentaram inclusive resultados melhores em relação às faixas do CPC. Diante desse quadro, finaliza-se com uma discussão em torno dos limites e possibilidades da avaliação da qualidade dos cursos no ProUni, considerando a literatura sobre esses temas.
2016
Camila Yuri Santana Ikuta
O mundo moderno e a educação: uma reflexão acerca das contribuições de Hannah Arendt
A presente dissertação visa a pesquisar o sentido atribuído pela filósofa judia de origem alemã Hannah Arendt à educação no contexto por ela analisado da crise do mundo moderno, intencionando identificar e aprofundar os conceitos centrais que embasam a autora em suas reflexões. Mergulhando na vasta produção bibliográfica de Arendt, bem como em sua própria biografia e no devastador panorama histórico do século XX ocidental que emoldura a produção de suas obras, buscamos compreender qual o significado da educação para a filósofa e os motivos pelos quais ela afirma estar esta esfera pré-política tão cara e essencial à manutenção do mundo público e comum em uma crise profunda na modernidade. A recusa dos representantes do mundo adulto, pais e professores, em assumir a sua responsabilidade face à natalidade, ao nascimento de novos seres que devem ser introduzidos e apresentados ao tesouro do conhecimento humano produzido pelas gerações anteriores e a nós legado pela tradição, leva, na perspectiva arendtiana, a um deflacionamento desastroso da espessura simbólica que outrora revestia a fala dos docentes nas salas de aula. Com a quebra da tradição na época moderna, fruto dos eventos catastróficos do século passado, e a ascensão no cotidiano escolar de modernas teorias pedagógicas pautadas na psicologia, vemos a autoridade professoral, elemento sine qua non para o ensino e para a aprendizagem, naufragar a olhos vistos.
2019
Larissa Patrício Campos de Oliveira
\"Este interessante ramo do serviço público\": produção de reformas da instrução pública no Maranhão Imperial (1838-1864)
Esta pesquisa trata de reformas da instrução pública no Maranhão Imperial entre 1838 e 1864. A legislação é encarada simultaneamente como fonte e objeto de pesquisa. Assim, leis e regulamentos, tipologias textuais elaboradas para ordenar práticas, são tomados a partir de seu processo de produção. O termo ganha sentido amplo com a perspectiva do ciclo de políticas, bem como de orientações que consideram a legislação educacional pela distinção entre as etapas de elaboração e implementação. O prisma escolhido foi o das disputas entre grupos políticos da Província, entendendo que essa dinâmica se expressava por diferentes formas, entre elas, as reformas educacionais. Nesse sentido, recorremos a fontes diversas, além da própria legislação, como os relatórios de presidentes da Província e de Inspetores da Instrução Pública, a correspondência oficial trocada por essas autoridades, atas da Assembleia Legislativa Provincial e artigos publicados em periódicos. Escolhemos como eixo do estudo o Regulamento de 2 de fevereiro de 1855, que reorganizou o ensino primário e secundário da Província, expedido pelo Presidente Eduardo Olímpio Machado, que assumira o cargo em 1851. A partir dele, recuamos e avançamos temporalmente, abrangendo outras leis de instrução pública promulgadas no período, resultando em uma organização de capítulos que seguem a trajetória dessa reforma. Nos dois primeiros, observamos as condições de emergência do regulamento, sendo o primeiro dedicado a aspectos discursivos e legais desenvolvidos desde 1838, enquanto o segundo aborda as Leis n. 267 e 282, de 1849 e 1850, respectivamente, consideradas as primeiras duas reformas da instrução pública maranhense. O capítulo três se dedica ao Regulamento de 2 de fevereiro de 1855, esmiuçando seus aspectos principais e observando argumentos invocados para legitimar o projeto; são apresentadas, ainda, algumas críticas à figura de Olímpio Machado. Na sequência, o capítulo quatro aborda os primeiros anos após a promulgação da reforma, iniciando pela sua aprovação na Assembleia Legislativa Provincial. Observamos também as censuras feitas pelos oposicionistas e as tensões decorrentes de sua implementação e a relação entre a reforma e as leis de orçamento provincial. O capítulo cinco se debruça a primeira alteração no regulamento, realizada pela Lei n. 611, de 23 de setembro de 1861, sob a ótica das polêmicas intensas que algumas de suas disposições geraram nos debates parlamentares. Por fim, o capítulo seis remete a novas alterações na legislação educacional da Província, dentre elas, a Lei n. 719, de 1864, que promoveu um retorno quase integral ao Regulamento de 2 de fevereiro de 1855. O estudo possibilitou compreender as maneiras pelas quais as reformas da instrução pública eram produzidas no século XIX, bem como sua relação com a política, da qual eram um poderoso meio de expressão. Um aspecto que atravessa toda a análise é a tensão entre Presidência da Província e Assembleia Legislativa Provincial. A perspectiva adotada permitiu identificar a presença de redes de sociabilidade a partir das quais a legislação educacional era planejada, elaborada e implementada, em uma dinâmica na qual mobilizavam-se laços entre sujeitos, mas que também era repleta de conflitos.
2018
Alexandre Ribeiro e Silva
Autoavaliação institucional participativa da educação infantil da cidade de São Paulo
Este trabalho versa sobre a autoavaliação institucional das unidades de educação infantil paulistanas. O estudo envolveu creches, Centros de Educação Infantil e Escolas Municipais de Educação Infantil, vinculadas à Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo (SME) e analisou o percurso de implementação da Autoavaliação Institucional Participativa (AIP), que se configurou como política pública do município de São Paulo, de 2013 a 2016. Tratou-se de uma pesquisa educacional que recorreu a métodos quantitativo e qualitativo na produção e análise dos dados (GÓMEZ; FLORES; JIMÉNEZ, 1999), caracterizada como estudo de caso (YIN, 2005). Objetivou-se compreender como o processo da AIP foi vivenciado pelos participantes: possibilidades e benefícios, obstáculos e desafios. Para estabelecer um panorama da avaliação institucional da educação básica no Brasil e, em particular, da avaliação da educação infantil paulistana, e identificar os preceitos basilares orientadores, tomou-se como base argumentativa os estudos de autores como Bondioli e Sávio (2004, 2013); Freitas (2005, 2009, 2016), Sordi (2009a, 2009c, 2010), Campos e Ribeiro (2016, 2017) e Moro (2014, 2017). Para as questões ligadas à formação, gestão e liderança, estabeleceu-se diálogo com autores como Formosinho e Machado (2009), Pinazza ( 2013, 2014), OliveiraFormosinho (2002,2016), Day (2001) e Freire (1996,2016) entre outros. Os dados foram gerados mediante a aplicação de questionário e de entrevista semiestruturada a participantes da AIP, integrantes da amostra tomada neste estudo; a realização de observação participante de variados momentos formativos promovidos pela SME e a análise documental de materiais produzidos ao longo do processo. Os achados do estudo foram considerados a partir da análise de conteúdo nos termos de Bardin (2011). Sob a ótica das participantes, em relação ao processo de AIP instituído, o estudo identificou que: a ação foi muito valorizada; a maneira como SME implantou a autoavaliação e a ela deu continuidade foi legitimada; houve efetiva defesa da continuidade do processo e o processo de AIP foi considerado capaz de trazer transformações concretas para as práticas educativas. Identificou-se que os variados prismas de análise das participantes, geraram resultados diversos quanto aos benefícios, potencialidades e dificuldades da AIP. Como conclusões, podemos destacar que há uma grande demanda formativa, tanto para ser atendida pela própria unidade educacional, quanto pela SME, com vistas a fomentar a análise crítica da prática pedagógica desenvolvida, e promover situações de participação verdadeiramente democráticas dos atores envolvidos na AIP. Constatou-se ainda que essas ações formativas, voltadas ao desenvolvimento profissional das educadoras, devem ser constituídas e apoiadas pela SME, visando à qualificação do processo de AIP, em particular no que tange às transformações consideradas necessárias pelo grupo que efetivou a autoavaliação participada e elegeu ações prioritárias de intervenção no contexto educativo.
Tensões entre avaliação e regulação da educação superior no Brasil: mapeamento das instituições extintas a partir do Decreto nº 5.773/2006
A pesquisa, Tensões entre avaliação e regulação da Educação Superior no Brasil: mapeamento das instituições extintas a partir do Decreto nº 5.773/2006, investiga e lastreia os processos de supervisão da educação superior, instaurados a partir do Decreto nº 5.773 de 2006, localizando as Instituições de Ensino Superior (IES) extintas, entre os anos de 2006 a 2018. O trabalho de natureza qualitativa, com características exploratórias, apoia-se, para tanto, na análise da legislação brasileira sobre o tema da Educação Superior no Brasil, em dispositivos legais (leis, decretos, portarias, e normas) específicos desta modalidade de ensino, nos conceitos de avaliação, regulação e qualidade da educação superior, complementada por um eixo quantitativo, a partir do Censo da Educação Superior e informações registradas no Cadastro e-MEC do Ministério da Educação (MEC). Como resultado desta pesquisa, foi feito um mapeamento dos 213 casos de IES extintas identificadas ao longo de 2006 a 2018, dos quais 131, exclusivamente, decorrentes da aplicação do Decreto nº 5.773/2006. O mapeamento realizado neste trabalho permitiu, ainda, delinear o perfil prevalente desse grupo, caracterizando-se por serem IES com categoria administrativa privada e organização acadêmica do tipo Faculdade. Tal mapeamento permitirá a abertura de novas pesquisas sobre esta temática.
2019
Sheyla Aparecida Tavares Pedrucci
Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade: um caso clínico ou invenção pedagógica?
O presente trabalho procurou confrontar a produção acadêmica sobre transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, e os desdobramentos do laudo, no contexto familiar, escolar e da saúde. Para conhecer melhor os critérios de elaboração dos laudos do transtorno, foram realizadas leituras de prontuários, seguida de entrevista junto aos profissionais responsáveis pela elaboração do diagnóstico. No contexto escolar, a pesquisa se desenvolveu tendo como base primeiramente a observação dos alunos diagnosticados com o transtorno. Tal observação foi seguida de entrevista junto aos professores que atuavam diretamente com os alunos. Junto às famílias, a pesquisa se desenvolveu por meio de entrevista com os responsáveis juridicamente pelas crianças. O objeto de nosso estudo foi o atendimento que as crianças diagnosticadas com o transtorno do déficit de atenção recebem nos segmentos mencionados, ou seja, a família, a saúde e a educação. Dessa forma, a pesquisa incide no atendimento que é destinado a essa criança. No contexto educacional, com o intuito de perceber se o princípio de educação para todos é assegurado de fato, para tanto, quais ações são realizadas no interior das unidades de ensino a fim de assegurar tal princípio. No contexto da saúde, conhecer quais os critérios são utilizados na elaboração do laudo do transtorno e as bases de um possível tratamento. Nesse conjunto, entre as famílias, conhecer como as mesmas lidam com o transtorno em face aos esclarecimentos fornecidos tanto pelo serviço médicos, tanto pelos profissionais da educação. Enfim, qual a relação entre saúde, educação e família, na possibilidade de acesso, permanência e possível sucesso desse aluno no contexto escolar. Nos contextos pesquisados, é premente encaminhar a necessidade de uma formação educacional em que os professores, com seus respectivos conteúdos estejam no centro das ações desempenhadas pelos sistemas educacionais. Ainda, que ocorra maior aproximação entre os segmentos pesquisados, ou seja, que o conhecimento médico, não seja reinante aos demais segmentos (família e escola), que as praticas medicas não sejam hipervalorizadas, como sendo a única capaz de reconhecer, lidar e curar as crianças com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.
2009
Warley Carlos de Souza
Problematizando o uso dos jogos e das brincadeiras na educação das crianças de 0 a 6 anos: uma análise de propostas exemplares
Os jogos e as brincadeiras para ensinar conteúdos ocupam lugar de destaque nas práticas educativas institucionais, principalmente, naquelas voltadas para a educação das crianças de 0 a 6 anos. Diante do valor inconteste que assumem tais ações nas atividades diárias das crianças, esta pesquisa tem como objetivos problematizar como se constituiu e engendrou o discurso moderno sobre o papel educativo dos jogos e brincadeiras, quais sentidos foram atribuídos a eles e indagar sobre seus possíveis efeitos. Para tanto, o período histórico investigado está demarcado pelas fontes escolhidas: os dois volumes da Revista do Jardim da Infância, de 1896 e 1897 e, os três volumes do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, de 1998. A opção por tais fontes deve-se ao reconhecimento do valor que ambos os documentos imprimiram na definição dos contornos das práticas dirigidas aos pequenos, em especial aquelas que envolvem os jogos e brincadeiras. Reunimos, portanto, um conjunto de documentos, que pelas nossas hipóteses nos permitiriam identificar discursos e práticas que associassem os objetos em questão. Por tratar-se de pesquisa que buscou interrogar discursos/documentos de um dado momento do passado, procuramos olhá-los como sinais daquela época, como portadores de concepções e não como depositários de uma verdade. Neste sentido, analisamos o texto dos documentos em seu conteúdo voltado para a indicação de como organizar e conduzir as atividades com as crianças, utilizando jogos e brincadeiras com vistas a trabalhar conceitos, valores e modos de se comportar. Pelas análises empreendidas foi possível reconhecer que historicamente ciências como a Psicologia e a Pedagogia vêm reforçando a ideia de que os jogos e o brincar são importantes instrumentos para a aprendizagem. Assim, nossa investigação assinala que a compreensão atual sobre o papel educativo das brincadeiras e jogos e práticas a eles associadas exige o reconhecimento de sua historicidade, das estratégias de potencialização e de sua relação com os discursos. Além disso, é preciso considerar que a associação do adjetivo educativo às práticas lúdicas não aconteceu sem intenção, mas se constituiu como mais uma estratégia, envolvida em relações de poder e saber a qual visava o governo dos sujeitos infantis, que se entrelaçou e encontrou força dentro da visão de infância e das instituições destinadas à sua educação cunhadas na modernidade. Por tudo isso, as práticas ligadas ao brincar, ao brinquedo e aos jogos, dirigidas à infância, na medida em que são associadas às aprendizagens, podem cumprir a função de confinar a criatividade, evitar desestabilizações, construir subjetividades, governar os pequenos. Isso quer dizer que tais objetos e práticas, como produtos sociais e históricos, podem produzir o que nós somos e construir o ser social e cultural de uma maneira complexa e determinada.
2009
Aliandra Cristina Mesomo Lira
Ver depois de olhar - a formação do olhar do professor para os desenhos de crianças
Comumente os professores de educação infantil não possuem formação específica na área de arte. Este estudo apresenta alguns instrumentos teóricos e metodológicos usados para favorecer a compreensão dos desenhos de crianças em um programa de formação inicial de professores de educação infantil. Como o olhar atento e cuidadoso do professor no centro de educação infantil (CEI) é uma peça chave importante para se estabelecer as condições próprias para o desenvolvimento gráfico das crianças, é razoável esperar que esse olhar seja considerado como um elemento importante na formação inicial do professor. A metodologia desta pesquisa primeiramente descreveu o contexto de trabalho definido como formação inicial em serviço, ocorrido em São Paulo, no Programa ADI-Magistério, depois, apresentou referenciais teóricos - Luquet, Lowenfeld, Mèredieu and Kellogg que deram suporte ao material didático utilizado como apoio pelas auxiliares de desenvolvimento infantil (ADI) participantes do programa, e por último, analisou desenhos produzidos por crianças dos Centros de Educação Infantil. As análises produziram para os professores referências visuais mais ricas, definindo um ambiente próprio para as significações a partir do estabelecimento de relações mais interessantes e uma nova forma de comunicação com as crianças.
2009
Silvana de Oliveira Augusto
O ensino em uma abordagem CTS: evoluções nas concepções de futuros professores de Física
Neste trabalho de pesquisa, apresentamos uma análise das evoluções nas concepções sobre a abordagem de ensino baseada nas relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Neste contexto, realizamos uma pesquisa pautada pela abordagem qualitativa, no âmbito da formação inicial de professores de Física do nível médio. Os dados da pesquisa foram obtidos ao longo do desenvolvimento das disciplinas de Metodologia de Ensino de Física I e II ministradas no curso de Licenciatura em Física da Universidade de São Paulo. Utilizamos questionários, entrevistas e sínteses produzidas pelos futuros professores, que nos possibilitaram caracterizar as concepções em foco e selecionar sujeitos para dois estudos de caso. Estes sujeitos tiveram suas concepções analisadas segundo uma ordem cronológica e segundo parâmetros que embasaram as categorias de análise que foram definidas com base nos dados e também a partir da literatura pertinente. Três dimensões dentro do ensino em uma abordagem CTS foram consideradas: objetivos do ensino, diversidade temática e metodologia de ensino. A análise evidenciou que os futuros professores reelaboraram suas concepções iniciais ao longo da disciplina gradativamente, em movimentos de aproximação destas concepções a características de um ensino de Física em uma abordagem CTS. Com base em nossa pesquisa, ressaltamos a importância de que estejam presentes nos cursos de Formação de Professores de Física as discussões que envolvam as possibilidades das abordagens de ensino, renovação curricular, bem como a conscientização dos licenciandos sobre as evoluções de suas próprias concepções.
2009
Daniela Fiorini da Silva
Escrever sobre a própria prática: desafios na formação do professor da primeira infância
O trabalho analisa os registros escritos produzidos por quatro professoras que atuavam com dois grupos de crianças de 2 a 3 anos em um Centro de Educação Infantil da rede municipal de educação da cidade de São Paulo e que participavam de um processo de formação continuada realizado por uma organização não-governamental ao longo de dois anos. A análise dos registros dos dois grupos apontou que a maioria das atividades mencionadas é realizada coletivamente, ou seja, a mesma proposta é oferecida para todas as crianças, ao mesmo tempo, o que sugere que as crianças têm longo período de espera. Os registros mostraram que o trabalho com as sequências de leitura proposto pelo projeto de formação trouxe um diferencial à rotina das crianças, que passaram a escutar histórias lidas todos os dias e um repertório de enredos, imagens e personagens passou a fazer parte do cotidiano dos dois agrupamentos. Os dados apreendidos dos registros revelaram uma ausência de conhecimentos sobre a natureza do papel de professor de crianças pequenas. Muitas de suas formas de agir são emprestadas do ensino fundamental. A sequência dos registros, porém, revela que as professoras passaram a considerar cada vez mais o ponto de vista das crianças. A análise feita apontou que os registros diários das práticas pelas professoras podem ser instrumentos estruturantes do trabalho por elas realizado, e que devem ser incorporados na prática dos coordenadores pedagógicos responsáveis pela formação continuada das equipes nas unidades.
2009
Maria Paula Vignola Zurawski
Políticas públicas de educação de jovens e adultos no ABC paulista: conquista de direitos e ampliação da esfera pública
A educação de jovens e adultos é um campo de políticas, práticas e reflexões que está para além dos limites da escolarização, sentido estrito. É considerada como parte integrante da história da educação em nosso país, na verdade, um dos maiores problemas da educação e que envolve milhões de brasileiros. Este trabalho tem como foco programas, projetos e ações concebidos e implementados, nos últimos anos, pelos governos locais dos municípios que compõem o ABC Paulista, em parcerias com a sociedade civil. As políticas analisadas foram desenvolvidas pelas administrações municipais no período 1987-2003, quando foi possível ver o surgimento e a coexistência de duas gerações de políticas: a primeira baseada na idéia de um estado de bem estar social e a segunda, ancorada no princípio da participação social objetivando a ampliação das esferas públicas, local e regional. No conjunto das municipalidades do ABC, este estudo recaiu sobre Diadema, Santo André e Mauá. Foram realizadas entrevistas com gestores públicos, dirigentes sindicais, representantes de entidades parceiras, coordenadores, professores; grupos focais com alfabetizandos, sendo os dados analisados à luz de extensa documentação atos legais, estatísticas oficiais, produção das secretarias municipais de educação e centros de memória locais. O estudo sobre os MOVA(s) (Movimento de Alfabetização) locais e Regional evidenciou a concretização das lutas por direitos e pela garantia à participação social dos jovens e adultos, o estabelecimento de novos atores (individuais e coletivos) a ampliação e o fortalecimento da esfera pública.
2009
Marli Pinto Ancassuerd
Brinquedos e gênero na educação infantil - um estudo do tipo etnográfico no Estado do Rio de Janeiro
Este estudo objetiva identificar as principais representações sociais, de gênero, circulantes no contexto da educação infantil, bem como conhecer como se estabelecem as relações de gênero/poder nesse contexto, sob uma perspectiva foucaultiana. Realizou-se pesquisa do tipo etnográfico em uma unidade pública de educação Infantil de ensino pré-escolar (UEI), no Estado do Rio de Janeiro. Observaram-se as relações das crianças e seus pares, bem como as relações das professoras com as crianças, em sala de aula e nos espaços exteriores, nas horas de recreação. Focalizaram-se, sobretudo, os brinquedos e as brincadeiras das crianças nesse contexto, por considerá-los um dos principais meios de socialização, na faixa etária de 0 a 6 anos. Os dados demonstram que o cotidiano do ensino préescolar, através do currículo, das práticas pedagógicas e das relações que se estabelecem entre as crianças, principalmente no seu brincar, produz representações e relações de gênero/poder que podem se constituir em desigualdades e discriminações entre meninas e meninos e interferir no processo de formação das identidades de gênero das crianças. Assinala-se a necessidade de medidas e ações, tanto no plano das políticas públicas, quanto no cotidiano do ensino pré- escolar, no sentido da desconstrução da díade gênero/poder, no âmbito da educação infantil.
2003
Tania Maria Cordeiro de Azevedo
A proposta educacional da Congregação Canossiana para a educação em Timor-Leste
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a proposta pedagógica da Escola Canossa, bem como suas relações com os dispositivos legais pósindependência, os quais regulamentam a política educacional na República Democrática de Timor-Leste. Analisa-se ainda a sua contribuição ao processo educativo nacional. Para tanto, parte-se do estudo da Lei de Educação Básica da RDTL, destacando o paradigma da educação integral, proposto para fundamentar o currículo das escolas timorenses, situando-a no contexto sociocultural e educacional do país, após os conflitos da independência. Também retoma a gênese histórica da implantação da Escola Canossiana em Timor-Leste, analisando sua proposta educacional, cujas bases são buscadas na tradição filosófica. Ao final, discutem-se as condições e o alcance das contribuições que essa proposta pode trazer ao emergente processo civilizatório do país. Como fontes além da literatura filosófica educacional pertinente foram explorados os documentos oficiais do Estado e da Instituição Canossiana. O trabalho terá como resultado a apresentação de subsídios para a complementação, o aprimoramento a educação timorense.
Jovens e adultos em processo de escolarização e as tecnologias digitais: quem usa, a favor de quem e para quê?
As tecnologias digitais compõem um cenário de mudanças em diversas esferas da sociedade. O objetivo deste trabalho foi investigar a presença de tais tecnologias na EJA (educação de jovens e adultos), por meio dos usos que estudantes dizem fazer dessas tecnologias e as possíveis relações desses usos com o processo de escolarização e as aprendizagens que vivenciam. Foram aplicados trinta questionários a jovens e adultos matriculados em salas de EJA de escolas públicas da região da Freguesia do Ó e Brasilândia, na zona noroeste de São Paulo, e realizadas entrevistas de profundidade com cinco dos sujeitos que responderam aos questionários. Os resultados indicam que a maior parte dos sujeitos utiliza as tecnologias digitais fora das escolas para se comunicarem, para se divertirem e aprenderem sobre temas relacionados a projetos pessoais e conteúdos culturais de seu interesse. Também é possível afirmar que a apropriação das tecnologias, explorando suas diversas possibilidades para a realização de projetos individuais ou coletivos, depende de saberes prévios aprendidos na escola. Sem estarem alfabetizados, por exemplo, a capacidade de navegação pela rede fica comprometida, e quanto mais escolarizados, mais os sujeitos da EJA se apropriam das tecnologias digitais. A partir das análises destes resultados são desenhadas recomendações de como os projetos de EJA, as escolas e as políticas públicas podem contribuir para a ampliação dos usos das tecnologias digitais, e para que estes usos auxiliem nos processos de aprendizagem ao longo da vida dos sujeitos da educação de jovens e adultos.
2012
Bianca Maria Santana de Brito
Freinet e Freire: processo pedagógico como trabalho humano
Esta tese é fruto de uma pesquisa bibliográfica que investigou os trabalhos pedagógicos de Célestin Freinet em suas atividades docentes e sua militância por uma educação popular no interior da França e de Paulo Freire em suas atividades de alfabetização de adultos na região nordeste do Brasil antes do golpe militar de 1964 , em seus trabalhos educacionais no exílio e em sua atuação como Secretário da Educação na cidade de São Paulo. Ambos desenvolveram sistemas próprios de educação, tendo como base a categoria trabalho e como objetivo a realização de uma Educação Popular. Freinet procurou desenvolver um modo de fazer educação primária de qualidade num meio pobre, a partir de uma concepção que colocava o educando no centro do trabalho educativo em todas as atividades escolares. Para tanto, produziu uma grande quantidade de diferentes técnicas pedagógicas, sempre focadas numa Educação do Trabalho, com resultados materiais e intelectuais úteis para a vida de cada um de seus alunos. Paulo Freire produziu metodologias e técnicas didáticas que, além de se apoiarem na importância do trabalho como atividade transformadora do mundo e produtora de cultura que ele codificava na palavra práxis tinham como objetivo conscientizar os educandos de sua condição de humanidade, proporcionando-lhes condições de construírem a própria libertação. Esta tese demonstra como um e outro, respeitadas as peculiaridades de seus trabalhos e dos contextos em que atuaram, ainda que se utilizando de nomenclaturas diferentes e lidando com sujeitos de idades completamente diversas, construíram práticas populares de ensino com base nos princípios de educação e trabalho, tendo como base para suas obras o processo pedagógico enquanto trabalho humano.