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Educação e mundo comum em Hannah Arendt: reflexões e relações em face da crise do mundo moderno
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre as relações entre educação e mundo comum no pensamento de Hannah Arendt. A autora concebe o mundo comum como artificialismo humano e palco das aparências, instância que abriga o cabedal de conhecimentos, instituições, significados, virtudes, linguagens, histórias e costumes de uma comunidade. O mundo, na concepção arendtiana, abarca a esfera pública dos negócios humanos, na qual se dão as ações políticas e onde a visibilidade e a presença dos outros constituem o palco em que os homens podem revelar sua singularidade. Nessa concepção, o mundo é tido como o sentido último da formação de jovens e crianças, dado que, de acordo com Arendt, a essência da educação é a natalidade. Assim, partindo da ideia de que o sentido da educação é o nascimento e a chegada de crianças a um mundo humano que transcende nossa existência no tempo e no espaço, tivemos como objetivo pensar sobre as relações entre a formação dos novos e o mundo, bem como refletir sobre a tarefa educativa diante da perda da tradição e da autoridade em nossos tempos. Desse modo, a presente dissertação dispôs-se a analisar a seguinte problemática: diante de um mundo esfacelado e tomado pela esfera social, é possível conceber uma educação que se constitua como um elo de aproximação entre o velho e o novo, os jovens e o mundo? E, ainda, qual é o sentido de inserir os novos em um mundo em ruínas, haja vista que a salvaguarda deste mundo da total destruição é o ineditismo e a renovação que as crianças e os jovens podem oferecer-lhe? Diante desse contexto, discutimos as relações de inserção, conservação e renovação entre a educação e o mundo na tentativa de examinar e debater um possível significado para a ação educativa em face da crise do mundo moderno. Em nossa análise, consideramos que o mundo é, para a educação, o significado fundamental de seus esforços e o legado que uma comunidade concebe como digno de ser deixado como herança para as novas gerações.
2011
Crislei de Oliveira Custodio
Abordagem histórico-epistemológica do ensino da geometria fazendo uso da geometria dinâmica
A presente pesquisa, de cunho quantitativo, tem como propósito responder a seguinte questão: De que modo e em que alcance o trabalho pedagógico articulado com a história, geometria e meio computacional tem refletido sobre posturas e caminhos que levassem os alunos a se envolver com o conhecimento matemático? Desse modo, fizemos uma investigação e análise sobre os efeitos de uma articulação entre o ensino da história da matemática e o uso de ferramentas computacionais como solução para as dificuldades apresentadas no Ensino de Geometria, principalmente no Ensino Médio. Utilizamos a obra de Lakatos e a primeira proposição (do livro 1) de Euclides para realizar a verificação de sua demonstração através de um software de Geometria dinâmica. Os resultados serão utilizados para a construção de um novo software que envolva o ensino e aprendizagem de história da matemática e geometria. Outros objetivos podem ser assim colocados: Refletir sobre as condições e viabilidade da integração de recursos computacionais para o ensino da Matemática no âmbito Ensino Médio em especial a partir do produtos/softwares propostos para a educação matemática; Compreender o potencial de softwares de geometria dinâmica para a educação matemática escolar; Analisar as necessidades matemáticas de uma instrumentação eficaz, a partir da história da Matemática, para compreender a Matemática como um 9 processo em construção, em especial no âmbito das relações geométricas. Para isso foram retiradas vivências do cotidiano das aulas de Matemática para a reflexão sobre a geometria, e os resultados foram que a história da Matemática junto as novas tecnologias podem mudar as concepções de conhecimento da Matemática, pois através do professor ela pode chegar à sala de aula e transformar a prática pedagógica.
2011
Tatiana de Camargo Waldomiro
Entre palcos e páginas: a produção escrita por mulheres sobre música na história da educação musical no Brasil ( 1907-1958)
Estudo histórico que tem por objetivo localizar e analisar a produção escrita por mulheres sobre música, relacionada a diversos contextos educacionais no Brasil, durante as primeiras cinco décadas do século XX. Como fontes, foram consultadas as publicações inventariadas na pesquisa, documentos manuscritos de arquivos históricos, documentos oficiais, periódicos, iconografia e arquivos pessoais de professoras. O 1º capítulo é dedicado a uma visão de conjunto sobre a produção escrita por mulheres sobre música. O capítulo 2 analisa as primeiras décadas e estabelece uma discussão sobre as representações de música brasileira e europeia na educação musical. O capítulo 3 trata da música na escola formal e da participação de mulheres no canto orfeônico, considerando o processo de institucionalização e escolarização da música e o papel da publicação de hinários, cancioneiros e livros didáticos nesse processo. O capítulo 4 aborda a formação de professores e a pedagogia da escola nova, destacando os conflitos na historiografia e na prática do canto orfeônico. O capítulo 5 concentra-se na formação artística, tendo por foco o ensino especializado de música, a presença de mulheres na atividade artística e as representações sobre o feminino. São analisados três exemplos da produção escrita, como dispositivos de inscrição no campo musical. Nas considerações finais, discute-se a função da memória (individual e coletiva) e sua relação com as práticas e as representações encontradas sobre a professora de música (em suas múltiplas atuações). Entre as principais noções e conceitos utilizados estão: campo (principalmente campo artístico), habitus, doxa e capital cultural, de Pierre Bourdieu; práticas, representações e apropriação, de Roger Chartier, bem como sua discussão metodológica (sobre a história do livro e da leitura) e teórica (sobre cultura escrita); estratégias e táticas, de Michel de Certeau, assim como sua análise da operação historiográfica. O conceito de gênero, presente em diversos autores, permitiu tratar a produção escrita por mulheres como conjunto, de forma relacional. Para a história das mulheres, tivemos como principal referência Michelle Perrot. A produção acadêmica em história da educação, sobretudo a brasileira, auxiliou a definição e exploração do tema, assim como as pesquisas musicológicas recentes. Um dos resultados da pesquisa foi um inventário de livros publicados (46 autoras e 100 obras), com a identificação de editoras, instituições, temáticas e modalidades de ensino musical praticadas na primeira metade do século XX no Brasil. Como parte das conclusões, a produção escrita sobre música é vista como intrínseca à profissão docente, utilizada como estratégia de valorização profissional e pessoal. As práticas de leitura e escrita (textual e musical) foram adquiridas no ambiente escolar, no espaço social da família e nas instituições de formação artística. Constata-se uma diversidade de processos de publicação, entre eles: iniciativas particulares das autoras; projetos editoriais, inclusive os patrocinados por governos estaduais ou pelo federal; programas institucionais para provimento de material didático adaptado às exigências legais; requisito formal para o ingresso no magistério superior.
2011
Susana Cecilia Almeida Igayara-Souza
A constituição da educação em museus: o funcionamento do dispositivo pedagógico museal por meio de um estudo comparativo entre museus de artes plásticas, ciências humanas e ciência e tecnologia
Este trabalho trata da especificidade da constituição da educação museal. Partindo da hipótese de que essa tipologia educacional tem características em seu funcionamento que a diferenciam de outras modalidades educacionais, e que se mantêm à revelia das diferentes tipologias institucionais, optou-se por um estudo que possibilitasse a apreensão dos seus elementos singulares. A abordagem metodológica utilizou o referencial das pesquisas qualitativas em educação, tomando-se como foco de análise as práticas estabelecidas pelos setores educativos dessas instituições. Para a coleta de dados foram selecionadas três instituições com consolidada prática educacional e que possibilitassem um olhar comparativo entre diferentes tipos de museus: o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (SP), um museu de ciências humanas; o Museu de Astronomia e Ciências Afins do Ministério da Ciência e Tecnologia (RJ), um museu de ciência e tecnologia; e a Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), um museu de artes plásticas. O referencial teórico adotado como base para a análise foi o conceito de dispositivo pedagógico, do sociólogo da educação Basil Bernstein, por considerar que ele oferece a possibilidade de uma visão sistêmica sobre os mecanismos de constituição e funcionamento dos processos educacionais existentes nos museus. Também foram utilizadas as discussões sobre o papel da educação em museus empreendidas por estudiosos nacionais e internacionais que se debruçam sobre esse tema. Os resultados obtidos demonstram a existência de uma especificidade nos processos de constituição da educação em museus. Um primeiro aspecto dessa especificidade é a existência de um campo interessado na criação de políticas públicas para as instituições museais. Compreendido a partir do que Bernstein qualifica como campo recontextualizador oficial, nele atuam órgãos do Estado, em cujas políticas os museus participam por adesão, configurando uma esfera, até o momento, de pouca influência na determinação da prática educativa dessas instituições. Também externa aos museus existe uma segunda esfera de regulação constituída pelos órgãos de financiamento da ação educativa, públicos e privados. Um segundo aspecto evidenciado pelas análises é a autonomia dos educadores na proposição de seus objetivos e práticas educacionais, situação parcialmente tributária do posicionamento da educação no interior da instituição museal. Como decorrência, os educadores aparecem como produtores dos textos originais sobre educação em museus, além de responsáveis pela determinação de suas práticas educativas. Essa afirmação é sustentada pela existência de um campo intelectual da educação em museus, com forte crescimento nacional e internacional nos últimos anos, no qual os educadores têm um papel importante de conformação. Para a análise das condicionantes que atuam no contexto da prática educativa dos museus foram escolhidas três categorias analíticas: o tempo, o espaço e os discursos. A relação entre esses três elementos é determinada a partir de uma lógica própria da educação museal, mas que comporta especificidades a partir dos conteúdos/acervos de cada instituição. Por meio das análises empreendidas contatou-se que a prática instrucional dos museus estudados é fortemente marcada pelo caráter dialógico, caracterizando o que Bernstein denomina de prática instrucional indireta. Nessa prática tempo, espaço e objeto/discurso específicos são constantemente negociados a partir dos parâmetros estabelecidos pelas características do público e pelos objetivos da prática educacional de cada museu.
2011
Luciana Conrado Martins
As representações enativas, icônicas e simbólicas decorrentes do processo de enculturação científica no primeiro ano do ensino fundamental
Em vista das recentes mudanças que acarretaram a inclusão da criança de seis anos no ensino fundamental, fez-se necessária a reflexão sobre um ensino de ciências coerente com a criança dessa faixa etária. Os documentos governamentais apontam uma perspectiva sociocultural de ensino e aprendizagem dessa área do conhecimento, mas esclarecem pouco sobre como promover seu ensino no dia-a-dia escolar. O presente trabalho partiu do pressuposto de que a ciência possui uma cultura própria, com valores, linguagem, práticas, percepções, teorias, crenças, materiais e etc. Sob essa perspectiva ensinar ciências implica a valorização de diferentes práticas que possibilitem a introdução dos alunos nessa cultura e, nesse sentido, o ensino deve ir além da simples memorização de conceitos em busca de uma aprendizagem capaz de atribuir sentido ao que somos e aos acontecimentos que nos cercam. Trata-se, portanto, de um processo de Enculturação científica. Considerando que as crianças do primeiro ano constroem seus significados através das representações enativas, icônicas e simbólicas, essa pesquisa buscou compreender como as crianças do primeiro ano do ensino fundamental constroem o conhecimento mediante o ensino intencional de ciências sob a perspectiva da Enculturação científica. O presente trabalho envolveu um estudo qualitativo, realizado em uma classe de primeiro ano de uma escola particular de São Paulo, durante o ano letivo de 2010, buscando analisar os dados oriundos das diferentes formas de representação construídas pelas crianças sobre os temas de ciências no cotidiano escolar. Os dados apontam que a atribuição de significados envolve o uso articulado dos três diferentes tipos de representação, de acordo com o foco de interesse ou preocupação das crianças. Nesse sentido, a construção do conhecimento valendo-se das diferentes formas de representações bem como propiciando experiências que levem as crianças a refletir sobre assuntos científicos e suas consequências para a sociedade parecem ser os pressupostos centrais do ensino de ciências para o primeiro ano do ensino fundamental.
Alicerces de significados e sentidos: aquisição de linguagem na surdocegueira congênita
A surdocegueira refere à condição do déficit simultâneo da audição e da visão, cuja combinação leva a uma privação dos dois sentidos responsáveis pela recepção de informações à distância, de ordem temporal, direcional e simbólica. Caracteriza a surdocegueira o fato de não haver compensação do déficit visual pelo sentido da audição e nem do déficit auditivo pelo sentido da visão. A compensação sensorial se dá por meio do sentido do tato e do sistema proprioceptivo, que compreende os sentidos cinestésico e vestibular. A surdocegueira pressupõe uma das mais complexas questões perceptuais: as especificidades da comunicação de cada pessoa surdocega e a aquisição da linguagem. Esta tese propôs: pesquisar a trajetória de duas pessoas que compensaram a surdocegueira, adquirindo linguagem e comunicando-se por língua de sinais; desvelar o desafio referente à barreira da comunicação, do ponto de vista dessas pessoas que a superaram. O objetivo geral foi identificar os fatores que possibilitaram a aquisição da linguagem até o uso da língua de sinais por essas duas jovens com surdocegueira total congênita. O procedimento metodológico foi o estudo de caso, de modalidade qualitativa, de cada uma das duas jovens surdocegas congênitas. O caráter inovador desta pesquisa foi o de entrevistar diretamente as duas jovens, familiares e profissionais, complementando esses dados com registros de observação direta e análise de documentos. A fundamentação teórica resgatou concepções de vários autores dentre os quais: sobre surdocegueira, Alsop, Brown, MacInnes, Orelove, Riggio, Sobsey e Treffry; referente à linguagem e comunicação, o interacionismo social-histórico-cultural de Vigostski e Bakhtin; referente ao perceber, situar-se no mundo, compreender e comunicar-se, Amaral, MacLinden, Masini, Miles, Reys e Sacks. Foram descritas e analisadas as relações das duas jovens surdocegas com o outro e com o que as cercavam e seus processos de aquisição de linguagem e comunicação linguística. A análise dos dados identificou as etapas de aquisição das formas comunicativas pré-linguísticas até as formas linguísticas, bem como os fatores que possibilitaram a aquisição da linguagem e a comunicação linguística, evidenciando suas formas linguísticas de comunicação língua de sinais tátil, língua de sinais e Tadoma. Os resultados evidenciaram os fatores que alicerçaram a linguagem e a comunicação pela língua de sinais das jovens pesquisadas: a identidade assumida como sujeito surdocego; o desenvolvimento das habilidades sensoriais e motoras; o contexto histórico familiar, educacional, social e cultural, de consideração e incentivo à ação e interação; a oportunidade de disporem de mediador; as relações com outros, atentos às suas formas de comunicação expressiva e de comunicação receptiva.
2011
Maria Aparecida Cormedi
A experiência escolar de alunos jovens e adultos e sua relação com a matemática
A presente pesquisa teve por objetivo analisar os modos de interação e as relações de alunos jovens e adultos com o conhecimento matemático dentro e fora da escola, bem como as possibilidades de aproximação entre conhecimento matemático escolar e não escolar. As referências teóricas compõem-se da concepção de Bernard Charlot (2001) sobre as interações do jovem com o saber; da noção de aprendizagem situada desenvolvida por Jean Lave e Etienne Wenger (1991); e da análise da matemática como cultura feita por Alan Bishop (1999). O desenvolvimento do trabalho apoia-se em análise de bibliografia sobre a temática aqui questão e em dados levantados por meio de acompanhamento de aulas e de entrevistas realizadas com alunos e um professor de duas classes de Educação de Jovens e Adultos de uma escola pública da cidade de São Paulo. Entre os principais resultados do trabalho, podem-se destacar a possibilidade de diálogo entre o conhecimento matemático escolar e o conhecimento matemático adquirido pelos alunos em diferentes contextos não escolares, bem como a possibilidade de relação entre contexto e aprendizagem de modo que cada ambiente crie situações e artefatos próprios para enriquecer momentos de aprendizagem.
Relevância da dimensão cultural na escolarização de crianças negras
A dissertação de mestrado intitulada Relevância da dimensão cultural na escolarização de crianças negras discorre sobre iniciativas de educação escolar surgidas em contextos de afirmação de valores existenciais afro-brasileiros e persegue os objetivos de (a) investigar as bases teóricas e práticas escolares de pedagogias estruturadas a partir de reposições e reelaborações culturais negras na diáspora e (b) discutir a relação entre cultura do educando e cultura escolar presente nestas concepções educativas. Partimos da hipótese que a presença da história e cultura afro-brasileira no currículo escolar atua como um fator de favorecimento do processo de escolarização das crianças negras, as quais vários estudos apontam como mais vulneráveis a serem colocadas em situação de fracasso e evasão escolar e suscetíveis de sofrerem preconceito e discriminação étnico-racial. Ao final do texto concluímos com outra hipótese, não excludente da primeira: a presença da história e cultura afro-brasileira como instrumento do processo de escolarização favorece a experiência da educação escolar de crianças negras; por outro lado, tomar a história e cultura negra como fundamento da escolarização exige a emergência de outra cultura escolar, pois uma transformação nesse nível modifica não somente os conteúdos pedagógicos e práticas de ensino, mas o próprio entendimento do que seja a noção de Escola. Fruto de um projeto de pesquisa executado a partir de março de 2008, para chegarmos a esses resultados realizamos pesquisa documental, bibliográfica e de campo sobre o Projeto Político Pedagógico Irê Ayó (Caminho da alegria em iorubá), em atividade na Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, em Salvador-BA, desde 1999, instituição situada no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá. O histórico de implantação desse projeto nos remeteu à Mini Comunidade Obá Biyi, outra iniciativa de educação escolar ocorrida no terreiro entre 1978 e 1986. Para alinhar as duas iniciativas tomamos o adinkra sankofa como procedimento metodológico, ou seja, procuramos desvelar os legados construídos por ambas para refletir sobre políticas públicas educacionais específicas para as crianças negras no futuro. Destarte, adotamos como critério de avaliação para um estudo da prática cotidiana escolar três dimensões inter-relacionadas, (I) a dimensão institucional ou organizacional; (II) a instrucional ou pedagógica; e (III) a sociopolítica ou cultural, como propostas por Marli André. Encontramos suporte teórico para diferenciar estrategicamente escolarização e educação em Mwalimu Shujaa e construímos nosso referencial sobre cultura negra reposta na diáspora a partir de Mestre Didi, Muniz Sodré e Juana Santos. Estabelecemos a contribuição do ativismo negro ao pensamento educacional sobre ideias de Nilma Gomes e Petronilha Silva e argumentamos sobre a necessidade de um ensino culturalmente relevante para crianças negras com Gloria Ladson-Billings. Avançamos para compreender o eurocentrismo do pensamento pedagógico a partir de Narcimária Luz e Marco Aurélio Luz e, por fim, a partir de Vanda Machado pudemos repensar a utopia de escolarizar crianças negras a partir da afirmação de seus valores existenciais. Procuramos compreender o embate que daí advêm, entre escolarização e cultura afro-brasileira, com a noção de didática da dupla consciência, inspirada no o pensamento de W. E.B Du Bois.
2011
Thiago dos Santos Molina
Deficiência visual e ensino/aprendizagem de língua estrangeira: subsídios para a formação de professores em contexto universitário
O presente trabalho parte das premissas de que existem alunos com deficiência visual que estudam línguas estrangeiras, da educação infantil ao ensino superior, e de que os docentes dessa área poderão ser expostos à presença desses alunos em qualquer etapa de sua trajetória profissional. Para demonstrar a veracidade de tais pressupostos, foram cotejados os trabalhos de quatro professores-pesquisadores de língua estrangeira vinculados a esses alunos, a saber: Ramos, 2000; Motta, 2004; Dias, 2008; e Magalhães, 2009. A análise dos relatos de pesquisa demonstrou que os professores de idiomas estrangeiros ingressam e atuam na profissão docente munidos de conhecimentos e competências insuficientes para identificar e trabalhar com tais discentes. Passamos, assim, a abordar os fatores que culminam em tal situação, iniciando pelas condições às quais os licenciandos de línguas estrangeiras estão submetidos durante sua formação acadêmica, e concluindo nossa pesquisa com uma entrevista episódica (FLICK, 2009) com um professor de língua estrangeira cuja biografia está há muito tempo vinculada a indivíduos com deficiência visual. Ao contrapor os relatos dos professores-pesquisadores à entrevista episódica, verificou-se que a presença de momentos formativos sobre deficiência visual durante a formação universitária, oportunidade em que os futuros professores dispõem de condições mais adequadas para a aquisição de conhecimentos sobre esse comprometimento sensorial, contribui para que os futuros professores desenvolvam competências fundamentais para a identificação e gerenciamento da diversidade humana em sala de aula e para a efetiva utilização dos recursos pedagógicos e tecnológicos com potencial para beneficiar tais alunos.
2011
Cristiana Mello Cerchiari
Formação contínua de professores de ciências: motivações e dificuldades vividas num curso de formação contínua a distância
A formação contínua de professores de ciências permanece sendo alvo de debates e controvérsias, considerando o papel fundamental do professor em relação à qualidade do ensino e às reformas. A partir de 1996, com a última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, surgiu oficialmente a possibilidade das universidades públicas oferecem formação contínua a distância, ampliando seus papéis em relação à Educação e ao Ensino de Ciências. A presente pesquisa pretende fornecer elementos concretos para que essas instituições possam, por um lado, assumir esta formação a partir de experiências similares, em cursos gratuitos, construídos de forma simples, por outro, compreender sobre o perfil dos professores de ciências atraídos para essa formação; o que os atrai; o que contribui para manter seus interesses ao longo do curso, quais estratégias eles utilizam para lidar com as exigências do curso e quais as dificuldades enfrentadas. Foram coletados dados, utilizando entrevistas e questionários, junto a 75 participantes que realizaram o curso de formação contínua a distância Educação Nutricional: os rótulos dos alimentos nas aulas de Ciências do Ensino Fundamental acontecido em 2007 e 2008. Os resultados analisados, qualitativamente e quantitativamente, mostraram que o curso atraiu professores de ciências de ambos os sexos, diferentes idades, formações, tempos de magistério e experiências em Educação a Distância (EAD). No entanto, ressalta-se a questão do curso ter atraído professores advindos de escolas públicas e, sobretudo, aqueles com sentimentos negativos em relação à docência e à formação a distância. Os dados mostraram também que esses profissionais foram atraídos por motivos pessoais, profissionais e de conveniência. Apesar de certo equilíbrio entre esses motivos, os profissionais apresentaram certo destaque. Dentre esses motivos se destacaram o tema, a relevância dos conteúdos para a vida profissional e pessoal e a flexibilidade de horários. Em relação à manutenção dos interesses dos cursistas ao longo da formação salienta-se o tema, a qualidade das aulas e, principalmente, a criação dos laços afetivos e a sintonia de interesses entre eles e o professor coordenador. Quanto aos problemas enfrentados destaca-se que cursistas mais velhos e com experiência na EAD tiveram menores dificuldades em relação aos conteúdos, na organização do tempo de estudos e na manutenção da autodisciplina. A partir desses dados, as universidades têm elementos concretos para construir novos espaços de formação contínua a distância, contribuindo para a formação dos professores e com a qualidade do Ensino de Ciências.
As políticas públicas de educação: adolescentes com trajetórias truncadas
Esta tese apresenta os dados e análises de uma pesquisa sobre os efeitos das políticas públicas em educação no município de Belo Horizonte sobre alunos cujas trajetórias foram marcadas pelas mutilações impostas pela pobreza e pelas desigualdades sociais. O problema de pesquisa foi elaborado a partir da constatação da presença de crianças e adolescentes envolvidos com o trabalho infantil e juvenil nas ruas da cidade e como alvo de programas educacionais que visam corrigir fluxos e defasagens na aprendizagem. A pesquisa de campo, de caráter qualitativo, foi realizada entre abril de 2009 e maio de 2010. Nesse período, vários espaços, tempos e atividades de ensino, de socialização e de gestão desenvolvidas na escola e no galpão alugado para que as atividades do Projeto Escola Integrada pudessem ser desenvolvidas foram observados. A coleta de dados se deu ainda por meio de entrevistas semiestruturadas com docentes, agentes culturais, coordenadores, direção da escola, funcionários, pais e alunos do ensino regular e dos projetos educacionais. O roteiro das entrevistas foi organizado com o objetivo de permitir aos sujeitos se expressarem sobre a organização, o funcionamento e a prática docente desenvolvida na escola e nos projetos educacionais. Os dados demonstraram que os espaços escolares eram densamente ocupados, com muitos alunos e atividades. O excesso de alunos e atividades dificultava ou impedia que os objetivos educativos definidos fossem atingidos. O prédio da escola não foi planejado para receber esse excesso. Verificou-se ainda que há uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades sobre a direção e a coordenação pedagógica da escola que, somado à falta de tempo docente coletivo, para formação e planejamento, inviabilizam ações capazes de superar os obstáculos. A coordenação se encontra ainda numa situação de indefinição de papel porque as demandas apresentadas pela Secretaria Municipal de Educação, as apresentadas pelos professores e as que surgem no cotidiano escolar entre os educandos são contraditórias. Por esse motivo, as relações no interior da escola e com a secretaria de educação ficavam tensionadas. O esforço docente era individualizado, não construíam acordos e nem combinavam estratégias educativas. Com isso, por mais que os professores dissessem que queriam fazer a diferença na vida escolar dos alunos, o ensino não deixava de ser retalhos da realidade desconectados da totalidade (FREIRE, 2005, p. 65). Os programas que deveriam servir para corrigir as defasagens de aprendizagem dos alunos e lhes oferecer uma educação plena não são universalizados e nem tão pouco são oferecidos de acordo com as condições materiais e pedagógicas necessárias. Dessa forma, as mutilações na vida dos adolescentes continuam se reproduzindo em trajetórias escolares truncadas.
2012
Nilton Francisco Cardoso
Contribuição de conceitos químicos ao estudo da origem da vida na disciplina de biologia
Esta pesquisa apresenta os resultados de um levantamento empírico de livros didáticos de Biologia e Química aprovados no PNLEM 2007, no sentido de investigar as demandas de conceitos químicos no estudo de uma temática própria da disciplina de Biologia: a origem da vida. Adicionalmente, esta dissertação coteja essas demandas conceituais com os correspondentes saberes químicos sequenciados nos capítulos das coleções de Química e discute a potencial interlocução entre os conjuntos de saberes das duas disciplinas, visto que fazem parte da mesma área do conhecimento escolar. Considerando-se todas as obras divididas em três volumes um para cada ano do Ensino Médio e excetuando-se os volumes únicos, foram analisados os capítulos que tratam da origem da vida em quatro coleções de Biologia e todo o conteúdo programático de duas obras de Química. Reconhecendo a relevância do livro didático no cenário educacional brasileiro, o caráter notadamente disciplinar do currículo e as especificidades do ensino de Ciências, este trabalho reúne argumentos teóricos que fundamentam a necessidade de um olhar abrangente sobre a realidade, sempre complexa e multifacetada.
Iniciativas de atendimento para crianças negras na província de São Paulo (1871-1888)
O texto discute o atendimento de crianças livres no período de 1871 a 1888 na província de São Paulo. O tema é relevante em pesquisas do campo da historiografia educacional e da história da infância brasileira, no sentido que visa contribuir com o número, ainda escassos de pesquisas sobre a temática da história da criança negra na província de São Paulo. Ao longo do texto utilizamos o termo escravizado em vez de escravo em conformidade os estudos de Munanga (2004), que não consideram que os negros tenham nascido nessa condição nem tampouco tenham propensões biológicas para a vida em cativeiro. Procuramos, na parte inicial da pesquisa, apresentar um levantamento sobre dissertações, teses e artigos cujos temas conjugassem com os objetivos desta dissertação. Esses estudos relatam o processo de escolarização da população negra e também descrevem a situação da infância escravizada e da infância livre em periodização próxima ou semelhante à deste estudo. No processo metodológico, recorremos a 5 tipos diferentes de fontes documentais: relatórios do Ministério da Agricultura, anais dos Congressos Agrícola do Recife e do Rio de Janeiro, ambos realizados no ano de 1878, registros de batismo de crianças negras livres, exemplares do jornal A Redempção e o 1º Recenseamento Nacional do Império Brasileiro de 1872. As fontes são analisadas de maneira conjugada, dialogando entre si de forma a auxiliar na composição do cenário do atendimento público das crianças negras livres na província de São Paulo. O recurso metodológico utilizado na análise do corpus documental varia conforme a natureza de cada fonte, sendo empreendidos, sobretudo, recursos quantitativos e qualitativos. A pesquisa revela a ausência de dados sobre as crianças negras livres, assim como a inexistência, na província de São Paulo, de instituições voltadas para o seu atendimento, como localizamos em outras províncias do Império brasileiro. Com base nas fontes analisadas, é possível verificar que as crianças negras livres em São Paulo não foram entregues ao Estado.
2012
Daniela Fagundes Portela
Educadores do rádio: concepção, realização e recepção de programas educacionais radiofônicos (1935-1950)
O tema deste estudo é a concepção, a realização e a recepção dos programas educacionais radiofônicos irradiados entre 1935 e 1950, em especial, dos seguintes: Viagem através do Brasil, de autoria de Ariosto Espinheira e veiculado pela Rádio Jornal do Brasil, Tapete mágico da Tia Lúcia, elaborado por Ilka Labarthe, e Biblioteca do ar e Ouvindo e aprendendo, criados por Genolino Amado e irradiados, de início pela Rádio Mayrinck Veiga e posteriormente pela Rádio Nacional. Os autores destas programações eram rádioeducadores, oriundos da Rádio Escola Municipal (PRD5), e que conjugavam os preceitos educacionais ao formato dinâmico das atrações comerciais. O objetivo foi analisar não apenas a trajetória destes rádioeducadores, como também seus conceitos de educação por meio do rádio, suas táticas para a conquista do espaço na grade de programação das emissoras comerciais e as diferentes formas de recepção de suas produções. A elaboração de tal estudo exigiu a localização, classificação e interpretação de fontes escritas e orais tais como ofícios, livros, periódicos, cartas de ouvintes, scripts e gravações de programas, disponíveis no Museu da Imagem e do Som, na Casa de Rui Barbosa, na Academia Brasileira de Letras, na Associação Brasileira de Educação, na Biblioteca Nacional, na Sociedade Amigos da Rádio MEC, na Biblioteca Regional da Glória, no Arquivo Nacional e no Centro de Memória da Rádio Nacional. A pesquisa foi estruturada em cinco capítulos. No primeiro capítulo foi realizado o estudo das primeiras experiências de intelectuais brasileiros com a radiofonia e as disputas pela implemetação da educação por meio do rádio em nosso país. O segundo capítulo analisou o debate em torno do teor que era considerado educacional na programação das rádios, durante o processo de expansão comercial, ainda nos 1930; neste âmbito situaram-se as disputas, assim como as redes de sociabilidade construídas em torno da radiodifusão educativa, que foram promovidas pela Confederação Brasileira de Rádio, fundada em 1933, sob liderança de Elba Dias e Roquette-Pinto, assim como, e a criação, no ano seguinte, da Rádio Escola Municipal (PRD5). O terceiro capítulo aborda o conteúdo elaborado para irradiação da Biblioteca do ar, de Ouvindo e aprendendo, da Viagem através do Brasil, do Tapete mágico da Tia Lúcia . No quarto capítulo apresenta-se o estudo sobre as formas de realização destes programas. No quinto capítulo estuda-se os modos de recepção destas programações a partir de duas perspectivas: as condições técnicas e as interferências no cotidiano dos ouvintes. A presente pesquisa pretende não apenas contribuir com novas visões sobre a história da educação por meio do rádio, como também ampliar a compreensão sobre o papel dos rádioeducadores na história do rádio brasileiro.
2012
Patrícia Coelho da Costa
Histórias de Ébano: professoras negras de educação infantil da cidade de São Paulo
As indagações que orientam este trabalho tiveram início quando, observando o universo da Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo, não encontrei documentos suficientes que atestassem a presença das mulheres negras neste nível de ensino. A partir de uma investigação de campo em todas as trinta escolas municipais de Educação Infantil, em uma das treze diretorias de Educação da cidade, localizada em região considerada periférica, tive contato com estas mulheres, que se declararam negras, classificadas racialmente através de questionários enviados às mesmas. Realizei entrevistas com oito delas, colhendo material para o registro de suas histórias de vida e trajetórias profissionais. Apresento as experiências sensíveis das mulheres negras entrevistadas, suas relações com o trabalho pedagógico, bem como suas percepções sobre o racismo, o sexismo e o conhecimento. A partir de suas falas, a compreensão compartilhada ao final desta pesquisa, afirma a importância do magistério para as mulheres negras na atualidade, este sendo mais um lugar possível de atuação para as mesmas, naturalmente vinculadas a trabalhos vistos como inferiores na escala de prestigio social, a saber, empregadas domésticas ou lavadeiras. Esta pesquisa assinala a importância de, apesar de o racismo colaborar para o confinamento de mulheres negras em posições consideradas como subalternas em nossa sociedade, tornar-se professora de crianças pequenas, guarda outros significados, possíveis de serem entendidos somente quando mulheres negras falam sobre suas próprias vidas. Este trabalho ousa reivindicar o poder ainda presente nesta profissão, para a população negra de baixa renda, sendo este um modo possível de dar sentido à vida destas mulheres que, a despeito da falta de oportunidades, seguem sobrevivendo e negociando como podem sua existência.
2012
Míghian Danae Ferreira Nunes
A saúde nos livros didáticos no Brasil: concepções e tendências nos anos inicias do ensino fundamental
Os temas relacionados à saúde humana são tradicionalmente desenvolvidos desde os anos iniciais da escolarização formal, sendo obrigatórios na Educação Básica no Brasil desde 1971. Por se tratar de um termo polissêmico, a saúde, assim como os fatores que a influenciam e determinam podem ser entendidos de diversas formas que acabam por conformar distintas abordagens para o ensino do tema em sala de aula. Dentre os materiais de apoio ao professor, o livro didático, pelo papel que desempenha no cotidiano escolar, pode ser considerado como importante, senão o principal, instrumento de organização curricular, inclusive no que tange à abordagem relacionada à saúde. Portanto, o modo como a saúde está presente nesse material influencia diretamente o entendimento que alunos e professores têm sobre o tema, assim como os objetivos educacionais a ele relacionados. O presente trabalho, embasado nos referenciais teóricos dos campos da Saúde Coletiva e da Epidemiologia Social, tem como objetivo investigar como e a partir de que concepções os conteúdos relacionados à saúde humana são abordados nos livros didáticos de Ciências para os anos iniciais do Ensino Fundamental no Brasil e qual a importância atribuída aos diversos fatores que influenciam e determinam o processo saúde-doença. Foram analisadas as onze coleções aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático em 2010, a partir do mapeamento dos temas relacionados à saúde, das concepções de saúde presentes, do papel atribuído aos seus determinantes e dos objetivos educacionais relacionados ao tema. Apesar de importantes diferenças encontradas entre eles, os livros tendem a abordar o tema a partir de uma perspectiva que enfatiza e reduz a saúde a seus aspectos biológicos, atribui pouca relevância aos seus determinantes sociais e tem como foco o indivíduo e seu conjunto de comportamentos e hábitos, sendo a modificação ou adequação destes o principal objetivo a ser alcançado. Sugere-se que esse material incorpore os avanços conceituais da área da saúde, a fim de tratar o tema a partir de uma moldura mais ampla que leve em conta os aspectos de distintas naturezas que interferem na situação de saúde dos indivíduos, grupos e população, com vistas a tornar mais significativas e contextualizadas as discussões sobre a saúde em sala de aula.
2012
Paulo Henrique Nico Monteiro
Letramento e alfabetização: resgate do papel do professor no ato de aprender e ensinar
Trata-se de pesquisa exploratória realizada com um grupo de dezesseis professoras: oito da escola pública e oito da particular que atuam no 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos. Exercem a profissão docente no Estado de São Paulo nos munícipios de Osasco, Taboão da Serra e capital. Participaram da pesquisa, respondendo a um questionário com setenta e nove perguntas, organizado em três categorias de análise. O objetivo é investigar as representações dos professores sobre os aspectos que facilitam a escolarização da linguagem escrita nos primeiros anos de vida escolar, especialmente no 1º ano do atual Ensino Fundamental, de modo a discutir em que medida a escolarização favorece ou não o processo de aquisição da modalidade escrita, considerando o letramento e alfabetização como práticas simultâneas. A investigação desvelará as concepções das professoras do 1º ano do Ensino Fundamental, buscando compreender como elas se configuram na prática de sala de aula. Concepções que dizem respeito à criança que aprende, de que modo ela é vista, que espaço ela ocupa aos olhos da professora e, ainda, como as professoras contemplam os momentos de brincadeira em suas salas, o que priorizam na escolha das atividades destinadas ao 1º ano: o letramento, alfabetização ou os dois. Discutir sobre o que tem representado para as professoras as transformações ocorridas após a implementação do Ensino Fundamental de nove anos. Temos como princípio que a linguagem oral estabelecida, desde o início, de maneira afetiva, envolvente, espontânea e mediada pela família é concebida em contexto e necessidade de interação e que, portanto, se estabelece de modo dialógico. Enquanto que a modalidade escrita da língua, quando transformada em práticas pedagógicas, em geral, perde seu significado de objeto social a ser compartilhado de modo dialógico e contínuo. Como referencial teórico norteador recorreu-se a Vygotsky, Bakhtin, 9 Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Peter Moss, Ana Luiza Smolka, Semeghini-Siqueira, Magda Soares dentre outros autores.
2012
Ana Paula Araújo Dini de Miranda
Espaçotempo & ancestralidade de matriz africana em terras caboclas
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a simultaneidade crepuscular do espaçotempo unitário de matriz afroameríndia, pensando o lugar, a paisagem, como portas abertas, um espelho das culturas que possibilita a inspiração de símbolos, de suas matrizes ancestrais à arte e cotidiano das cidades e campos. Ao mesmo tempo, possibilita que o contexto tradicional na contemporaneidade auxilie em desdobramentos suscetíveis à superação de situações-limites sociais e educacionais. Uma pretaíndia desaldeada como pesquisadora contou com o primeiro conjunto de pensadores, além dos Situacionistas1 que apoiaram nossa constituição epistemológica, assim como Juana Elbein dos Santos e mestre Didi. O estilo investigativo se apóia na leitura mitohermenêutica de Marcos Ferreira-Santos, atrelados às coorientações de Kabengele Munanga e Carlos Serrano. Milton Santos e Paulo Freire complementam a abordagem apoiando a compreensão e a fundamentação do que podemos chamar de Epistemologias do Sul ou ainda de uma antropologia cabocla.
O cinema na escola: aspectos para uma (des)educação
O projeto O cinema vai à escola, da SEE-SP/FDE(de 2008 a 2015), é objeto de estudo do presente trabalho, queoexamina aproximando as perspectivas do cinema e da educação. Para tanto, parteda questão benjaminiana doempobrecimento da experiênciae, de algum modo, da adorniana doempobrecimento do repertório de imagens,buscando identificar modos de uso do cinemana escolaeinvestigandose eem que medidao referido projeto provoca o empobrecimentoda experiênciaem razão dos meios aplicados naoficialização da entrada do cinema na escola. Em geral, o cinema na escola é sustentado por um discurso pedagógico oficial que especifica e atribui o lugar do cinema no universo escolar. Interessa a esta pesquisaidentificar eanalisar esseslugares.Cinematografias, tais como a de Godard,adoNeo-realismoitaliano eadoCinema Novobrasileiroconfrontame se colocam como referências aesse lugar atribuído ao cinemapela escola. Entende-se aqui que aperspectiva desses cinemas, bem como nossa concepção de escola, cuja função primordial tem a ver com o deslocamento das referênciasestabilizadasdos sujeitos,não se constituemde elucubraçõesdesconectadasda chamada realidadedo universo escolar atual.Ao contrário, entendem que o presente em que parece seconstituir o filmeopera aí encaminhamentos sem solução definitiva. Contudo, ao se utilizar de modo ilustrativo do cinema, o discurso pedagógicohegemôniconas escolas, a despeito da discussão sobrea diluição do sujeitoisto é,da perda da perspectiva histórica unitária-, fortalece esse lugar dosujeito, entendido como oposição ao objeto. Assim, promove um modo de aprendizagem que toma o conteúdo da obra, a mensagem do filme,comoobjeto central, moralizando-o. Dessa forma,não oconsideraobra de arteou mesmo objeto de vivência, reduzindo-oarecurso pedagógicoque pode facilitarosestudosde teor cientificizantes.Nesse sentido,faz-seimportante a investigaçãosobre aideia de currículo e o lugarque nele ocupaa arte e mais especificamenteo cinema, em virtude da urgência uníssona quanto ao tratamento das mídias e do cinema na escola.Para tanto,este trabalho analisatextos oficiais da SEE-SP(osCadernos de cinema doprofessor e os vídeos sobre o Projeto),que regulamentam a entrada do cinema na escola, dentrevários outros.Em tempo, tomamos como parâmetro a experiência francesa transposta em livro por Alain Bergala (2007), além de conceitos
2017
Daniel Marcolino Claudino de Sousa
História e filosofia da ciência no ensino de ciências naturais: o consenso e as pespectivas a partir de documentos oficiais, pesquisas e visões dos formadores
A análise do distanciamento entre as orientações teóricas das instâncias decisórias (ID) sobre a inclusão da abordagem dos aspectos da História e Filosofia da Ciência no Ensino de Ciências Naturais (HFCECN) constitui o nosso objetivo de investigação, cujo problema foi identificar as ID e saber em que elas se distanciavam entre si em relação à HFCECN. Para tal, delimitamos o estudo de caso único qualitativo, tendo o Brasil como unidade caso sob o aspecto da HFCECN, cujas múltiplas unidades de análise foram as ID. Para coleta e análise de dados utilizamos a entrevista semiestruturada com especialistas, a análise de conteúdo e a análise documental. Da investigação resultou a identificação de quatro ID em relação à HFCECN, das quais três foram analisadas e identificamos que elas apresentam desconexão/discrepância metodológica e epistemológica de perspectivas diferentes, portanto, a convergência entre as ID está longe de ocorrer na realidade material do sistema educacional, o que pode inviabilizar a efetiva HFCECN. Os regulamentos oficiais apontam para a contextualização externa (sociocultural) e as pesquisas parecem assumir a HFC como conteúdo no ensino de ciências naturais, porém, dos 72 trabalhos de pesquisa analisados, 34 apontam para contextualização interna; 16, criticidade; 9, motivação; 8, contextualização externa. Na formação docente, a maioria das disciplinas aponta para contextualização interna (7); as percepções dos docentes formadores apontam para instrumentação didática e criticidade e uma abordagem da HFC enquanto perspectiva de reflexão crítica. As três ID constituem seus próprios cenários ontológico, político e decisório, formam uma constelação bicondicional com rupturas de sequência comunicativa e tomada de decisões. A realidade escolar não tem sido considerada enquanto instância decisória e nem consultada o suficiente para tomada de decisões e prescrições das três ID. Finalmente, apresentamos algumas reflexões e perspectivas propositivas sobre o tema.
2011
Kilwangy Kya Kapitango-a-Samba