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Brasil em tempos de crise: um estudo sobre a consciência histórica de jovens estudantes
Com esta tese, objetivamos entender a construção da consciência histórica de jovens estudantes a partir de reflexões sobre acontecimentos que lhes são contemporâneos. Nossa hipótese foi a de que perspectivas sobre o tempo presente, em suas dimensões política, econômica, social e cultural, influenciariam neste processo. De fato, no período em que os dados da pesquisa foram coletados, importantes acontecimentos no Brasil ganhavam projeção nos mais diferentes tipos de mídia. Poderiam estes eventos converterem-se em carências de orientação? Em outras palavras, seriam problemas capazes de incitar os/as participantes a buscar respostas na experiência do passado para, assim, efetuar as projeções de futuro? A pesquisa foi realizada em uma escola pública estadual localizada no Bairro Butantã, em São Paulo/SP e dividiu-se em dois momentos. No primeiro, realizado em 2016, empreendemos a uma observação participante, por meio da qual acompanhamos as aulas de história em turmas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. Nesta etapa, aplicamos 3 instrumentos: inicialmente, com o intuito de construir o perfil socioeconômico e cultural dos participantes; em seguida, perscrutar as ideias prévias evidenciadas em aula e; finalmente, analisar as operações do pensamento histórico em torno de concepções relacionadas ao Brasil hodierno. Realizado em 2017, o segundo momento da pesquisa baseouse em nova coleta de dados por meio de um instrumento que visava perceber as ideias de senso comum acerca do nosso país, de modo a ressaltar uma articulação temporal. Seguindo os pressupostos da Grounded Theory e com auxílio de um software computacional, o IRAMUTEQ, analisamos os dados que demonstraram a construção da consciência histórica dos/as jovens estudantes a partir de uma situação de crise. Evidenciamos, portanto, que os problemas atuais, apontados pelos/as participantes, incitaram-lhes a buscar respostas na experiência do passado para explicar o presente e, assim, efetuar as projeções de futuro.
2019
Aaron Sena Cerqueira Reis
A educação integral no século XXI: do Programa Mais Educação ao Programa Novo Mais Educação
Esta dissertação tem por objetivo apresentar resultados e conclusões da pesquisa intitulada: A Educação Integral no século XXI - Do Programa Mais Educação ao Programa Novo Mais Educação. A pesquisa constitui-se de um estudo descritivo analítico e desenvolveuse a partir da análise documental da legislação brasileira e outros textos que subsidiaram o Programa Mais Educação Federal e o Programa Novo Mais Educação Federal como políticas públicas. Nosso objetivo tentou compreender as propostas de educação integral apregoadas nos textos oficiais. Além disso, procuramos investigar o diálogo e/ou a resistência desses programas às concepções de educação disseminadas pelos reformadores da educação: Organismos Internacionais e empresariado. Este trabalho compreende o Programa Mais Educação como uma política pública contraditória, fruto do momento histórico e político que se desencadeou com os governos petistas (2002-2016). O período foi marcado por uma tentativa de conciliação entre os interesses das classes trabalhadoras e as aspirações da burguesia nacional e do grande capital. Diante do exposto, o programa apresentava uma real proposta de educação integral como formação de um ser em sua integralidade em seus diversos aspectos como humano e, ao mesmo tempo, conciliava-se com os interesses e consensos disseminados pelos reformadores neoliberais da educação.
2019
Thiago Alves de Oliveira
Avaliar as escolas estaduais para quê? Uma análise do uso dos resultados do SARESP 2000
Esta tese analisa a utilização dos resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo SARESP, do ano de 2000, como instrumento para direcionar as ações no nível das Diretorias de Ensino, visando à melhoria da qualidade do ensino público. Foram analisados 88 Relatórios de Avaliação do SARESP elaborados pelas Diretorias de Ensino, buscando-se identificar quais as propostas de ações políticas foram subsidiadas pelos resultados do SARESP e qual o potencial de essas ações melhorarem a qualidade do ensino. A partir da referência à reforma do papel do Estado, à política educacional em São Paulo e à avaliação educacional, detalhamos e aprofundamos a análise sobre o contexto de implantação e as principais características do SARESP, assim como sobre a utilização dos resultados da avaliação pelas Diretorias de Ensino. No decorrer do processo de investigação, ao ter conhecimento do conteúdo dos relatórios, ampliamos as questões inicialmente estabelecidas, analisando também os avanços e as dificuldades no desenvolvimento do trabalho pedagógico e algumas tendências que sinalizam a que tem servido a avaliação para além da produção da melhoria da qualidade do ensino nas escolas estaduais. Defendemos a tese que embora o SARESP tenha possibilidade de ser um instrumento para direcionar ações e políticas visando construir a qualidade do ensino nas escolas públicas estaduais, por estar alicerçado nos testes de rendimento dos alunos tem sido utilizado muito mais para dar visibilidade a esses resultados por escolas, estabelecendo um ranking que gera a comparação entre elas. Essa política faz parte de um movimento mundial de reformas educativas que buscam qualificar o ensino público com a criação de mecanismos que objetivam a competição entre as escolas. Ao fazer essa opção, essa política deixa de possibilitar que as escolas e as Diretorias de Ensino possam refletir sobre as condições nas quais os rendimentos dos alunos são alcançados e de propor iniciativas, ações e alternativas que viabilizem a construção de uma escola pública de qualidade.
Lembranças, esquecimentos e documentos: Ginásio Israelita Brasileiro Chaim Nachman Bialik e o enraizamento de um grupo judeu na cidade de São Paulo (1943-1955)
Este estudo situa-se no campo da investigação da História Educacional, particularmente a que se dedica as relações entre etnia/religião e minorias nacionais. O objeto de análise centra-se na trajetória do Ginásio Israelita Brasileiro Chaim Nachman Bialik. O ponto de partida desta reflexão concentra-se no período de sua fundação, no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo, em 1943, junto à sinagoga Beth Jacob até o ano 1955, momento de sua oficialização frente às autoridades educacionais brasileiras. Esta instituição foi fruto do esforço de um grupo de imigrantes da Europa Oriental e de ascendência judaica, tendo por objetivo proporcionar à comunidade uma opção consciente de educação com os valores, tradição e ética judaicos. A partir dessas colocações, é importante sublinhar que a comunidade judaica brasileira na verdade é plural, sendo provenientes de fluxos migratórios da primeira metade do século XX. E no momento de sua chegada eram considerados desenraizados, pois em seus países de origem eram qualificados como apátridas e aqui, como refugiados. Para desenvolver este estudo utilizou-se documentos do arquivo escolar, como também a coleta de depoimentos contemporâneos utilizando a metodologia da História Oral. Com base nessas fontes, foi necessário desvendar os indícios e/ou traços que permitiram visualizar a multiplicidade da trajetória deste grupo. O ponto de investigação gira em torno da relação escola/sinagoga que marcou a fundação da instituição. Torna-se oportuno, portanto, vincular o percurso institucional e o processo histórico educacional e político do país. Assim, há a preocupação nesta reflexão de perceber o alinhamento do sistema educacional com as formas de pensar e agir de parte da comunidade judaica européia em uma outra terra. Como também, compreender os agentes envolvidos no processo de formação e desenvolvimento econômico e social de parcela da comunidade no Brasil, promovendo o seu enraizamento. A escola Bialik no seu processo de constituição, analisado neste estudo, promove a visualização dos caminhos percorridos para a construção do sentimento de pertencimento a um grupo afetivo determinado, gerando assim, a elaboração de identidades multifacetadas.
2006
Irene Maria Gonçalves Pereira
Música, conhecimento e educação: harmonizando os saberes na escola
Este trabalho tem por objetivo analisar a importância da música na formação das pessoas e as possibilidades de sua inserção no currículo escolar. Partimos da observação de que a música vem perdendo espaço na escola, principalmente nas séries mais avançadas do ensino básico. Quando mantida no currículo, é geralmente tratada como disciplina isolada, desvinculada de um projeto educacional integrado. Observamos também uma supervalorização do conhecimento de natureza conceitual em detrimento daquele de natureza perceptiva. O desafio deste trabalho é entender de que maneira a música pode contribuir para a construção do conhecimento na escola. Iniciamos nossa pesquisa investigando as principais características que fizeram da música um elemento central na educação da Antigüidade. Também investigamos o papel da percepção nos processos cognitivos e as características da escuta musical segundo a perspectiva de alguns autores como Michael Polanyi, Maurice Merleau-Ponty, José Antonio Marina, José Miguel Wisnik, Lúcia Santaella e Charles Peirce. Analisamos também o valor da música como conhecimento e algumas possibilidades de integração da música na educação básica. Verificamos enfim, que a natureza específica do conhecimento musical pode favorecer a articulação entre diferentes formas de conhecimento - conceitual e perceptiva, tácita e explícita, corporal e intelectual. Por essa razão, a música deveria ser contemplada pela escola como parte fundamental da educação.
2005
Carlos Eduardo de Souza Campos Granja
Um estado de arte sem arte: estratégias para acompanhamento de crianças e adolescentes
A presente pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de mapear e analisar processos clínicos e de aprendizagens das crianças e adolescentes com sofrimento psíquico intenso, deficiência mental e em situação de vulnerabilidade social inseridas em um grupo terapêutico intitulado Conhecidências do Centro - grupo para crianças e jovens que faz parte da programação de um serviço público de saúde mental, que se propõe a realizar o acompanhamento dos participantes e experimentações junto com eles em espaços menos protegidos, não especializados, em espaços de uso comum da sociedade. Nos encontros deste grupo com instituições educacionais, de saúde e culturais, criou-se a demanda de pensar os processos de convivência, de experimentação e de aprendizagem dessas crianças e jovens, bem como dos profissionais das instituições que convivem com as mesmas. É possível que além de demandar das crianças, aprendizagem e adaptação, quem lida com elas também aprenda e se afete com elas também? Quais experimentações, experiências e interferências são possíveis com essa infância e juventude que foge das normas? O que se pode aprender com essas crianças (com ou sem deficiências e em situações de sofrimento psíquico), a fim de que acolhamos suas diferenças em nossa prática pedagógica e clínica? Essas são algumas das perguntas que dispararam a feitura desse trabalho e que deseja problematizar, assim como apresentar algumas pistas e hipóteses que podem contribuir para a produção de pensamento e de estratégias éticas e políticas no trabalho de acompanhar crianças e adolescentes.
\"Eu vim do mesmo lugar que eles\": relações entre experiências pessoais e uma educação física multiculturalmente orientada
Na atualidade, a sociedade, a escola e seus sujeitos estão diante das diversas e complexas questões impostas pela crise dos grandes modelos sociais fornecedores de sentido, sejam eles científicos, políticos, religiosos ou educacionais. Some-se a isso, o impacto da globalização que colaborou para estremecer e aumentar a diversidade cultural, causando o surgimento de novas identidades marcadas pela fragmentação. O presente estudo se fundamenta nas análises dos diversos aspectos da globalização e sua influência no meio escolar, das teorias pós-críticas que fornecem elementos para análise desse momento e do entendimento da importância da centralidade da cultura nos tempos pós-modernos, bem como o processo de constituição identitária. Em tal cenário, realizou-se uma pesquisa com o objetivo de conhecer quais elementos possam ter contribuído para a constituição de uma docência da Educação Física atenta à diversidade cultural. Como procedimento metodológico, optou-se pela pesquisa pedagógica qualitativa, devido ao seu compromisso com a ampliação, construção e interpretação das lógicas que influenciam as ações educacionais e a identidade docente. O material resultante da realização de entrevistas semiestruturadas foi confrontado com os campos teóricos dos Estudos Culturais e do multiculturalismo crítico. Partindo da análise das concepções de professores da rede pública, que colocam em ação o currículo multicultural da Educação Física, inferiram-se as possíveis relações entre a experiência pessoal, o olhar para a contemporaneidade e a atuação pedagógica. A partir das análises, podemos inferir que os elementos que contribuíram para a constituição de uma docência da Educação Física, atenta à diversidade cultural, podem ter sido gerados por uma trajetória de vida marcada pelo enfrentamento de situações socialmente adversas e pela adesão às práticas corporais produzidas pelos grupos minoritários. Talvez tenha sido esse o mote que os levou a aderir a uma proposta de ensino questionadora das formas de poder que exaltam o patrimônio cultural corporal hegemônico e discriminam o repertório dos grupos minoritários.
2013
Alexandre Vasconcelos Mazzoni
Pelas páginas dos jornais: recortes indentitários e escolarização do social do negro em São Paulo (1920-1940)
Esta investigação estudou o processo de escolarização do social a qual foram submetidos os negros da cidade de São Paulo nas primeiras décadas do século XX por meio da análise de dois jornais do conjunto denominado da imprensa negra paulista: O Clarim da Alvorada e Voz da Raça. A perspectiva utilizada na pesquisa compreende o processo de escolarização como um conjunto de fazeres e ações promovidas por sujeitos que acreditavam em uma educação construída segundo as suas demandas. O processo de educar/instruir deveria estar relacionado às reivindicações bastante peculiares do grupo ao qual se destinava e vir acompanhada de transformações materiais, distribuição de riqueza, justiça e igualdade social. Neste sentido, a partir da leitura e análise dos artigos, editoriais, seções, propagandas dos periódicos procurou-se desvendar qual o projeto editorial de cada um dos jornais e suas principais implicações na formação da população negra paulista. A importância do associativismo negro como força propulsora das conquistas sociais e a conscientização do negro da importância da construção de uma identidade negra no início do século XX formam elementos analisados neste trabalho.
2013
Rosângela Ferreira de Souza
O movimento social surdo e a campanha pela oficialização da língua brasileira de sinais
Esta tese tem como objeto de estudo a ação coletiva do movimento social surdo no processo histórico que culminou na Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que reconheceu a língua brasileira de sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão no Brasil. A pesquisa foi desenvolvida conforme pressupostos e práticas da metodologia qualitativa, sendo as principais técnicas de coleta de dados utilizadas a entrevista, principalmente com ativistas surdos participantes dos acontecimentos estudados, e a pesquisa documental nos arquivos de organizações, instituições e órgãos públicos envolvidos no processo investigado. Por seu turno, o marco teórico da pesquisa foi embasado na obra do sociólogo Alberto Melucci. Adotando a perspectiva melucciana, a tese descreve o movimento social surdo brasileiro como sendo um sistema de relações sociais composto principalmente por pessoas surdas usuárias da Libras, grupos e organizações de surdos. Esclarece, em primeiro lugar, que esse movimento emergiu nos anos 1980 relacionado ao movimento social das pessoas com deficiência e mostra como o seu desenvolvimento foi favorecido pelas transformações na estrutura de oportunidades políticas que estavam sendo causadas pela redemocratização após o regime ditatorial militar (1964-1985). Em segundo lugar, explica como e por que ativistas surdos conduziram uma campanha pela oficialização da Libras e a converteram na principal demanda do movimento nos anos 1990-2000. Para tanto, elucida a maneira como o movimento surdo se desenvolveu a partir dos polos inter-relacionados da latência e da visibilidade. Na latência, os membros do movimento produziram uma ideologia que conferiu sentido às suas ações, experimentaram novos modelos culturais e partilharam uma identidade coletiva ligada ao uso da Libras. Na visibilidade, eles reivindicaram direitos por meio de manifestações públicas, como passeatas e entregas de petições às autoridades públicas. A análise demonstra que a demanda pela oficialização sofreu modificações a partir de meados dos anos 1990. Tradicionalmente apresentada como uma reivindicação por direitos de cidadania, a oficialização passou cada vez mais a ser justificada essencialmente pelo caráter linguístico da Libras, enfatizando-se a relação inerente das línguas de sinais com a identidade e a cultura surda. Essa reorientação no sentido do agir coletivo dos membros do movimento, especialmente nas suas práticas discursivas, contou com recursos disponibilizados de diferentes maneiras por um conjunto de intelectuais, sobretudo linguistas, fonoaudiólogos e pedagogos, que afirmavam o estatuto linguístico das línguas de sinais, categorizavam os surdos como minoria linguística e cultural e preconizavam a educação bilíngue para eles. Enquanto defendiam, divulgavam e aplicavam as suas ideias, esses intelectuais subsidiaram a construção de uma nova ideologia e identidade coletiva por parte dos membros do movimento. Esses e outros desdobramentos revelaram-se importantes para que o movimento ampliasse as suas redes sociais, o que possibilitou a arregimentação de ativistas, participantes e aliados para a produção de ações coletivas em prol da oficialização da Libras em diferentes localidades do país. A tese comprova o protagonismo do movimento social surdo na reivindicação e garantia de direitos para os surdos sinalizadores, sendo a aprovação da Lei 10.436/2002 um dos avanços mais significativos obtidos no campo político-institucional.
2013
Fabio Bezerra de Brito
Paulo Freire e o ensino superior: referenciais freirianos para pensar a universidade brasileira
Esta pesquisa é de natureza teórica e tem por objetivo refletir sobre as contribuições de Paulo Freire para o atual processo de democratização do ensino superior. Intenta-se, com este trabalho, compreender como Paulo Freire e estudiosos alinhados com a sua pedagogia entendem, no contexto atual de crise e intensas transformações na produção e disseminação do conhecimento, o sentido e a missão do ensino superior no que diz respeito à sua contribuição para os jovens e adultos das camadas populares que nele se insere. Partimos da hipótese central de que a partir do conceito de educação como prática da liberdade de Paulo Freire pode-se contribuir com conceitos e práticas político-pedagógicas para o ensino superior que promovam as condições de inserção crítica dos sujeitos populares. As reflexões aqui expostas se fundam na análise de textos e documentos, com abordagem qualitativa, no diálogo entre os pressupostos freirianos e as transformações do ensino superior. Para tanto, recuperamos a presença de Paulo Freire no ensino superior e analisamos suas principais contribuições na construção de uma nova cultura políticopedagógica em busca do diálogo entre conhecimento científico e saber popular. Fez parte também do percurso de estudo resgatar o significado das políticas de democratização de acesso das duas últimas décadas que cria um novo perfil social de estudantes do ensino superior. Nesse contexto, observou-se as condições cotidianas e político-pedagógicas vividas por diversos alunos ao enfrentarem o modelo tradicional de universidade, sem o preparo adequado para esse fim, ao longo da trajetória escolar pública, em especial, observou-se aqueles que transitaram na modalidade da educação de jovens e adultos e que chegam ao espaço da universidade via programas de democratização. Além das necessárias reflexões sobre a origem e a evolução do ensino superior, tomamos como referência a experiência de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989-1991) que promoveu parcerias com diversas universidades para o desenvolvimento de projetos de assessoria às escolas municipais. As análises dessa experiência concreta ajudaram a identificar como Paulo Freire concebia a função do ensino superior na educação básica. Deseja-se, entre outros, com esse estudo, contribuir com elementos que nos ajudem a identificar avanços e limites da educação superior no campo educacional e a refletir sobre as possibilidades de outros modelos que, atualizados com o nosso tempo, não estejam submetidos à mera reprodução, mas ensejem caminhos de mudanças à outra educação necessária e transformadora.
Exposição e texto na arte contemporânea
Os textos apresentados nas exposições de arte são importantes recursos de mediação nesse ambiente. Este trabalho faz uma aproximação a essa produção textual, usualmente desenvolvida pela curadoria e que se constitui como o principal canal de comunicação entre o realizador da mostra e o seu público. Em especial, há a preocupação em compreender a dinâmica de relações proporcionada pelo uso de textos em exposições de arte contemporânea, cuja recepção estética pressupõe a participação do espectador. A partir de exposições e textos tomados como exemplares, busca-se delinear as formas mais comuns desses escritos, bem como regularidades em termos de conteúdo. Um panorama histórico do uso de textos em museus de diferentes partes do mundo também ajuda a situar as demandas por essas produções textuais e o seu emprego ao longo do tempo. Propõe-se, por fim, o texto de exposição em interação com os demais elementos do espaço expositivo como a expressão de um entendimento sobre a função educativa da exposição, a julgar pela forma de endereçamento assumida em relação ao visitante.
O pensamento histórico em redes hipertextuais
O presente estudo tem como objetivo investigar evidências de operações cognitivas pertencentes ao pensamento histórico de estudantes da escola básica durante a pesquisa de temas históricos na Internet. Entende-se que tal investigação seja possível ao compreender os critérios usados para a busca, leitura e seleção de informações históricas durante a navegação na web. Para atingir esse objetivo, foi necessário o desenvolvimento de etapas de investigação que permitiu a) compreender as formas de seleção e leitura de informações históricas na Internet durante uma pesquisa sobre um tema histórico; b) investigar as formas de articulação dessas informações em suporte digital e sua relação com a narrativa histórica e c) compreender como o pensamento histórico do aluno do Ensino Fundamental II se manifesta em uma rede hipertextual dentro de uma situação de pesquisa histórica. Tal análise considerou que o ato de navegar pela Internet, que significa transitar por uma rede de hipertextos sob a forma de diferentes signos em formato digital, influencia de maneira única as práticas de leitura e aquisição de conhecimento. Essa rede hipertextual, que é definida como ciberespaço, é compreendida como um ambiente de aprendizagem que possibilita a interação entre diversos atores de comunicação pelo suporte material oferecido pela Internet. Dessa maneira, uma pesquisa escolar foi proposta para avaliar de que modo os alunos a realizariam. A proposta criou uma demanda de pesquisa sobre movimentos juvenis na contemporaneidade e esta foi realizada com alunos de um colégio particular da cidade de São Paulo. Essa atividade foi monitorada por meio de um software específico que gerou 26 arquivos de vídeo que foram analisados, além de 26 arquivos em formato de PowerPoint, usados pelos alunos para elaborar uma resposta à pesquisa empreendida. Esse material possibilitou a análise das operações cognitivas mobilizadas durante a navegação, relacionando essas operações com o desenvolvimento da literacia histórica desses alunos. A análise extensa dos vídeos possibilitou a elaboração de categorias que ajudaram a responder à relação entre o aluno, o conhecimento histórico e a navegação na Internet e as formas de leitura empreendidas por esses alunos no ambiente web, sendo constatado que o tipo de informação histórica mais selecionado foi o que identificava diretamente um acontecimento (79% selecionaram esse tipo de informação), sendo que 76% desses blocos apresentavam marcas temporais como a cronologia, ou mudanças e continuidades. Tal resultado denota um olhar aguçado desses alunos participantes aos sinais que podem indicar a qualidade das informações históricas utilizadas. Também foram analisadas as imagens selecionadas por esses alunos, em que foi observada a preferência quase unânime por fotografias que poderiam ajudar a explicar o tema pesquisado. Das fotografias selecionadas, foram analisadas as pequenas narrativas que essas portavam, dentro do conceito de análise pré-iconográfica, buscando identificar a relação de empatia histórica frente a essas imagens, demonstrada por apenas 31% das seleções realizadas pelos alunos.
2013
Murilo José de Resende
Atravessamentos feministas: um panorama de mulheres artistas no Brasil dos anos 60/70
Nessa tese de doutorado, efetuo uma análise crítica da produção artística brasileira no trânsito da década de 60 para 70 do século XX, dentro dos pressupostos das teorias feministas de crítica cultural, com ênfase nas possibilidades de subjetivação do feminino pela prática artística. Para ser mais específica, preocupo-me aqui com certos trabalhos realizados por trinta artistas mulheres atuantes no período, contemporâneas entre si e do advento do feminismo de segunda onda no país, que envolvam as preocupações estéticas e plásticas em voga, e que permitam uma abordagem de crítica feminista justamente por trabalharem com problemáticas corpóreas e identitárias, que abarcam principalmente os limites e/ou possibilidades dos processos de subjetivação pela ótica dos confrontos e subversões do gênero.
Museus e centros de ciências itinerantes: análise das exposições na perspectiva da alfabetização científica
Os museus e centros de ciência no Brasil se encontram concentrados, em sua maioria, em grandes centros urbanos e o acesso a esses espaços ainda é restrito a apenas uma pequena parte da população. Nesse contexto, os museus e centros de ciências itinerantes ganharam força nas políticas públicas e vários deles foram criados no país nas últimas duas décadas. Por outro lado, é cada vez mais presente na literatura e nas ações desenvolvidas por esses espaços a demanda por compreender a sua contribuição para o processo de Alfabetização Científica. Diante deste panorama, esta pesquisa objetivou investigar se e como quatro museus e centros de ciências itinerantes brasileiros podem contribuir para a Alfabetização Científica de seus visitantes. Os quatro museus e centros de ciências itinerantes selecionados por sua relevância e público atingido foram: o Projeto Museu Itinerante (Promusit), do MCT-PUCRS; o Ciência Móvel Vida e Saúde para Todos, da Fiocruz; a Caravana da Ciência, da Fundação Cecierj; e o Museu Itinerante PONTO UFMG, da UFMG. A pesquisa assumiu uma abordagem prioritariamente qualitativa, mas, também, utilizou a análise quantitativa, buscando expressar em números algumas qualidades obtidas a partir da análise das experiências estudadas. Para tal, foram conduzidos os seguintes procedimentos de coleta de dados: pesquisa bibliográfica e documental, observações e descrição das exposições estudadas e entrevistas semiestruturadas com os responsáveis. Os dados obtidos foram analisados a partir da ferramenta teóricometodológica Indicadores de Alfabetização Científica adaptada de Cerati (2014) e ampliada de forma a aprofundar a caracterização das intensidades em que indicadores e atributos aparecem nas exposições. Os resultados revelam três tendências sobre como os indicadores e seus atributos são contemplados nas exposições. Assim, a primeira tendência indica que as experiências estudadas possuem, com relação ao Indicador Interação, forte potencial para a sua promoção, sendo que as interações física e estético-afetiva acontecem de forma aprofundada e a interação cognitiva de forma superficial. A segunda tendência aponta que as exposições possuem forte potencial para a promoção do Indicador Científico, privilegiando a expressão de conteúdos científicos gerais, como leis, conceitos e teorias, sobre os temas abordados, contudo, não favorecem a discussão sobre pesquisas científicas contemporâneas e em andamento e seus resultados, tampouco contribuem para fomentar discussões sobre o processo de produção do conhecimento e o papel e características dos cientistas. Por fim, a terceira tendência é relativa a possuírem pouco potencial para a promoção dos Indicadores Interface Social e Institucional e, quando o fazem, esses aparecem de forma superficial. Nas considerações finais, discutimos quatro desafios enfrentados pelos museus e centros de ciências itinerantes, sendo eles: 1) político e financeiro; 2) a divulgação científica na prática; 3) a itinerância na prática e 4) avaliação e pesquisa.
2018
Jéssica Norberto Rocha
Brinquedoteca na creche: que espaço é esse? Um estudo de múltiplos casos em creches públicas de Indaiatuba - SP
O presente trabalho na área de Psicologia e Educação delineou-se dentro de uma abordagem qualitativa, caracterizando-se como um estudo de casos múltiplos, tendo como objetivo compreender os motivos para a instalação de Brinquedotecas em instituições de Educação Infantil. O campo de pesquisa é constituído por três creches públicas situadas no município de Indaiatuba - SP. Os sujeitos da pesquisa são gestores da Secretaria Municipal de Educação, diretoras, coordenadoras pedagógicas, professoras, monitoras e auxiliares de desenvolvimento educacional que compõem o corpo de profissionais de cada uma das três creches. O tema nasceu da observação da carência de estudos e pesquisas a respeito de Brinquedotecas instaladas em instituições de Educação Infantil como creches e pré-escolas. No campo da metodologia, o texto recorre às contribuições de Yin (2001) a respeito de estudo de casos múltiplos. A pesquisa em três diferentes creches possibilitou a realização de estudos paralelos e a determinação de pontos singulares e pontos em comum entre as três Brinquedotecas. Já na composição da análise das evidências, o texto recorre à triangulação de fontes, consultando diferentes documentos (Projeto de Desenvolvimento da Escola; Proposta Pedagógica Global de Indaiatuba; atribuição de cargos para monitoras e Auxiliares de Desenvolvimento Educacional; e editais de concursos públicos), realizando entrevistas com diferentes profissionais, consultando registros de planejamento das idas até a Brinquedoteca, analisando o diário de campo e registros fotográficos. Os resultados mostraram que a instalação de Brinquedotecas em creches públicas de Indaiatuba está inter-relacionada com outros problemas enfrentados no cotidiano, como a existência de profissionais com baixa escolaridade ou sem formação, sem tempo e sem materiais; baixo nível de compreensão a respeito do brincar, da infância e do seu desenvolvimento; ausência de compreensão a respeito do que é uma Brinquedoteca, seus objetivos e função; ausência de gestão democrática (ausência de participação dos profissionais, das famílias e comunidade); desarticulação entre o discurso das equipes técnicas e as práticas das professoras, monitoras e Auxiliares de Desenvolvimento Educacional; baixo nível de compreensão a respeito da especificidade da educação da criança pequena; tensão entre a escolarização precoce e o modelo centrado no desenvolvimento integral da criança (preocupação em preparar a criança para etapas posteriores da educação).
2018
Karina Cristiane Belz Garcia
Análise de uma aula de biologia com base nas interações discursivas
As aulas expositivas dialogadas são aquelas nas quais os professores dialogam com os alunos, atuando como mediadores dessas aulas. O diálogo é um dos momentos em que pode ocorrer o processo de ensino e aprendizagem. Neste trabalho, foi analisada uma aula expositiva dialogada que foi ministrada 2 vezes pela mesma professora do 1º ano do ensino médio regular de uma escola pública da zona oeste da cidade de São Paulo. Nessa aula, foi realizada a correção de exercícios de uma ficha de atividades sobre dinâmica populacional. Essa ficha fazia parte de uma sequência de ensino investigativa (SEI) que incluía algumas atividades. As aulas foram áudio-vídeo gravadas, transcritas e analisadas sob o ponto de vista de 3 aspectos de 2 referenciais metodológicos, que foram os tipos de iniciações/perguntas (MEHAN, 1979) e os padrões de interação e a abordagem comunicativa (MORTIMER E SCOTT, 2002). Esses referenciais foram combinados uns aos outros para que a nossa análise ficasse mais completa. Os padrões de interação foram associados aos tipos de iniciações e os mesmos padrões foram analisados individualmente, seja em relação aos padrões triádicos, não triádicos abertos ou fechados. A abordagem comunicativa também foi analisada individualmente. Nossa hipótese inicial era que iniciações de metaprocesso desencadeariam sequências de interação mais longas e interativas. Porém, nossa hipótese não foi confirmada e constatamos que iniciações mais simples como as de escolha e de produto desencadearam sequências de interação mais longas. Em relação aos padrões de interação, a maioria era de não triádicos fechados, o que mostrou que a aula foi bem dinâmica e interativa e essa interação terminava com uma avaliação da professora, na maioria das vezes. Em relação à abordagem comunicativa, a interativa de autoridade foi a presente na maioria do discurso, demonstrando que o objetivo da professora era ouvir os pontos de vista dos alunos e encaminhá-los para o ponto de vista da ciência escolar. A abordagem interativa dialógica também esteve presente em algumas partes do discurso quando não havia avaliação das falas dos alunos pela professora.
2018
João Luís de Abreu Vieira
Pronatec Formação Inicial e Continuada (FIC) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo: um estudo de caso
A pesquisa que deu origem a esta tese tem por objetivo apreender a maneira pela qual o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) na modalidade Formação Inicial e Continuada (FIC) se materializou no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) nos campi Avaré, Presidente Epitácio, Registro, São Paulo e Sertãozinho, considerando-se as relações possíveis entre os cursos ofertados, os arranjos produtivos locais, os perfis dos alunos matriculados e o número de concluintes e de não concluintes no período de 2012 a 2014. Optou-se pelo estudo de caso como estratégia de investigação por considerá-lo apropriado à análise de fenômenos sociais complexos e por possibilitar a apreensão de características holísticas do fenômeno estudado (YIN, 2001). A pesquisa baseou-se no levantamento e análise de dados quantitativos provenientes do Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (Sistec) total de alunos matriculados, número de concluintes e de não concluintes, sexo, idade, escolaridade, cor da pele ; e dados qualitativos, como documentos textuais (indicadores sociais e educacionais, legislações governamentais, publicações do IFSP) e fontes orais (relatos de servidores municipais, coordenadores de cursos Pronatec, supervisores pedagógicos, professores e alunos egressos). A análise dos resultados se norteou por referencial teórico que busca evidenciar as contradições existentes no fenômeno estudado, a historicidade, as relações entre o geral e o particular. Pressupondo-se que tudo está em movimento, em constante interação, sustenta-se a tese de que o formato do programa federal analisado foi condicionado ao contexto social no qual foi implementado pela ação dos sujeitos que nele atuaram. Nessa perspectiva, verificou-se que o processo de implementação ocorreu em meio a dúvidas sobre o funcionamento do Programa, tensões em relação aos prazos a serem cumpridos, às metas a serem atingidas e aos desafios a serem superados. No decorrer desse processo, as diretrizes do Pronatec incidiram sobre as instituições visando conformá-las segundo suas orientações. No entanto, essa tentativa de conformação foi permeada por contradições dialéticas, pois os contextos institucionais não são estáticos, mas dinâmicos; as equipes de trabalho são compostas por sujeitos históricos portadores de vontades, visões de mundo, ideais, concepções e princípios distintos. Portanto, ambos (contextos e sujeitos) também induziram mudanças no Programa. Constatou-se a existência de diferentes perfis de alunos matriculados em cursos Pronatec FIC. Esses perfis variaram conforme o curso ofertado, o turno (manhã, tarde ou noite), a região onde o curso foi ministrado (zona urbana ou zona rural), o Ministério demandante (MTE, MDS ou MDA). Entre os principais motivos levantados, pelos quais 57% do total de alunos matriculados não concluíram os cursos, destacam-se, em ordem de maior para menor recorrência: conseguir emprego; não ter com quem deixar os filhos; transporte público precário ou inexistente.
2020
Sandra Maria Glória da Silva
Significações sobre formação contínua e trabalho docente no atendimento educacional especializado
A educação inclusiva dos alunos público-alvo da Educação Especial ainda se constitui um desafio para os sistemas de ensino. Entre as inúmeras dificuldades apontadas na efetivação desse processo, a formação dos (as) professores (as) apresenta-se como uma das mais expressivas. Assim, torna-se relevante conhecer como os entes públicos vêm encaminhando a política de formação para subsidiar o trabalho docente na Educação Especial, notadamente no Atendimento Educacional Especializado (AEE), realizado nas Salas de Recursos Multifuncionais, foco da atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Do mesmo modo, é necessário considerar o que professoras e professores pensam sobre esses encaminhamentos, e os possíveis desdobramentos no trabalho que realizam nas escolas. O objetivo geral desta pesquisa consistiu em analisar as significações atribuídas por uma professora da rede pública municipal de ensino de Teresina Piauí, sobre a formação contínua e o trabalho docente no AEE. Trata-se de um estudo de caso singular, com base nos aportes teórico-metodológicos do Materialismo Histórico-Dialético e da Psicologia Histórico-Cultural. Esta investigação também levou em consideração os estudos sobre formação de professores (as) da Educação Básica, incluindo uma abordagem panorâmica acerca desse tema, no campo da Educação Especial. Metodologicamente, recorreu à análise de documentos que normatizam a Educação Especial no município de Teresina e de relatórios anuais das atividades realizadas pelo órgão gestor. Para a apreensão dos conteúdos subjetivos apoiou-se nos procedimentos dos Núcleos de Significação, metodologia lastreada nos fundamentos teóricos supramencionados. Quanto aos resultados, a análise documental identificou a adequação entre a legislação municipal e a nacional, com relação aos princípios e diretrizes que regem a Educação Especial. As ações de formação localizadas nos relatórios consultados revelaram-se insuficientes para suprir as necessidades das professoras e professores das salas de aulas comuns, e das (os) que realizam o AEE, nas salas de Recursos Multifuncionais, conforme depoimento da participante. Entre outros, as significações apreendidas apontaram a relevância das atividades formativas, mas evidenciaram debilidades na política encaminhada pelo órgão gestor, quanto à regularidade e ao volume da oferta, assim como, quanto ao formato predominante das atividades realizadas, com ênfase em oficinas e palestras, em detrimento do aprofundamento teórico. Com relação ao trabalho no AEE, expressaram a falta de apoio institucional; dificuldades no estabelecimento de parcerias com os professores das salas de aulas comuns; a desvalorização dos (as) profissionais responsáveis e o desconhecimento das suas funções nas escolas. Por fim, as conclusões da pesquisa indicam convergências entre as significações atribuídas e os conteúdos normativos nacionais e locais que orientam a política de Educação Especial, sobretudo no que diz respeito à formação e às prescrições para o trabalho dos professores (as) na Sala de Recursos Multifuncionais. As significações também são coerentes com os dados oficiais que expressam a política de formação implementada pela Secretaria Municipal de Educação. Estes achados aproximam-se de resultados descritos em outros estudos, acerca dessa temática, e reafirmam a necessidade da adoção de medidas que efetivem a educação inclusiva do público-alvo da Educação Especial, nas escolas públicas municipais de Teresina, no que tange à formação dos (as) docentes e à disponibilidade das condições necessárias para prestar o Atendimento Educacional Especializado.
2021
Lucineide Morais de Souza
Ser professor formador de professores na Educação Superior privada contemporânea
Esta tese tem o objetivo de investigar as trajetórias formativas de aprendizagem da docência do professor que leciona em cursos de licenciatura de instituições privado-mercantis de Educação Superior, considerando a influência de suas condições de trabalho. Essa temática se justifica pela escassez de estudos sobre formadores de professores para a Educação Básica, sobretudo no setor privado. Pouco se sabe sobre esse profissional, como, por exemplo, como foi sua inserção na docência, onde foi formado, quais foram suas experiências docentes anteriores, qual seu regime de trabalho, sua remuneração, dentre outros aspectos. Além disso, inexistem políticas educacionais específicas para a formação de professores para esse nível de ensino, e a legislação atual é omissa quanto à especificidade da preparação para esse tipo de docência. Nossos sujeitos de pesquisa são 46 professores formadores que atuam em cursos de licenciatura distribuídos em 12 instituições privadas de Educação Superior do Estado de São Paulo, que fazem parte de um grande conglomerado educacional. A maioria leciona nos cursos de Pedagogia, Letras e Educação Física. Para levantamento do perfil desses professores, foi elaborado um questionário, via Google Forms, com perguntas abertas e fechadas, subdividido em quatro seções: informações pessoais; perfil acadêmico; perfil profissional e condições de trabalho. As respostas contribuíram para melhor conhecer os professores formadores que atuam na Educação Superior privada, agregando conhecimento sobre suas experiências formativas, suas experiências docentes na Educação Básica e na Educação Superior, sua remuneração, a quantidade de aulas que ministram, se receberam ou recebem algum tipo de formação na Instituição de Ensino Superior (IES) onde trabalham, dentre outras informações relevantes. Para aprofundamento de questões tratadas no questionário, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com nove docentes, selecionados segundo o critério de variação de tempo de atuação na Educação Superior. O roteiro, composto de 12 questões, foi subdividido nos seguintes temas: ser professor, saberes da docência, dificuldades no exercício da docência, relação com a instituição onde leciona e papel como formador. A análise da fala dos sujeitos, materializada nas entrevistas, foi feita com o apoio de instrumental teórico relativo a duas abordagens, a pedagógica e a análise do discurso de vertente francesa, a qual evidenciou processos de silenciamento e paráfrases nos depoimentos, como formas de resguardo da imagem e da posição que cada sujeito ocupa na IES. No âmbito da abordagem pedagógica, foram mobilizados referenciais que permitiram discutir sobre processos de construção da identidade docente e da professoralidade; sobre as especificidades da docência na Educação Superior; sobre os saberes necessários à prática educativa. As análises realizadas fortaleceram a hipótese inicial desta tese de que as trajetórias de aprendizagem da docência do professor, no contexto atual de mercantilização da educação, são profundamente influenciadas pelas condições de trabalho nas IES privado-mercantis, as quais afetam, de forma prejudicial, sua constituição plena como profissional autônomo e crítico de sua prática.
2020
Cláudia Dourado de Salces
Contar e ouvir estórias: um diálogo de coração para coração acordando imagens
Essa dissertação de mestrado resulta de uma pesquisa teórica, na qual a pesquisadora valeu-se de suas experiências pessoais como educadora, aluna, contadora e ouvinte de estórias para pensar a narração de estórias como sendo uma prática relacionada com uma educação de sensibilidade. Trata-se de um estudo das dimensões estéticas e artísticas da literatura de tradição oral que remete à discussão da atual função da narração de estórias dentro do âmbito escolar. Parte-se do pressuposto de que as estórias de ensinamento da tradição oral são obras de arte, de tempos imemoriais, compostas por uma dinâmica de imagens arquetípicas articuladas, sob a forma de metáforas, em uma narrativa. Acredita-se que, ao entrar em contato com essa sintaxe de metáforas, o aluno-ouvinte terá a possibilidade de, por meio do despertar de uma ação imaginante e não de uma audição passiva, ter uma experiência imaginativa de natureza estética, organizadora e integralizadora, capaz de propiciar um momento de intenso aprendizado. Um aprendizado no qual aquilo que se aprende está diretamente relacionado à descoberta e à construção de nossa humanidade, que se dá por ressonância, a partir de diálogos significativos entre as imagens internas que habitam as estórias e as que habitam os ouvintes. Por imagens internas, entende-se que são as imagens arquetípicas que preservam e revelam nossa humanidade e que estão ancoradas em nossa corporeidade. Nesses diálogos, destaca-se a importância de professores e contadores de estórias como agentes de cultura, cuja presença humana intermedia e possibilita o contato de alunos e ouvintes com suas heranças culturais. Como base teórica, utilizou-se obras de filósofos, antropólogos, educadores, poetas e contadores de estórias, dentre os mais significativos: Bachelard, Merleau-Ponty, Campbell, Mircea Eliade, Dewey, Freinet e Cecília Meireles, sendo tomado como elementos norteadores dessa dissertação, o trabalho e os textos de Marcos Ferreira Santos e Regina Machado. A partir de dados recolhidos, ao atuar como contadora de estórias, e de observações feitas em aulas de Língua Portuguesa, em escolas de Ensino Fundamental da rede pública, foram tecidas algumas conclusões. Dentre elas está a constatação de que, nesses ambientes educativos, ainda ocorre um aproveitamento apenas superficial de obras de cunho literário. Quanto à narração de estórias, além do aproveitamento superficial dos contos, constatou-se também uma preocupação com a instrumentalização dessa prática, que, em geral, é tida como uma mera forma de aquietamento e entretenimento dos alunos, quando esta pode servir a um papel nobre na formação do ser humano. Ademais de restabelecer vínculos com nossa ancestralidade, a narração de estórias propicia um aprendizado imaginativo, no qual nossa humanidade ganha corpo, cores, sentidos e significados ao entrar em contato com as metáforas articuladas em uma narrativa. Narrativas cujo principal objetivo é ensinar o outro, colocando-o em sua própria sina, levando-o, em termos socráticos, a tornar-se o que é.
2006
Fabiana de Pontes Rubira