RCAAP Repository

A dimensão educativa da luta de mulheres por moradia no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de São Paulo

Essa pesquisa, de caráter eminentemente qualitativo, trata dos processos de socialização política de mulheres militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Paulo e tem por objetivos: (i) apreender de que modo tais mulheres adquiriram, ao longo de suas trajetórias de vida, disposições para o engajamento político e, no mesmo sentido, (ii) compreender como são interiorizadas e transmitidas, na experiência do próprio movimento, novas disposições para a defesa e ação em causas coletivas; (iii) analisar as especificidades das práticas educativas propiciadas pela dinâmica e organização do MTST e, finalmente, (iv) investigar a posição das mulheres militantes na organização desse movimento. A pesquisa volta-se, portanto, para as (pré)disposições resultantes de processos de socialização anteriores à entrada no movimento e que contribuíram para tal engajamento (tais como família, escola, bairro, igreja) de um lado e, de outro, para as novas disposições que se desenvolvem por meio de diferentes processos formativos e de socialização política dessas mulheres no interior do próprio movimento. O MTST embora seja identificado como movimento de luta por moradia, é um movimento social que defende transformações sociais mais profundas, que vão além da reforma urbana e da luta contra a especulação imobiliária. Atualmente, o MTST é constituído por cerca de 40 mil famílias que vivem em algum tipo de ocupação, além das famílias que, mesmo não vivendo em terrenos ou imóveis ocupados, participam das atividades do movimento, tais como manifestações públicas, assembleias e curso de formação política, tendo em vista conquistar também sua casa própria. Praticamente a totalidade dessas famílias apresentam propriedades sociais que, num primeiro momento, poderiam ser consideradas desfavoráveis à participação e ação política dado as precárias condições de vida a que estão submetidas. Porém, tais características não parecem ser definidoras do engajamento haja visto que muitos dos movimentos sociais têm sua origem em parcelas empobrecidas da população. Os procedimentos metodológicos foram constituídos nas seguintes etapas: (i) observação das ocupações, das assembleias, cursos e reuniões, em especial, as atividades desenvolvidas no Casarão (sede do MTST em São Paulo); (ii) escolha dos depoentes para realização de entrevistas em profundidade e (iii) análise dos dados tendo em vista desvendar as especificidades das dimensões educativas envolvidas nos processos de socialização e engajamento político.

Year

2018

Creators

Hamilton Harley de Carvalho-Silva

Escola que inclui, cidade que educa: apropriação do Programa Mais Educação em uma escola na periferia de São Paulo

Esta pesquisa tem como objetivo compreender como as práticas escolares de uma escola da periferia da cidade de São Paulo têm se havido com a proposta de integração escola-cidade presente no Programa Mais Educação e suas diretrizes para o combate à exclusão social e escolar, a construção de uma cidade educadora, e a consolidação de uma escola comprometida com valores cidadãos. Para isso, realizamos um trabalho de investigação a partir de uma dupla trajetória. A primeira trajetória parte de uma leitura histórica para problematizar a tendência naturalizante e dualista das interpretações sobre o problema da exclusão social, por meio de uma interpretação da escola e da cidade modernas e sua crise nos dias de hoje, e de uma análise dos programas Mais Educação e Cidade Educadora. A segunda é baseada em um estudo de caso, que contou com o acompanhamento cotidiano de uma escola, dos trabalhos pedagógicos realizados em seu interior, de entrevistas com o diretor, os coordenadores, os professores e estudantes, e das análises dos Trabalhos Colaborativos Autorais (T.C.A.). Como resultado, o processo de pesquisa apontou dimensões contraditórias nas apropriações do Programa na escola que sinalizam para as formas de resistência dos estudantes quando se veem em meio a um processo de elaboração particular acerca dos temas de suas vidas cotidianas na cidade e na escola, tais como: a exclusão social, a violência contra mulher, a violência policial, o tráfico de drogas, a segregação espacial, os problemas ambientais, entre outros.

Year

2018

Creators

Marina Braguini Manganotte

A formação docente na contemporaneidade: do sintoma à possibilidade

Esta pesquisa buscou identificar uma experiência no campo da formação de professores que carregasse indicativos de ruptura com o modelo estabelecido de formação por um especialista. Encontrou-se, no projeto desenvolvido por um grupo de professores, indícios de uma ruptura a esse modelo. A pesquisa está fundamentada a partir de estudiosos do campo da formação docente, como Antônio Nóvoa, Maurice Tardif e Philippe Perrenoud. De forma a indagar o ideário predominante de formação docente, buscou-se o aporte teórico na psicanálise, a partir de autores como Sigmund Freud, Jacques Lacan e Rinaldo Voltolini. O desenvolvimento deste estudo pautou-se na metodologia etnográfica. Concluiu-se que o projeto elaborado por esses professores levou ao engajamento desses profissionais com sua formação, de modo a se responsabilizarem como sujeitos de saber para o ato educativo.

Year

2018

Creators

Carmen Lucia Rodrigues Alves

A música, linguagem tradutora: a Nota Azul e outros matizes

Esta dissertação expõe uma investigação sobre como a música pode tocar o sujeito humano, sobretudo no Real da teoria lacaniana, em uma experiência denominada, pelo psicanalista francês Alain Didier-Weill, Nota Azul, e perscrutar elementos da música que atingem o sujeito ouvinte no que ele sente e pensa o traduzir e mobilizar identificações da ordem racional e da ordem inconsciente. O trabalho constitui-se de um levantamento teórico sobre o entendimento da música como linguagem, a partir dos olhares da Linguística e da Psicanálise, expondo a forma como a música pode falar sobre os mais diversos afetos humanos aquilo que se sabe dizer sobre o que se sente e também aquilo que escapa à linguagem. Atém-se à teoria da Nota Azul, que vem falar desse lugar inapreensível pelo entendimento. Apresenta a pesquisa qualitativa realizada, composta de entrevista com cinco sujeitos músicos em escuta sobre suas experiências como ouvintes de música e sobre como se sentem tocados por ela. A análise de dados seguiu as diretrizes da análise de conteúdo de Bardin (2016). Os resultados obtidos trouxeram dados significativos sobre como a música é uma importante via da arte que tenta dar conta de questões profundas do sujeito humano.

Year

2018

Creators

Fernanda Keli Pereira

A proposta curricular do estado de São Paulo de 2008: discurso, participação e prática dos professores de matemática

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDBEN) do ano de 1996, iniciou-se a produção de diversos documentos, tanto de orientações como de definições em torno da organização de conteúdos, ou ainda, sobre as ideias geradoras dessas bases. Surgem daí os Parâmetros, Diretrizes e Orientações Curriculares Nacionais que, juntamente com as inovações educacionais, o desenvolvimento científico, econômico e social, ou mesmo influenciados pela opção política, subsidiam os processos das reformas ou mudanças curriculares produzidas nos estados. Esta pesquisa trata de compreendermos e discutirmos como se estabelecem as relações de (in)compreensões dos professores de Matemática que dela participaram e que atuam na rede de ensino da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo: o engajamento dos professores; os elementos facilitadores e dificultadores percebidos por eles nesse processo, e as possibilidades de resistências na prática da sala de aula. Para tanto, produzimos e aplicamos questionários e entrevistas a dois grupos de professores, em três regiões do Estado de São Paulo. Elaboramos, dessa forma, três eixos principais que nortearam nossa pesquisa: o currículo, a competência e a prática docente. Sobre o currículo, pesquisamos suas concepções, as teorias que o influenciam e as pesquisas em Educação e Educação Matemática que fomentam a produção desses documentos. A competência é elemento inovador nos documentos curriculares; ela invade os currículos, porém, produz pluralidade em seu significado. Quanto à formação dos professores, destacamos tanto o conhecimento profissional destes como a resistência elaborada nos seus discursos.

Year

2013

Creators

João Acácio Busquini

Corpos e culturas invisibilizados na escola: racismo, aulas de educação física e insurgência multicultural

A presente pesquisa examina a presença do racismo em uma escola pública municipal do estado de São Paulo identificando, em sua recorrência, a geração dos dispositivos de invisibilização de certos corpos e culturas nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Tem no cotidiano escolar o seu lócus de atuação e, nas aulas de Educação Física, o seu foco prioritário de observação e análise. Acolhe também os demais ambientes escolares como espaços onde se perpetuam as relações desiguais de poder, produtoras dessa forma de discriminação racial. Analisa criticamente o fenômeno a partir de duas principais perspectivas: a primeira são os Estudos Culturais fundamentados em Hall (1997, 2000, 2006) e Silva (1996, 2000, 2004, 2008, 2010); e a segunda o multiculturalismo crítico a partir das ideias de McLaren (2000). No que tange ao racismo, os escritos de Munanga (2000, 2005, 2008), Telles (2003) e Carone e Bento (2007) compõem o suporte teórico orientador. O estudo tenciona o entendimento de alguns dos mecanismos de exclusão que desautorizam determinados sujeitos e todas as suas representações sócio-histórico-culturais. Identifica a presença de uma identidade-referência fundada no modelo branco, masculino e euro-estadunidense que há décadas permeia a construção das subjetividades de alunas e alunos, levantando a suspeita do desencadeamento do processo aqui conceituado invisibilização. Por ter no ambiente natural a sua fonte direta e mais importante de dados, sendo o pesquisador o instrumento principal e mantendo contato direto e afinado com a situação na qual os fenômenos ocorrem, levando em conta todas as perspectivas dos envolvidos e a imersão na realidade estudada, elegeu-se o estudo de caso como método. Para a análise de dados foi utilizada a hermenêutica crítica, dada a sua possibilidade de efetuar um aprofundamento na interpretação dos textos apreendidos na conjuntura e contexto pesquisados, entremeando os resultados imediatos de uma observação do legível e também o requisitado na intencionalidade dos seus produtores. Como resultados se destacam: 1) o entendimento por parte das(os) docentes e equipe gestora da falta de necessidade de ações equitativas para as(os) alunas(os) negras(os) por serem iguais enquanto seres humanos; 2) o entendimento de que não se deve levantar discussões que digam respeito ao comportamento racista, por conta dessa atitude estimular ainda mais o fenômeno; 3) a falta de interesse e preparo da escola para lidar com as questões raciais; 4) a existência de um processo coletivo de visibilização para a invisibilização das(os) alunas(os) negras(os) e suas culturas (corporais) nas aulas de Educação Física em específico, e nos demais espaços escolares, de uma maneira geral, regulado culturalmente; 5) a convicção de que a superação do racismo depende unicamente da vontade discente; 6) uma incidência mais sofisticada do fenômeno do racismo, fazendo com que docentes e equipe gestora reconheçam sua existência, sem, no entanto, o perceberem. Finalmente, chama a atenção para o multiculturalismo crítico como possibilidade insurgente tanto na desconstrução das hierarquias discentes vigentes na escola, quanto na contemplação das diferenças e dos diferentes.

Year

2013

Creators

Antonio Cesar Lins Rodrigues

O princípio de continuidade e a relação entre interesse e esforço em Dewey

O objetivo desta tese é analisar o princípio de continuidade e a relação entre os conceitos interesse e esforço à luz da filosofia deweyana no âmbito da educação. Inicialmente buscamos entender o que são princípio e conceito em filosofia. A partir dessa primeira reflexão, adentramos o pensamento de John Dewey, nosso principal referencial teórico. Além de Dewey, buscamos suporte teórico nos filósofos présocráticos Parmênides e Heráclito, em Platão, além de modernos como Rousseau, Kant e Hegel. Inicialmente fizemos um levantamento bibliográfico, onde buscamos, primeiramente, localizar em quais obras Dewey fazia alusão à palavra continuidade, enquanto princípio ou não. Das obras pesquisadas, poucas não faziam qualquer alusão ao princípio de continuidade. No tocante ao dualismo, ainda prevalece na sociedade essa visão dicotômica que tem na filosofia clássica grega sua fundamentação teórica. Sua extensão para a educação é uma consequência. Houve avanços, mas não mudança efetiva. Embora educadores como Dewey mostrem a necessidade de se fundamentar a pedagogia no principio de continuidade, não é isso que acontece; a pedagogia tradicional que está fundamentada no dualismo ainda prevalece. Isto posto, são necessários estudos que possam corroborar esse princípio cada vez mais para uma mudança conceitual da meta que se quer atingir através do processo de ensino e aprendizagem.

Year

2011

Creators

Eliezer Pedroso da Rocha

Educação infantil de 0 a 3 anos: um estudo sobre demanda e qualidade na região de Guaianazes, São Paulo

A pesquisa realizada na região de Guaianazes, periferia da cidade de São Paulo, teve por objetivo compreender como são implementadas as políticas públicas, aqui as de Educação Infantil, particularmente as dirigidas às crianças de 0 a 3 anos de idade. Para tanto, foram realizadas entrevistas com diretores, professoras, coordenadoras pedagógicas e mães de duas creches da região, denominadas centros de educação infantil, além da diretora regional de educação. Foram ainda realizadas doze horas de observação em cada um dos centros. Um estudo documental completou o conjunto de recursos necessário para a investigação. Como resultado foi verificado que a demanda por vagas é a tônica e seu equacionamento, um poderoso pretexto para a expansão da rede conveniada de creches, seguindo a tendência geral do município. Dessa forma, o estudo indicou que aspectos importantes para a caracterização da educação infantil de qualidade, como espaços físicos ou formação profissional são deixados em segundo plano. As entrevistas, principalmente, evidenciaram que a situação de pobreza da região e uma suposta desestruturação familiar, presente solidamente no discurso da dirigente entrevistada e no dos demais produzem ações para crianças carentes, e não competentes como se reconhece na literatura recente. Os vários documentos federais e municipais apresentam uma visão de educação infantil, que concebem uma criança rica, ativa e produtora de cultura, mas são as condições materiais dessas crianças que definem as concepções dos sujeitos envolvidos na área, bem como a forma como essas concepções adentram na política pública para determinar a sua conformação.

Year

2013

Creators

Maria Aparecida Antero Correia

Da criança-problema à escola-problema: discursos e relações de poder

Crianças e adolescentes que não aprendem ou têm problema de comportamento na escola possuem algum comprometimento intelectual e/ou biológico. Esse enunciado esteve presente nos discursos (re)produzidos dentro e fora da escola pelas instituições educacionais, médicas, psicológicas, jurídicas e familiares ao longo dos últimos séculos. A partir dos anos de 1930, boa parte dos alunos que eram considerados anormais até a virada do século XIX para o XX, passou a receber o rótulo de criança-problema, deixando de ser considerado como portador de um defeito para ser visto como vítima de um meio desajustado. De condenados ao fracasso a priori, passaram a ser considerados tratáveis, tendo a pedagogia como principal aliada da medicina. Neste trabalho analisamos, sob a perspectiva foucaultiana, discursos educacionais presentes na rede pública paulistana tendo como referência a intervenção dos Núcleos de Apoio e Acompanhamento para Aprendizagem (NAAPA) que, direta e indiretamente, normalizam e controlam as práticas dos educadores frente aos estudantes que não atendem às expectativas de aprendizagem e comportamento da escola e da sociedade. Inicialmente, realizamos um levantamento de dissertações e teses publicadas nas últimas três décadas pelas principais universidades brasileiras que se dedicaram a analisar discursos institucionais/governamentais sobre criança-problema, fracasso escolar, queixa escolar e medicalização. No segundo capítulo apresentamos discursos produzidos pelos homens da ciência e legitimados pelas instituições que, desde o século XIX, vêm se apropriando de ideias racistas, eugenistas e higienistas que, em certa medida, ainda definem os que são ou não aceitos. Apresentamos também dois serviços acessados pelas escolas públicas paulistanas quando se trata de alunos desajustados: os laudados, ou seja, aqueles que foram classificados pelo poder médico como pessoas com deficiência e as crianças ou adolescentes considerados normais pelo saber clínico, mas que apresentam problemas de aprendizagem e comportamento no ambiente escolar. Nesse último caso, campo de atuação do NAAPA, entende-se que a vulnerabilidade social e as práticas escolares sejam os fatores que explicam o descompasso entre o ensino e a aprendizagem. O último capítulo é dedicado à caracterização dos discursos que são produzidos e reproduzidos no âmbito do NAAPA. A análise se detém sobre os quatro volumes dos Cadernos de Debate do NAAPA, nos quais estão reunidos discursos acadêmicos, legais e os produzidos nas experiências das equipes do Núcleo junto às escolas sobre os problemas de comportamento e aprendizado na escola. Por fim, utilizamos os conceitos de dispositivo e confissão, tal como formulados por Michel Foucault, para analisarmos os discursos produzidos pela rede municipal de educação paulistana acerca da criança-problema. Procuramos demonstrar que os discursos e as práticas levadas a efeito pelo NAAPA, deslocam o problema, antes localizado na criança e depois na família, para a escola, haja vista a sua ineficiência pedagógica e a sua incapacidade de confessar a sua culpa. Defendemos que esse último deslocamento produziu um novo objeto do discurso e de intervenção: a escola- problema.

Year

2021

Creators

Alexandre Cesar Gilsogamo Gomes de Oliveira

Reflexões e análises do cotidiano de um curso de formação de professores de ciências e/ou biologia

O presente trabalho apresentou nos capítulos teóricos a relação entre conhecimento e ciência, identificando algumas de suas características e de seus significados através dos tempos. O projeto da modernidade foi questionado e tentamos apontar que limites são esses. Além disso, verificamos a relação entre esses limites da ciência moderna e a teoria da complexidade. Definições de ensino e de aprendizagem, segundo alguns autores, foram apresentadas,assim como as relações existentes entre as concepções de conhecimento e o processo de ensino-aprendizagem foram explorados. Destacamos também o papel do professor e do aluno em cada uma das abordagens dando ênfase a esses papéis na pedagogia centrada na relação e na interação. Para falarmos das concepções docentes do conhecimento científico, do ensino e da aprendizagem numa abordagem reflexiva, contextualizamos a formação inicial e/ou continuada de professores. A questão que norteia a tese refere-se à identificação das concepções de ciência, ensino e aprendizagem de onze professores de ciências e/ou biologia da rede particular de ensino do município de São Paulo e suas representações sobre problemas da prática de ensino e de aprendizagem. Para atingir os objetivos a que nos propusemos nesta pesquisa, dois instrumentos foram utilizados, independentes, mas complementares. O primeiro deles foi o oferecimento de um curso de extensão sobre ensino de ciências para professores em serviço, e o segundo foi a aplicação de questionários. Os procedimentos metodológicos utilizados foram: descrever e analisar, sob a perspectiva da abordagem qualitativa, os encontros do curso de extensão e classificar e analisar as concepções de ensino-aprendizagem desses professores, verificando que representações esses têm da sua prática docente, segundo Becker (1993). Algumas de nossas conclusões em relação às características principais do curso de formação continuada de professores foi: que a ciência foi tratada como verdade transitória e dependente de vários contextos, os professores foram respeitados no que concerne a suas necessidades e insatisfações, contemplaram-se os conhecimentos prévios e, houve cuidado em integrar a teoria e a prática docente.Questionamentos foram feitos provocando conflitos que podem permitir a construção gradual e não linear do conhecimento, a partir do diálogo constante entre os envolvidos no curso de formação. Além disso, classificamos a concepção de ensino-aprendizagem dos professores participantes do curso como interacionista quando perguntamos diretamente o que é ensino-aprendizagem e quais os papéis de professores e alunos nesse processo. Parece que a maioria dos professores muda para uma classificação empirista quando a questão é um problema da prática, a ser resolvido. Voltamos a classificar os professores como interacionistas quando pedimos a eles que descrevam uma aula sobre sistema digestório. Encontramos uma possível explicação para tal situação no fato de as questões diretas sobre ensino-aprendizagem e papel do professor e do aluno serem muito semelhantes à natureza da questão do sistema digestório, isto é, perguntas diretas, e diferentes de uma situação problema do cotidiano. A explicação que encontramos para aparente paradoxo foi a utilização de slogans, segundo Scheffler (1974), por parte dos professores em situações em que as perguntas feitas são diretas e não solução para problemas.

Year

2010

Creators

Magda Medhat Pechliye

Bolsas de estudo no ensino fundamental privado, entre a universalidade de direito à educação e o clientelismo na educação: o caso de Nova Iguaçu/RJ

A bolsa de estudo para o ensino fundamental privado, financiada com recursos da educação pública, está prevista na CF/88 e na LDB/96 em caráter excepcional para atender ao direito público subjetivo de acesso ao ensino fundamental. Trata-se de uma excepcionalidade, pois a Lei permite o uso deste instituto sob três condições: quando não houver vaga na escola pública próxima à residência da criança, quando a criança não possuir recursos para financiar o próprio estudo em escola privada, e como conseqüência, o poder público obrigado a investir prioritariamente na solução da falta de vagas na local de moradia do aluno bolsista. Em resumo a bolsa deve ser transitória. A pesquisa tomou o caso de Nova Iguaçu/RJ, centrandose nos anos de 1997 a 2008, no entanto, mostrou que esse Município tem concedido bolsas de estudo de forma recorrente desde, no mínimo 1990, e no mesmo lugar e a crianças não necessariamente carentes, pois a maior parte delas já estava na escola quando receberam bolsa. O que caracteriza a sua ilegalidade, a sua inconstitucionalidade. A pesquisa objetivou entender a natureza da política de concessão de bolsas no âmbito deste Município. A hipótese de que a concessão de bolsas, mais do que uma resposta ao direito público subjetivo, seria uma forma de desviar recursos públicos à escola privada, pautada pelo clientelismo e pela troca de favores foi corroborada pela pesquisa. Para tanto, recorreu-se a uma combinação de métodos de pesquisa, ao paradigma indiciário e ao materialismo histórico. Procedeu-se a consultas a documentos do Município e a entrevistas com gestores da educação pública, da escola privada, políticos, lideranças sindicato dos trabalhadores da educação do Município, conselheiros na área da educação e aos próprios bolsistas. Constatou-se, sobretudo até o final de 2004, devido à forma sub-reptícia e à falta de transparência pública na sua concessão, que, até a sua extinção em 2008 pelo Governo Municipal, a sociedade civil enfrentou imensas dificuldades para exercer o papel de cidadão no controle social sobre esta política pública.

Year

2010

Creators

Percival Tavares da Silva

A configuração gráfica do livro didático: um espaço pleno de significados

Desde os primeiros códices até os atuais livros didáticos que são consumidos em quase todo o mundo, não houve grandes mudanças no seu formato: conjunto de folhas amarradas formando uma espécie de livro. Com tão pouca mudança nos códices, é o design que vem influenciando o seu formato e, consequentemente, a forma de interação com o público leitor: capas que despertam a atenção, fotos coloridas, ilustrações, páginas coloridas, inúmeras fontes, materiais diversos etc. Essas mudanças no layout também influenciam a confecção dos livros didáticos e também nas suas formas de uso. Dessa forma, esse projeto verificou como o formato dos atuais livros didáticos de Língua Portuguesa pode influenciar na sua recepção pelos estudantes, tudo isso se baseando em postulados a respeito da semiótica, da leitura e do design gráfico, pois as pesquisas em linguística que envolvem essas áreas são indicativas para a influência da receptividade do usuário. Para isso, foi feito um levantamento das coleções existentes na Biblioteca do Livro Didático (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo). Essa pesquisa, qualitativa e bibliográfica, constatou que há realmente necessidade de se investir na leitura não apenas da parte verbal, mas de toda e qualquer linguagem presente nos livros didáticos. Para isso, é preciso que o professor esteja apto a lidar com esse aspecto de forma a contemplar o que relata os PCN em relação a isso: leitura proficiente ao término dos estudos no Ensino Básico.

Year

2010

Creators

Persio Nakamoto

Imagens televisivas e ensino de História: representações sociais e conhecimento histórico

Esta pesquisa teve como meta a compreensão das formas pelas quais o uso das imagens em movimento (fílmicas e televisivas) nas aulas de História pode interferir na construção do conhecimento histórico dos alunos do Ensino Médio por meio de possíveis alterações em seu conjunto de representações sociais. Para tanto, foi utilizada uma metodologia desenvolvida especificamente para essa pesquisa a partir da união de métodos historiográficos, recursos etnográficos, pesquisa participante, conceitos de representações sociais e decupagem, usada para o cinema e para a televisão. A iniciativa procurou contribuir com respostas às dúvidas dos professores de História sobre a validade do uso de filmes e séries de televisão (produtos midiáticos constituídos de imagens em movimento), buscando evidenciar alternativas de trabalho prático, em sala de aula, que possam contribuir para o aprimoramento da Didática da História.

Year

2010

Creators

André Chaves de Melo Silva

Uma travessia aprendente: trajetórias e desafios que marcam a transformação do trabalho político-pedagógico da Cáritas Brasileira em uma pedagogia da participação popular

A prática político-pedagógica da Cáritas Brasileira, marcada na seu início pela sua natureza assistencialista e em descompassos com a educação popular, esta fortemente associada ao processo de construção dos movimentos sociais populares, passou por um processo de transformações a partir da sua proximidade e envolvimento com comunidades, movimentos e organizações sociais ligadas ao campo da educação popular, que a levou, gradualmente, a se consolidar como um modelo educativo de caráter transformador e emancipatório, afirmando-se, hoje, como uma importante organização de assessoria popular. Esse projeto de pesquisa se propõe a fazer uma travessia sobre os meandros da história do trabalho social da Cáritas e sua relação aprendente com a educação popular, procurando compreender os significados e sentidos da sua prática político-pedagógica em cada uma das diferentes fases do seu trabalho social. Além de me propor a realizar um trabalho de sistematização e análise do percurso histórico da Cáritas no Brasil (1956- 2007) e sua interação com a educação popular, achei importante, também, desenvolver um processo de reflexão em torno de um dos seus programas de ação atual: o Programa de Políticas Públicas (2000-2007), aprofundando as concepções, objetivos e estratégias utilizadas na ação desse programa como expressão da fase atual do trabalho social da Cáritas e como resposta aos desafios e exigências que se colocam nesse período para a construção da participação popular diante do contexto de hegemonia neoliberal e fragmentação e desmobilização das forças sociais populares. Além de me referenciar na rica bibliográfica existentes sobre o debate da educação popular como uma pedagogia da participação popular, realizei uma atividade de pesquisa no interior da Cáritas, a partir do trabalho de seleção e análise documental e entrevistas realizadas com seus agentes das instâncias regionais e nacional e com lideranças e agentes sociais dos movimentos e comunidades apoiados com a ação desse programa analisado, como procedimentos metodológicos para viabilização dos objetivos propostos. O amplo trabalho social desenvolvido pela Cáritas e as trajetórias e desafios que marcam a sua transformação em uma pedagogia da participação popular, apresentados aqui nesse trabalho, são ricas contribuições para o processo de análise da história do trabalho social da Igreja, dos movimentos e organizações sociais e da própria educação popular.

Year

2010

Creators

Edinaldo Costa de Andrade

Masculinidades, raça e fracasso escolar: narrativas de jovens na educação de jovens e adultos em uma escola pública municipal de São Paulo

Nesta tese, busca-se uma reflexão sobre a dimensão simbólica dos conteúdos de gênero existentes em narrativas de jovens rapazes estudantes de um projeto de EJA da rede municipal da cidade de São Paulo, o chamado projeto CIEJA. A coleta de dados foi realizada em uma das unidades do referido projeto e o problema do estudo foi construído a partir da percepção da recente concentração de jovens rapazes, negros e pobres, na educação de jovens e adultos. Assim sendo, procurou-se verificar e investigar as possíveis relações entre masculinidades, raça e rendimento escolar, tendo por base os relatos dos jovens sobre as experiências escolares vividas antes e após seu ingresso no CIEJA. A proposta metodológica presente nessa investigação considera que relatos narrativos são portadores de reflexões que dotam de sentido as ações individuais, de tal forma que ao tomar em consideração as histórias contadas sobre a escolarização é possível ter acesso aos símbolos culturais que estruturam e fundamentam as masculinidades em sua relação com o rendimento escolar. Foram realizadas entrevistas com jovens, uma entrevista em grupo com o corpo docente da unidade do CIEJA e outra com a equipe técnica responsável pela gestão e orientação pedagógica da escola. A análise dos dados revela que os jovens compartilham significados de gênero condizentes com o que esperavam ser o modelo hegemônico de masculinidade nas escolas. A hegemonia e o caráter normativo dessa forma de identidade de gênero masculina foram mantidos ao longo de seus percursos escolares, através de práticas lingüísticas e corporais que lhes possibilitavam perceberem-se fortes, capazes de causar problemas e bem sucedidos em práticas esportivas associadas ao universo masculino, como o futebol. Desta forma, a medida do sucesso escolar, para esses jovens, está vinculada ao êxito das estratégias adotadas para preservar no espaço escolar os símbolos de gênero que estruturam o modo como entendem o que significa ser homem. O estudo constata também que jovens negros, embora estabeleçam relações de cumplicidade com o modelo hegemônico, compartilham uma masculinidade marginalizada, em função das contradições envolvidas em sua corporalidade, enquanto símbolo e fonte de expressão de masculinidade. Conclui-se que o projeto CIEJA procura resgatar a condição de sujeitos desses alunos, criando um espaço educacional diferenciado. Todavia, os significados do modelo hegemônico que esses jovens compartilharam, ao longo do ensino fundamental regular, permanecem incólumes durante sua trajetória no CIEJA, apontando assim outras possibilidades de reflexão para a compreensão e intervenção pedagógica junto a esses jovens.

Year

2009

Creators

Rosemeire dos Santos Brito

A descentralização de recursos financeiros como indutor da gestão democrática. Estudo sobre as escolas municipais de São Carlos, SP

A gestão democrática, a autonomia e a participação popular nos processos decisórios são elementos que sintetizam as características das relações sociais que fundamentam um tipo de sociedade pautada em relações transparentes e solidárias. Nesse sentido, a escola pública é local privilegiado para o estabelecimento de relações sociais dessa natureza. A instituição de canais de participação e a oferta de condições institucionais, materiais e humanas para as escolas públicas são elementos indispensáveis para que isso se realize. A implementação de políticas públicas comprometidas com as classes trabalhadoras sugere que o Estado, por intermédio de suas instituições, se aproxime dos usuários dos bens e serviços públicos, provendo-lhes os meios necessários que garantam condições dignas para o exercício da cidadania. No caso das escolas públicas municipais de São Carlos, a regularidade na disponibilização de recursos financeiros para os gestores escolares foi uma forma de descentralização adotada pela Administração Municipal de São Carlos, no período 2001-2004 para garantir as condições materiais de funcionamento das escolas, com a participação popular. A análise dos dados demonstrou que essa política pública é um instrumento importante para atender as necessidades materiais e de serviços mais imediatos das escolas públicas. O desenvolvimento do trabalho mostrou que a prioridade dos gastos foi com a manutenção predial e aquisição de materiais pedagógicos, contudo as características históricosociais da cidade de São Carlos são elementos dificultadores para que as intenções democratizantes da gestão estudada, com a instituição de canais de participação popular e outros mecanismos de aproximação do Estado dos usuários dos bens e serviços públicos fossem apropriados. Como instrumento indutor da gestão democrática, a análise reafirmou o tecido social da cidade e mostrou que a organização interna, na maioria das escolas públicas, não tem favorecido a participação popular. Como proposta, o estudo sugeriu o aprimoramento dos critérios utilizados para a descentralização de recursos financeiros para as escolas municipais e o fomento às ações que possam contribuir para que haja a ruptura com práticas tutelantes.

Year

2009

Creators

Teresa Lúcia Silva

Sobre laços entre tratar e educar na obra freudiana: uma discussão a respeito da proximidade

O presente estudo discute os laços entre o tratar e o educar na obra freudiana. A partir da constatação de certa confusão entre tratar e educar, verificada por meio das publicações a respeito do assunto, bem como pelas queixas daqueles que se ocupam do tratamento e da educação, partimos do questionamento sobre a existência da proximidade entre essas duas posições e propusemos uma discussão que, por esse viés, pudesse ajudar a desfazer a mencionada confusão. A escolha por esse percurso revelase interessante porque as produções que discutem o assunto parecem sublinhar a diferença em detrimento da proximidade entre tratar e educar. Caracterizamos a proximidade em termos de tipos de laços diferentemente qualificados: um laço inicial denominado simbiótico, em que o educar é tomado pelo tratar, em termos de um fim instrumental, e essa relação, do ponto de vista do tratar, fica caracterizada pela complementaridade o tratamento analítico é definido a partir de expressões próprias ao campo do educar e o caráter profilático que por um longo período definiu o tratamento é atribuído à educação; o outro laço é definido a partir da distinção entre tratar e educar. Num percurso genealógico pelos textos freudianos, foi possível acompanhar a construção do tratar e o interesse específico de Freud pelo educar, bem como as conseqüências das mudanças que esse processo implica. A mudança de um tipo de laço para outro não se dá de uma só vez, e é resultado das reformulações na concepção do tratamento frente aos impasses que Freud vai encontrando. Nesta pesquisa, que aborda o tratar e o educar como práticas distintas, discutimos a questão da aplicação da psicanálise à educação e a forma rigorosa e cuidadosa como Freud aborda o assunto, questionando não só a possibilidade de uma intersecção entre psicanálise e educação, mas também o modo como tal relação poderia se dar. A partir desse ponto, foi possível dialogar com os textos que tomam tal intersecção predominantemente do ponto de vista da diferença, mas buscando fomentar, seguindo o próprio trajeto freudiano, outros modos de discutir o assunto, considerando a proximidade entre tratar e educar. Encerramos este estudo com a discussão da proximidade a partir da atribuição do estatuto de impossível, tanto para a psicanálise como para a educação.

Year

2009

Creators

Camille Apolinario Gavioli

Implicações da cultura grafocêntrica na apropriação da escrita e da leitura em dois diferentes contextos

Este estudo se propõe a apresentar e a analisar pesquisa realizada sobre o tema da apropriação da escrita em diferentes contextos grafocêntricos. Os dados coletados e analisados referem-se a quatro classes de 1ª série do Ensino Fundamental situadas em duas cidades no estado de Santa Catarina, uma metrópole e uma pequena cidade interiorana. Em cada uma das cidades, foram selecionadas duas escolas, uma pública e uma privada, como campo de estudo, tendo como critério de seleção a localização geográfica, isto é, pertencerem ambas ao mesmo bairro. O processo valeu-se da pesquisa qualitativa de base etnográfica, tomando o estudo de caso como condução norteadora do olhar investigativo. O objetivo foi analisar a implicação da cultura grafocêntrica no processo de alfabetização de crianças de 1ª série, razão pela qual foram selecionadas cidades com contextos grafocêntricos bastante díspares. Entendemos que a apropriação da escrita representa, hodiernamente, o desenvolvimento de uma habilidade primordial para a ascensão profissional, para a inserção em entornos culturais de prestígio social e para uma vida cidadã. Avaliações nacionais e internacionais, no entanto, têm demonstrado a dificuldade da escola em formar escritores e leitores competentes. Estudos sobre letramento indicam que as pessoas, embora escolarizadas, possuem enormes dificuldades para realizar a leitura de um texto de média complexidade, compreendê-lo e interpretá-lo, bem como de utilizar a escrita de modo autoral, tendo reduzida, assim, sua capacidade de plena utilização de sua língua, isto é, dos usos sociais da escrita e da leitura. Ao longo deste estudo, a conjunção de duas importantes agências de letramento, escola e família, ratificou-se como lugar de oferecimento de oportunidades efetivas à criança para que se aproprie da escrita e da leitura. Assim, a presente pesquisa buscou compreender as implicações que distintos contextos grafocêntricos trariam ao processo de apropriação da escrita por crianças em fase de alfabetização, encontrando, porém, respostas mais efetivas nas relações entre ambientação familiar e tipologia de escola. Tal constatação permitiu que emergissem características que explicam o comportamento das escolas públicas analisadas: impermeabilidade e invisibilidade, fatores, ao que parece, comprometedores, em maior ou menor grau, das possibilidades de apropriação da escrita por parte das crianças.

Year

2009

Creators

Angelita Mendes

Ensinar e aprender a ver

Esta pesquisa aborda o processo de ensinar e aprender a ver sob diferentes ângulos. Em sua primeira parte, utiliza o método genético proposto pela teoria sociocultural para investigar o desenvolvimento da percepção visual na filogênese, na história social e na ontogênese. A segunda parte tem como objetivo mapear o papel da percepção visual nas propostas educativas de apreciação, fruição e leitura de imagens e objetos. O estudo da literatura revelou três tendências nas metodologias que privilegiam o desenvolvimento da percepção visual: a visual-verbal, a modernista e a semioticista. Em uma pesquisa de campo realizada na Universidade Roehampton, em Londres, foram entrevistados oito profissionais envolvidos na definição de políticas educacionais e na formação de professores de arte e design na Inglaterra. Os resultados indicaram que não existe consenso a respeito dos conhecimentos e habilidades necessários para engajar os estudantes no diálogo com obras de arte, nem sobre o papel dos conceitos visuais neste processo. A terceira e última parte da investigação consistiu em uma pesquisa de campo no Brasil. A coleta de dados foi feita através da gravação em áudio de três aulas de apreciação de imagens em organizações não governamentais que se dedicam ao ensino de artes e de duas visitas guiadas em museus de arte. Para analisar os dados, foi utilizada uma versão adaptada da ferramenta sociocultural de Eduardo Mortimer e Phil Scott (2002; 2003). Esta ferramenta, originalmente desenvolvida para o ensino de ciências, tem como foco o processo de construção de significados através do diálogo da sala de aula. Sua versão adaptada para o ensino de artes visuais se mostrou um instrumento capaz de revelar com detalhes o que se passa nas aulas e visitas guiadas, tanto pela possibilidade de mapear os aspectos da experiência estética privilegiados pelo professor como pela clareza com que permite descrever a metodologia utilizada. Uma comparação entre as atividades de apreciação e leitura nas cinco instituições aponta uma grande diversidade de abordagens e metodologias. Os resultados indicam, portanto, que não há uma concepção comum sobre objetivos, conteúdos e métodos que indicie a existência de um gênero de discurso no ensino de artes visuais no Brasil.

Year

2009

Creators

Rachel de Sousa Vianna

Ensino de filosofia e linguagem escrita: contribuições da filosofia na formação do jovem contemporâneo brasileiro

Qual é o lugar da escrita no ensino da filosofia no Ensino Médio? Partindo desta pergunta e sob a perspectiva da cultura e da linguagem, defende-se a tese de que uma das formas viáveis da filosofia poder contribuir para a formação do jovem contemporâneo brasileiro é realizar essa atividade intelectual com ênfase na idéia do desdobramento leitura-escrita, concebendo esta última como produtora e estruturadora de pensamento. Trata-se de uma reflexão sobre a escrita filosófica, viabilizada pela leitura de quem intenciona a escrita e não pela leitura para saber, isto é, para acumular ou reproduzir conhecimento. Desde seu momento inaugural, com Platão, a tradição filosófica reserva à escrita um segundo plano, geralmente como registro ou atividade auxiliar para avaliação do aprendizado através da leitura ou do diálogo. Nos contextos de crise, é vista por alguns com desconfiança; por outros, como privilégio reservado a poucos. O que se constata, é que a escrita é uma das atividades essenciais do filosofar e possui caráter formador que precisa ser valorizado. Raros são os pensadores que não escreveram e, além do mais, vive-se num contexto em que a escrita, num sentido geral, é onipresente. A escrita filosófica, no nível da formação média, pode ser um contraponto às várias modalidades de produções disponíveis, caracterizadas pela velocidade e superficialidade. Sua consistência, tempo e modo de elaboração servem como resistência ao descartável. Sua finalidade é produzir sentido, nesse jogo de linguagem que é a filosofia.

Year

2009

Creators

Marcelo Donizete de Barros