RCAAP Repository
O que pode a educação - uma perspectiva clínica
Pode a escuta forjada na prática clínica interceder por proposições educacionais singulares? A partir dessa pergunta a tese se desdobra em exercícios conceituais e práticos na busca de abertura de interfaces entre clínica e educação, atenta às interpelações do fora e ao movimento da vida. Nessa composição, ganha relevância o conceito de ressonância, como uma abertura para o mundo que produz, simultaneamente, uma experiência de si. A partir da proposição de um estado de escuta, ou de um posicionamento orientado pela escuta clínica, a escrita se faz no acompanhamento de experiências escolares, conversas com alunos e um processo de formação de formadores. Essa conversa serve para precisar o funcionamento dessa escuta ao mesmo tempo em que abre um campo de questões entre a clínica e a educação.
A educação ambiental em uma escola de educação infantil em São Paulo: currículo e práticas
A presente dissertação tem como objeto de estudo a educação ambiental no currículo e nas práticas cotidianas de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) de São Paulo. Com base nos aspectos da educação ambiental, eixo estruturante do projeto da instituição, e nos conceitos de educação infantil, a investigação se comprometeu com a seguinte questão: como a educação ambiental está inserida como eixo da proposta curricular no contexto de uma instituição de educação infantil? Trata-se de uma pesquisa pedagógica qualitativa que adotou a perspectiva de um estudo de caso único, tal como proposta por Bogdan e Biklen (1994). Como fonte de dados, foram considerados: documentos elaborados pela instituição como registros de reuniões e o Projeto Político Pedagógico (PPP) em que constam as concepções de educação e infância da instituição, além de projetos desenvolvidos; diário de campo do pesquisador sobre as sessões de observação não participativa; fotos dos espaços; e entrevistas realizadas com a equipe gestora e uma educadora da unidade estudada. A análise e discussão dos dados produzidos foram realizadas à luz dos conceitos de educação ambiental discutidos nas obras de Guimarães (2004, 2005, 2012), Loureiro (2004), e documentos oficiais nacionais. Também foram realizados aportes teóricos presentes nas obras de educação infantil de Pinazza (2014), Barbosa e Horn (2008) e Oliveira-Formosinho (2007), além de publicações e diretrizes oficiais nacionais. O presente estudo trouxe algumas importantes evidências a respeito do processo de implantação e consolidação do PPP na instituição, especialmente no tocante às circunstâncias formativas, estruturais e organizativas da unidade, que evidenciaram uma perspectiva crítica e reflexiva de educação ambiental. Os tempos e espaços foram repensados por meio de uma efetiva formação e comprometimento do coletivo educacional. A instituição contou com parcerias externas (ONGs, voluntários, pais e comunidade), as quais contribuíram com o processo de formação, modificação e criação de espaços educativos. O movimento de transformação da instituição caminhou no sentido de superação de práticas tradicionais, dando voz à pedagógica participativa. Os planejamentos dos projetos estavam vinculados ao desenvolvimento da autonomia das crianças, buscando a autoria e o protagonismo infantil. Os temas estavam associados à educação para o ambiente, às experiências e ao contexto socioeducativo. O estudo destaca a possibilidade de inserção da ducação ambiental no currículo da educação infantil, de forma que seja possível abranger todas as especificidades socioambientais, por meio de trabalhos estruturados em projetos que envolvam toda a comunidade escolar, possibilitando a participação, construção e transformação do contexto educativo. Por fim, defende-se a importância da promoção de uma educação ambiental crítica e reflexiva, sobretudo na educação infantil, em busca da formação de cidadãos comprometidos com o bem-estar e a qualidade de vida no Planeta.
2017
Leonardo Dias da Silva
Os compêndios de formação de professores: o impresso como fonte de práticas e saberes pedagógicos
O presente trabalho debruçou-se sobre compêndios de formação de professores do final do século XIX e começo do século XX evidenciando saberes e práticas legitimadas e estabelecidas no período que descortinam culturas escolares que influenciaram a constituição da escola e do campo pedagógico no Brasil. Partindo da categorização de impressos de formação de professores, utilizados no curso da Escola Normal como fonte prescritiva de modelos de sucesso a serem aplicados, encontramos impressos que se configuraram como Guias de Aconselhamento, constituintes de Bibliotecas e Tratados de Educação, embasando cientificamente os métodos, fins e ideais de educação veiculados e orientado uma forma de pensar e de agir dos professores em formação. O período entre a década de 1870 e meados da década de 1930 compreende uma época de profundas mudanças na escolarização brasileira, em que se consolida a busca pela padronização da formação de professores e constitui-se o campo pedagógico e de produção de conhecimento sobre educação. É neste contexto histórico que os impressos de formação de professores surgem para embasar práticas e divulgar modelos escolares assumidos pela escola brasileira para os sistemas de ensino. Seu estudo permitiu compreender a materialidade do impresso como orientadora da leitura e interpretação dos conhecimentos e ideais ali defendidos, a forte defesa de métodos ativos na educação e do método mútuo como forma de organização da escola, por meio de materiais, modelos e práticas educativas embasadas especialmente na psicologia, e as orientações da prática docente que configuraram uma constituição da identidade do professor, dentro e fora da escola, como exemplo de bondade, moral e virtude a ser seguido.
2017
Liliane Maria Santana de Oliveira
A procura das miçangas para o fio do colar: uma metáfora para o ensino
Esta tese trata da compreensão do lugar do ensino na articulação entre Linguagem e Educação que está proposta em linhas de pesquisa de universidades públicas brasileiras, na medida em que (essa articulação) as nomeiam. A imagem que a orienta, um colar de miçangas, é uma metáfora criada para dar sustentação ao processo de organização dos dados a serem lidos pelo conceito de Discurso. O objetivo que gerou o itinerário deste trabalho é localizar o ensino na articulação, analisar em que medida ele promove o diálogo entre essas duas áreas e verificar se há a constituição de um novo campo de pesquisa quando esse diálogo acontece. O corpus foi constituído pelas ementas das linhas de pesquisa que trazem essa articulação em seus nomes. O que dá sustentação metodológica à tese é a Análise do Discurso (Pêcheux, 1995) e a Teoria Polifônica da Enunciação (Ducrot, 1987). A partir dos dados as ementas de 31 linhas de pesquisa pode-se dizer que o ensino atravessa os sujeitos constituídos nos seus lugares (os lugares das áreas, uma e outra e outras, que delas se aproximam, nas ementas), como o fio atravessa as miçangas, compondo a unidade das diferenças: um não-lugar (Certeau, 2014) que sustenta e possibilita a travessia entre uma área e outra, entre o mesmo e o diferente, entre o tradicional e o novo.
As disputas em torno de direitos como um processo educativo: um estudo de caso sobre a ocupação \"Novo Pinheirinho\" de Embu das Artes, SP
A presente pesquisa tem como objetivo central analisar os processos educativos envolvidos na luta por direitos sociais ou políticos, mais especificamente, os processos de socialização e formação relacionados ao engajamento político nas chamadas causas coletivas. Acreditamos que o engajamento político em causas coletivas está relacionado a duas dimensões educativas diversas e, ao mesmo tempo, entrelaçadas: de um lado, o modo como os sujeitos foram socializados está na base das condições de possibilidade do surgimento da militância política, visto que seriam capazes de formar determinadas disposições que conduziriam à militância política ou, pelo menos, à crença na organização coletiva como mecanismo para o enfrentamento de problemas também de ordem coletiva. De outro lado, no interior mesmo dos movimentos de caráter político, desenvolvem-se diferentes processos educativos, de formação e ressocialização dos militantes. Assim, tendo em vista analisar tais dimensões educativas, esta pesquisa assumirá como objeto de estudo a disputa entre o Movimento dos Trabalhadores SemTeto (MTST) e a Sociedade Ecológica Amigos de Embu (SEAE) em torno de uma Área de Proteção Ambiental (APA) situada no município de Embu das Artes. Esse conflito começou em 2012, tendo como foco a disputa em torno dos diferentes usos que poderiam ser feitos desse terreno, mais especificamente, tratava-se da disputa entre duas propostas concretas: o MTST reivindicava a preservação de um trecho da mata, associada à construção de moradias populares na área já desmatada, enquanto a SEAE defendia a preservação total da área como parque ambiental e, portanto, o seu uso exclusivo para esse fim. A análise dos conflitos em torno da questão ambiental, no campo ou na cidade, pode ser muito produtiva para se pensar diferentes dimensões das relações sociais nas sociedades contemporâneas, na medida em que coloca em destaque indivíduos com distintas concepções de sociedade e de natureza e os modos como estas podem ou devem se relacionar. Essas posições a respeito das questões ambientais não são gratuitas, tratase de concepções gestadas em grupos com diferentes origens e posições sociais, bem como com diferentes níveis de escolarização, acesso a informação e condições objetivas de vida, e, por esse motivo, tais conflitos podem também se tornar um exemplo privilegiado para compreensão de como grupos, com origens sociais diversas, se engajam nas chamadas causas coletivas. Os objetivos desta investigação serão alcançados por meio (i) de análise documental de materiais produzidos pelos dois movimentos acerca da disputa pelo terreno acima citado; (ii) de observações de reuniões e atividades que ambos os grupos realizam; (iii) de reconstituição das trajetórias dos sujeitos da pesquisa (militantes dos dois movimentos citados) para a qual lançaremos mão de entrevistas em profundidade, com ênfase sobre a educação recebida em diferentes instâncias anteriores à entrada no movimento (por exemplo: família, escola, igreja, bairro) e, posteriormente, nos processos de formação e ressocialização promovidos no interior dos dois movimentos em questão.
2017
Renato Macedo de Almeida
Construções discursivas acerca da deficiência intelectual: entre concepções e implicações para políticas públicas
Este estudo utiliza contribuições de diferentes campos do conhecimento, para compreender o universo de sentidos que determinam as práticas sociais em relação às pessoas que têm dificuldade nas habilidades intelectuais. O construcionismo social e a perspectiva ecológica foram as bases para discutir o constructo deficiência intelectual. A abordagem de gestão social nas políticas públicas foi utilizada para refletir em relação à administração pública numa óptica não hegemônica, em que o interesse público está em primeiro lugar e a dimensão social do desenvolvimento é parte integrante e essencial da atividade econômica. A investigação teve como objetos de estudo: 1) as construções discursivas acerca da deficiência intelectual; 2) os discursos sobre políticas públicas, para identificar tendências e implicações das formas de compreensão a respeito da deficiência intelectual. Do ponto de vista metodológico, a análise do discurso francesa foi a base do dispositivo analítico construído para analisar as formações discursivas. Foram selecionadas e analisadas quatro definições de deficiência e onze de deficiência intelectual. Nos discursos que definem o constructo deficiência, como categoria ampla, constatou-se que os sentidos estão associados ao modelo social que considera a deficiência como resultado de fatores relacionados às características da pessoa e do ambiente no qual está inserida. No entanto, em relação ao constructo deficiência intelectual, ainda há vários discursos que remetem às premissas do modelo médico, o qual considera a deficiência como um problema individual que exige capacidade de adaptação a situações e desafios da vida cotidiana. As significações atreladas ao modelo social se fazem presentes, mas não são prevalentes. Nas construções discursivas de nove policymakers, foram analisadas concepções com relação à deficiência intelectual; assim como elementos relacionados aos processos políticos de formulação de políticas públicas. Os resultados apontam vários sentidos associados ao modelo social da deficiência, o que revela uma tendência a se considerar o papel da sociedade e do Estado na construção de uma cultura inclusiva, em termos de serviços públicos. Porém há diferenças acentuadas na forma como esses sentidos se constroem e se articulam. Ao mesmo tempo em que há referência à Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006, que é um marco do modelo social, há também vários sentidos associados ao modelo médico/reabilitador. O fato de alguns sentidos serem incorporados não significa abandono imediato de outros sentidos conflitantes. Tal fato revela um processo de apropriação de discursos a respeito da deficiência, que ocorre de forma gradativa em direção ao modelo social. Nos discursos dos entrevistados, foram encontradas marcas dos discursos da funcionalidade, da diversidade, das capacidades, as quais revelam sentidos em construção e em disputa. Em relação às tendências em políticas públicas, foram mais recorrente sentidos relacionados à abordagem de direitos humanos.
A criança entre a voz do verso e a letra do sentido: a poesia no processo de alfabetização
O objetivo deste trabalho é investigar a presença da poesia e de outros textos poéticos no processo de alfabetização e letramento infantil, a fim de refletir acerca das experiências de um grupo de crianças (de seis a nove anos) com a linguagem poética na trajetória do ensinoaprendizagem da leitura e escrita nos anos iniciais da escolarização (do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental de nove anos). Compreendemos a necessidade de se trabalhar a língua sem isolá-la de seu universo literário, e para isso, em nosso projeto de alfabetização O desafio de ensinar a leitura e escrita no contexto do Ensino Fundamental de nove anos (Edital Nº 038/2010/CAPES/INEP), partimos de hipóteses sobre a capacidade da oralidade e dos textos poéticos em potencializar subjetividades mais afeitas à aprendizagem da leitura e da escrita. Contrapondo-se às concepções pedagógicas dominantes nas diretrizes governamentais, que tanto valorizam os gêneros discursivos do cotidiano (bulas, receitas, logomarcas e outros gêneros do mercado), percebemos que o trabalho com os textos poéticos (poesias, cantigas, parlendas, adivinhas, travas-língua, etc.) vinculado à função poética (ao ludismo poético da língua) forma uma rede de memória oral que já enraíza potencialidades para o gosto literário da criança. De acordo com Pound (2006) os recursos estéticos que estão presentes na poesia podem ser compreendidos de três formas: com o uso da melopeia, da fanopeia e da logopeia. A partir do trabalho com uma coletânea de poesias para crianças formulada por nós, professores-pesquisadores, e que abrange essa tríade, junto ao estudo dos seus recursos elementares, das suas figuras de linguagem e de sua estética mnemônica (rimas, métrica, aliterações, assonâncias, etc.), vimos que a poesia é fundamental para o ensino e a aprendizagem de nossas crianças. Contribuir para que uma matriz de textos poéticos se estabeleça na memória da criança é poder ampliar sua capacidade leitora e subjetiva ao lidar com os diferentes gêneros textuais. Com essa premissa, esboçamos em uma pesquisa teórica e prática o alcance que os textos poéticos têm no trabalho diário de alfabetização e como a recepção desses textos pelas crianças aponta para a necessidade de um planejamento didático-metodológico que aborde a diversidade dos recursos estéticos e formais da poesia para enriquecer o ensino da leitura fluente e da escrita criativa.
2016
Isadora Rebello Joaquim
Artes de fazer de uma congregação católica: uma leitura certeausiana da formação e trajetória das Filhas da Imaculada Conceição (1880-1909)
Este estudo pretende narrar a história das Filhas da Imaculada Conceição, com ênfase nas táticas utilizadas por elas para formar uma congregação religiosa no sertão de Vígolo (SC), em 1890, a fim de atender idosas doentes, meninas e órfãs. Começa a análise estudando os contextos familiares, religiosos, socioculturais e históricos da fundadora da congregação, Amabile Lucia Visintainer, a qual emigrou da Itália com sua família em 1875. Acompanha o crescimento, a expansão e os processos de institucionalização de sua organização que são consolidados em 1909, no bojo da intervenção romanizada e ultramontana de bispos paulistas e do jesuíta diretor espiritual da congregação. Utiliza como fontes: crônicas das próprias irmãs que viveram a experiência, crônicas de outras irmãs que coletaram e reescreveram sua história, biografias, cartas, entrevistas e outros documentos institucionais que possibilitam investigar o cotidiano dessa antiga comunidade de mulheres que se transformou na quarta congregação a ser fundada no Brasil. Para reler os temas apreendidos das fontes, inspiram-nos as propostas teóricas de Michel de Certeau, as quais subsidiam a reflexão sobre as táticas utilizadas pelas irmãs para inventar sua realidade em Vígolo, Nova Trento e São Paulo. As conclusões apontam, entre outras questões, a relevância para a História da Educação de uma pesquisa voltada para a análise da trajetória e do cotidiano de freiras, possibilitando compreender melhor as razões e os contextos que levam uma congregação feminina a desenvolver um trabalho com meninas e órfãs, o que explica também o sentido da educação que receberam e que ministraram.
2011
Maria Aparecida Corrêa Custodio
Prática de inclusão na universidade: representações de professores e estudantes
Com o objetivo de responder como as representações de professores e de estudantes influenciam na inserção de uma política de ação afirmativa, esta investigação levantou e discutiu os conflitos e enfrentamentos que ocorreram durante o processo de implantação de um Programa de Bônus numa universidade pública; em especial, a origem desses conflitos e dos saberes utilizados no seu enfrentamento, assim como o impacto dessa política sobre os professores e estudantes. Discutiu, ainda, como a universidade tem se transformado para receber os estudantes ingressantes por meio dessa política, com o objetivo de identificar a presença de racismo, preconceito e discriminação no interior da universidade e de ações que procuram superá-los, de modo a preparar futuros professores para lidar com as diferenças e acolher o diverso em qualquer situação. Utilizou-se, como referências principais, Bourdieu: que permite analisar as estratégias utilizadas por professores e estudantes na convivência diária, em função de seus habitus; e Tardif: que possibilita compreender como a prática cotidiana e os saberes experienciais que sustentam o ensino e são, a um só tempo, existenciais, sociais e pragmáticos se sintetizam na prática profissional do professor, refletindo as relações sociais que se deram ao longo de sua vida, como também o capital social e cultural que carrega como bagagem. Partiu de uma pesquisa bibliográfica relacionada à ação afirmativa e ao sistema de cotas e continuou com uma investigação de campo em uma universidade de Minas Gerais que implantou um Programa de Bônus, analisando tal processo de implantação a partir da representação de professores e estudantes. A pesquisa, de cunho qualitativo, envolveu coleta de uma variedade de materiais empíricos e o uso de práticas interpretativas para melhor compreensão do objeto, supondo tais práticas como uma interpretação do mundo, que a transforma em uma série de representações e discute a obra construída a partir de tais representações. Teve como recorte o curso de Pedagogia, pelo entendimento de que a discussão sobre preconceito, tolerância e discriminação no convívio com o diferente deve começar na formação de futuros professores. Conclui-se que professores e estudantes pesquisados são favoráveis ao bônus, mas não percebem um grande impacto que tenha significado uma mudança substancial; ainda veem a universidade como essencialmente branca, com uma pequena presença de diversidade. Já em relação ao acolhimento dos novos estudantes, não foi possível perceber ações específicas e tal ausência parecem infligir dificuldades e sofrimento a eles. Os professores que formam futuros professores tendem a não se imiscuir na temática, discutindo e refletindo pouco entre si. Foi possível identificar práticas discriminatórias, de cunho racista e preconceituosas, como também um grande silêncio em torno da temática. Quanto aos saberes, parecem não estar plenamente concebidos, sendo possível perceber que, nesse ambiente acadêmico, sobressaem mais dúvidas que respostas. Docentes e estudantes, entre acertos e erros, parecem buscar caminhos de como acolher o diverso, de como formar professores para a tolerância.
2011
Waléria Furtado Pereira
Exames para certificação de conclusão de escolaridade: os casos do Encceja e do Enem
Esta dissertação decorre de pesquisa que reuniu e analisou informações sobre o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para compreender se e em que medida eles, enquanto modernos programas de avaliação educacional cujos resultados podem ser usados para fins de certificação de conclusão de etapas da educação básica (nos moldes dos antigos exames supletivos), têm se configurado enquanto uma alternativa à educação escolar presencial para conclusão da escolaridade básica, de modo que amplie as oportunidades educacionais para o público da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Alternativamente, manteve-se a hipótese auxiliar de que Enem e Encceja funcionariam como mecanismos de ampliação das oportunidades educacionais para parcela importante do público potencialmente demandante da EJA, estivesse ele regularmente atendido no ensino regular/convencional ou fora do alcance de ações educativas tradicionais. À luz da literatura sobre análise de políticas públicas, buscou-se explorar dados sobre diferentes etapas desses dois programas por meio da revisão da literatura sobre estas experiências e outras similares no Brasil, da análise de legislação, documentos e posicionamentos oficiais relativos à concepção e à implementação desses programas, de entrevistas semi-estruturadas junto a gestores diretamente relacionados à criação e às reformulações desses programas, e da análise microdados disponíveis ao público para compreender traços característicos do conjunto dos participantes. O recorte temporal utilizado para o Encceja foi entre 2002 e 2010 e para o Enem, entre 2002 e 2012. Foi possível constatar intensas disputas sobre o sentido da EJA. De um lado, seus opositores, ao defenderem os princípios de uma educação emancipadora, enxergaram tais programas como estratégias de precarização do atendimento educacional na medida em que privilegiavam processos acelerados de certificação, além de serem concebidos e executados de maneira desarticulada em relação às políticas e demandas locais e por ignorarem a autonomia de estados e municípios. De outro, defensores argumentaram a favor da necessidade de alternativas ao modelo escolar de atendimento desse público e de sua qualidade e sofisticação técnica e pedagógica frente a exames estaduais ultrapassados, pouco ou nada articulados com as Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA. Na prática, ambos os programas se disseminaram nacionalmente e se tornaram mais atrativos a jovens e adultos interessados em retomar suas trajetórias educacionais para ascender profissionalmente ou mesmo ingressar no ensino superior ou técnico. Ao mesmo tempo, esses exames tornaram-se convenientes a estados e municípios, pois a adesão a eles praticamente não implicava em investimentos de recursos humanos ou custos financeiros adicionais. Pela análise dos microdados do Enem, foi possível ilustrar que a maioria de participantes que solicitou a certificação não estava estudando e, dentre aqueles que frequentavam os bancos escolares e também solicitaram a certificação, a maioria estava na escola regular/convencional, e não em turmas de EJA. Nesse sentido, esses dados reforçam a hipótese de os exames constituírem-se como alternativa complementar à escolarização e também a hipótese auxiliar, indicando que os exames estariam, no momento desta pesquisa, auxiliando na correção da distorção idade-série/ano.
2014
Luis Felipe Soares Serrao
Contextualização no ensino de física à luz da teoria antropológica do didático: o caso da robótica educacional
Um ensino de física contextualizado é fortemente identificado no discurso de professores, educadores e pesquisadores da área, reforçado também pelos próprios documentos oficiais do Ministério da Educação do Brasil. Entretanto, a própria noção de contextualização apresenta diferentes vertentes, algumas das quais têm uma visão simplista e acrítica sobre a contextualização no processo de ensino e aprendizagem. Defendemos, contudo, uma contextualização que passe pela problematização e modelização dos saberes disciplinares, partindo de objetos (abstratos ou concretos) de uma dada realidade ou de uma prática social de referência, permitindo ao indivíduo revisitar e perceber o mundo ao seu redor de modo diferenciado, com novas perspectivas e possibilidades de ação. Tal abordagem tende a exigir múltiplas estratégias metodológicas e recursos didático-pedagógicos, dentre os quais destacamos a Robótica Educacional (RE), a qual encontra no ensino de ciências um campo novo de aplicações ainda por ser explorado, seja no cenário nacional seja no internacional. Nossa hipótese é a de que materiais dessa natureza potencializam o desenvolvimento de atividades com problematizações que permeiam uma vasta gama de práticas sociais, possibilitando que a realidade seja percebida e se transforme em objeto de reflexão. Ressaltamos que a RE não se justifica por si só, contar com novos e emergentes recursos oferecidos pelas novas tecnologias não necessariamente implica enriquecimento das aulas, é preciso pensá-las vinculadas às necessidades de formação. Especialmente no ensino de física, é necessário atentar-se ao saber-fazer, práxis, sem se esquecer do discurso lógico que o permeia e auxilia na compreensão desse saber-fazer, o logos. Com foco na Robótica Educacional para fomentar a contextualização, analisamos quatro atividades que fazem uso de kits da Lego no ensino de física. Dessas quatro atividades, duas foram aplicadas para estudantes do primeiro ano do ensino médio em uma escola pública do estado da Bahia, Brasil. Fundamentamos nossa investigação com base na Teoria Antropológica do Didático (TAD), a qual permite modelar o conhecimento por meio de uma Organização Praxeológica (OP) e analisar processos de estudo através dos Momentos Didáticos. Constatamos, dentre outras coisas, que a análise praxeológica gera indicadores que auxiliam numa possível reestruturação e desenvolvimento de sequências didáticas para fomentar o processo de contextualização no ensino de física, tais como os níveis de ressonância, podendo ser interno, um diálogo entre o bloco prático-técnico com o tecnológico-teórico da OP didática, e externo, denominado de Verossimilhança Praxeológica (VP), um diálogo entre a OP didática e a OP de referência. Isso foi feito em termos de tarefas, técnicas, tecnologias e teorias, bem como através da investigação da relação do indivíduo (X) com os objetos (O) contidos em diferentes práticas mas centradas em um mesmo bloco tecnológico-teórico. Assim, esperamos contribuir com soluções e reflexões sobre o desenvolvimento e estruturação de atividades didáticas para melhor contextualizar uma dada realidade na perspectiva que adotamos, além de compreender os limites e possibilidades da robótica nesse cenário educacional.
A teoria dos conjuntos e a música de Villa-Lobos: uma abordagem didática
Essa pesquisa tem como foco principal explorar como obras musicais de Villa-Lobos são passíveis de serem lidas ou analisadas por meio de uma racionalidade matemática. O intuito é buscar um enfoque didático alternativa didática para a abordagem de conceitos oriundos da Teoria dos Conjuntos, baseados nos estudos do matemático Georg Cantor (Teoria Ingênua dos Conjuntos) e nos estudos de Allen Forte (Teoria dos Conjuntos aplicada à Música). Busca-se trazer para o universo da Música e da Matemática ambas as teorias, por meio de um enfoque transdisciplinar, e situar o saber em regiões em que o aspecto afetivo já adquiriu níveis capazes de dar sentido ao conhecimento e propiciar a assimilação de significados relacionados à outra área. Em busca desses objetivos, e ainda estudar possíveis indicações das relações entre Matemática e Música em um cenário didático/pedagógico, essa obra lança mão da afetividade, transdisciplinaridade e pensamento analógico como forma de articular áreas aparentemente distantes, mas com forte semelhança em suas estruturas. Esse estudo pretende explorar (1) trabalhos que usaram a Teoria dos Conjuntos em análises de obras de Villa-Lobos, (2) processos criativos e composicionais presentes em obras musicais de Villa-Lobos, (3) técnicas matemáticas de análise musical, (4) tipos e estruturas matemáticas que possam auxiliar em análises musicais e verificar de que maneira a racionalidade matemática está presente na composição musical. Este estudo ao pesquisar trabalhos que usaram a Teoria dos Conjuntos em análise musical de obras de Villa-Lobos preenche uma lacuna na teoria musical; evidencia estruturas matemáticas que auxiliam na análise musical, mostrando a presença da racionalidade matemática. Uma das grandes contribuições desse trabalho é estabelecer relações de analogia entre conteúdos do currículo da matemática, frequentemente traduzidos por códigos numéricos, e aspectos da área musical, reconhecidos por sons.
2014
Gean Piérre da Silva Campos
Eu canto pra você: saberes musicais de professores da pequena infância
Quais são os saberes que as professoras da pequena infância movimentam para trabalhar a música quando não são especialistas no assunto e nem passaram por um aprendizado profissionalizante nessa área? É possível identificar esses saberes, buscar aprofundamentos que promovam mudanças nas práticas musicais instituídas e construir um trabalho em que a música seja pensada também como área de conhecimento? Foi com o objetivo de responder a esses questionamentos que nasceu este trabalho de doutorado, e o tema de estudo sobre o qual ele se debruça são os saberes e práticas musicais de professores da pequena infância. Seus principais objetivos são: desenvolver a pesquisa, tendo como base o conhecimento musical que estava em jogo na ação educativa das professoras com as crianças, refletir sobre suas práticas, e incentivá-las a trabalhar em sintonia com o fazer musical infantil. Em encontros semanais, realizados durante todo o ano letivo, as professoras compartilharam seu trabalho com crianças de zero a cinco anos de idade, de duas escolas públicas da zona sul da cidade de São Paulo: uma escola municipal de educação infantil - EMEI e um centro de educação infantil - CEI. Tendo em vista que o tema de investigação possui um caráter singular e multifacetado, a Educação Musical abriu-se aos diálogos com os campos da Formação de Professores e com a Sociologia da Infância. O primeiro, para apoiá-la nas questões referentes à profissionalidade docente, e o segundo, pela intenção de estudar as culturas de pares infantis, a partir das quais seria possível compreender a natureza sociocultural da música das crianças. A investigação desenvolveu-se apoiada na metodologia da pesquisa-ação participativa e teve como resultado mais importante e significativo a conquista da dupla escuta: para a música e para as crianças. Com o foco posto na compreensão mais aprofundada acerca das especificidades da música enquanto área de conhecimento e a observação e a escuta atentas e sensíveis para a música das crianças, a pesquisa propiciou aperfeiçoamentos e tornou viável, às professoras não especialistas, o desenvolvimento de um trabalho com a música.
A instituição da agenda contratual na educação mineira: arquitetura de uma reforma
A pesquisa abordou o tema dos contratos de gestão na área educacional procurando responder à seguinte pergunta: como a abordagem contratual emergiu e se consolidou como instrumento de gestão na regulação da educação básica mineira, no âmbito estadual? O objetivo do estudo foi examinar o desenho da política educacional, elaborado a partir de 2003, com a implementação da reforma gerencial do Estado. Para tal, buscou-se explicitar a instituição do contratualismo, do ponto de vista jurídico-legal e político-administrativo. Buscou-se, ainda, por meio da análise dessas duas dimensões jurídico-legal e político-administrativa examinar o modelo de Estado que passa a ser construído em Minas Gerais. Para tanto, privilegiou-se a investigação de natureza qualitativa, valendo-se de um corpus documental que, por sua vez, foi submetido à análise de conteúdo. Num primeiro momento, buscou-se apreender os conceitos de contrato em John Locke (1690), Rousseau (1762) e John Rawls (1971, 1992, 2011) com vistas a compreender se, em alguma medida, o contrato de gestão, especificamente na esfera educacional, dialogaria com as ideias da tradição do contrato social para alcançar uma lógica administrativa fundada em um acordo livre, na esfera pública. Num segundo momento, investigou-se a instituição dos contratos de gestão, na área educacional, do ponto de vista jurídico-legal, explicitando as estratégias utilizadas para a sua normatização no estado. Verificou-se que o Legislativo foi um importante ator nesse processo, trabalhando no sentido de agilizar a implementação da reforma por meio da concessão de fazer leis ao Executivo que, por sua vez, editou cento e trinta leis delegadas, implementando a reforma pretendida. No momento posterior, cuidou-se de investigar as estratégias mobilizadas pelo governo estadual, no âmbito da Secretaria de Educação, na perspectiva políticoadministrativa. Constatou-se que a reformulação do sistema mineiro de avaliação, criado nos anos de 1990, a estruturação de um sistema de metas vinculado à bonificação e a formalização do processo de avaliação de desempenho individual concorreram para a instituição do contratualismo. Finalmente, foi investigado o modelo de Estado que passa a ser constituído em Minas Gerais. A interpretação dos dados levantados no processo de implementação da reforma, tanto no âmbito normativo-legal, quanto político-administrativo, levou a concluir que, em Minas Gerais, a reforma administrativa implicou na reformulação do modelo de Estado vigente, com a consolidação da reforma gerencial que se deu com a introdução de lógica de governança em rede, por meio da qual efetiva-se a ramificação do poder estatal, o que viabiliza a mudança de papel do Estado, no âmbito educacional, que passa a regular a regulação, exercendo, assim, uma metagovernança.
2014
Maria do Rosário Figueiredo Tripodi
A prática da leitura na escola e as relações de gênero e sexualidade: subsídios para reflexão sobre formação inicial e contínua de professores(as)
Esta Dissertação de Mestrado tem por base investigação sobre como a prática da leitura docente em sala de aula e na Sala de Leitura colabora ou não com o processo de introdução de questões da ordem do gênero, da sexualidade e da diversidade sexual junto às crianças, uma vez que tais assuntos estão presentes em alguns, dos muitos, títulos de literatura infantil publicados atualmente no Brasil. A pesquisa foi realizada em uma EMEF situada na zona sul da cidade de São Paulo e contou com a participação das docentes dos anos iniciais e da Sala de Leitura da escola. Para a investigação empírica foram utilizadas observações em campo, realização de entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionários. No exame do material obtido, foram fundamentais as reflexões teóricas pautadas em: Nelly Novaes Coelho, Marisa Lajolo e Regina Zilberman sobre literatura infantil; documentos oficiais (guias e orientações) publicados pela RMESP (DOT) acerca da prática da leitura; Jeffrey Weeks e Judith Butler a respeito de sexo e sexualidade e Joan Scott sobre o conceito de gênero. Constatou-se que apesar da existência de orientações enfatizando a importância da prática diária da leitura docente às crianças, há um distanciamento entre o que é proposto pela SME em seus guias e o que é realizado pelas professoras em sala de aula. Também, verificou-se que boa parte das professoras investigadas não receberam uma formação sistematizada acerca do gênero e da sexualidade durante o curso de graduação ou em formação continuada, ainda, constatou-se baixa oferta de títulos de literatura infantil envolvendo tais questões na Sala de Leitura da EMEF. Por fim, foi possível ratificar a importância de ações diversas que apoiem e norteiem a prática docente, para que possam se sentir seguros(as) no exercício de suas profissões e consigam realizar um trabalho sem que necessariamente ele esteja vinculado a uma demanda específica dos(as) alunos(as).
2014
Karina Valdestilhas Leme de Souza
Pequenos publicitários: a persuasão na escrita de crianças
Esta pesquisa toma como objeto de estudo o modo como crianças, nos quatro primeiros anos de escolarização, escrevem seus textos, quando atendem à solicitação de produzir uma tarefa escolar na qual está pressuposto o objetivo de influenciar os leitores. Seu ob-jetivo geral é investigar a possibilidade de encontrar nos escritos de crianças indícios de que houve, por parte de quem escreveu, uma preocupação em produzir enunciados que poderiam gerar a ressonância de suas posições junto aos leitores. A partir de um interesse em investigar como uma criança pode vir a se tornar um escritor proficiente, questiona: De que modo crianças entre sete e dez anos de idade mobilizam estratégias persuasivas que podem, ao menos potencialmente, fazer suas palavras ressoarem nos leitores? Para construir uma resposta a esse questionamento, o trabalho analisou um corpus composto por 103 manuscritos, produzidos por nove crianças que à data da primeira coleta estavam concluindo a primeira série (corresponde atualmente ao segundo ano) e quando os últimos textos foram escritos estavam no último ano do ensino fundamental (atualmente, o quinto ano). Todos os textos foram escritos em contexto escolar, como parte das atividades de rotina das crianças. As tarefas propostas tiveram em comum o pressuposto de argumentar e/ ou persuadir o interlocutor estabelecido na proposta. A investigação partiu da hipótese de que crianças com a idade dos participantes desta pesquisa estão aprendendo como fun-ciona a vida em sociedade. Baseando-se na lógica freudiana, é possível dizer que as cri-anças acessam mais facilmente seu pensamento inconsciente (FREUD, 1901-1905/ 1990) porque, quase ninguém, em tenra idade, passou pelos processos culturais cujo resultado será o recalcamento (FREUD, 1901-1905/ 1990). Consequentemente, suas produções ten-dem a ser mais criativas e, até mesmo, ousadas. A partir da análise dos dados, verificou-se que essa ousadia resultou em estratégias persuasivas pautadas, ao menos potencial-mente, em tentativas de tocar o interlocutor, em fazer suas palavras ressoarem (LACAN, 1975-1976/ 2007). Chamou a atenção, também, o fato de que algumas das estratégias utilizadas pelas crianças serem similares às de peças publicitárias. Após o acompanha-mento longitudinal, conclui-se que as crianças foram capazes de elaborar estratégias ar-gumentativas e persuasivas com eficiência e criatividade, utilizando, inclusive, estratégias comuns a peças publicitárias. Foi observado, também, um refinamento paulatino das es-tratégias, indicando um aperfeiçoamento na escrita das crianças. Assim, vê-se que, já nos anos iniciais da escolarização, é possível realizar um trabalho envolvendo a escrita de textos argumentativos.
2014
Renata de Oliveira Costa
Saberes profissionais docentes: o que narram os professores de história da rede estadual de ensino básico da cidade de Teresina, Piauí
Esta investigação atenta para os saberes profissionais mobilizados e construídos por professores de história, atuantes na rede estadual de educação básica da cidade de Teresina, no Piauí, mediados pelas trajetórias formativas e prática docente. Busca-se identificar os significados e influências atribuídos pelos docentes à sua opção pelo magistério e as itinerâncias vivenciadas no percurso profissional. Objetiva-se também refletir sobre as concepções de saberes específicos e pedagógicos reveladas pelos professores de história, através das narrativas de formação; compreender como os saberes experienciais são mobilizados e construídos pelos professores, através das memórias docentes, na reconstrução do seu fazer pedagógico. As narrativas dos próprios professores acerca de seus saberes profissionais são consideradas aqui um processo de formação continuada e autoformação, com potencialidades para contribuir com o desenvolvimento profissional e para (re) configuração do fazer docente dos professores de história da educação básica da rede estadual de Teresina, Piauí sujeitos dessa investigação. Sua fundamentação teórica está embasada nos estudos de: Tardif (2014), Nóvoa (1991, 1992), Schön (1997, 2000), Gauthier et al (1998), Zeichner (1993, 1998), Cunha (2010, 2013), Freire (1997), Geraldi; Fiorentini; Pereira (1998), Fonseca (1995, 2003), Monteiro (2007), dentre outros. Caracteriza-se como investigação de cunho qualitativo, utilizando a entrevista narrativa como princípio epistemológico e metodológico, a partir da ancoragem nas memórias docentes e no dispositivo da história oral como mediadora na construção e análise das narrações. (SOUZA, 2006). São interlocutores quatro docentes de história da rede estadual de Teresina/Piauí que, segundo Huberman (2000), se encontravam no estágio de desenvolvimento profissional de diversificação. Adota como forma de análise das narrativas os pressupostos da análise compreensiva-interpretativa (SOUZA, 2004, 2006), que tem a hermenêutica como fundamento teórico-filosófico. Na análise do corpus opta-se pela organização das narrativas em unidades temáticas, como forma de romper a categorização dos temas em foco. O estudo vislumbra, pelas narrativas, o perfil de um (a) professor (a) de história, agente social implicado nas demandas de seu ofício e nos dilemas de seu tempo, dotado de protagonismo profissional, crítico-reflexivo, mobilizador e construtor de saberes e fazeres profissionais, cotidianamente (re) configurados.
2020
Vilmar Aires dos Santos
Perspectivas didáticas da escrita literária para o Ensino Médio
Esta pesquisa está centrada nas práticas de escrita literária na escola, mais precisamente no Ensino Médio, e vincula-se ao Grupo de Pesquisa Linguagens na Educação (FEUSP). Constam como objetivos: a) compreender qual escrita literária é possível no âmbito escolar; b) como se dão as práticas de escrita literária dos estudantes no Ensino Médio, no que diz respeito às suas reações, comportamentos e atitudes, suas limitações e relações com o texto literário pessoal e do outro; e c) refletir sobre os caminhos possíveis para que as práticas de escrita literária no Ensino Médio aconteçam. Nossos estudos apontam para teorias da didática da literatura (Rouxel, 2013; Langlade, 2013; Jouve, 2012, 2013; Rezende, 2009, 2013, 2018) e da didática da escrita (Calkins, 1986; Le Goff, 2003, 2005, 2018; Christine Barré-De Miniac, 1998, 2002, 2015; Tauveron, 2007, 2013, 2014; Reuter, 2002; Bucheton, 2014), além de utilizar referencial histórico-cultural (Vigotski, 1926, 1930, 1934), estudos sobre o texto literário (Barthes, 1973, 1977, 1984) e questões que perpassam o trabalho com o texto na sala de aula (Geraldi, 1991, 1997). Foram realizadas observações em duas turmas de primeiro ano de Ensino Médio de uma escola estadual do Rio de Janeiro, o que confere à pesquisa a característica de uma etnografia educacional (André, 2005; Sarmento, 2011; Rockwell, Ezpeleta, 1983). Juntamente com a coleta realizada na pesquisa de campo, os estudos sobre a escrita, em geral, e a escrita literária, em particular, contribuíram para formular possibilidades de prática efetiva de escrita literária na escola, levando em conta a complexidade desse exercício. Constatamos que, embora os textos dos estudantes ficassem, quase sempre, no limiar do relato, o processo de suas escritas foi se ampliando à medida que a professora adotava novos métodos. Assim, repensar o tempo destinado às atividades e o valor atribuído aos textos, bem como o diálogo estabelecido com os grupos sobre suas percepções e emoções, foram fatores preponderantes para o desenvolvimento de uma prática voltada ao processo de escrita literária. O desenvolvimento da escrita dos estudantes está inscrito em sua história familiar, social e escolar. Por isso, quando eles escrevem, direcionam-se a si mesmos, aos seus pares, às suas famílias, aos seus professores. As formas expressivas dos jovens lançam a urgência da inserção, na escola, de assuntos caros à realidade sociocultural. Constituir a escrita literária como objeto de ensino e de aprendizagem nos permite formular dispositivos próprios dessa prática para que uma perspectiva didática da escrita literária também se consolide.
A educação sob a lógica do discurso capitalista e seus efeitos na produção da subjetividade neoliberal
O propósito desse trabalho é consolidar uma pesquisa a partir de uma experiência profissional que consistiu em implementar um sistema de ensino privado em escolas públicas do ensino fundamental. A problematização será tecida utilizando o conceito psicanalítico de discurso capitalista. Para tal, apresentaremos o teor da experiência profissional procurando destacar os elementos tanto de ordem prática (a experiência propriamente dita) quanto de ordem lógica (discurso). A partir disso, poderemos operar o aparelho conceitual do discurso tal como proposto por Lacan, para fazer falar esse paradoxal laço do discurso capitalista que, entendemos, operou na referida experiência. Ao fazer falar esse aparelho na sua articulação com a referida experiência, sustentaremos que sua lógica no contexto escolar dilacera a possiblidade de uma experiência comum, necessária para que o laço educativo produza seus efeitos civilizatórios, bem como afeta a capacidade de filiação desse laço, o que resulta numa subjetividade desprovida de marcas. Proporemos também uma analogia entre o discurso capitalista e o neoliberalismo (que aqui não é meramente um modelo econômico, mas um sistema de produção de subjetividades), sustentando a face totalitária entrevista na forma como se desenrolava a interface da empresa em questão com as escolas. Assim, o sistema de ensino tal como se configura nessa pesquisa contribui pela insidiosa entrada da lógica de mercado no contexto da educação fundamental e pública, sendo que seus insumos (do sistema de ensino) assumem o estatuto de um objeto técnico-cientificista, que por um lado autonomiza o ato educativo e, por outro, emudece seu portador. Por fim, propomos fazer da presente pesquisa uma formalização que permite afirmar, com a segurança que o trabalho científico nos reserva, que a educação pública, republicana e democrática é inviabilizada quando impera em seu contexto a lógica do discurso capitalista.
2021
Rejinaldo José Chiaradia
A travessia que mancha o corpo: imagens da imigração e a educação transitória.
Este texto é resultado da pesquisa de campo realizada com imigrantes bolivianos em São Paulo. Relata também a experiência como imigrante do próprio autor, assim como analisa os registros imagéticos da imigração africana na Europa. Tem por objetivo reunir argumentos para defender a tese de que a educação é movimento, travessia. Semelhante transitoriedade fundamental da educação quando é tolhida, no sedentarismo torna árida, senão impossível a experiência pedagógica, pois a nega em sua dimensão dinâmica e movente. Nesse sentido, pretendo demonstrar, através de uma descrição densa, que a substância e o caráter da atividade pedagógica assenta-se mais na vacuidade, no eterno, na atopia e na utopia, como assinala Gaston Bachelard.
2008
Mesac Roberto Silveira Junior